Maria chorando
 

 

VIRAM BRASAS ACESAS

(Jo 21, 9)

 

“Quando saltaram em terra, viram brasas acesas, tendo por cima peixe e pão”.

 

Tudo aqui é MISTERIOSO. Jesus Cristo tinha dito que no seu reino serviria aos seus eleitos, passando de mesa em mesa, e começa hoje a cumprir a sua promessa. Jesus é o PÃO da VIDA, é o PEIXE que passou pelo FOGO da paixão; as BRASAS acesas são os últimos vestígios do sacrifício. – Nos monumentos antigos, o PEIXE era o símbolo de Cristo.

Nesse acontecimento (peixe e pão assado) e seus pormenores, BRILHA a DELICADEZA e o AMOR de Jesus Cristo. Nosso Senhor, em pequena quantidade, simbólica, preparou para os apóstolos a comida completa: PÃO e PEIXE. Os dois elementos que multiplicou (Jo 6, 1-15) e simbolizam a comida perfeita do PÃO da VIDA: “Fica refletida a profunda impressão que deve ter causado aos Apóstolos esta aparição de Jesus Ressuscitado e a recordação íntima que dela guardava São João. Jesus manifesta depois da Ressurreição a mesma delicadeza que tinha tido durante a sua vida pública. Usa os meios materiais – as brasas, o peixe... -, que põem em realce o realismo da sua presença e continuam a dar o tom familiar costumado na convivência com os discípulos” (Edições Theologica).

“... viram brasas acesas, tendo por cima peixe e pão”. Era pela manhã quando ocorreu isso. Os Apóstolos vinham do mar... Jesus, com amabilidade lhes havia preparado o “café da manhã” na praia, com PÃO e PEIXE, preparado em ardentes brasas. Poderia haver símbolo mais doce e consolador da Santa Comunhão? Os primeiros cristãos representavam a Jesus com a figura de um PEIXE, e a Eucaristia com uns cestos de PÃES.

Santo Agostinho escreve: “O peixe assado é Jesus mortificado e castigado”. Ele disse também que somente o PÃO estava sobre as brasas... o PEIXE não.

Quando pela manhã vamos receber a Santa Comunhão para buscar forças para o trabalho durante o dia, nutrimo-nos deste PEIXE e deste PÃO mortificados... são a força salvadora de Deus, porque é o mesmo Jesus Cristo que é a força de Deus. Avivamos a pobre brasa do nosso coração com a ardente brasa do amor do Coração de Jesus Cristo.

Onde Jesus Cristo ENCONTROU o PEIXE? Ele não tinha peixe antes, pois pediu depois aos Apóstolos: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes” (Jo 21, 10).

Teodoro de Heraclea julga prováveis as duas sentenças: a que disse que Ele tirou o peixe do mar pelo seu poder, sem rede nem instrumento algum, somente com o chamado; e a outra é que Ele mesmo criou o peixe do nada. São Cirilo de Jerusalém fica com a primeira opinião. Mas a segunda opinião é mais verossímil (provável), e a defendem Teodoro de Mopsuestia, São João Crisóstomo, Leôncio, Teofilacto e Eutímio. E se poderia provar assim: ninguém duvida que, assim como Jesus Cristo procurou o fogo e o pão, procuraria também o peixe; porém, nem o fogo nem o pão foram tirados do mar, mas os criou do nada; logo, o mesmo aconteceu com o peixe.

Por que Jesus Cristo FEZ ISSO? Certamente para mostrar o seu PODER. Afirmam isso, ambos Teodoros e Leôncio.

São Cirilo de Jerusalém comenta que Jesus Cristo quis realizar isso com um ou poucos peixes, para demonstrar que Ele era o DONO. Segundo esse santo, não havia somente um peixe, mas vários sobre as brasas; o evangelista escreve no singular: PEIXE, UM PEIXE, não porque era único, mas porque eram poucos, o qual, não pode ser provado de nenhuma maneira.

Alguns autores encontram DOIS MOTIVOS que levaram Jesus Cristo a preparar este “café da manhã” para os apóstolos com um PEIXE, antes que os apóstolos trouxessem os seus. UM, demonstrar-lhes que Ele havia sido o autor da pesca milagrosa. Ele que sem rede, nem água, nem outro instrumento, em um lugar arenoso e árido, criou um peixe sem matéria preexistente; pôde fazer com os apóstolos, só em lançar a rede por seu mandato ao mar, que pescassem uma grande quantidade de peixes. Teodoro de Mopsuestia diz que Cristo Jesus quis demonstrar aos apóstolos que não foi pelo poder deles que pescaram tantos peixes; mas sim, por sua divina ajuda. Isso serve também para os pregadores da Palavra de Deus; sem Cristo o apostolado será um fracasso. OUTRO MOTIVO foi para ensinar-lhes que, se antes lhes havia pedido algo, não era porque necessitava, pois podia do nada criar o peixe que havia pedido... e o pão, e o fogo... e tudo quanto fosse preciso. Ele é o começo e o fim... Ele pediu-lhes apenas um peixe, e, num momento, lhes preparou o “café da manhã”. Logo, não foi para Ele, mas para os apóstolos que havia pedido o peixe, para iniciar a convivência, para manifestar-lhes seu PODER e ensinar-lhes a confiar em seu AUXÍLIO, para enriquecê-los com todos aqueles peixes que buscavam e não encontravam.

Ensinamento MORAL: muitas vezes Deus nos pede não para si, mas para nós. Quando pediu água para a samaritana, não tanto queria Ele beber, mas queria dar para a mulher a melhor água.

Eusébio Emiseno diz: “Com tal alimento sempre se alegram os pescadores de Cristo e os pregadores, e os fortalecem sempre que estão cansados e voltam animados ao trabalho. Quantas vezes vêem as brasas e o peixe posto encima e também o pão, isto é, recordam a paixão do Salvador, e outras vezes esquecem seus trabalhos, fadigas e demais angústias. Que é o peixe assado e o fogo senão Cristo morto na cruz? Que é o pão senão a pregação do evangelho, com a qual o Senhor fortalecia-os dizendo: Não temais os que matam o corpo, porque não podem matar a alma?”

Ruperto comenta: “Creio que por peixe e pão significa aquela ceia da vida eterna, da qual se diz: ‘Serei saciado quando aparecer sua glória’, e: ‘Bem-aventurado o que come pão no reino de Deus’, e também: ‘Preparo para vocês, como o Pai preparou para mim, um reino para que comais e bebais à minha mesa no meu reino’. Esse alimento está preparado no céu, isto é, na praia, aos que pelo mar desta vida navegaram para Jesus Cristo. O fogo é o amor do Espírito Santo; o peixe e o pão é Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro”. São Cirilo de Jerusalém comenta o mesmo.

Outro autor diz que Jesus Cristo ensina que não faltará nada aos seus pescadores, sobretudo, àqueles que deixando o barco e os peixes, se lançam ao mar para chegar até Ele.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 10 de maio de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Edições Theologica

Pe. Juan de Maldonado, Comentário do Evangelho de São João

Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos

Dom Isidro Gomá y Tomás, O Evangelho explicado

Santo Agostinho, Escritos

Teodoro de Heraclea, Escritos

Eusébio Emiseno, Escritos

Ruperto, Escritos

São Cirilo de Jerusalém, Escritos

Teofilacto, Escritos

Leôncio, Escritos

Eutímio, Escritos

São João Crisóstomo, Escritos

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Viram brasas acesas”

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