Maria chorando
 

 

TOMÉ COM ELES

(Jo 20, 26)

 

“Oito dias depois, achavam-se os discípulos, de novo, dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco!’”.

 

 

“Oito dias depois...”, o domingo seguinte ao dia da ressurreição. Jesus Cristo entra como a primeira vez, põe-se no centro e repete a mesma saudação.

O primeiro dia da segunda semana depois da ressurreição, OITO DIAS COMPLETOS depois da primeira aparição aos discípulos reunidos, a confirmou nas mesmas condições da anterior: Oito dias depois, achavam-se os discípulos, de novo, dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco!

A antiguidade cristã tem visto nesta repetição das aparições de Jesus Cristo no mesmo dia da semana, uma especial santificação do dia da ressurreição. O dia da ressurreição do Senhor é, na nossa Liturgia, o domingo principal do ano. Os demais domingos são como que o ECO da festa da Ressurreição.

Com razão observa os bons autores, admirando quanto ZELO colocou Jesus Cristo em esclarecer e fortalecer um apóstolo vacilante na fé e, como ovelha perdida, trazendo-o ao redil. Eis a missão do bom pastor (Mt 18, 12). O Apóstolo São Paulo nos ordena a fazer o mesmo: Acolhei o fraco na fé (Rm 14, 1). A causa deste ZELO é, segundo Teodoro de Heraclea, que São Tomé não duvidava por MALÍCIA, mas por FRAQUEZA e pela DIFICULDADE da coisa em si. Pelo qual era digno de ser libertado de um erro, em que não havia culpa ou era só humano, como disse de si mesmo São Paulo Apóstolo: Consegui misericórdia porque fiz por ignorância. A pena do ignorante, como disse o filósofo Platão, é que o ensine.

Muitas pessoas perguntam: por que Jesus Cristo ESPEROU OITO DIAS para manifestar-se?  Dão duas causas São João Crisóstomo, Teofilacto e Eutímio: UMA, que INFLAMASSE mais em São Tomé o desejo de contemplar a Jesus Cristo; OUTRA, que aproveitasse aquele tempo como catecúmeno (pessoa que se prepara e instrui), deixando-se formar pelos apóstolos e fazendo-se mais apto para receber a Jesus Cristo e sua doutrina.

Existem ainda outras duas causas: UMA, que até aquele dia não estiveram reunidos os apóstolos, pois não é claro que permaneceram sempre fechados no cenáculo, e Jesus Cristo queria aparecer a Tomé na presença de todos os demais apóstolos, para que fosse confirmado com a presença de todos... para que aquele que havia pecado diante de todos não crendo, diante dos mesmos fosse repreendido. Assim nos deu São Paulo a regra, tomada do mesmo Espírito: Os pecadores públicos devem ser publicamente repreendidos (1 Tm 5, 20). E porque, como dizem Leôncio e São Cirilo de Jerusalém, não só queria livrar a São Tomé daquele erro, mas também a outros que já acreditavam, e aos apóstolos confirmá-los na fé.

Por que se reuniram os apóstolos, precisamente, naquele dia? Poderia dar-se como razão provável que, tendo ficado todos em casa no sábado, programaram algo para o dia seguinte antes de se separarem; ou, como São Cirilo de Jerusalém indica, possivelmente havia começado os apóstolos ter uma REUNIÃO SAGRADA no DOMINGO, que depois se converteu num costume geral para toda a Igreja, e que ainda hoje está em vigor.  OUTRA causa pode ser que Jesus Cristo quis fazer AQUELE DIA célebre pela demonstração de sua ressurreição, e assim esperava os dias intermédios até que chegasse o OITAVO.

Será que os apóstolos reuniram no mesmo lugar que antes haviam reunido? Ruperto disse que não foi em Jerusalém, mas em Nazaré da Galiléia, movido por esse argumento: Jesus Cristo lhes havia ordenado por meio das mulheres que fossem para a Galiléia e ali O veriam (Mt 28, 10), e não dá para acreditar que os apóstolos demorasse tanto tempo em obedecer-Lhe. Todavia, o evangelista conta os fatos dando a entender, claramente, que é no mesmo lugar onde Ele aparecera as outras vezes. Então... como os apóstolos não tinham ido para a Galiléia? Pode ter sido a causa que os OITO DIAS precedentes foram festivos.

“Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco!’” Não parece ter uma razão especial que Jesus Cristo viesse aos apóstolos essa vez da mesma maneira que antes, com as PORTAS FECHADAS. Que se colocasse no meio deles e dissesse as mesmas palavras: A PAZ ESTEJA CONVOSCO! Pode ser a razão, que Jesus Cristo quis usar o mesmo argumento e a mesma conduta com que se ganhou a fé dos apóstolo para CONVERTER a Tomé, que havia dito que não acreditaria se não visse a Jesus do mesmo modo que os apóstolos diziam tê-lO visto.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 30 de abril de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Pe. Juan de Maldonado, Comentário do Evangelho de São João

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

Teodoro de Heraclea, Escritos

Teofilacto, Escritos

São João Crisóstomo, Escritos

Eutímio, Escritos

Leôncio, Escritos

Ruperto, Escritos

São Cirilo de Jerusalém, Escritos

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Tomé com eles”

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