(Gravada em CD no dia 26 de maio de
2005)
Caríssimo católico, no Salmo 118, 147
diz: “Antecipo a aurora e imploro, esperando
pelas tuas palavras”. Tenha você também essa sede pela
Palavra de Deus; ela é luz para os nossos passos e conforto para a
nossa alma.
Leia diariamente a Sagrada Escritura
e a coloque em prática, e assim progredirás no caminho da santidade.
Em Mc 9, 2 diz:
“Seis dias depois, Jesus tomou consigo a
Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado
sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles”.
Prezado católico, apesar da clareza
das palavras de Jesus Cristo, os apóstolos não compreenderam bem a
que se referia quando lhes falava de morrer e ressuscitar ao
terceiro dia. Os apóstolos acreditavam, como muitos de seus
contemporâneos judeus, numa ressurreição no fim dos tempos, mas não
podiam imaginar que Jesus regressasse à vida depois da morte.
Por isso, Jesus decide antecipar-se
uma centelha da sua glória que os reconforte, antes de que cheguem
esses momentos terríveis da Paixão, que já se aproximava a grandes
passos. São Leão Magno diz: “… o fim
principal da transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o
escândalo da cruz”. Para isto, tomou consigo Pedro, Tiago e
seu irmão João, que tinham estado presentes na ressurreição da filha
de Jairo (Cf. Mc 5, 37), e que serão testemunhas da agonia d’Ele no
Getsêmani (Cf. Mt 26, 37).
Neste versículo 2 do capítulo 9 de
São Marcos diz: “Seis dias
depois…”; em São Mateus 17, 1 diz:
“Seis dias depois…”; e em São Lucas
9, 28 diz: “Mais ou menos oito dias…”;
São Lucas diz mais ou menos oito dias, talvez porque conta o próprio
dia dos acontecimentos de Cesaréia e da Transfiguração.
A Transfiguração do Senhor sucedeu
seis dias depois da confissão de Pedro em Cesaréia de Filipe
(Cf. Mc
8, 27-30), e poucas semanas antes da festa dos Tabernáculos, que se
celebrava no mês de Setembro.
Quanto ao lugar diz:
“… e os levou, sozinhos, para um lugar
retirado sobre uma alta montanha”; está claro que em Mc 9, 2
diz que os levou a uma alta montanha. Segundo uma tradição muito
antiga, este monte foi o Tabor, a uns setenta quilômetros de
Cesaréia de Filipe, e a uns vinte a sudeste do mar da Galiléia. Esta
montanha possui apenas 560 metros de altura, e dá para subi-la com
facilidade numa hora.
"Alguns autores modernos propuseram o
Hermon como lugar da Transfiguração, este monte tem 2.756 metros de
altura e encontra-se só a uns 22 quilômetros a nordeste de Cesaréia
de Filipe. Contudo, a tradição a favor do monte Tabor é muito clara
e encontra-se atestada, entre outros, por Orígenes, São Cirilo de
Jerusalém, São Jerônimo e Eusébio de Cesaréia…"(Pe. Francisco
Fernández-Carvajal). Existem além disso
restos arqueológicos de um santuário erigido no século IV em
comemoração deste mistério, e segundo o Cônego Duarte Leopoldo, esse
santuário foi construído por Santa Helena.
Em Mc 9, 2 diz ainda:
“Ali foi transfigurado diante deles”.
Prezado católico, Jesus Cristo se
transfigurou sobre uma alta montanha; mas para se transfigurar, Ele
teve que subir essa alta montanha.
Lembre-se de que a Transfiguração de
Jesus é símbolo da nossa transfiguração: “…
quem não inicia essa transfiguração aqui na terra, nunca chegará à
completa transfiguração do Paraíso” (Pe. João Colombo).
Observemos os seguintes pontos em
relação à subida de Jesus Cristo à esta alta montanha.
I.
Ele não se transfigurou na planície, e sim, no cume de um monte.
