Humildade
Conheçamos em primeiro lugar a definição da humildade: É uma virtude
sobrenatural que, pelo conhecimento que nos dá de nós mesmos, nos
inclina a nos estimarmos em nosso justo valor e a buscarmos o
abatimento e o desprezo.
É uma virtude sobrenatural, isto é, são princípios bons de ação que
Deus comunica às nossas almas, sem que façamos esforços por
adquiri-los; são dons de Deus. O Pe. Leo J. Trese diz:
“Pelo seu
poder infinito, pode Deus, conferir a uma alma o poder e a
inclinação para realizar certas ações sobrenaturalmente boas. Uma
virtude deste tipo – o hábito infundido na alma diretamente por Deus
– chama-se sobrenatural”.
A humildade tem duplo fundamento: a verdade e a justiça: a verdade,
faz que conheçamos a nós mesmos tais quais somos; a justiça, que nos
inclina a tratar-nos em conformidade com esse conhecimento.
Santo Tomás de Aquino diz que: “Para nos conhecermos a nós mesmos, é
necessário ver o que em nós pertence a Deus e o que nos pertence a
nós, como próprio; ora, tudo quanto há de bom vem de Deus e a Deus
pertence, tudo quanto há de mau ou defeituoso vem de nós”.
A justiça exige, pois, imperiosamente que se dê a Deus, e a Deus só,
toda a honra e glória: “Amém! O louvor, a glória, a sabedoria, a
ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus
pelos séculos dos séculos. Amém!”
(Ap 7, 12).
Não há dúvida que alguma coisa boa há em nós, o nosso ser natural e
sobretudo os nossos privilégios sobrenaturais. A humildade não nos
impede de os ver e admirar; mas, assim como, quando se admira um
quadro, é para o artista, que o pintou, que vai a nossa homenagem, e
não para a tela, assim também, quando admiramos os dons e graças de
Deus em nós, é a Ele e não a nós mesmos que se deve dirigir a nossa
admiração (Tanquerey).
Tanquerey diz que: “Devemos, pois, por justiça, amar as humilhações,
aceitar todas as afrontas; se nos dizem que somos avaros,
desonestos, orgulhosos, devemos convir nisso, porque conservamos em
nós a tendência a todos esses defeitos”. E M. Olier assim conclui:
“Em qualquer enfermidade, perseguição, desprezo e outra aflição, é
mister pormo-nos do partido de Deus contra nós mesmos, e dizer que
tudo isso merecemos justamente e ainda mais, que Ele tem direito a
usar de todas as criaturas para nos castigar, e que adoramos a
grande misericórdia que ele exerce agora sobre nós, pois sabemos
perfeitamente que no tempo da sua Justiça nos tratará mais
rigorosamente”.
Jesus e a Humildade
Jesus Cristo diz em Mt 11, 29: “Aprendei de mim que sou manso e
humilde de coração”. Santo Agostinho comenta:
“Ele não nos pede que
o imitemos na fabricação do mundo, na criação dos seres visíveis e
invisíveis, na realização das obras maravilhosas, mas na humildade
de coração”. O nosso Salvador é o Mestre da humildade, por isso, Ele
se coloca como modelo para que O imitemos. O Bem-Aventurado José Allamano diz:
“Jesus foi o único humilde verdadeiro, então devemos
imitá-lO radicalmente”.
O Coração de Jesus é um oceano infinito de virtudes, é um imenso
jardim, onde Ele nos convida a entrar e colher a flor perfumada da
humildade.
Jesus Cristo revelou a sua humildade em todas as ações. Se operava
milagres, recomendava que fossem velados no silêncio; se as
multidões, deslumbradas por seus milagres, procuravam proclamá-lo
rei, desaparecia e não se deixava encontrar.
Toda a vida de Jesus foi uma escola de humildade, principalmente a
sua morte na cruz: “Humilhou-se a si mesmo fazendo-se obediente até
à morte, e morte de cruz” (Fl 2, 8).
Muitas pessoas gostam de procurar a humilhação, mas buscam aquelas
que gostam ou que não servem mais para prová-las, o que agrada a
Deus, não é buscar humilhação, mas sim, aceitar por amor aquelas que
aparecem sem serem procuradas, como escreve o Bem-Aventurado
Josemaría Escrivá: “Não é humilde quando te humilhas, mas quando te
humilham e o aceitas por Cristo”.
Refletimos sobre os doze graus de humildade segundo São Bento.
1. O temor de Deus, sempre presente aos olhos de nosso
espírito, e fazendo-nos praticar os mandamentos: temor dos castigos
primeiro, depois temor reverencial, que remata na adoração.
2. A obediência ou submissão da nossa vontade à de
Deus; é claro, que, se temos reverência e temor de Deus, faremos a
sua vontade em tudo. Esta obediência é sem dúvida um ato de
humildade, visto ser a expressão da nossa dependência para com Deus.
3. A obediência aos superiores por amor de Deus. É mais
dificultoso submeter-se aos Superiores que ao próprio Deus: de fato,
é necessário mais espírito de fé, para ver a Deus nos Superiores, e
mais perfeita abnegação, porque esta obediência se aplica a maior
número de coisas.
4. A obediência paciente, ainda nas coisas mais dificultosas,
suportando as injúrias sem queixumes, ainda mesmo e, sobretudo
quando a humilhação vem dos Superiores: para o conseguir, pensar na
recompensa celeste e nos sofrimentos e humilhações de Jesus.
5. A confissão da faltas secretas, incluindo os pensamentos,
ao Superior, fora da confissão sacramental. É este ato de humildade
um freio poderoso: a idéia de que será necessário manifestar as
faltas mais ocultas, trava muitas vezes o despenho para o abismo.
6. A aceitação cordial de todas as privações, ocupações vis,
considerando-se inferior ao seu oficio.
7. Julgar-se sinceramente, do fundo do coração, o último de todos
os homens. É raro este grau; os Santos chegam lá, refletindo
que, se os outros tivessem tido tantas graças como eles, seriam
melhores.
8. A fuga da singularidade: não fazer nada de extraordinário,
mas contentar-se do que é autorizado pela regra comum, pelos
exemplos dos antigos e pelos costumes legítimos: querer
singularizar-se é, efetivamente, sinal de orgulho ou vaidade.
9. O silêncio: saber calar enquanto nos não interrogam ou
enquanto não há uma boa razão de dar o parecer, e ceder aos outros
ocasião de falar. De fato, na ânsia de tomar a palavra, há muita
vaidade.
10. A moderação no rir. São Bento não condena o rir, enquanto
é expressão de alegria espiritual, mas tão somente o riso de má
pinta, a gargalhada estridente ou zombeteira, ou a disposição
habitual a rir pronta e ruidosamente, que mostra pouco respeito da
presença de Deus e pouca humildade.
11. A reserva nas palavras: quando se fala, fazê-lo suave e
humildemente, sem gritos, com a gravidade e sobriedade do homem
sisudo.
12. A modéstia no porte: andar, assentar-se, estar de pé,
olhar moderadamente, sem afetação, a cabeça ligeiramente inclinada,
o pensamento em Deus e na própria indignidade de levantar os olhos
ao céu.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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