Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

(Cravada em CD em 12 de maio de 2005)

 

Caríssimo ouvinte, a Sagrada Escritura fala setenta vezes do inferno; destas setenta vezes, vinte e cinco nos Evangelhos.

Milhões de pessoas não suportam e não gostam de ouvir falar sobre o inferno, dizem que é um assunto assustador; mas os mesmos cometem pecados mortais e mais pecados mortais, e o pecado mortal não os assusta. Muito interessante!

Ouvinte, a existência do inferno não depende de você acreditar ou não; a Igreja Católica Apostólica Romana sempre, sempre ensinou a sua existência. O Papa Bento XII diz: “As almas daqueles que saem do mundo em pecado mortal atual, imediatamente depois da sua morte descem ao inferno, onde são atormentados com penas infernais”. Repito

Infelizmente, milhões de pessoas estão buscando um cristianismo “rapadura”, um cristianismo “melado”, um cristianismo recheado de sentimentalismo e de fachada; e dizem abertamente que a pregação sobre a morte, juízo, inferno e paraíso é coisa da Idade Média; e que hoje vivem os num mundo moderno; quanto ao mundo moderno até que elas tem razão; realmente o mundo está muito moderno, tão moderno, que está se transformando num grande prostíbulo e chiqueiro. Mas quanto à pregação sobre os novíssimos homens, isto é, sobre a morte, juízo, inferno e paraíso, os modernistas, ou melhor, os relaxados e omissos não tem razão; porque esse sempre foi um tema pregado dentro da Igreja Católica, e não só na Idade Média.

O Papa João Paulo II, escreve o seguinte sobre a pregação sobre a morte, juízo, inferno e paraíso: “A Igreja não pode omitir, sem grave mutilação da sua mensagem essencial, uma catequese constante sobre o que a linguagem cristã tradicional designa como os quatros últimos fins do homem: morte, juízo,inferno e paraíso”, escreve o Papa João Paulo II; e o Papa escreveu essa matéria em 1984, não foi na Idade Média.

Hoje, infelizmente, muitos pregadores escondem do povo essa verdade, justamente porque sentem medo de assustar os seus “fregueses”, ou quem sabe, de assustar-se a si próprio.

Então ouvinte, você que busca a verdade, ouça atentamente a pregação sobre o inferno, medite sobre o inferno, desça ao inferno agora, enquanto está vivo, para não correr o risco de cair nele depois da morte, como escreve o Santo da alegria e do sorriso, São Filipe Néri: “Quem não descer ao inferno enquanto viver, corre perigo de nele entrar quando morrer”, escreve São Filipe Néri. Repito

Ele, (São Filipe Néri) era muito sorridente, mas meditava continuamente sobre o inferno, quer dizer, possuía uma piedade autêntica, e não essa fábrica de melado e rapadura que existe por ai.

Ouvinte, faça silêncio e preste bastante atenção na pregação sobre o inferno, e com certeza ela te ajudará a ser mais temente a Deus.

Alguém poderia me perguntar. O que é o inferno?

Eu lhe diria que o inferno é um lugar de tormentos, onde sofrerão eternos suplícios os que morrem em pecado mortal. Ouvinte, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé insiste em que “a Igreja, mantendo-se fiel ao Novo Testamento e à Tradição (…) crê no castigo eterno que espera o pecador, o qual será privado da visão de Deus, e na repercussão desta pena em todo o seu ser”. E o catecismo da Igreja Católica, no nº 1033, falando sobre a definição do inferno diz: “Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. (E o catecismo ainda diz no mesmo número). E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra “inferno”, catecismo da Igreja Católica, nº 1033.

Caríssimo ouvinte, você sabe como começou o inferno? Não sabe? Preste atenção e ficará sabendo.

O Padre Leo Trese escreve: “Quando Deus criou os anjos, dotou cada um de uma vontade que o faz suprenamente livre. Sabemos que o preço do céu é amar a Deus. Por um ato de amor a Deus, um espírito, seja anjo ou alma humana, fica habilitado a ir para o céu. E este amor tem que ser provado pelo único modo com que o amor pode ser provado: pela livre e voluntária submissão da vontade criada a Deus, por aquilo a que chamamos comumente um “ato de obediência” ou um “ato de lealdade”.