O católico, para se transfigurar,
deve deixar a “planície” do mundo e do pecado, deve se desapegar de
tudo aquilo que desagrada a Deus. Em Colossenses 3, 1-2 diz:
“… procurai as coisas do alto, onde Cristo
está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas
da terra”, e em Romanos 12, 2 diz também:
“… não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos”; e no Salmo 24, 3-4 diz ainda:
“Quem pode subir à montanha do Senhor? Quem
pode ficar de pé no seu lugar santo? Quem tem mãos inocentes e
coração puro, e não se entrega à falsidade, nem faz juramentos para
enganar”; e São João da Cruz também escreve:
“A alma presa pelos encantos de qualquer
criatura, é sumamente feia diante de Deus, e não pode de forma
alguma transformar-se na verdadeira beleza, que é Deus, pois a
fealdade é de todo incompatível com a beleza”.
O católico que vive mergulhado na
lama do mundo e se alimentando do lixo da vaidade, jamais se
transfigurará; é impossível ser santo e viver ao mesmo tempo
seguindo as máximas do mundo, como está em 1ª Tessalonicenses 4, 7:
“Pois Deus não nos chamou para a impureza,
mas sim para a santidade”.
II. Jesus Cristo perseverou na subida
desta alta montanha de 560 metros de altura, Ele não ficou sentado
ao pé da mesma ou parado na metade, mas perseverou até o fim, isto
é, até ao cume do monte.
Para se transfigurar, isto é, para se
santificar, para possuir uma vida cheia de virtudes e vazia de
vícios, o católico deve perseverar em seus propósitos e buscar
continuamente a santidade, como está em São Mateus 5, 48:
“Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso
Pai Celeste é perfeito”. São Jerônimo escreve:
“Muitos começam bem, mas poucos são os que
perseveram”, e Santo Afonso Maria de Ligório também escreve:
“Um Saul, um Judas, um Tertuliano, começaram
bem, mas acabaram mal, porque não perseveraram como deviam”.
Lembre-se, católico, de que Jesus
Cristo não ficou sentado ao pé da montanha ou parado à metade do
caminho; Ele perseverou até o fim; e você para transfigurar-se, é
preciso que persevere até o fim, como escreve São Bernardo de
Claraval: “Não é ao que começa que se
oferece o prêmio, mas sim, unicamente, ao que persevera”; e
ao católico que não persevera, que fica adormecido à beira do
caminho, está reservado o fogo do inferno, porque o próprio Jesus
diz em São Mateus 10, 22: “Aquele que
perseverar até o fim, esse será salvo”, não tem nada de bom
reservado para aquele que fica sentado à beira do caminho, como
escreve Santo Afonso Maria de Ligório: “Tu…
que abandonaste o pecado e esperas, com razão, que tenham sido
perdoados as tuas culpas, gozas da amizade de Deus; todavia ainda
não estás salvo, nem o estarás enquanto não tiveres perseverado até
o fim”, e o mesmo Santo diz: “… se
retrocederes e tornares a trilhar o mau caminho, Deus te excluirá do
prêmio da glória”.
Então católico, sacode a poeira da
preguiça e do comodismo, e persevere no caminho até o fim, somente
assim você se transfigurará.
III. Jesus Cristo subiu a encosta
áspera e nua daquela alta montanha, com certeza houve esforço por
parte d’Ele, para subir uma montanha de 560 metros de altura.
Católico, se você deseja realmente se
transfigurar, não recuse covardemente o esforço. Tome o Crucifixo e
beijando-o, como os cavaleiros antigos beijavam as suas espadas,
diga-lhe assim: “Meu Jesus, durante os
trinta e três anos passados nesta terra, trabalhaste e choraste
bastante. Hoje repousais. Cabe a mim combater e sofrer”.
Sem luta não há transfiguração; é
preciso o esforço para tirar do coração tudo aquilo que atrapalha o
nosso progresso no caminho da santidade, como está no livro do
profeta Joel 2, 13: “Rasgai os vossos
corações, e não as vossas roupas”.
