A morte
O que é a morte?
O fim da vida, a separação da alma do corpo. É
um adeus para sempre a tudo que nos cerca; é um separar, sem
remédio, de amigos, de irmãos, de pai e mãe, de bens da fortuna, de
dignidade, de ofícios... De tudo! “Todos havemos de morrer”
(Hb 9,
27), e: “Lembra-te, ó homem, que a morte não tarda”
(Eclo 14, 12).
A morte não respeita ninguém. Ela rouba ouro,
prata e outros bens, separa, arrancando os filhos dos braços dos
pais, e também tirando os pais de perto dos filhos. Não há quem
possa afugentá-la; nem conjurando, nem ameaçando. Você pode fugir
para qualquer país; ali a encontrará; pode cavar um buraco no chão
ou morar no fundo do mar, ali a encontrará. Rico e pobre, branco e
negro, culto e inculto, etc., todos receberão um dia a visita da
morte: “Em vão percorremos as planícies, os mares, os banquetes, os
bailes, os concertos, os espetáculos; - a morte anda o mesmo caminho
que nós” (Padre Conceição Cabral).
Quando hei de morrer?
Nesta terra tudo passa, e eu também hei de
passar. Uns vivem mais tempo, outros menos; porém, mais cedo ou mais
tarde, para cada um chegará o fim da vida: “Vigiai, portanto, porque
não sabeis nem o dia nem a hora”
(Mt 25, 13).
Morreremos na primavera ou no verão? Não
sabemos. Desceremos à sepultura no outono ou no inverno? Não
sabemos, não sabemos: “A vida não é mais que uma morte lenta; cada
dia morremos; cada dia a morte leva-nos parte da nossa vida”
(Santo Agostinho).
Morre o velho que vê e sente a morte portas
adentro; morre o jovem que a tem pelas costas traiçoeiramente: “Como
as folhas numa árvore frondosa tanto caem como brotam, assim a
geração de carne e sangue: esta morre, aquela nasce”
(Eclo 14, 18),
e: “A morte vos espera em toda a parte; se fordes prudentes, esperai
vós por ela em todo o lugar” (São Bernardo de Claraval).
Você sabe que um dia a morte baterá na porta da
sua casa para te buscar, e vives como se ela não existisse. Cuidado!
Se queres ter uma morte feliz, morra antes para tudo aquilo que é
mundano e que ofende a Deus: “Por isso esteja sempre prevenido e
viva de tal modo, que a morte nunca te encontre desapercebido”
(Tomás de kempis).
Onde hei de morrer?
Conta-se dum negociante que fez estas perguntas
a um marinheiro:
— Onde morreu
o teu pai?
— Afogou-se no
mar.
— E o teu avô?
— Também.
— E não tens
medo do mar?
O marinheiro, por sua vez, pergunta:
— E o teu pai,
onde morreu?
— Na cama.
— E o teu avô?
— Também.
— E não tens
medo de te deitares todas as noites na cama onde morreram o teu pai
e o teu avô?
Onde você morrerá? Em um quarto dormindo? :
“Morrem de repente em plena noite”
(Jó 34, 20), ou na rua, deitado à
beira da sarjeta? Em casa, ou no hospital? Em terra firme, ou no
mar? No meio de uma floresta ou no fundo de uma cloaca? Certamente
tu não saberás.
Como hei de morrer?
Morrerei depois de longo e doloroso sofrimento,
ou repentinamente? Em um desastre automobilístico onde ficarei todo
quebrado, ou em um desastre aéreo, em que o meu corpo ficará
carbonizado? Com o meu coração transpassado por um agudo punhal, ou
com um tiro na cabeça? Com o meu corpo carcomido pelo câncer ou pela
lepra? Fulminado por um raio, ou afogado no fundo de um lago? Não
sei.
Rodeado de parentes e amigos, ou num ambiente
estranho, abandonado de todos? Não sei, não sei.
Como ficará o meu corpo no caixão?
