Maria chorando
 

 

MUITOS OUTROS SINAIS

(Jo 20, 30)

 

“Jesus fez, diante de seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não se acham escritos neste livro”.

 

São João Evangelista pensou, em princípio, terminar o livro com esses versículos (30 e 31). Mais tarde julgou oportuno ACRESCENTAR o Capítulo 21 para iluminar o PRIMADO de Pedro e de seus sucessores e dissipar os boatos (rumores) de imortalidade que espalhavam sobre ele. Duas ideias fundamentais encerram esta conclusão: a) O caráter seletivo do seu livro. São João não pretendeu contar todos os milagres que Jesus Cristo fez diante de seus discípulos. Jesus Cristo fez muitos milagres. São João recolheu alguns. Estão selecionados. b) Fim prático e religioso do livro. A forma que foi realizada a seleção dos milagres depende do fim que foi proposto. Este fim é DUPLO: UM IMEDIATO, CRER que Jesus é o  Cristo e o Filho de Deus. OUTRO MEDIATO, VIVER em Cristo. Pelos milagres se chega à fé; pela fé à vida em Cristo: “Temos aqui como um primeiro epílogo ou conclusão do Evangelho de São João. Segundo a opinião mais comum, o evangelista acrescentaria mais tarde o capítulo 21, onde narra acontecimentos tão importantes como a tríplice confissão de São Pedro, a sua confirmação no Primado e também a profecia do Senhor acerca da morte do discípulo amado” (Edições Theologica).

O Pe. Manuel de Tuya escreve: “Estes versículos tem a característica de ser o final do evangelho de João. Porém, o inserir logo o capítulo 21, com outra determinação (21, 24-25), deu lugar a três hipóteses: 1) O capítulo 21 seria um complemento acrescentado à obra primitiva por um redator muito antigo (opinião de Schmiedel, Ráville, Mollat). 2) Havia sido acrescentado pelo mesmo evangelista depois da primeira redação (opinião de Harnack, Bernard, ordinariamente os comentadores católicos). 3) O capítulo 21 se uniria ao capítulo 20, e os versículos 30 e 31 do capítulo 20 haviam sido transpostos depois do capítulo 20, a continuação do acréscimo de um segundo epílogo (21, 24-25) por um grupo de cristãos, provavelmente os anciãos de Éfeso (opinião de Lagrange, Durand, Vaganay).

Santo Agostinho escreve: “Este capítulo parece indicar o fim deste livro, mas narra-se nele depois o modo como o Senhor se manifestou junto do mar de Tiberíades”.

Dom Isidro Gomá y Tomás comenta: “Temos aqui multiplicidade de milagres, de narradores deles e de testemunhas presenciais dos prodígios. Tudo quanto se requer para que os milagres sejam o que devem ser... sinal e garantia da missão divina de Jesus e da verdade de sua doutrina. Nem os fatos milagrosos têm sido desmentidos, nem se pode encontrar contradição entre os quatro Evangelistas que os narram, nem os testemunhos presenciais de boa fé puderam atribuí-los a outro poder que não fosse o de Jesus. Além daqueles milagres que se referem nos Evangelhos, tão bem constatados, existem outros realizados pelo Senhor antes e depois da ressurreição, cuja simples referência é a maior abundância, e para que vejamos que Deus quer garantir plenamente as verdades que nos ensinou. A crítica de todos os séculos tem tratado de negar, de explicar e de adulterar os milagres dos Evangelhos. Não conseguiram fazer estragos na sua verdade, porque não puderam acusar de falsidade a estas narrações sinceras, de testemunhos presenciais, que levam em si mesmos a marca da mais absoluta veracidade. Bendigamos a Deus que tão sabiamente fundou os alicerces da nossa religião e da nossa fé”.

