NADA APANHARAM
(Jo 21, 3)
“Saíram e subiram
ao barco e, naquela noite, nada apanharam”.
Eles pescaram
durante a NOITE... era um costume.
Porque, nesse horário, os peixes se deixam
pescar mais facilmente. Isso aumenta o milagre que vai
acontecer, posto que de NOITE, quando é maior
a abundância de peixes, NADA PESCARAM os
pescadores, e, ao contrário,
quando
tinha menos peixes, quando fugiram quase todos, apanharam
tantos que não podiam com a rede.
Por onde se vê que
ambas as coisas sucederam por DIVINA PROVIDÊNCIA.
E assim, o que fez com que depois pescassem tantos
peixes que se rompia a rede, sendo que não pescaram nada
durante a noite? O MOTIVO é claro:
se Jesus Cristo tivesse permitido que eles pescassem muitos
peixes durante a noite, não teria ocasião de realizar o
milagre, o qual aconteceu precisamente por não terem pescado
nenhum peixe. Porém, como passaram toda a noite sem
pescar nenhum peixe, e logo, seguindo a indicação de Jesus
Cristo, de repente, pescam tantos... que outra coisa
puderam pensar senão que tudo isso havia sido obra da divina
virtude? Tudo isso é explicação literal, brevemente
indicada por Eutímio. Mas nesta pesca existe algum
mistério, também será parte da explicação literal dizer algo
do sentido místico e moral.
São Cirilo de
Jerusalém
e Ruperto afirmam que o significado desse
trabalho infrutuoso (pesca) dos discípulos é
igual ao trabalho de Moisés e dos demais profetas do Antigo
Testamento, que havia sido em vão levar a salvação aos
homens, porque trabalharam de noite, já que a lei de Moisés
era noite, que não tinha o conhecimento de Deus, senão muito
obscura e com sombras. Pelo qual, segundo disse São
Paulo Apóstolo, não havia aperfeiçoado nada.
Quando veio o dia, quando nasceu o SOL da
JUSTIÇA, Jesus Cristo, com sua palavra
e a pregação do Evangelho, iluminou a
muitos por todo o orbe da terra.
Eusébio Emiseno
disse que se representam nestes discípulos trabalhadores e
sem fruto, aqueles que apoderam do ofício de
pregadores, não por vocação divina, mas por capricho, aos
quais nunca responde o fruto ao trabalho. A obra não cresce.
Os discípulos tinham ido pescar por vontade própria, não
porque Cristo havia mandado. Por isso nada conseguiram
pescar, fatigando e trabalhando.
O mesmo poderia dizer da obediência: o que por ela se
faz, prospera; o que se faz longe da
obediência, por vontade própria, fracassa. O
sentido moral mais claro é que sem Deus
trabalhamos em vão. No Salmo 126, 1 diz:
“Se
Deus não constrói a casa, em vão labutam os seus
construtores; se Deus não guarda a cidade, em vão vigiam os
guardas”,
e:
“Eles construirão, e eu demolirei!”
(Ml 1, 4), e também:
“Quem não está ao
meu favor está contra mim, e quem não ajunta comigo,
dispersa”
(Lc 11, 23).
É PERDA DE
TEMPO TRABALHAR LONGE DE JESUS CRISTO:
“...
naquela noite, nada apanharam”.
Na AUSÊNCIA
de Cristo, tinham trabalhado inutilmente em plena noite, por
conta própria; tinham perdido o tempo.
Acontece o mesmo
em cada um dos nossos dias. Na ausência de Cristo, o
dia se faz noite; e o trabalho, estéril: não passa de mais
uma noite, de uma noite vazia na vida. Para obtermos
frutos, não bastam os nossos esforços; necessitamos de Deus.
Ao lado de Cristo, quando o temos presente, os nossos dias
enriquecem-se. A dor e a doença convertem-se num tesouro que
perdura além da morte; e a convivência com os que nos
rodeiam torna-se um mundo de possibilidade de fazer o bem.
O drama de
um cristão começa quando deixa de ver Cristo na sua vida;
quando a tibieza, o pecado ou a soberba nublam o seu
horizonte; quando faz as coisas como se Jesus Cristo não
estivesse ao seu lado, como se Ele não tivesse ressuscitado.
Até os cristãos
nem sempre dão testemunho da completa adesão a Jesus Cristo.
Muitas vezes, sua existência flutua entre os caprichos do
querer e não-querer, de incoerência entre a fé e as obras.
Somente a plena adesão, que abrange e empenha toda a vida,
permite ao homem realizar a relação vital e amistosa com
Deus.
Para realizar o
bem e agradar a Deus é preciso andar pelo caminho da luz.
Para uma pessoa trabalhar frutuosamente, é
preciso caminhar unida a Cristo Jesus;
porque cristão é só aquele que segue os
passos de Jesus. Jesus Cristo é o caminho que sobe fatigante
ao Céu; porém, muitos cristãos têm enveredado pela trilha
cômoda que desce ao inferno.
Pe. Divino Antônio
Lopes FP (C)
Anápolis, 08 de
maio de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Manuel de Tuya,
Bíblia comentada
Pe. Juan de
Maldonado, Comentário do Evangelho de São João
Pe. João Colombo,
Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor
e dos Santos
Pe. Juan Leal, A
Sagrada Escritura (texto e
comentário)
Pe. Francisco
Fernández Carvajal, Falar com Deus
Pe. Gabriel de
Santa Maria Madalena, Intimidade Divina
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