Deus fez os anjos com livre arbítrio para que fossem capazes de fazer o seu ato de amor a Deus, de escolher Deus. Só depois é que o veriam face a face; só então poderiam entrar nessa união eterna com Deus a quem chamamos “céu”.

Deus não nos deu a conhecer a espécie de prova a que submeteu os anjos. Muitos teólogos pensam que Ele deu aos anjos uma visão prévia de Jesus Cristo, o Retentor da raça humana, e leis mandou que o adorassem…: Jesus Cristo em todos as suas humilhações, uma criança no estábulo, um criminoso na cruz. Segundo esta teoria, alguns anjos se teriam rebelado ante a perspectiva de terem que adorar Deus encarnado. Conscientes da sua própria magnificência espiritual, da sua beleza e dignidade, não quiseram fazer o ato de submissão que a adoração e Jesus Cristo lhes pedia. Sob a chefia de um dos anjos mais de todos, Lúcifer, “Portador da luz”, o pecado de orgulho afastou de Deus muitos anjos e o terrível grito, “não servirei”, percorreu os céus. E assim começou o inferno. Por que o inferno é, essencialmente, a separação de Deus de um espírito”, escreve o Padre Leo Trese. Então ouvinte, assim começou o inferno.

Prezado ouvinte, o inferno existe, não adianta o pagão ou o ateu negá-lo; não adianta escreverem livros e mais livros negando a sua existência; por que a existência do inferno não depende da língua ou da caneta de ninguém. O inferno existe! O inferno existe! “Tão certa é a existência do inferno, como é certa a existência de Deus”, escreve o Pe. Alexandrino Monteiro. Repito

Ouvinte, Deus é o Senhor de toda a criação; por isso deu lei às suas criaturas com um direito infinitamente superior àquele com que os legisladores da terra os dão a seus súditos.

E o que contemplamos diariamente? Que as leis de Deus são pisadas e desobedecidas, e que muitos dos seus transgressores saem impunes deste mundo. Logo, espera-os, na outra vida, a vingança de Deus, infinitamente justa.

Sabemos que aqui na terra há prisões, onde os criminosos e ladrões vão pagar os crimes contra as leis civis; agora, depois da morte, aqueles que violaram e pisaram na lei de Deus, e morreram sem se arrepender, não encontrar também uma prisão tenebrosa, que é o inferno, e nessa prisão eterna, sofrerão terríveis suplícios.

Ouvinte, Deus é mesma santidade. Não pode olhar com indiferença para a virtude e para o vício, mas há de separar o justo do pecador, como quem separa o trigo do joio.

Deus é a mesma justiça. O pecador e o santo aparecerão diante dos olhos de Deus; o pecador carregado de pecados, e o Santo cheio de virtudes; se o pecador e o Santo tivessem a mesma sorte, onde estaria então a justiça de Deus?

A justiça de Deus exige que o castigo do pecador seja eterno! Isso mesmo, quem morre em pecado, em pecado permanece pra todo o sempre, porque o tempo do arrependimento acaba com morte.

Ouvinte, Deus em tudo é grande. Se premeia, é com o céu; se redime, é com o seu próprio sangue; se castiga, é com o inferno!…

O inferno existe!… Esta verdade gravou-a Deus profundamente na alma de cada um dos homens. É terrível, ouvinte, o pensamento da condenação eterna; seria bom se pudéssemos exclamar com toda tranqüilidade: Não há inferno; só existe o céu.

Mas não é possível. A nossa fé prega-nos esta verdade com tanta freqüência e de formas tão diversas, que não nos pode ficar nem sobra de dúvida a respeito da sua realidade.

Milhares negam a existência do inferno! Mas, como já foi falado, a Bíblia fala 70 vezes sobre o inferno, sendo que das 70 vezes, destas 70 vezes, vinte e cinco nos Evangelhos.

Ouvinte, para ficar bem claro, citarei algumas passagens do Novo testamento sobre a existência do inferno.