Diz Santo Afonso Maria de Ligório:
“Imagina que
estás em presença de uma pessoa que acaba de expiar. Contempla
aquele cadáver, estendido ainda em seu leito mortuário: a cabeça
inclinada sobre o peito; o cabelo em desalinho e banhado ainda em
suores da morte, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto
acinzentado, os lábios e a língua cor de chumbo; hirto e pesado o
corpo… É ainda mais horrível o aspecto do cadáver quando começa a
corromper-se… Nem um dia se passou após o falecimento daquele jovem
e já se percebe o mau cheiro. É preciso abrir as janelas e queimar
incenso; é mister que prontamente levem o defunto à igreja ou ao
cemitério, e o entreguem à terra para que não infeccione toda a
casa…”
Caro amigo, esse teu corpo, que é tratado com
tanta vaidade e cuidado, muito mais do que a sua alma, um dia também
será colocado num caixão. Cuidado! Não deixe para amanhã o bem que
você pode fazer hoje para a sua alma. Usa dos dons que você possui
para entesourar tesouros no céu.
Como ficará o meu corpo no túmulo?
Diz São João Crisóstomo: “Cristão, para
compreenderes melhor o que és, aproxima-te de um sepulcro, contempla
o pó, a cinza e os vermes, e chora”.
Escreve Santo Afonso Maria de Ligório:
“Observa
como aquele cadáver, de amarelo que é, se vai tornando negro. Não
tarda a aparecer por todo o corpo uma espécie de penugem branca e
repugnante. Sai dela uma matéria pútrida, nasce uma multidão de
vermes, que se nutrem das próprias carnes. Às vezes, se associam a
estes os ratos para devorar aquele corpo, saltando por cima dele,
enquanto outros penetram na boca e nas entranhas. Caem a pedaços as
faces, os lábios e o cabelo; descarna-se o peito, e em seguida os
braços e as pernas. Quando as carnes estiverem todas consumidas, os
vermes passam a se devorar uns aos outros, e de todo aquele corpo só
resta afinal um esqueleto fétido que com o tempo se desfaz,
desarticulando-se os ossos e separando-se a cabeça do tronco”.
A Sagrada Escritura também mostra como ficará o
corpo de uma pessoa dentro do túmulo: “Digo à cova: ‘tu és meu pai’;
ao verme: ‘Tu és minha mãe e minha irmã!’”
(Jó 17, 14), e:
“Sob o teu
corpo os vermes formam como um colchão, os bichos te cobrem como um
cobertor” (Is 14, 11), e também: “Quando um homem morre, herda
insetos, feras e vermes” (Eclo 10, 11).
E você caro amigo, que passa horas e horas
diante de um espelho penteando o cabelo, e embelezando o rosto com
cosméticos e perfumes, e que cuida tão pouco ou quase nada da sua
alma; onde passarás a eternidade? Para que tanta vaidade, sendo que
o teu corpo será devorado pelos vermes? Para que tanto orgulho e
arrogância, sendo que no túmulo serás igual a todos, isto é, um
monte de carniça?
Para que servirão os reinos do mundo na hora da
morte?
Infeliz do homem que se apega aos bens do mundo
e coloca neles a sua felicidade e segurança, esse, viverá sempre
frustrado, porque, vive abraçado com o vazio, e a sua alma estará
sempre inquieta: “Para ti nos criaste, ó Senhor… e inquieto está o
nosso coração enquanto não repousar em ti!”
(Santo Agostinho).
São João Damasceno conta que, numa cidade da
Grécia, havia um estranho costume.
Todo ano ia-se buscar longe um estrangeiro, e,
entre o aplauso do povo e os cantos e as flores, levavam-no
triunfalmente para governar a cidade.
E o infeliz iludia-se beatamente no esplendor
do trono e nas riquezas do palácio real. Mas, findo o ano, a cidade
com urros vergonhosos o expulsava para uns escolhos nus no meio do
mar; sem veste, sem alimento.
E lá, na areia da ilha estéril, aquele infeliz
rei de um ano pagava uma a uma aquelas fugazes horas de glória.
