SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

(Lc 1, 39-56)

 

"39 Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. 40 Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. 42 Com um grande grito, exclamou: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! 43 Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? 44 Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. 45 Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!' 46 Maria, então disse: 'Minha alma engrandece o Senhor, 47 e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador, 48 porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada, 49 pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo 50 e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem. 51 Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. 52 Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. 53 Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias. 54 Socorreu Israel, seu servo, lembrando de sua misericórdia 55 – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre!' 56 Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para casa".

 

Em Lc 1, 39 diz: "Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá".

 

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "Do arcanjo São Gabriel ouviu a Santíssima Virgem que Isabel, sua prima, estava grávida de seis meses. Iluminada interiormente pelo Espírito Santo, conheceu que o Verbo humanado, e já feito seu Filho, queria começar a manifestar ao mundo as riquezas de sua misericórdia" (Glórias de Maria, Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 1).

A Virgem Maria sabendo que Isabel, sua prima, precisava de sua ajuda, não ficou num canto calculando a distância nem colocou dificuldades, mas decidiu ajudá-la: "... a caridade é prestativa" (1 Cor 13, 4). A bondosa Senhora deixou os seus afazeres para socorrer alguém que necessitava urgentemente de sua colaboração.

O católico tem o dever de imitar a disponibilidade da Santíssima Virgem. É contraditório dizer ser filho de Nossa Senhora e viver no egoísmo: "Não podemos conviver filialmente com Maria e pensar apenas em nós mesmos, nos nossos problemas. Não se pode tratar com a Virgem e ter, egoisticamente, problemas pessoais" (São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, nº 145).

               "Maria pôs-se a caminho".

              Nossa Senhora não adiou a sua viagem e muito menos se acovardou. Ela pôs-se a caminho! Para onde? Será que a Virgem sabia das dificuldades que encontraria no percurso? Será que a mesma sabia da distância? A caridade é a virtude das almas que amam de verdade: "A caridade tudo suporta" (1 Cor 13, 7), e: "... pôs-se a tenra e delicada donzela a caminho, sem se atemorizar com as fadigas da viagem" (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria, Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 1).

Imitemos com fervor e entusiasmo o exemplo da Virgem Maria. Quantos católicos vivem amasiados, sem instrução religiosa, mergulhados na imoralidade e longe de Nosso Senhor. São milhões! O que você faz para ajudá-los a aproximarem da graça de Deus?

Saiamos do comodismo e da vida de "poltronice", e aproximemo-nos com caridade dessas pessoas que vivem nas trevas; não deixemos que morram longe da Luz Eterna: "Nada mais frio do que um cristão que não se preocupa com a salvação dos outros" (São João Crisóstomo, Homilia 20, 4: PG 60, 162-164).

              "... para a região montanhosa, a uma cidade de Judá".

             Não se sabe com certeza onde residia Isabel, a prima de Nossa Senhora. Muitos autores dizem que a cidade é Ain-Karim, ou Ayn Karem, a uns sete quilômetros de Jerusalém. Deve o seu nome à sua fonte (Ain) e aos vinhedos que a circundam (Kerem em hebraico, Karm em árabe, significa vinha).

A Virgem Maria percorreu um percurso de quase 150 Km com o coração desejoso de prestar serviço à sua prima Isabel.

Hoje, milhares de católicos não têm coragem de atravessarem a rua para rezar e dar bons conselhos para uma família que necessita de ajuda; mas os mesmos estão prontos para passarem horas e horas diante da televisão olhando novelas pornográficas. Seriam esses os filhos fiéis da Virgem Maria? Não! Esses só possuem casca, isto é, vivem de aparência.

Nossa Senhora não se preocupou com o perigo que corria em atravessar aquela região montanhosa cheia de salteadores, e muito menos com a altura dos montes. Quem ama de verdade não mede esforços para ajudar o próximo: "A caridade de Cristo estimula, incita-nos a correr e voar com as asas do santo zelo. Quem ama a Deus de verdade, também ama o próximo; o verdadeiro zeloso é o mesmo que ama, mas em grau maior, conforme o grau de amor; quanto arde de amor, tanto mais é impelido pelo zelo" (Das Obras de Santo Antônio Maria Claret, bispo).

Imitemos o exemplo da Virgem Maria; ela não desanimou diante das montanhas que estavam em seu caminho.