Pe. Juan de Maldonado comenta: “É duvidoso a qual milagre se refere o evangelista, se a todos os que Cristo fez até aquele dia ou somente aos que realizou para provar a verdade da sua ressurreição. Não se vê tampouco de qual lado se inclina a sentença de São Cirilo de Jerusalém, Santo Agostinho e São Beda nos respectivos comentários. Porque geralmente falam de todos os milagres de Jesus Cristo. Pelo contrário, São João Crisóstomo, Leôncio, Teofilacto, Eutímio e Ruperto e, segundo parece, Eusébio Emiseno, parecem falar exclusivamente dos milagres que Cristo realizou depois da sua ressurreição... Alguém poderá dizer que São João não narrou nenhum milagre de Jesus Cristo depois da sua ressurreição, e Eusébio Emiseno contestará que duas vezes Ele se apresentou aos discípulos com as portas fechadas. Ambos os fatos narrados por São João. Grandes milagres os dois, ainda que do mesmo gênero. Além disso, não são somente os milagres, mas também outras ações com as quais Jesus Cristo declarou a verdade de sua ressurreição, chama aqui São João de SINAIS. Foi, pois, SINAL, entrar Cristo no cenáculo estando as portas fechadas, o haver-se manifestado aos discípulos mostrando-lhes as chagas. O sentido desse versículo é que o Senhor deu outras muitas provas de sua ressurreição, e que o evangelista julgou não necessário escrevê-las neste livro, contentou em narrar comente aqueles milagres que julgou oportunos para apoiar a fé na ressurreição. Ao dizer NESTE LIVRO, parece indicar  que em algum outro livro estavam escritos. Provavelmente São João alude aos outros evangelistas, que também mencionam determinados milagres da ressurreição de Jesus Cristo. Como se dissesse: ‘Eu não os escrevi, outros sim, escreveram’. Maior dificuldade nasce da interpretação dada por alguns autores: Como pode São João referir-se aos milagres feitos depois da ressurreição de Cristo,  quando no mesmo capítulo seguinte conta outros realizados no mesmo tempo? Esta dificuldade não é exclusiva para nós, mas para quantos sustentam que São João se refere a todos os prodígios realizados por Jesus Cristo. Pois se de todos falava e a todos punha fim com o presente versículo, como conta logo outros milagres... o da pesca milagrosa (Jo 21, 6)? Esse dado tem servido de argumento para alguns autores sem cérebro para dizer, ou que o capítulo seguinte não era de São João, senão de outro autor e acrescentado ao evangelho, ou que o evangelista, depois de ter concluído sua obra, recordou o que em tal capítulo disse, e o adicionou ao seu escrito. Parece ser grande erro uma e outra hipótese... é intolerável. Alguém (São João) que teve o Espírito Santo por Mestre ter que recordar? Então, o que responder? Santo Agostinho e São Beda que comentaram rapidamente essa questão contestam: ‘Este capítulo assinala o fim de todo o livro; depois narra como se manifestou no mar de Tiberíades o Senhor e com a pesca milagrosa recomendou o sacramento da Igreja; qual havia de ser a última ressurreição dos mortos. Penso, pois, que para isso serve e se tem colocado como fim do livro e em destaque a narração que se segue, à qual dá maior importância’. Pensa, pois, Santo Agostinho, que a frase de São João ‘porém, foram escritos para crerdes’, compreende não só o dito, mas também o que será dito no capítulo seguinte. Ruperto vem resolvê-lo desta maneira: ‘O evangelista conta dois milagres feitos por Jesus Cristo depois da ressurreição que sejam como dois testemunhos que dêem fé desse milagre, já que na boca de duas ou três testemunhas se afirma cada palavra. E se alguém exigir um terceiro testemunho, escreve no capítulo seguinte o terceiro milagre’. Outros respondem que São João até agora havia contado somente os sinais (milagres) que Jesus Cristo fez depois da sua ressurreição em Jerusalém. A última das quais foi a aparição a São Tomé no oitavo dia. E, por isso, pois fim na sua narração com estas palavras: Certamente, muitos e vários prodígios... Porém, no capítulo seguinte conta o milagre que fez depois na Galiléia. Não tratava São João de qualquer classe de prodígios (milagres), mas somente daqueles que foram realizados por Cristo para provar aos discípulos a verdade de sua ressurreição. A isso põe fim aqui nesse lugar. Os milagres feitos por Jesus depois, não foram para provar a sua ressurreição, admitida perfeitamente pelos discípulos, senão por outra causa”.

O evangelista confessa que Cristo fez “muitos outros sinais”, milagres (Jo 21, 25), que são “sinais” comprovados pela sua missão. Não só foram feitos e recebidos como ditos, senão “presenciados” por seus “discípulos”. Esta confissão faz ver que os milagres relatados por São João em seu evangelho, são uma seleção deliberada dos mesmos, em ordem a sua tese e à estrutura, tão profunda e “espiritual”, de seu evangelho.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 06 de maio de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Pe. Juan de Maldonado, Comentário do Evangelho de São João

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

Edições Theologica

Braun, Évang. s. St. Jean (1946)

Santo Agostinho, Escritos

Dom Isidro Gomá y Tomás, O Evangelho explicado

Ruperto, Escritos

Eusébio Emiseno, Escritos

Eutímio, Escritos

São João Crisóstomo, Escritos

São Cirilo de Jerusalém, Escritos

São Gregório Magno, Escritos

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Muitos outros sinais”

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