Mas uma vez foi trazido para governar a cidade
um homem que era sábio. Este não se deixou seduzir nem pelas honras
nem pelos banquetes. Todo dia, secretamente fazia transportar para a
ilha, vestes, alimentos, ouro, pedras e madeiras de construção.
E, quando o povo se levantou para expulsá-lo,
ele não se fez rogar, mas fugiu contente para os recifes, onde
tantas riquezas o esperavam.
Este rei de um ano somos nós, na terra; finda
esta breve vida, teremos de passar para a ilha da eternidade.
Infeliz daquele que não tiver feito obras de justiça; lá não achará
nem pão, nem roupa, nem casa para a sua felicidade.
Mas, se todo dia fizermos alguma ação boa para
a eternidade, alguma mortificação, alguma oração, alguma esmola por
amor de Deus, quando a morte vier expulsar-nos do reino desta terra
não sentiremos, mas beatamente fugiremos para o reino do céu.
Diz Jesus Cristo: “Pois, de
que servirá ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua
alma?” (Mt 16, 26).
O fim do homem não é ganhar os bens temporais
deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do
homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na
terra pela graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica
qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto
é, tudo o que é comodidade, egoísmo, apego aos bens terrenos) e
levar a cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável
à salvação eterna da alma. Como explica com precisão teológica Santo
Tomás de Aquino: “O menor bem da graça é superior a todo o bem do
universo” (Suma Teológica, I-II, q.
113, a .9).
O Salmo 49 diz o seguinte: “Eles confiam na sua
fortuna e se gloriam de sua imensa riqueza… ora, ele vê os sábios
morrerem e o imbecil perecer com o insensato, deixando sua riqueza
para outros… Não temas quando um homem enriquece, quando cresce a
glória de sua casa: ao morrer nada poderá levar, sua glória não
descerá com ele” (7.11.17-18), e:
“Como saiu do ventre materno,
assim voltará, nu como veio: nada retirou do seu trabalho que possa
levar nas mãos. Isso também é um mal doloroso: ele se vai embora
assim como veio; e que proveito tirou de tanto trabalho?”
(Ecl 5,
14-15).
Como preparar-se para a morte?
Feliz daquela pessoa que vive preparada para
morrer, essa é realmente uma pessoa sábia:
“… porque do instante da
morte depende a eterna bem-aventurança ou a eterna desgraça”
(Santo
Afonso Maria de Ligório).
Essa preparação consiste em:
-
Fazer um sério e sincero exame de
consciência de toda a vida, e depois de arrepender de tudo o que
cometeu e de um sincero propósito, fazer uma confissão geral:
“Oh!
Quanto contribui a confissão geral para pôr em boa ordem a via de um
cristão” (Santo Afonso Maria de Ligório).
-
Participar da Santa Missa diariamente com fé
e devoção: “Como é desejável, participem os fiéis ativamente, cada
dia e em grande número, no Sacrifício da Missa, vindo alimentar-se
da Sagrada Comunhão, com intenção pura e santa, e dando graças a
Cristo Senhor Nosso por tão grande dom”
(Carta Encíclica “Mysterium Fidei”, Paulo VI).
-
Meditar nas verdades eternas: “Em tudo o que
fazer, lembra-te de teu fim e jamais pecarás”
(Eclo 7, 36).
-
Visitar todos os dias o Santíssimo
Sacramento: “Durante o dia, não deixem de visitar o Santíssimo
Sacramento, que se deve conservar nas igrejas…, no lugar mais digno,
segundo as leis litúrgicas; cada visita é prova de gratidão, sinal
de amor e dever de adoração” (Carta Encíclica “Mysterium Fidei”,
Paulo VI).
-
Rezar com piedade o Santo Rosário: “O
Rosário é um modo utilíssimo de rezar, suposto que se saiba
recitá-lo bem” (São Francisco de
Sales).
-
Jejuar, fazer leitura espiritual e praticar a
caridade.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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