Na subida da alta montanha da
santidade, com certeza encontraremos muitas pedras, espinhos e
poeiras; sentiremos também desânimo e cansaço, mas não devemos nos
retroceder, pelo contrário, esforcemo-nos e assim chegaremos com a
ajuda do Senhor ao lugar desejado, como escreve Clemente de
Alexandria: “O Reino dos Céus não pertence
aos que dormem e vivem dando-se todos os gostos, mas aos que lutam
contra si mesmos…”, e São Josemaría Escrivá diz:
“Ser fiel a Deus exige luta. E luta corpo a
corpo, homem a homem – homem velho e homem de Deus –, detalhe a
detalhe, sem claudicar, sem errar”, e o mesmo santo ainda
diz: “A santidade, o verdadeiro afã por
alcançá-la, não faz pausas nem tira férias”. Está claro que
não existe transfiguração sem esforço, e esforço contínuo; é pura
ilusão tentar chegar ao cume da santidade sem se esforçar.
Em Mc 9, 2 diz:
“Ali foi transfigurado diante deles”.
O Senhor Jesus, agora já está no cume
da alta montanha; Ele não está mais na planície do Esdrelon, subiu à
montanha com perseverança e com um certo esforço. Em São Lucas 9, 28
diz: “… ele subiu à montanha para orar”.
Católico, Jesus te convida a subir a
montanha para rezar, isto é, a se afastar do barulho do mundo e
também, a deixar de lado as distrações, e assim, no silêncio e no
recolhimento rezarás com maior perfeição e fervor.
Em Mc 9, 3 diz:
“Suas vestes tornaram-se resplandecentes,
extremamente brancas, de uma alvura tal como nenhum lavadeiro na
terra as poderia alvejar”.
Era verão, e a vegetação que
encontraram à sua passagem, a própria de um monte, estava meio seca.
Devem ter empreendido o caminho já bem tarde. O Cônego Duarte
Leopoldo diz: “A transfiguração se realizou,
ao que parece, durante a noite”. Em São Lucas diz que os
apóstolos “estavam pesados de sono”
(9, 32), e também fala sobre tendas
(9, 33), que sugere Pedro para
passar a noite, e no mesmo 9, 37 diz ainda:
“No dia seguinte, ao descerem da montanha…”, de fato,
passaram a noite no monte.
O Pe. João Colombo também escreve:
“Cansados do caminho – estava-se ainda em
pleno verão – os discípulos adormeceram no alto da montanha,
acariciados pelo ar fresco; Jesus, porém, começou a orar”.
Católico, quando os apóstolos
acordaram, uma grande luz resplandecia diante dos seus olhos
confusos: a face do Mestre estava fúlgida como sol, e as vestes
estavam brilhantes como neve. O corpo de Cristo transformou-se, e
aparecia radiante de luz e de beleza. Cristo Jesus, Nosso Senhor,
transfigurou-se.
Alguém poderia perguntar-me: o que
devo fazer para transfigurar-me? Eu lhe diria que é necessário
apenas uma coisa: rezar, rezar muito, rezar com fervor, rezar com
devoção, atenção, respeito e perseverança. Santo Afonso Maria de
Ligório escreve: “A oração é uma âncora
segura para quem está em perigo de naufragar, é um tesouro imenso de
riquezas para quem é pobre, é um remédio eficacíssimo para os
enfermos e um fortificante certo para nossa saúde”, e o
próprio Jesus Cristo se transfigurou enquanto rezava, como está em
São Lucas 9, 29: “Enquanto orava, o aspecto
de seu rosto se alterou, suas vestes tornaram-se de fulgurante
brancura”. Está claro que Nosso Senhor se transfigurou
enquanto rezava; e você se transfigurará se rezares com atenção,
devoção e respeito.
Caríssimo católico; a oração enche de luz a nossa
mente. Descendo do Sinai, Moisés, porque falava com Deus, tinha a
mente cheia de esplendor (Cf. Ex 34, 29-35).
Também nós, quando verdadeiramente rezamos e não pronunciamos só
maquinalmente as palavras, como gramofone, ascendemos a um colóquio
com Deus. É o Criador que escuta a nossa humilde voz, que acolhe os
suspiros do nosso coração e que aceita os nossos desejos.
