ESTAVA NU
(Jo 21, 7)
“Aquele discípulo
que Jesus amava disse então a Pedro: ‘É o Senhor!’ Simão
Pedro, ouvindo dizer ‘É o Senhor!’, vestiu sua roupa –
porque estava nu – e atirou-se ao mar”.
São João,
o APÓSTOLO VIRGEM, é mais vidente, não tem a
embaraçar-lhe a vista interior nenhuma dessas nuvens que
sobem de um coração menos puro. Por isso é ele sempre
o primeiro a reconhecer o Divino Mestre. Quem tem
alguma experiência do ministério das almas, pode verificar,
a cada passo, fenômeno semelhante. Os corações puros e
inocentes são naturalmente propensos à fé, são dóceis aos
seus ensinamentos e fiéis às suas inspirações. Mas
os corações impuros... como são lentos e
pesados! Dizem às vezes: Não posso crer!
Engano. Purifica primeiro o teu coração e verás a que se
reduzem as tuas dificuldades.
Se São João
é sempre o primeiro a reconhecer o Senhor, São Pedro, o
chefe da Igreja, o homem da fé ardente e generosa, é também
o primeiro a chegar a seus pés.
Pedro é a fé. E lança-se ao mar com uma audácia maravilhosa.
Com o amor de João e a fé de
Pedro, aonde podemos nós chegar!?
“...vestiu sua
roupa – porque estava nu”.
A túnica exterior, por razão de sua
etimologia, é uma veste que vai por cima de outra. Por isso,
NU significa que lhe faltava a veste
mais externa.
Essa veste de
São Pedro, usada para pescar, não tinha
botões ou cordões, mas somente um
CINTO para adaptá-la ao corpo. Outros
autores acreditam que São Pedro tinha
apenas um calçãozinho ligeiro (subligáculo,
usado na Roma Antiga) ou taparrabos
(usado mais entre os selvagens) por decência, que não o
impedia de nadar.
Alguns
autores não aceitam a total NUDEZ de
São Pedro, dizendo ser isso INTOLERÁVEL.
Como está em Jo
13, 4 e em Mt 27, 35, Jesus Cristo NÃO
USAVA somente uma veste, mas várias, e sobre aquela
inconsútil túnica de que São João fala em
19, 23, levava uma TOGA. Logo, também é de
acreditar que os apóstolos levavam sobre as demais vestes
interiores, uma túnica ou toga exterior, que
tiravam quando tinham que fazer algum trabalho grosseiro e
se vestiam quando concluía o trabalho, como Jesus Cristo fez
ao terminar de lavar os pés dos apóstolos.
São Pedro
estava pescando, usando pouca roupa, e quando ficou sabendo
que era Jesus Cristo, vestiu-se decentemente para comparecer
diante do Mestre honestamente vestido; pois, antes não
estava. Os sacerdotes devem imitar o exemplo de São
Pedro e se vestirem decentemente e
piedosamente (paramentos completos) para a
celebração da Santa Missa... e os fiéis devem se aproximar
da mesa da Comunhão com roupas decentes.
Perguntam
alguns como São Pedro conseguiu nadar
com a TOGA (capa ou manto, amplo e longo).
Em primeiro lugar, não disse o evangelista que
São Pedro nadou:
“...e atirou-se ao mar”.
Estando perto da praia, comentam que tenha indo andando até
onde estava Jesus, e isto é o mais provável, ainda que o
evangelista não comentasse.
São João
Crisóstomo, Leôncio, Teofilacto
e Teodoro de Heraclea pensam que São Pedro
tenha nadado. Mesmo que tenha nadado, a
TOGA bem cingida não é grande impedimento para um
pescador de ofício e bom nadador. Hoje, existem pessoas que
nadam vestidas e carregando algo nas costas.
O importante é
comparecermos diante de Jesus Cristo bem vestidos e
cingidos, isto é, vivendo santamente e com bons costumes...
e que lancemos ao mar, isto é, que enfrentemos qualquer
perigo por Ele.
“Aquele discípulo
que Jesus amava disse então a Pedro: ‘É o Senhor!”
O amor
vê. E de longe. O amor é o primeiro a captar aquela
delicadeza. O Apóstolo adolescente, com o firme carinho que
sentia por Jesus, pois amava Cristo com toda a pureza e toda
a ternura de um coração que nunca se corrompera, exclamou:
É o Senhor!
Por que São
João foi o primeiro a reconhecer Jesus Cristo?