São João Batista, o Precursor de Jesus Cristo afirmou: “O machado já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não produzir bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (São Mateus 3,10); e o mesmo Santo Precursor ensinou: “A pá está na sua mão; vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro: mas, quanto à palha, vai queimá-la num fogo inextinguível” (São Mateus, 3,12)

Milhares negam a existência do inferno! Nesse caso, eles estão desmentindo os ensinamentos claros e terminantes de Nosso Senhor Jesus Cristo. O nosso Salvador fala do inferno muitas vezes, isso mesmo, muitas vezes: a “guerra”, a “guerra” de fogo”, onde “o verme não morre e o fogo não se extingue”, conferir em São Mateus, 5 ,22; 5,29; 10 ,28; 18,9; São Marcos, 9,43; São João, 15,6, etc.…” São as trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes”, conferir em São Mateus , 8,12; 25,30 , etc… Ao profetizar sobre o juízo final, diz : “Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os anjos consigo, sentar-se-á sobre seu trono da glória, e reunirão em sua presença todos os povos, e separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos”, e a estes dirá: “Apartai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, destinado ao demônio e a seus anjos” (São Mateus 25,41).

Prezado ouvinte, falando da “pena de eterna perdição”, sofrida pelos ímpios, São Paulo diz que eles “ estão longe da face do Senhor e da glória de seu poder”, (Conferir, 2 Tes 1,9).

Ouvinte, milhares usam da Bíblia, como se ela fosse um self-service, isso mesmo , isto é, só lêem aquilo que gostam, mas os trechos que lhes mexem na consciência são deixados de lado; será que esse tipo de gente está à procura de uma conversão sincera? Tenho certeza que não. São pessoas ridículas e medíocres.

Ouvinte, Jesus Cristo não falou do inferno para inquietar ou amedrontar ninguém, Ele simplesmente pregou a verdade.

E você, prezado ouvinte, você sabe que o inferno existe, e vive como se ele não existisse. Se queres evitá-lo, corrigi os teus erros, põe ordem na tua vida, faça penitência, lava com arrependimento pranto os nódulos que os pecados tem posto em tua alma.

Lembra-te que podes morrer a cada instante, e que, se a morte te surpreende em pecado mortal, o inferno será o triste paradeiro de tua alma!

O inferno existe, e você pode cair nele! Que terrível possibilidade!…Um só pecado basta, e basta um só pecado de pensamento pra merecer uma eternidade de tão a trajes penas!…

Está claro ouvinte, que o inferno existe, e não adianta negar a sua existência, ele existe.

Falarei agora das penas do inferno, isso mesmo, das penas do inferno. Falarei sobre a pena de sentido e sobre a pena de dano.

Primeiramente , ouvinte, falarei sobre a pena de sentido, preste bastante atenção; a pena de sentido consiste no fogo e outros tormentos que os condenados sofrerão. O inferno é um lugar de tormentos. No inferno sofre-se. A Bíblia nos fala do inferno como um lugar de torturas, e não de descanso ou refrigério.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “No centro da terra se encontra esse cárcere, destinado ao castigo dos que se revoltaram contra Deus”, e no Evangelho de São Lucas, capítulo 16, versículo 28, diz que o inferno é um lugar de tormentos, onde todos os sentidos e todos as faculdades do condenado hão de ter o seu castigo próprio, e onde aquele sentido que mais tiver servido para ofender a Deus mais acentuadamente será atormentado; em Sabedoria 11, 16 diz: “Para que compreendessem que no pecado está o castigo”, e no livro de Apocalipse, capítulo 18, versículo 7, diz também: “o tanto que ela se concedia em glória e luxo, devolvei-lhe em tormento e luto”.

Ouvinte, a vista padecerá o tormento das trevas, Jó 10, 21 diz: “Antes de partir, sem nunca mais voltar, para a terra de trevas e sombras”. Santo Afonso Maria de Ligório diz: “o inferno é cárcere fechado por completo e escuro, onde nunca penetrará raio de sol nem qualquer outra luz”, e o Salmo 48, 20 diz: “Ele vai juntar-se à geração dos seus pais, que nunca mais verá a luz”.