Santo Tomás de Aquino, quando tinha
alguma dificuldade rezava, e logo na sua mente fazia-se luz. Façamos
assim também: quando tivermos aborrecimentos pela cabeça, rezemos, e
teremos a calma; quando tivermos tentações tormentosas, rezemos, e
obteremos vitória e quando tivermos dúvida sobre a religião, rezemos,
e obteremos a fé.
Católico, além de encher a nossa
mente de luz; a oração enche também de luz as nossas ações.
Uma noviça bate à porta e entra no
quarto de Santa Teresinha do Menino Jesus. A santinha estava
costurando; mas o triste quarto é inundado de um perfume primaveril,
e no rosto da mesma palpita uma grande alegria. A noviça fica
maravilhada e pergunta-lhe: “Em que está
pensando?” E a santa lhe diz: “Estou
meditando o Pai-Nosso”, e depois acrescenta:
“É tão doce chamar a Deus de Pai-nosso…”, e nos seus olhos brilharam
as lágrimas.
Mães cristãs, imitem o exemplo de
Santa Teresinha do Menino Jesus; enquanto costuram a roupa de vossos
filhos; enquanto preparam a comida para a família, etc., elevem o
coração na oração, com aquelas orações devotas que vocês conhecem de
cor, e assim, cada ação praticada por vocês se transfigurará como
uma veste luminosa.
Esse exemplo de Santa Teresinha do
Menino Jesus, de conversar com Deus durante o trabalho, não deve ser
imitado só pelas mães; mas também pelos operários que trabalham nas
oficinas, entre o barulho dos martelos, entre o rodar das máquinas…
também eles devem de vez em quando lembrar-se de Deus, repetir
alguma jaculatória e elevar a Deus o próprio trabalho. As suas
jornadas se transfigurariam em jornadas luminosas, como as vestes de
Jesus Cristo.
Também os estudantes, os lavradores,
os atletas, os comerciantes, os motoristas, etc., todos devem imitar
o exemplo de Santa Teresinha, isto é, de dialogar com Deus durante o
trabalho, e assim, cada ação praticada se transfigurará
como uma veste luminosa.
A oração, além de encher a nossa
mente e as nossas ações de luz; enche também de luz o mundo inteiro.
Santo Antão, filho de família rica,
viveu 70 anos no deserto. Dormia numa esteira áspera ou diretamente
na terra; vivia só de pão e água, e jejuava até quatro dias
seguidos. Certa vez foi procurá-lo um sábio, e perguntou-lhe como
podia suportar aquela solidão sem livros. Ele respondeu:
“O meu livro é a natureza das coisas criadas
por Deus… quando eu rezo, elas me abrem os livros divinos”.
Católico, quando você reza, não é
verdade que o mundo todo vos parece mais belo e vos incita a rezar
mais? As aves com o seu gorjeio, os rios com os seus murmúrios, as
estrelas luzentes no firmamento, os montes verdes, as flores dos
campos e dos jardins; tudo, numa palavra, nos eleva e nos consola.
Está claro católico, que a oração bem feita enche de luz a nossa
mente, as nossas ações e o mundo inteiro; por isso, aquele que
quiser se transfigurar, deve rezar com atenção, devoção e respeito.
Em Mc 9, 4 diz:
“E lhes apareceram Elias com Moisés,
conversando com Jesus”.
Em seguida, os apóstolos puderam
comprovar que Jesus Cristo não estava só. Moisés e Elias, também
glorificados, resplandecentes (cfr. Lc 9, 31), falavam com Ele. O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve:
“Em Moisés estava representada a Lei, e em Elias os profetas. No
meio encontra-se Jesus Cristo, em quem confluem e têm a sua plena
realização tanto as antigas profecias como a Lei judaica”.
Não sabemos como os apóstolos
reconheceram estes personagens, Moisés e Elias. Talvez pela conversa
ou por uma graça especial. É possível também que Jesus lhos tenha
dito mais tarde. Conversavam sobre a morte de Jesus que havia de ter
lugar em Jerusalém (Cf. Lc 9, 31). A transfiguração era, em certo
modo, uma preparação da Paixão, profetizada já no Antigo Testamento.
