MAS CRÊ!
(Jo 20, 27)
“Disse depois a
Tomé: ‘Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e
põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!”
Esse
versículo (Jo 20, 27) revela o motivo
central da nova aparição. Jesus Cristo
aceitou o pedido insistente de São Tomé de VER
e TOCAR suas mãos:
“Põe teu
dedo aqui e vê minhas mãos!”
À exigência de
COLOCAR suas mãos no PEITO, Jesus
responde:
“Estende tua mão e põe-na no meu lado”.
Esse paralelismo perfeito entre o que pedia
São Tomé e o que Jesus Cristo concede é intencional e,
tudo indica, foi comentado entre os apóstolos. São João vê
nele a GLÓRIA de Jesus Cristo que
penetrou no interior de São Tomé e foi
amavelmente aceito por ele. Note-se a
SUAVIDADE e EFICÁCIA com que cura ao
discípulo incrédulo.
“...
não
sejas incrédulo”,
é a única frase que soa a repreensão.
São Tomé
TOCOU nas CHAGAS de Jesus
Cristo? Afirma que SIM a maior parte dos
intérpretes, como condição exigida a si mesmo pelo
Apóstolo para CRER. Porém, parece mais conforme a
narração afirmar com Knabenbauer e outros, que
NÃO CHEGOU São Tomé a TOCAR o
sagrado corpo e que ACREDITOU só ao
contemplar as CHAGAS: a frase
admirativa, entrecortada, cheia de religioso respeito que
pronuncia o Apóstolo, revela a emoção, o arrependimento e a
fé profunda do mesmo ao contemplar as venerandas cicatrizes:
Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus. O
evangelista não afirma se São Tomé realmente
TOCOU nas CHAGAS de Jesus Cristo.
Jesus NÃO
DISSE: porque me TOCASTE; mas sim,
porque me VISTE Tomé, CRESTE.
Atribui-se esse comentário a Eusébio Emiseno.
Santo Agostinho e São Beda aprovam tal
comentário... mesmo aprovando esse comentário, Santo
Agostinho diz que São Tomé TOCOU
nas CHAGAS de Jesus Cristo. E todos os demais
autores: Santo Ambrósio, São Gregório Magno, Gaudêncio,
Majêncio, São Bernardo de Claraval... seguem a sua
opinião; também os autores gregos: São João Crisóstomo,
São Cirilo de Jerusalém, Leôncio, Ammônio, Alexandrino,
Teofilacto e ambos Teodoros.
Santo Agostinho
comenta:
“Tomé não tinha os olhos no dedo”.
Além disso, Jesus Cristo exclama:
“Porque viste,
creste”.
E como São Tomé viu? Da mesma maneira que
acabou de dizer: OLHA minhas mãos. OLHAR
é o mesmo que TOCAR; logo, VISTE
é o mesmo que TOCASTE. Mais ainda: é verdade
que Jesus Cristo quis que suas CHAGAS fossem
PALPADAS por São Tomé, mesmo afirmando
que já acreditava, para não deixar nele sombra de
incredulidade.
Outra
QUESTÃO levanta
São João Crisóstomo, São Cirilo de Jerusalém, Leôncio
e Teofilacto:
“Como pode palpar-se
um corpo glorificado, quando uma das qualidades deste corpo
é não poder ser tocado nem retido, por razão de sua
sutileza?”
Respondem que aqui Deus
dispensou para que ficasse assegurada a fé da
ressurreição. E ter entrado com as portas fechadas foi
suficiente argumento de sua glorificação e carência de coisa
terrena nem sólida. E o ser tocado foi dispensação da
divina Providência. É certo que Cristo ter entrado
com as portas fechadas não se deve unicamente à
glorificação, mas ao poder divino, antes de tudo; porque
Jesus Cristo antes de ser glorificado tinha poder para fazer
o mesmo.
“Disse depois a
Tomé: ‘Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e
põe-na no meu lado...”
Jesus Cristo,
sem dúvida, quis usar das mesmas palavras que São Tomé
havia proferido. Por qual motivo?
Teodoro de
Mopsuestia, São João Crisóstomo, Teofilacto
e Eutímio dão UM MOTIVO: porque quis mostrar-se
como Deus, que estava presente quando São Tomé
expressava sua proposta, e assim não esperou que Tomé
dissesse algo; mas Ele (Jesus) falou
primeiro. Existe OUTRO MOTIVO, não
menos provável: que estas palavras contêm uma
silenciosa censura:
“... não sejas incrédulo, mas crê!”
É como se
dissesse: Vem aqui, homem carnal, que não sabes crer
de outra maneira senão pelo tato. CONDUZ
teu DEDO e COLOCA-O aqui e
OLHA, isto é, TOCA minhas
MÃOS, pois com o DEDO não consegue
VÊ-LAS. E CONDUZ tua MÃO
e COLOQUE-A no meu LADO. Esse
motivo também foi dado por Teodoro de Mopsuestia.
Escreve Santo
Agostinho:
“Ó Senhor, de que adiantaria ter crido com o
coração para obter a justificação, se depois hesito em
confessar com a boca o que recebi no coração? Minha fé vedes
no íntimo; mas não basta... Ó Cristo, fazei que jamais me
envergonhe de vosso nome, antes consinta que me insultem
porque creio num crucificado, num justiçado; mas sem a
efusão do vosso sangue meus pecados subsistiriam ainda”,
e:
“Dai-me, Senhor, que minha vida seja vida de fé, que se
concretize no pensar, falar, agir unicamente na base dos
ensinamentos da fé, fundada em vossas palavras, em vossos
exemplos; unicamente por motivos sobrenaturais de fé. Dai-me
a graça de reprimir todas as sugestões da razão humana e da
experiência,
por
mais certas que me pareçam, caso estejam no mínimo desacordo
não só com os dogmas da fé católica, mas também com tudo o
que a fé exigir de mim em palavras, pensamentos e obras”
(Bem-aventurado
Charles de Foucauld),
e também:
“Ó bendita fé, sois certa embora obscura.
Obscura, porque fazeis crer verdades reveladas pelo próprio
Deus e que estão acima de toda luz natural, excedendo, sem
proporção alguma, a todo humano entendimento. Vossa
excessiva luz converte-se para a alma em espessa treva,
porque o maior sobrepuja e vence o menor, assim como a luz
irradiante do sol obscurece o brilho de quaisquer luzes,
fazendo não mais parecerem luzes aos nossos olhos, quando
ele brilha e vence nossa potência visual”
(São João da Cruz).
Pe. Divino Antônio
Lopes FP (C)
Anápolis, 01 de
maio de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Manuel de Tuya,
Bíblia comentada
Pe. Juan de
Maldonado, Comentário do Evangelho de São João
Pe. Juan Leal, A
Sagrada Escritura (texto e
comentário)
Teodoro de
Heraclea, Escritos
Eusébio Emiseno,
Escritos
Teofilacto,
Escritos
São João
Crisóstomo, Escritos
Bem-aventurado
Charles de Foucauld, Meditações
São João da Cruz,
Escritos
Santo Agostinho,
Escritos
Eutímio, Escritos
Leôncio, Escritos
Ruperto, Escritos
São Cirilo de
Jerusalém, Escritos
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