Ouvinte, o fogo que aqui na terra ilumina, não será luminoso no inferno. São Basílio Magno explica que Deus separará do fogo a luz; de modo que as chamas arde vão sem iluminar; e Santo Alberto Magno diz: “Separará do calor o resplendor”. A fumaça sairá dessa fogueira, e formará a espessa nuvem tenebrosa que cegará os olhos dos condenados. E na carta de São Judas, 13 diz: “… aos quais está reservada a escuridão das trevas para a eternidade”. Haverá ali, ouvinte, apenas a claridade precisa para aumentar os tormentos do condenado; “uma sinistra claridade que permite ver a fealdade dos condenados e dos demônios, assim como o aspecto horrendo que estes tornarão para causarem mais horror”, escreve Santo Afonso Maria de Ligório.

Ouvinte, além da vista, também o olfato padecerá o seu tormento próprio. Você conseguiria permanecer em um quarto fechado, onde estivesse um corpo podre, com certeza não. Mas os condenados ao inferno ficarão entre milhões de condenados, vivos para a pena, mas cadáveres pavorosos quanto à pestilência que exalam, como está em Isaias 34,3: “Os seus mortos são lançados fora, o mau cheiro dos seus cadáveres se espalha”. E, prezado ouvinte, São Boaventura diz: “Se o corpo de um condenado saísse do inferno, bastaria ele só para produzir uma infecção em conseqüência da qual morreriam todos os homens do mundo”, e Santo Tomás de Aquino escreve também: “Quanto maior for o número de condenados ali, tantos maiores serão os sofrimentos de cada um”; e Santo Afonso Maria de Ligório escreve ainda: “Muito mais sofrerão, sem dúvida, pelo fedor asqueroso, pelos gritos daquela multidão desesperada, e pelo aperto em que se acharão amontoados e comprimidos os condenados”, no livro do Apocalipse 19,15 diz: “ou como uns esmagados no lugar da cólera de Deus”. E assim mesmo, os condenados, padecerão o tormento da imobilidade, como escreve Santo Afonso Maria de Ligório: “Da maneira como o condenado cair no inferno, assim há de permanecer imóvel, sem que lhe seja dado mudar de posição, nem mexer mão nem pé, enquanto Deus for Deus”.

Caríssimo ouvinte, além das vistas e do olfato, o ouvido também será atormentado com os contínuos gritos angustiados daqueles pobres desesperados, e pelo barulho horroroso que, sem cessar, os demônios provocam.

Ouvinte , quando uma pessoa deseja dormir, é com maior desespero que ela ouvi o contínuo gemido de um doente, o choro de uma criança ou o latir de um cachorro… No inferno, os condenados são obrigados a ouvir, por toda a eternidade, os gritos pavorosos de todos que ali estão.

A gula também será castigada com fome devoradora. Entretanto, não haverá ali, nenhuma migalha de pão. O condenado sofrerá sede abrasadora, que não se apagaria com toda a água do mar. Mas não se lhe dará uma só gota. Uma só gota d’água pedia o rico avarento, e não a obteve, nem a obterá jamais.

Prezado ouvinte, a pena do sentido que mais atormenta aos condenados é o fogo do inferno, tormento do tato. Jesus Cristo menciona especialmente no dia do juízo: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno” (São Mateus capítulo 25, versículo 41).

