Bom humor
O tema da palestra de hoje até parece muito estranho, mas não é,
porque o bom humor não é simples questão de temperamento, mas de
graça e de educação. Pe. Gaston Courtois diz que:
“Muitas almas,
virtuosas até, não fazem os progressos que deveriam fazer no plano
moral e espiritual e não têm, no plano apostólico, a irradiação que
deveriam ter, porque negligenciaram a cultura da alegria interior,
estável e profunda, da qual o bom humor é, apenas, o aspecto
exterior”.
Sabemos que a alegria é uma virtude cristã, ou melhor,
essencialmente cristã. Jesus Cristo veio à terra anunciar a alegria.
A palavra Evangelho quer dizer “boa nova”; os anjos aos pastores,
foram seus primeiros mensageiros: “O anjo, porém, disse-lhes: Não
temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para
todo o povo: Nasceu-vos hoje um salvador, que é o Cristo-Senhor, na
cidade de Davi” (Lc 2, 10-11).
Jesus Cristo é amigo de toda alegria sadia.
O grande São Paulo apóstolo, também nos convida a vivermos sempre
num clima de alegria verdadeira: “Alegrai-vos sempre no Senhor!
Repito: alegrai-vos!” (Fl 4, 4). É interessante a insistência de São
Paulo repetindo a palavra: alegrai-vos! Sabemos que a alegria sadia,
isto é, aquela que não vai contra os mandamentos da Lei de Deus, nos
ajuda muito, principalmente quando estamos passando por
dificuldades, seja na vida espiritual ou financeira.
Quanto mais alegres formos, mais rápido chegaremos à santidade,
porque a santidade não consiste em tristeza, mas sim, em alegria,
como escreve São Francisco de Sales: “Um santo triste é um triste
santo”, e também São João Bosco: “Vivei também na máxima alegria,
desde que não cometais pecado”.
E de grande importância saber que a alegria não vai contra a
devoção, mas pelo contrário, ajuda a cultivá-la com mais entusiasmo
e perseverança: “Renovai sempre em vós o espírito da alegria e crede
firmemente que é o verdadeiro espírito de devoção”
(São Francisco de Sales).
A – Deus quer que sejamos alegres
Já vimos que a vida espiritual se torna mais frutuosa sendo
cultivada com a verdadeira alegria, mas não resume só nisso, é
também vontade de Deus que sejamos alegres, como está na carta de
São Paulo aos Filipenses 3, 1: “Finalmente, irmãos, regozijai-vos no
Senhor”.
Devemos manter a nossa alegria, principalmente quando estamos
trabalhando para a glória de Deus, porque a alegria no serviço de
Deus, é um sinal de confiança n’Ele, como está no Salmo 100, 2:
“Servi ao Senhor com alegria, ide a ele com gritos jubilosos!” Deus
não fica satisfeito quando trabalhamos para Ele com o semblante
carregado, porque em 2 Cor 9, 7 diz: “Deus ama quem doa com
alegria”, e o Bem-aventurado Josemaría Escrivá diz: “Deus ama quem
doa com alegria, com a espontaneidade que nasce de um coração
enamorado, sem os espaventos de quem se entrega como se prestasse um
favor”.
O cristão deve ser alegre, mas não deve ser uma alegria qualquer, é
a alegria de Cristo, alegria cheia de paz e justiça, porque ela nos
leva à santidade: “A alegria é uma das características da
Santidade” (Padre Faber).
A verdadeira alegria nasce do coração que está em paz com Deus,
daquela alma que está na graça santificante, a alegria é como um
combustível precioso que empurra a nossa vida, principalmente quando
estamos em dificuldades.
Deus pede que estejamos alegres sempre, como está em 1 Cor 3, 11:
“Quanto ao fundamento, ninguém pode colocar outro diverso do que foi
posto: Jesus Cristo”. Quem coloca os ídolos de pano como fundamento
da sua vida, vive numa tristeza mortal, porque somente Jesus Cristo
é capaz de conservar a nossa alma sempre alegre, Ele está sempre nos
animando dizendo: “Não temas; crê somente”
(Lc 8, 50).
B – Deus quer que tenhamos uma verdadeira alegria
A verdadeira alegria não pode sair da mentira, mas da verdade. A
mentira enche o coração do homem de ilusão, enquanto que a verdade
faz mesmo transbordar de paz. Sabemos muito bem que só a doutrina de
Jesus é capaz de conquistar os corações sedentos e sinceros, como
está em Mc 11, 18: “Os chefes dos sacerdotes e os escribas ouviram
isso e procuravam como o matariam; eles o temiam, pois toda a
multidão estava maravilhada com o seu ensinamento”. Os mentirosos e
levianos queriam matar o Senhor, enquanto que os sinceros estavam
alegres e maravilhados com a sua doutrina.
Quanto mais aproximamos de Jesus, mais a nossa alegria aumenta,
porque a presença d’Ele na nossa vida faz a mesma se alegrar, porque
estar com Jesus é a mais doce consolação: “Os discípulos ficaram
cheios de alegria por verem o Senhor”
(Jo 20, 20).
A verdadeira alegria consiste em andar sempre com Jesus, seja para o
Monte Tabor (cf. Mt 17,1-8),
seja na planície (cf. Mt 13, 1-3),
ou para o Monte Calvário (cf. Mt 27, 32-38).