Moisés e Elias sustentam a humanidade de Jesus, como uma antecipação
do que realizará o anjo enviado pelo Pai durante a agonia de Getsêmani.
O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena
também escreve: “Junto ao Senhor
transfigurado aparecem dois homens: Moisés e Elias. O primeiro
(Moisés) representa a lei, o segundo (Elias), os profetas. A lei que
Jesus veio aperfeiçoar, os profetas, cujos ensinamentos e profecias
veio respectivamente completar e realizar. A presença das duas
personagens demonstra a continuidade entre o Antigo e o Novo
Testamento e sua conversa anuncia a Paixão de Jesus; assim como,
pela causa de Deus, sofreram e foram perseguidos, Moisés e Elias,
assim também deverá padecer Jesus. Visão de glória, portanto, que se
intercala com conversas sobre a Paixão: dois aspectos opostos, mas
não contraditórios, do único mistério pascal de Cristo. Morte e
Ressurreição, Cruz e glória”.
Em Mc 9, 5-6 diz:
“Então Pedro, tomando a palavra, diz a
Jesus: “Rabi, é bom estarmos aqui. Façamos, pois, três tendas: uma
para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pois não sabia o que
dizer, porque estavam aterrorizados”.
Católico, o Pe. João Colombo escreve:
“São Pedro viu apenas um raio do Céu, na
transfiguração, e logo se esqueceu de comer, de beber e de tudo,
contanto que ali ficasse sempre a contemplar”, e São Leão
Magno diz: “O apóstolo Pedro, animado pelas
revelações destes mistérios, desprezando os bens mundanos e
entediado dos terrenos, foi de certo modo raptado em espírito pelo
anelo dos eternos. Repleto de alegria pelo conjunto da visão, queria
habitar com Jesus no lugar onde se regozijava de ver revelada sua
glória. O Senhor não respondeu a esta sugestão, indicando não ser
má, mas desordenada a sua ambição. O mundo só podia ser salvo pela
morte de Cristo. O Senhor com seu exemplo apelava pela fé dos fiéis.
Se não podemos duvidar das promessas da bem-aventurança, entendamos,
contudo, de vermos entre as tentações desta vida, antes pedir a
paciência do que a glória, pois a felicidade do reino não pode
antecipar-se ao tempo de sofrimento”, e Santo Agostinho diz também: “Jesus é tudo para ti,
Ele é tudo o que pode desejar: se tens fome é pão, se tens a sede é
água, se não vês é luz…”
Esta centelha da glória divina
inundou os Apóstolos de uma felicidade tão grande que fez Pedro
exclamar: Senhor, é bom permanecermos aqui. Façamos três tendas…
Pedro quer prolongar a situação. Mas, como dirá mais adiante o
evangelista, “… não sabia o que dizia”;
pois, o que é bom, o que importa, não é estar aqui ou ali, mas estar
sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-lO por trás das
circunstâncias em que nos encontramos. Se estamos com Jesus Cristo,
se vivemos unidos ao nosso Mestre, tanto faz que estejamos rodeados
dos maiores consolos do mundo ou prostrados na cama de um hospital,
padecendo dores terríveis. O que importa é somente isso: ver a Jesus
Cristo e viver sempre com Ele. Esta é a única coisa verdadeiramente
boa e importante na vida presente e não na outra. São Beda escreve:
“Jesus Cristo, numa piedosa autorização,
permitiu que Pedro, Tiago e João fruíssem durante um tempo muito
curto da contemplação da felicidade que dura para sempre, a fim de
fortalecê-los perante a adversidade”.