Mesmo neste mundo, o suplício do fogo é o mais terrível de todos, e existe muita diferença entre as chamas da terra e as chamas do inferno, que, segundo Santo Agostinho, em comparação com as chamas do inferno, as chamas da terra são como fogo pintado; ou como se fossem de gelo, acrescenta São Vicente Ferrer. E a razão consiste em que o fogo da terra foi criado para utilidade do homem, ao passo que o fogo do inferno foi criado expressamente para castigo, como escreve Tertuliano: “Muito diferente são o fogo que se utiliza para uso do homem e o que serve para a justiça de Deus”. A indignação de Deus é que acende essas chamas de vingança, como está em Jeremias, 15, 14: “Porque minha cólera acendeu um fogo que queimará sobre vós”. Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “O condenado estará dentro dessas chamas, envolvido por elas, como um pedaço de lenha numa fornalha. Terá um abismo de fogo debaixo de seus pés, imensas massas de fogo sobre sua cabeça e em volta de si. Quando vir, apalpar ou respirar, fogo há de respirar, apalpar e ver; e o santo acrescenta: estará submergido em fogo como o peixe em água”. Ouvinte, essas chamas não cercarão apenas o condenado, mas penetrarão nele, em suas próprias entranhas, para atormentá-los. Todo o corpo será pura chama; arderá o coração no peito; as vísceras, no ventre; o cérebro , na cabeça; nas veias, o sangue; a medula nos ossos. Cada condenado converter-se-á numa fornalha ardente, como está no Salmo 20, versículo 10: “Deles farás uma fornalha no dia da tua face; Deus os engolirá em sua ira, um fogo os devorará”.

Essas mulheres que andam quase peladas, dizendo que está fazendo muito calor; será que suportarão as chamas do inferno? E é para esse terrível lugar que elas irão, por causa de seus escândalos.

Ouvinte, “… assim como uma fera devora um cordeirinho, assim as chamas do inferno devorarão o condenado”. Devorá-lo-ão sem o fazer morrer, isso mesmo.

São Jerônimo diz “… que o fogo do inferno trará consigo todos os tormentos e todas as dores que nos atribulam na terra”; “… até o tormento do frio se padecerá ali no inferno”, escreve Santo Afonso Maria de Ligório. E tudo, ouvinte, com tal intensidade que, segundo São João Crisóstomo: “os padecimentos deste mundo são pálidas sombras em comparação aos do inferno”.

Prezado ouvinte, as faculdades da alma terão também o seu castigo apropriado.

Santo Afonso Maria de Ligório diz: “O tormento da memória será a viva recordação do tempo que, em vida, teve o condenado para salvar-se e que empregou em perder-se, e das graças que Deus lhe concedeu e que foram desprezados”. Ouvinte, o entendimento sofrerá ao considerar o grande bem que perdeu, perdendo a Deus e o céu, ponderando que essa perda é já irreparável. O condenado que será livrar-se dos tormentos e desfrutar paz. Mas sempre será atormentado, jamais encontrará momento de repouso.

Caríssimo ouvinte, acabei de falar sobre a pena do sentido; falarei em seguida sobre a pena de dano.

Todas as pessoas de sentido que acabei de falar, nada são em comparação com a pena de dano. Santo Afonso Maria de Ligório diz que: “As trevas, a infecção, o pranto, as chamas não constituem a essência do inferno”. Ouvinte, o verdadeiro inferno é a pena de ter perdido a Deus, isso mesmo, é a pena de ter perdido a Deus! Dizia São Bruno: “Multipliquem-se os tormentos, contanto que não se prive de Deus”, e Santo Agostinho acrescenta: “Se os condenados gozassem da visão de Deus, não sentiriam tormento algum, e o próprio inferno se converteria em paraíso.

Ouvinte, para você compreender algo desta pena, consideremos: Se alguém perde, por exemplo, uma pedra preciosa que valha cem escudos, sentirá grande tristeza; mas se esta pedra valesse duzentos, muito mais sentiria. Portanto, quanto maior é o valor do objeto que se perde, tanto mais se sente a pena que ocasiona a perda… E como os condenados perdem o bem infinito, que é Deus, sentem, como diz Santo Tomás de Aquino, uma pena de algum modo infinitiva.

A alma ao separar-se do corpo se sente naturalmente atraída para Deus. O pecado, porém, a afasta e arremessa pedras nela. Todo o inferno, ouvinte, se resume nas primeiras palavras da sentença: “Apartai-vos de mim, malditos” (Mt 25,41). São João Crisóstomo escreve: “Apartai-vos, dirá o Senhor, não quero que torneis a ver-me a face. Mesmo que se imaginassem mil infernos, nada poderia conceber que equivalesse à pena de ser odiado por Cristo”.

