Maria chorando
 

 

JÁ AMANHECERA

(Jo 21, 4)

 

“Já amanhecera. Jesus estava de pé, na praia, mas os discípulos não sabiam que era Jesus”.

 

 

Jesus Cristo ressuscitado vai em busca dos seus discípulos para os ANIMAR e CONTINUAR a explicar-lhes a grande missão que lhes confiou.

O Senhor estava na PRAIA, ocidental, não longe do monte das Bem-aventuranças. NÃO SABIAM... como Maria Madalena não sabia (Jo 20, 14) e os discípulos de Emaús (Lc 24, 16). Ele apareceu aos apóstolos de forma distinta (diferente), ou porque não quisesse ser conhecido na própria.

Santo Agostinho escreve: “Com vista a esta circunstância, Jesus apresentou-se na praia de manhã cedo. A praia é o termo (marco) do mar, e significa o fim do mundo”, e: “No meio dos trabalhos e aflições dos discípulos, Jesus Cristo se apresenta. E segue: ‘Já amanhecera. Jesus estava de pé, na praia’. Não quis dar-lhes a conhecer de repente, mas começou através o diálogo” (São João Crisóstomo).

Poderíamos perguntar: por que não se aproximou como antes, quando apareceu aos discípulos com as portas fechadas, mas ficou de pé na praia, ao invés de andar sobre as águas para mostrar-se aos discípulos, como fez em outras ocasiões? As duas dificuldades podem ser resolvidas com uma resposta: queria Jesus Cristo realizar aquele grande milagre (pesca milagrosa), para esclarecer com ele um mistério. Não queria, pois, ser reconhecido pelos apóstolos antes de realizar o milagre, para que, precisamente, por este O reconhecessem e assim causasse maior impressão nos mesmos.

Este é o motivo pelo qual lhes apareceu na forma de um comerciante que tratava de comprar peixes, como comentam São João Crisóstomo e Teofilacto. E o comerciante não compra peixes durante a noite nem anda sobre as águas.  Convinha realizar o milagre (pesca milagrosa) em plena luz do dia; pois sua grandeza consistia em que de noite, quando se pode pescar grande quantidade de peixes por causa da sua abundância, os discípulos nada pescaram; enquanto que de dia pescaram muitos peixes.

SENTIDO MORAL: Como pode chegar o sol antes do dia, se é ele que traz consigo a luz do amanhecer?  Isto é: Cristo com o Evangelho havia de chegar pela manhã, não pela noite, não no tempo da lei; assim Leôncio e Ruperto o interpretam. E Cristo ter permanecido de pé na praia, significa segundo Santo Agostinho, São Gregório Magno e São Beda, que Cristo estava terminando o CURSO (carreira) da sua VIDA. A VIDA PRESENTE é o MAR. A GLÓRIA é o PORTO e a PRAIA, onde havia chegado Jesus Cristo... por isso disse que estava de pé na PRAIA.

São Gregório Magno comenta: “Poderia perguntar-se: Por que o Senhor apareceu de pé na praia aos discípulos que trabalhavam (pescavam) no mar, depois da ressurreição, quando antes da ressurreição andava sobre as águas sendo visto pelos discípulos? É muito fácil de entender. Que é o mar, senão o presente século? Que é a firmeza da praia, senão aquele sossego eterno da glória? Como os discípulos se encontravam entre as ondas desta vida mortal, trabalhavam no mar; e como Nosso Redentor já havia superado o corruptível desta vida com a sua ressurreição, estava de pé na praia, como se falasse aos discípulos do mistério mesmo da sua ressurreição e dissesse: Já não me apareço a vocês no mar, porque já não estou com vocês nas perturbações da vida”.

“... mas os discípulos não sabiam que era Jesus”. Podem ter sido duas as causas pelas quais Jesus Cristo não fora conhecido pelos  apóstolos. UMA, que pela ressurreição e glorificação o seu corpo aparecesse luzidio, como pensa Eutímio; E OUTRA, citada também por Eutímio e comentada por São João Crisóstomo e Teofilacto, que Cristo não quis que O reconhecessem, pois desejava falar-lhes da compra dos peixes como se fora um comerciante, e aproveitar da ocasião para fazer o milagre da pesca.