Católico, a vida dos homens é uma
caminhada para o céu, que é a nossa morada (Cfr. 2 Cor 5, 2). Uma
caminhada que, às vezes, se torna áspera e difícil, porque com
freqüência devemos, remar contra a corrente e lutar contra muitos
inimigos interiores ou de fora. Mas o Senhor quer confortar-nos com
a esperança do céu, de modo especial nos momentos mais duros ou
quando se torna mais patente a fraqueza da nossa condição. São Josemaría Escrivá diz: “À hora da tentação,
pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança,
que não é falta de generosidade”, e
São João Crisóstomo também escreve:
“No céu tudo é repouso, alegria, regozijo;
tudo é serenidade e calma, tudo paz, resplendor e luz. Não é uma luz
como de que gozamos agora, a qual, comparada com aquela, não passa
de uma lâmpada ao lado do sol… Porque lá não há noite nem tarde,
frio nem calor, mudança alguma no modo de ser, mas um estado tal que
somente o entendem os que são dignos de gozá-lo. Não há ali velhice,
nem dores, nem nada que se assemelhe à corrupção, porque é o lugar e
aposento da glória imortal… E, acima de tudo, é o convívio e o gozo
eterno com Cristo, com os anjos…, todos perpetuamente unidos num
sentir comum, sem medo das investidas do demônio nem das ameaças do
inferno e da morte”.
São Pedro disse a Jesus Cristo:
“Senhor, é bom estarmos aqui”. São
Pedro estava no cume do monte, afastado do barulho e da lama do
mundo, estava no silêncio e unido a Nosso Senhor, por isso, não
sentia mais vontade de descer do monte, queria permanecer no monte,
porque ali ele sentia a felicidade e a paz verdadeira.
Também você, católico, se estiver
sempre unido a Cristo Jesus, mergulhado nesse Oceano de Amor e da
Paz, com certeza não sentirá mais vontade de servir ao mundo inimigo
de Deus, porque em Cristo Jesus encontrarás o verdadeiro consolo,
como está no Salmo 73, 25-28:
“Contigo, nada
mais me agrada na terra…. Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu
bem!”
A alma que se sente feliz por estar
unida ao Esposo Celeste é fiel e sabe realmente escolher o melhor;
mas a alma que abandona o Esposo Celeste para fuçar no lixo do mundo
é adúltera e traidora, digna de ser cuspida.
Em Mt 9, 7 diz:
“E uma nuvem desceu, cobrindo-os com sua
sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado; ouvi-o”.
Essa nuvem evoca-nos aquela que
acompanhava a presença de Deus no Antigo Testamento:
“A nuvem cobriu a Tenda da Reunião, e a
glória de Deus encheu a habitação. Moisés não pode entrar na Tenda
da Reunião porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória de Deus
enchia a Habitação” (Ex 40, 33-35). A nuvem era o sinal que
acompanhava as intervenções divinas; Êxodo 19, 9 diz: “Deus disse a Moisés: “Eis que virei a ti na escuridão de uma nuvem, para
que o povo ouça quando eu falar contigo, e para que também creiam
sempre em ti”. Católico, essa nuvem envolve agora Cristo no
Tabor e dela surge a voz poderosa de Deus Pai:
“Este é o meu filho muito amado; ouvi-o”
(Mc 9, 7).
Em Mt 17, 6 diz:
“Os discípulos, ouvindo a voz, muito
assustados, caíram com o rosto no chão”. São Leão Magno
escreve: “Os discípulos foram tomados de
medo, não só do Pai, mas também tremeram perante a majestade do
Filho”. A Palavra de Deus diz que essa voz saiu da nuvem.
Caríssimo católico, depois daquele
breve esplendor de Paraíso, uma nuvem ocultou a glória de Jesus e
ouviu-se somente uma voz.
Jesus Cristo está no meio de nós, mas
ainda hoje, como outrora, está velado por uma nuvem.
"Uma nuvem vela Jesus, presente na
Eucaristia; e você que não quiser reconhecê-lO, por estar Ele
escondido por trás da nuvem eucarística, Ele não te reconhecerá
quando, manifesto na sua glória, vier para te julgar.
Uma nuvem vela Jesus presente no seu
sacerdote.
Na França, uma multidão procurava
diariamente São João Maria Vianney; e quem era esse homem que
fascinava os corações? Era o sacerdote: o humilde, o pobre, o mais
obscuro sacerdote de Cristo; porém, de seu corpo macerado pelo jejum
e pela penitência, transparecia, como através de uma nuvem cândida,
a figura de Jesus. O sacerdote é um outro Cristo"
(Pe. João
Colombo).