Quando Davi impôs a Absalão o castigo de que jamais comparecesse diante dele, Absalão sentiu uma dor profunda. Vendo Filipe II que um servo de sua corte se achava na igreja com pouco respeito, disse-lhe severamente: “Não consinto que doravante vos apresenteis diante de mim”. O servo ficou tão triste, que, ao chegar em sua casa, morreu de pensar.

Ouvinte, que será quando Deus despedir o condenado para sempre? No livro de Deuteronômio, 31, 17, diz: “Esconderei dele a minha face… e cairão sobre ele todos os males e aflições”. Já não sois meus, nem eu vosso, dirá Cristo aos condenados no dia do Juízo.

Ouvinte, é dor imensa para um filho pensar que nunca tornará a ver seu pai que acaba de morrer… Se, ao ouvir os gemidos da alma de um condenado, lhe perguntássemos a causa de tamanha dor, ela nos diria: “Claro, porque perdi a Deus e nunca mais tornarei a vê-lo”. Se ao menos o condenado pudesse amar a Deus no inferno e conformar-se com a vontade de Deus! Mas não; se o pudesse fazer, o inferno deixaria de ser inferno. Santo Afonso Maria de Ligório diz: “O condenado odiará eternamente a Deus; e esse há de ser o seu maior tormento: conhecer que Deus é o sumo bem, digno de infinito amor, e ver-se forçado a detestá-lo para sempre”. Ouvinte, o condenado odiará e amaldiçoará também os benefícios que dele recebeu, a criação, a redenção, os sacramentos, especialmente os do batismo e da confissão, e sobretudo o santíssimo sacramento do altar. Detestará todos os anjos e com ódio implacável e seu anjo da guarda, detestará os seus santos padroeiros e a Virgem Santíssima. Malditos serão pelo condenado, as três pessoas divinas, especialmente a de Deus Filho, que morreu para salvar-nos, malditas chagas, os trabalhos, o sangue, paixão e morte de Cristo Jesus.

Caríssimos ouvintes, acabei de falar sobre as penas do inferno; a pena de sentido e sobre a pena de dano. Falarei em seguida sobre a eternidade do inferno; faça silencio e preste bastante atenção.

Ouvinte, o que é a eternidade? Imagina uma grossa coluna de bronze que chegue na terra à lua, e supõe que, de mil em mil anos, uma ave lhe desse uma bicada; quando essa coluna estiver gasta, a eternidade estará no seu princípio!

Vai à praia do mar, toma um punhado de areia, e vê se podes contar os grãos, que tens na mão. Supõe agora que uma ave leve de mil em mil anos um grão de areia no bico; quando a tiver transportado toda, a eternidade estará ainda no seu princípio!

Ouvinte, já viste o mar? Pensa agora que, de século em século , se evapore uma gota dele. Pois bem; quando se começar a descobrir o fundo do oceano, a eternidade estará ainda no seu princípio!

A eternidade é um sempre e um nunca! Quando se há de acabar o fogo, que consome os condenados? Nunca! Nunca! Nunca! Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Se o inferno não fosse eterno, não seria inferno. A pena que dura pouco, não é grande pena”.

Ouvinte, a eternidade do inferno é de fé; não é simples opinião, mas sim, verdade revelada por Deus em muitos lugares da Sagrada Escritura. No Evangelho de São Mateus, capítulo 25, versículo 41 diz: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”, e no versículo 46 diz: “E irão estes ao suplício eterno”. Em São Marcos 9,49 diz: “Onde o verme não morre e onde o fogo não se extingue”. Assim como o sal conserva o alimento, o fogo do inferno não só atormenta os condenados, mas, ao mesmo tempo, tem a propriedade do sal, conservando-lhes a vida. São Bernardo de Claraval escreve: “Ali o fogo consome de tal modo, que conserva sempre”.

Ouvinte, aquele que entrar uma vez no inferno jamais sairá de lá. A este pensamento, o rei Davi exclamava trêmulo: “Não me engula o abismo, nem o poço feche sobre mim a sua boca” (Sl 68,16). Apenas um condenado cai naquele poço de tormentos, fecha-se sobre ele a entrada para nunca mais se abrir. Eusébio Emeseno diz: “No inferno só há porta para entrar e não para sair”, e o mesmo escreve também: “O poço não fecha a sua boca, porque se fechará a abertura em cima e se abrirá em baixo para devorar os condenados”.