Quando estamos com Jesus, sentimos uma grande alegria invadir todo o
nosso ser, e essa alegria faz bem não somente para a alma, mas
também para o nosso corpo, como está em Pr 17, 22:
“Coração
alegre, corpo contente”.
As coisas passageiras da terra não podem preencher o nosso coração,
porque nelas não está a paz verdadeira, porque essa paz somente
Cristo Jesus pode dar, como está em Jo 14, 27: “Deixo-vos a paz, a
minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá. Não se perturbe
nem se intimide vosso coração”.
A verdadeira alegria brota de uma vida de verdadeira oração,
recepção digna dos sacramentos, penitência, silêncio, leitura
espiritual, etc., enquanto que as coisas do mundo só oferece
frustração para a nossa alma, e quem as praticam não conseguem
sentir o amor que vem do Pai, aquele amor que nos inunda de alegria:
“Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai”
(1 Jo 2, 15).
C – Deus quer que o nosso rosto irradie a verdadeira alegria
A alegria interna, aquela que brota de uma profunda vida de oração e
de união com Deus, deve também externar-se: “Devemos servir a Deus
de bom grado, alegremente” (São José Cafasso).
A pessoa que tem o rosto carrancudo não consegue conquistar os
corações nem a simpatia do próximo, mas sim, todos se afastam da
mesma com o propósito de não mais aproximar.
No Livro do Gênesis 4, 6-7, Deus diz a Caim:
“Por que estás irritado
e por que teu rosto está abatido? Se estivesses bem disposto, não
levantarias a cabeça?” O semblante abatido e emburrado de Caim não
deixou Deus feliz, esse silêncio de Caim não agradou a Deus, porque
não era uma virtude.
O semblante alegre conquista os corações, faz o próximo aproximar de
Deus, mostra que vale a pena trabalhar pela salvação das almas.
Sabemos que a felicidade é o ideal supremo do homem, mesmo quando
esse tem que passar por provações, porque quem está perto de Jesus
se alegra no sofrimento, como está nos Atos dos Apóstolos 5, 41:
“Quanto a eles, saíram do recinto do Sinédrio regozijando-se por ter
sido achados dignos de sofrer pelo Nome de Jesus”.
São Gabriel da Virgem Dolorosa dizia:
“Consistem nossas
recreações... não naquelas alegrias do mundo, mas, por divina
bondade, naquela paz interior que promana da graça de Deus. Oh! Como
é doce, como é doce servir a Deus e a sua Mãe Santíssima!”
É de suma importância lembrar de que a alegria é uma das melhores
defesas contra as tentações; dizia um jovem padre que morreu em odor
de santidade: “Não conheço melhor remédio contra a mais
atormentadora tentação do que a alegria, ainda a alegria, sempre a
alegria”. Sabemos que o demônio teme uma pessoa alegre, e também uma
pessoa alegre encontra-se melhor disposta à prática da generosidade,
do sacrifício e da caridade. O bom humor duplica as energias da alma
e dá-lhe impulso irresistível, enquanto que a tristeza enfraquece o
impulso da nossa alma. O triste carrega sempre duas cruzes: as
provações e a cruz de sofrer resmungando.
Como é importante a alegria, como é importante sorrir, por isso,
dizia Pio XII: “O sorriso foi umas das mais belas dádivas que Deus
fez à terra”. O sorriso é, de fato, uma força, não apenas força para
conquistar as pessoas, mas força para apaziguar a si mesmo.
Sabemos que o bom humor ajuda o nosso físico, enquanto que o mau
humor deprime fisicamente e pode, com o tempo, ter uma repercussão
funesta no organismo. O bom humor é útil à saúde.
O bom humor constante não é coisa fácil, devemos pedi-lo a Deus.
Manter sempre o nosso sorriso é quase ou mesmo um ato de heroísmo:
“Em certas horas pode haver heroísmo num simples sorriso, mas aquele
que sorri é o primeiro recompensado. O exterior age no interior”
(Santa Teresa do Menino Jesus), e o Padre Pierre diz:
“Um sorriso
custa bem menos que a eletricidade e dá mais claridade”, dizia
também o Cardeal Suenens: “Sorrir é olhar um outro homem com os
olhos do Cristo; é um raio luminoso vindo do rosto de Deus e que diz
ao estranho que ele é reconhecido e aceito como irmão”.
Devemos pedir a Deus todos os dias a graça do bom humor, daquela
alegria verdadeira, e também de conservar sempre o nosso sorriso. O
sorriso permite olhar bem de perto as dificuldades cotidianas, sem
exagerá-las; as preocupações, sem fazê-las crescer; as decepções,
sem aumentá-las, e os estados de alma, sem criar espinhos. Diz Guy
de Larigaudie: “Quando alguma coisa não vai bem é preciso sorrir. É
tão fácil e arranja tanta coisa!”
Pode haver heroísmo num simples sorriso, e ter uma fisionomia
sorridente é como pôr flores à sua janela.
Para concluir essa palestra, quero usar uma frase de Santo Tomás de
Aquino: “Quem não vive na caridade, não tem a verdadeira alegria”.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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