Porque ninguém duvida que fora São João que
escreveu isso, e era o discípulo que Jesus amava.
São João, mais observador, conheceu
antes que ninguém a Jesus Cristo. São Pedro,
mais atrevido que os outros, se
jogou no mar para chegar antes que os outros até onde estava
Jesus Cristo.
São João,
pois, pela pesca milagrosa, como afirma Eutímio,
conheceu que aquilo não era casual nem aventura, e com o seu
coração observador, deduziu ser Jesus Cristo que com eles
falava; autor, sem dúvida, de tão feliz pesca; fixou-se
n’Ele e O reconheceu.
Leôncio
dá outro motivo: João possuía um
coração mais puro e simples. Os
simples conhecem a Deus facilmente
e facilmente crêem.
São Jerônimo,
cantor da virgindade, afirma de
São João:
“A virgindade foi
quem primeiro conheceu aquele corpo virginal”.
Outros
autores
comentam que a verdadeira causa foi que, assim como antes
não quis Cristo que O conhecessem, agora quis, e foi
conhecido.
São João
foi o primeiro a conhecer a Nosso Senhor por dois
motivos, segundo São Jerônimo:
porque O amava e era puro de
coração:
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”
(Mt 5, 8).
“...e
atirou-se ao mar”.
Ao ouvir falar que era o Senhor, São Pedro
lança-se ao mar, impaciente para chegar à margem antes
da embarcação.
FELIZ DA
PESSOA QUE IMITA A PUREZA DO APÓSTOLO SÃO JOÃO. FOI O
PRIMEIRO A CONHECER JESUS CRISTO, PORQUE ERA VIRGEM E PURO
DE CORAÇÃO.
Em quantas coisas não se mostra o mundo
grande apreciador da pureza!
Por que não procede assim no que mais importa? O ouro e a
prata desmerecem muito do seu brilho e perdem muito do seu
preço, se lhes falta esta qualidade.
Quando é que o céu é mais belo?
Quando o seu azul é mais puro e sombrias nuvens não o
toldam (cobrir).
Para beber, procuramos a água mais pura; para
respirar, o ar mais sadio.
Se pretendemos sair de casa para assistir a
uma festa, visitar um amigo, o que mais nos preocupa? – O
asseio, a limpeza no rosto, nas mãos, nas vestes, em tudo.
Ora, aos olhos de Deus não é menos
valiosa a pureza. O que Ele
mais aprecia numa alma é esta qualidade, que a torna
semelhante aos Anjos e, por conseguinte, faz dela um objeto
das divinas complacências.
A alma, a que não se pegou a mais leve nódoa
de impureza, é o que há de mais belo na terra. Nela vive
Deus como num templo. Nela descansa e se compraz no
suavíssimo aroma que exala o fragrante lírio da pureza.
Agradam tanto a Deus as almas puras, que
assim as louva e exala pela boca do Sábio:
“Que bela é a geração dos castos em
seu esplendor! É imortal a sua memória diante de Deus e
diante dos homens” (Sb 4,1).
É a pureza do coração a moeda com que havemos
de comprar a coroa da nossa eterna glória.
É a pureza do coração o distintivo dos
predestinados.
É o céu um banquete que será concedido
somente aos que partirem deste mundo com a alma adornada
pela inocência e pureza de costumes.
Quem são os que hão de ver a Deus?
– Os puros. Disse-o Jesus no Evangelho:
“Bem-aventurados os puros de
coração, porque eles verão a Deus” (Mt
5,8).
Se queremos viver com Deus já neste
mundo, busquemos a pureza!
Deus não mora nas almas maculadas pela culpa; e se mora, por
esta não ser grave, não é com todo o brilho de sua graça,
mas como o sol entre as nuvens.
Sem a pureza do coração não crescem as
virtudes em nossa alma que, por falta dela, se converte num
caminho estéril, onde só brotam espinhos.
A pureza do coração é luz. Assim como o vício
entenebrece o espírito, assim a pureza o ilumina,
mostrando-lhe o verdadeiro caminho do céu.
Sem o peso dos pecados, a alma sobe mais
facilmente para o céu e vai aprender a sabedoria no seio de
Deus.
Se pode haver felicidade na terra, o
limpo de coração a possui.
No auge das amarguras sente o doce do bálsamo
que produz na alma atribulada a consciência tranquila. A
alegria do coração reproduz-se no olhar sereno e no sorriso
que dá testemunho da grande paz de que está inundado o
coração.