Ouvinte, se uma pessoa está doente, ela tem esperança de ficar curada; se alguém está na cadeia, tem esperança de conquistar em breve a liberdade; mas no inferno não é assim; no inferno não há esperança, nem certa nem provocável; não há até um quem sabe? O condenado verá sempre diante de si a sentença que o obriga a gemer perpetuamente nessa prisão de sofrimentos; em Daniel 12,2 diz: “E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno”. Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “O condenado não sofre somente a pena de cada instante, mas a cada instante a pena da eternidade”, e Tertuliano diz: “Gemem os condenados sob o peso da eternidade”.

Os mundanos cheios de arrogância e vestidos com a veste do relaxamento dizem: Onde está a justiça de Deus ao castigar com pena eterna um pecado que dura um instante? Mas o mundano se esquece, que, por um prazer momentâneo, ele ofende um Deus de majestade infinita. Santo Tomás de Aquino escreve: “Até a justiça humana mede a pena, não pela duração, mas pela qualidade do crime. Não é porque o homicídio se cometa em um momento que se há de castigar também com pena momentânea”, escreve o grande Santo Tomás de Aquino. São Bernardino de Sena também escreve: “Para o pecado mortal, um inferno é pouco. A ofensa feita à majestade infinita deve merecer castigo infinito”.

Caríssimo ouvinte, nesta vida, o pecador penitente pode satisfazer pela aplicação dos merecimentos de Jesus Cristo; mas o condenado ao inferno não; e portanto, não podendo por si satisfazer a Deus, sendo eterno o pecado, eterno também deve ser o castigo. Salmo 48, versículos 8, 9 diz: “Mas o homem não pode comprar seu resgate, nem pagar a Deus seu preço: o resgate de sua vida é tão claro que seria sempre insuficiente”; e Belluacense diz: “Ali (no inferno) a culpa poderá ser castigada, mas jamais expiada”, porque, segundo Santo Agostinho, “ali o pecador é incapaz de arrependimento”. O Senhor, por tanto, estará sempre irado contra ele”. Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Ainda que Deus quisesse perdoar ao condenado, este não aceitaria a reconciliação, porque sua vontade obstinada e rebelde está confirmada no ódio contra Deus”. O papa Inocêncio III escreve: “Os condenados não se humilharão; pelo contrário, crescerá neles a perseverança no ódio”, e São Jerônimo afirma: “Nos condenados, o desejo de pecar é insaciável”. A ferida dos condenados é incurável; porque eles mesmos recusam a cura.

Prezado ouvinte, no inferno, o que mais se deseja é a morte. São Bernardo de Claraval escreve: “Assim como, ao pastar, os rebanhos comem apenas as pontas das ervas e deixam a raiz, assim a morte devora os condenados, matá-os a cada instante e condena-lhes a vida para continuar a atormentá-los com castigo eterno”, e São Gregório Magno diz: “O condenado morre continuamente sem morrer nunca”. Ouvinte, quando um homem geme de dor, todos tem compaixão dele. Mas o condenado não terá quem dele se compadeça.

O Imperador Zenão, sepultado numa masmorra, gritava e pedia que, por piedade, o retirassem dali, mas não o atenderam, e depois, o encontraram morto. As mordeduras que a si mesmo havia feito nos braços, patenteavam o horrível desespero que sentira… Os condenados, exclamam São Civilo de Alexandria, gritam no cárcere infernal, mas ninguém acode a liberta-los, ninguém deles se compadecerá jamais.

Ouvinte, o inferno é eterno, é para sempre. A voz da divina justiça só repete no inferno as palavras: Sempre, nunca! Sempre, nunca!

Os demônios, por zombaria, perguntarão aos condenados: “Vai muito adiantada a noite?” (Iz 21,11). Quando amanhecerá? Quando acabarão essas vozes, esses prantos, essa infecção, esses tormentos e essas chamas? E os condenados responderão: Nunca! Nunca!… Mas quanto tempo há de durar? Perguntarão os demônios. Sempre! Sempre! Responderão os condenados.