“Estarei convosco até o fim
dos séculos”, disse Jesus, e o
está na pessoa dos sacerdotes. “Isto é o meu
corpo…” diz o sacerdote consagrando, porque ele é Jesus.
“Eu te absolvo…”,
diz-nos na confissão.
Quantos, católico, que não escutam o
sacerdote! Quantos que o desprezam e o perseguem! Esses infelizes
perseguem a Jesus Cristo.
"Uma nuvem vela Jesus presente no
Evangelho.
É o Evangelho que nos pinta diante
dos olhos a divina figura do Salvador: toda a vida de Jesus, toda a
sua paixão é, no Evangelho, como que refeita sob os nossos olhares.
No Evangelho há as palavras mais
belas de Jesus Cristo, e a sua voz divina, através das palavras,
ainda palpita, desce aos corações, e nós a reconhecemos"
(Pe.
João Colombo).
Apontando o Evangelho, diz o divino
Pai: “É o meu Filho dileto que fala:
escutai-O”.
E, hoje, milhares de católicos não suportam, sequer, ouvir nem por
meia hora a explicação do Santo Evangelho; mas possuem tempo para
ouvir músicas profanas e piadas imorais.
Em Mc 9, 7 diz também:
“Este é o meu Filho amado; ouvi-o”.
São Leão Magno, comentando esse
versículo escreve: “Este é o meu Filho” que
a divindade de mim não separa, o poder não divide, a eternidade não
discerne. “Este é o meu Filho”, não adotivo, mas próprio; não criado
de outrem, mas gerado de mim; não de outra natureza comparável a
minha, mas igual a mim, nascido de minha essência”. Este é o meu
Filho, por quem todas as coisas foram feitas, e sem ele, coisa
alguma foi feita”, porque tudo o que eu faço, ele o faz de modo
semelhante, e tudo o que eu opero, ele o faz comigo inseparavelmente
e sem diferença. O Filho está no Pai, e o Pai no Filho e a nossa
unidade é indivisível. E sendo eu uma Pessoa que gerou, ele outra, a
quem gerei, não é lícito pensar dele algo de diverso do que é
possível cogitar a meu respeito. “Este é o meu Filho” que não se
prevaleceu da igualdade que tem comigo, nem presumiu usurpar.
Permanecendo em a natureza de minha glória, a fim de cumprir o
desígnio comum de restaurar o gênero humano, condescendeu até unir a
imutável Divindade à natureza de servo”.
E o mesmo São Leão Magno comentando a
expressão: “Ouvi-O”, escreve:
“Ouvi-O! Os mistérios da
lei prenunciaram. Cantaram-no os lábios dos profetas.
Ouvi-O! Redime o mundo em
seu sangue, amarra o diabo e toma seus utensílios, destrói o
documento do pecado e rompe o pacto da prevaricação.
Ouvi-O! Ele abre o caminho
do céu, e pelo suplício da cruz prepara-vos a ascensão ao reino”.
Em Mc 9, 8 diz:
“E de repente, olhando ao redor, não viram
mais ninguém: Jesus estava sozinho com eles”.
Elias e Moisés já não estavam
presentes. "Só vêem o Senhor: o Jesus de sempre, que por vezes passa
fome, que se cansa, que se esforça por ser compreendido…Jesus sem
especiais manifestações gloriosas. Normalmente, os Apóstolos viam o
Senhor assim; vê-lO transfigurado foi uma exceção.
Devemos encontrar esse Jesus na
nossa vida corrente, no meio do trabalho, na rua, nos que nos
rodeiam, na oração, quando nos perdoa no Sacramento da Penitência,
e, sobretudo na Sagrada Eucaristia, onde se encontra verdadeira,
real e substancialmente presente. Devemos aprender a descobri-lO nas
coisas ordinárias, correntes, fugindo da tentação de desejar o
extraordinário"
(Pe. Francisco Fernández-Carvajal).
Católico, não devemos esquecê-lO
nunca: esse Jesus que esteve no Tabor com aqueles três privilegiados
é o mesmo que está ao nosso lado diariamente.
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
|