 

É PRECISO CONFIAR EM JESUS CRISTO, PRINCIPALMENTE QUANDO PARECE QUE ESTÁ DISTANTE.

 

Ao romper da aurora, Jesus apareceu na praia. Jesus ressuscitado vai em busca dos seus discípulos para fortalecê-los na fé e  na amizade que lhe dedicam, e para continuar a explicar-lhes a grande missão que os espera. Mas os discípulos não o reconheceram. Estão a uns duzentos côvados, a uns cem metros. Dessa distância, no lusco-fusco, não se distinguem bem os traços de um homem, mas pode-se ouvi-lo se levantar a voz.

Jesus Cristo é Deus... devemos confiar no seu PODER e AMIZADE: “Só em vós eu coloquei minha esperança!” (Sl 39, 8), e: “O homem justo há de alegrar-se no Senhor e junto dele encontrará o seu refúgio, e os de reto coração triunfarão” (Sl 63, 11), e também: “O Senhor nunca recusa bem algum àqueles que caminham na justiça. Ó Senhor, Deus poderoso do universo, feliz quem põe em vós sua esperança” (Sl 83, 12-13), e ainda: “É melhor buscar refúgio no Senhor, do que pôr no ser humano a esperança” (Sl 117, 8).

Devemos nos APOIAR SEMPRE em Jesus Cristo, principalmente nas horas do LUSCO-FUSCO (meia claridade), isto é, quando as tentações, desânimo, perseguições, ameaças, obstáculos, dificuldades... não nos deixarem “enxergar” completamente a luz de Cristo... quando ficarmos com as “vistas” da fé “embaraçadas”.

Jesus Cristo é o nosso MELHOR AMIGO.

Quer um amigo, amigo confidente, fiel e dedicado? Somente um podemos encontrar com esses predicados: é Jesus Cristo. – Feliz de quem encontrou na sua amizade!

Quem escolheu a Jesus por amigo, pôs-se à sombra de boa árvore; pois, em Jesus terá uma égide (defesa) que em toda hora do dia e da noite o estará protegendo contra os assaltos de seus inimigos. Em Jesus terá um braço forte que pelejará por ele e lhe dará vitória na tentação.

Quem entrou na amizade com Jesus pôs-se no caminho da salvação, porque ser amigo de Jesus é ser amigo de Deus, do bem e da virtude.

Para ser amigo de Jesus é necessário ser inimigo do mundo, do demônio e do pecado.

A amizade com Jesus é salutar. O coração humano é às vezes batido por ondas de tão grande amargura que não há palavras de amigos que as abrandem, ainda que sejam dos mais confidentes. Nestes apertos do coração, neste abandono dos homens, neste pensar sem conforto quem nos pode consolar é só Jesus!

Só Ele pode amansar essas ondas, arrancar-nos do abismo da desesperação e leva-nos ao porto da esperança e da paz. Só Ele conhece as palavras que tem a doce magia de serenar as tormentas da alma e desdobrar o coração que se contorce no auge do quebranto. Só Ele conhece o segredo de mudar as noites de tristeza em dias de alegria e de fazer raiar nas trevas do desespero a luz suavíssima da esperança.

A amizade de Jesus é doce.

As suas palavras ainda que lidas no Evangelho, tem um não sei quê de doçura que não se encontra em outras. Que serão, pois, as que Ele diz ao coração no retiro dos homens, no silêncio da noite e nas horas de oração? Que doce não era a sua companhia àqueles que O tratavam! É bom ficarmos aqui, Senhor, - dizia S. Pedro no monte Tabor, todo elevado na transfiguração do seu mestre (Mc 9,5).

Jesus fugiu para o deserto, e as turbas, para O seguir e ouvir, nem se quer pensavam em comer!