Caríssimo ouvinte, acabei de falar sobre a eternidade do inferno; e para concluir essa pregação sobre o inferno, falarei agora sobre os Remorsos do condenado; preste bastante atenção, e faça silêncio.

Ouvinte, muitos serão os remorsos com que a consciência roerá o coração dos condenados no inferno. Mas existem três que principalmente os atormentarão, a saber: o pensar no nada das coisas pelo qual se condenou; no pouco que tinha a fazer para salvar-se e no grande Bem que perdeu.

Santo Tomás de Aquino diz: “… que o principal tormento dos condenados será a consideração de que se perderam por verdadeiros modos, e que podiam ter alcançado facilmente, se o quisessem, o prêmio da glória”. Viveram correndo atrás das coisas passageiras, e caíram no abismo eterno.

O segundo remorso da consciência do condenado consistirá, portanto, no pensar quão pouca devia fazer para salvar-se.

Um condenado que apareceu a Santo Humberto revelou-lhe que sua maior aflição no inferno, era reconhecer a indignidade do motivo que o levara à condenação e a facilidade com que a poderia ter evitado. O condenado dirá então: “Se me tivesse mortificado para não olhar aquele objeto, se tivesse vencido o respeito humano ou tal amizade, se tivesse evitado usar roupas imorais não me teria condenado… Se eu tivesse confessado todas as semanas, se eu tivesse rezado com mais fervor … muitas vezes, resolvi fazer tudo isso, mas, infelizmente, não perseverei. Dava começo à prática do bem, mas, em breve, desprezei o caminho de piedade, e por isso, me perdi”. Dirá o condenado.

Prezado ouvinte, aumentará o pesar causado por este remorso a lembrança dos exemplos de companheiros virtuosos e de amigos do condenado, assim como dos dons que Deus lhe concedeu para salvar-se: dons naturais, como boa saúde, fortuna e talento, que, bem aproveitados segundo a vontade de Deus, teriam servido para a santificação; e os dons sobrenaturais, como luzes, inspirações, convites e longos anos para reparar as faltas cometidas.

Como espadas agudas atuarão sobre o coração de condenado as recordações de todas as graças que recebeu, quando ver que já não é possível reparar a ruína eterna.

O condenado exclamará com seus companheiros de desespero: “Passou ceifa, findou o estio, e nós não fomos salvos” (Jr 8,20). O mesmo dirá; se tivesse empregado no serviço de Deus o tempo e o trabalho passado em perder-me, teria sido um santo… E agora, que me restam; remorsos e mais remorsos.

Ouvinte, o terceiro remorso do condenado no inferno, é considerar o grande Bem que perdeu; cuja pena, segundo São João Crisóstomo: “Será mais grave pela privação da glória do que pelos próprios tormentos do inferno”.

A princesa Isabel da Inglaterra disse: “Concede-me Deus quarenta anos de reinado e renunciarei gostosamente ao seu paraíso”. A infeliz obteve os quarenta anos de reinado. Mas que dirá agora a sua alma na outra vida? Certamente não pensará o mesmo. Que aflição e que desespero sentirá ao ver que, por reinar 40 anos entre angústias e terrores, gozando um trono temporal, perdeu para sempre o reino dos céus!

Maior aflição, ouvinte, sentirá o condenado ao reconhecer que perdeu o céu e o Sumo Bem, que é Deus, por sua própria culpa. Verá que foi criado para o céu, e que Deus lhe permitiu escolher livremente a vida ou a morte eterna. Verá que teve em sua mão a faculdade de tornar-se, para sempre, feliz e que, apesar disso, quis lançar-se, por sua livre vontade, nas chamas do inferno, no abismo eterno, de onde nunca mais poderá sair, e do qual ninguém o livrará.

Ouvinte, abra o vosso coração para Deus, busque a santidade enquanto é tempo; medite sobre o inferno, o pensamento do inferno poderá livrar-te do próprio inferno; como está no livro do Eclesiástico 7,36: “Lembra-te de teus novíssimos e não pecarás jamais”, porque esse pensamento te fará recorrer a Deus.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “O inferno”.

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