O impuro, pelo contrário, não acha
descanso. Basta o estímulo do
remorso para lhe tirar o sabor a todos os gozos da vida.
Quem é mais puro, mais perto está de
Jesus. Na terra, Ele escolheu
para seus familiares uma Virgem puríssima, um pai adotivo
castíssimo, um Precursor santificado e um jovem apóstolo que
permaneceu virgem até a morte. No céu é com os coros das
virgens que Jesus anda de preferência.
A pureza enobrece o homem, tornando-o pouco
inferior aos Anjos, e faz dele a imagem fiel do Criador.
Que bela é a pureza!
A sua formosura, porém, com muito pouco se obscurece. É
semelhante a um espelho, que, com um leve sopro, se embacia.
É uma flor tão delicada que se murcha, seca e morre, com os
primeiros ardores de uma paixão que não se domina: Um olhar,
um dito, um gesto, um desejo e um pensamento bastam para
afogá-la no coração.
Para conservar o lírio da pureza em nossa
alma é preciso vigiar, porque são muitos os inimigos que
astuciosamente procuram fazer-nos cair em algum pecado, a
fim de nos privar dessa angélica prerrogativa do coração,
que tão gratos nos torna aos olhos divinos.
Para conservar a pureza da alma é necessário
fazer uma violência continuada à natureza, que de si
propende para as paixões baixas e degradantes. Para
conservar a alma intacta, o coração puro, a consciência
isenta da mais leve sombra de impureza, é preciso ter uma
vontade apostada a antes quebrar que torcer, e uma
constância inquebrável no firme propósito de antes morrer
que manchar-se.
Em vão procuraremos ser puros, se não formos
pessoas de oração.
A pureza da nossa alma tem contra si
grandes inimigos. Por um lado é o Demônio com todos os seus
embustes e trapaças, por outro o mundo, com tantos enredos,
seduções e maus exemplos; e sobre ambos é o fogo das
paixões, que mais concorre para queimar a flor imaculada da
pureza em nossa alma.
Para resistirmos a todos esses inimigos é
preciso força, e essa vem da oração.
Ora, e seremos puros se reconhecermos a nossa
fraqueza, e que o menor assalto basta para derrubá-la.
Peçamos ao Senhor da fortaleza, para que venha em nosso
auxílio e robusteça nossas forças.
Temamos a Deus!
É o temor de ofender ao Deus onipotente um esteio firme a
que devemos segurar para conservar intemerata, pura e
resplandecente a flor da nossa inocência.
A pureza perdida só com a penitência se
recupera, e depois de recuperada, só com o Pão dos Anjos se
conserva, fortifica e aumenta.
Sejamos puros, se quisermos, um dia, fazer
parte do coro dos bem-aventurados; pois aos limpos de
coração está prometida a beatífica visão de Deus.
Esmeremos em ir depurando nossa alma, o
nosso coração, os nossos sentidos e as nossas faculdades de
toda e qualquer mácula, que nos façam menos apreciados e
queridos aos olhos de Deus.
Sejamos puros na alma, conservando-a longe de
toda a sombra do pecado, fazendo-a um espelho resplandecente
da pureza dos Anjos.
Sejamos puros no coração, não dando nele
entrada a afetos menos santos.
Sejamos puros nos nossos sentidos. Não demos
ouvidos a ditos obscenos, nem deixemos sair dos lábios
palavras desonestas, nem apascentemos a vista em objetos e
representações indecorosas.
Sejamos puros em nossas faculdades.
A MEMÓRIA, que não a manchem recordações
impuras; o ENTENDIMENTO, que não o
ocupem especulações sobre assuntos imorais; a
VONTADE, que não se compraza no mal, mas somente
procure o bem, a virtude e Deus.
Pe. Divino Antônio
Lopes FP (C)
Anápolis, 09 de
maio de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Manuel de Tuya,
Bíblia comentada
Dom Duarte
Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos
São Josemaría
Escrivá, Amigos de Deus
Dom Isidro Gomá y
Tomás, O Evangelho explicado
São Jerônimo,
Escritos
Teofilacto,
Escritos
São João
Crisóstomo, Escritos
Santo Agostinho,
Escritos
Pe. Alexandrino
Monteiro, Raios de luz
Teodoro de
Heraclea, Escritos
Pe. Juan de
Maldonado, Comentário do Evangelho de São João
Eutímio, Escritos
Leôncio, Escritos
Pe. Juan Leal, A
Sagrada Escritura (texto e
comentário)
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