É doce a sua doutrina, pois é doutrina fundada toda no amor. O primeiro e último preceito da sua moral é o amor de Deus, o amor ao próximo e o amor dos inimigos.

É doce a sua lei. É o mesmo Jesus que o diz: - o meu jugo é suave e a minha carga é leve (Mt 11,30).

Tudo em Jesus é bondade, doçura e amor. Por isso diz com muita razão o autor da Imitação de Cristo que – estar com Jesus é um doce paraíso e estar sem Jesus é um terrível inferno; que – quem encontra Jesus, achou um tesouro de muito valor; e – quem perde a Jesus, perde mais que o mundo inteiro.

A vida com Jesus é mais suave, porque Ele se encarrega de levar parte da cruz, ou de lhe diminuir o peso com as consolações, ou de nos robustecer com sua graça.

A amizade de Jesus é desinteressada. Jesus fez-se nosso amigo mais para dar do que para receber. Não buscou a nossa amizade por ter dela necessidade para aumentar sua glória, mas para nos dar um penhor da nossa bem-aventurança.

O que Ele espera receber, em paga do amor que nos mostrou em nos fazer seus amigos, é uma correspondência da nossa parte quase glacial (fria), quando não seja a ingratidão! E, todavia, Jesus ama-nos e quer ser nosso amigo. Que desinteresse!

E que amigo sincero Ele é! Para provar que a sua amizade lhe vem do fundo do coração, bastam o Sacrário e a Cruz. Estes dois objetos são os dois pregões que melhor falam da sincera amizade que Deus tem ao homem.

No Sacrário está como nosso Companheiro neste exílio pronto para nos servir e consolar nesta vida e acompanhar-nos na jornada da eternidade!

Na Cruz abriu Ele um livro onde escreveu com caracteres do seu precioso Sangue o melhor tratado do seu infinito amor aos homens.

Jesus é amigo de todos. Não abra exceção com ninguém, a todos franqueia a entrada do seu Coração. A mão da sua amizade estende-se a todos. Não a retrai da mão calejada do operário, nem da mão macilenta do pobrezinho esfomeado.

Jesus é o melhor amigo e o mais necessário, porque quem não tem a Jesus por amigo, tem-no por inimigo... e ter a Jesus por inimigo e estar excluído do céu.

Jesus ou é amado ou é odiado. Quem não O ama, odeio-O. Tem-lhe ódio quem peca. Tem-lhe amor quem O quer servir observando a sua lei.

Se te queres salvar, tens de ser amigo de Jesus. E para ser amigo de Jesus o que é preciso? Uma só coisa: - estar em sua graça e cumprir sua vontade. Mas para viver na graça de Jesus é necessário odiar o pecado, o demônio, o mundo.

Para ser amigo de Jesus é necessário ser inimigo de si próprio, dos prazeres, da vaidade e de tudo o que não esta em consonância com a doutrina do Evangelho. Para ser amigo de Jesus é necessário ser amigo da virtude, do sacrifício, da oração, das humilhações e da cruz.

Busca para teu primeiro amigo a Jesus, porque a sua conversação é doce, as suas palavras são de vida eterna, os seus conselhos os do Mestre mais sábio e conhecedor do teu coração, de tuas fraquezas e de teus inimigos.

Faze-te amigo de Jesus se queres que Ele te dê a mão quando caíres, e te receba, de novo, na sua graça.

Enquanto te conservares na amizade com Jesus terá o céu aberto, porque Jesus não quer a perdição dos seus amigos!

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 08 de maio de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Pe. Juan de Maldonado, Comentário do Evangelho de São João

Santo Agostinho, Escritos

São João Crisóstomo, Escrito

Edições Theologica

São Gregório Magno, Escritos

São Beda, Escritos,

Leôncio, Escritos

Teofilacto, Escritos

Ruperto, Escritos

Eutímio, Escritos

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

Pe. Francisco Fernández Carvajal, Falar com Deus

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Já amanhecera”

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