Todas as vezes que decidirmos trabalhar para Deus e para o bem das almas, aparecerão inúmeras "montanhas" de críticas, calúnias, zombarias e perseguições à nossa frente; cabe a nós levantarmos a cabeça e perseverarmos em meio aos ataques: "Deixemos, pois, que os pecadores digam o que quiserem e continuemos a servir a Deus que é tão fiel e amoroso para aqueles que o amam. Quanto maiores forem os obstáculos e as contradições que encontrarmos na prática do bem, tanto mais acendrada será a complacência do Senhor e tanto maior o nosso mérito" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XXXI, Ponto II), e: "Abandonemos este mundo cego. Grite ele quanto quiser, como uma coruja, para inquietar os passarinhos do dia. Sejamos firmes em nossos propósitos, invariáveis em nossas resoluções e a constância mostrará que a nossa devoção é séria e sincera" (São Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota, Parte IV, capítulo I).

A Santíssima Virgem, mulher forte, não ficou parada nem retrocedeu, mas com coragem e firmeza continuou a caminhar por entre as montanhas. Imitemo-la!

Quando se trata de trabalhar para a glória de Deus e salvação das almas, não meçamos esforços nem nos acovardemos; confiantes no Senhor que nos fortalece e nos protege, lutemos corajosamente até o fim: "O cristão nasceu para a luta, e quanto mais encarniçada se apresenta, tanto mais segura há de ser a vitória com o auxílio de Deus" (Leão XIII, Enc. Sapientiae Christianae, 19).

                 "... dirigindo-se apressadamente".

                Como já foi comentado, a Virgem Maria não ficou analisando se valeria ou não a pena servir a sua prima Isabel, mas saiu apressadamente: "Levantando-se da tranquilidade de sua contemplação, a que estava sempre aplicada, e deixando a sua cara solidão, com grande pressa partiu para a casa de Isabel" (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria, Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 1).

Não adiemos o bem que pudermos fazer hoje, mas corramos ao encontro daqueles que necessitam de nossa ajuda, sobretudo da ajuda espiritual. Não percamos um só minuto, mas ajudemos todos a conhecerem o Salvador da Humanidade, a exemplo de Nossa Senhora: "Maria parte a fim de ir ao encontro da velha prima, cuja extraordinária maternidade lhe fora revelada pelo Anjo. Assim Nossa Senhora inicia a missão de portadora de Cristo ao mundo, às pressas, sem delongas, levada pelo impulso interior que a põe a caminho para a humanidade em expectativa e tão necessitada do Salvador" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 390).

Orígenes escreve: "Jesus, que estava em seu seio, se apressava para santificar a João ainda dentro do ventre de sua mãe. Pelo que segue: 'Com pressa", e: “A graça do Espírito Santo não conhece demora. Aprende, ó virgens, a não deter-lhes nas praças e a não misturarem com o público em conversações" (Santo Ambrósio), e também: "Por isto foi às montanhas, porque Zacarias habitava nas montanhas. Donde segue: 'Em uma cidade de Judá e entrou na casa de Zacarias" (Teofilacto).

A Santíssima Virgem com o coração ardendo de amor fez a longa viagem de Nazaré até Ain-Karim, percorrendo aproximadamente 150 Km.

 

Em Lc 1, 40-41 diz: "Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo".

 

Nossa Senhora chegando a Ain-Karim não procurou outro lugar, mas foi diretamente para a casa de sua prima Isabel. A sua visita é diferente, não pode ser comparada com as visitas das pessoas que servem o mundo: "Foi Maria a primeira a saudar Isabel. Mas não foi a visita de Nossa Senhora como são as visitas dos mundanos, que pela maior parte se reduzem a cerimônias e falsas exibições" (Santo Ambrósio), e Santo Afonso Maria de Ligório diz: "Sua visita trouxe àquela casa um cúmulo de graças. Com efeito, mal entrara e saudara seus habitantes, ficou já Isabel cheia do Espírito Santo, e João livre de culpa e santificado. Por isso deu aquele sinal de júbilo, exultando no ventre de sua mãe. Queria com isso manifestar as graças recebidas por meio de Maria, como declarou a mesma Isabel: Porque assim que chegou a voz da tua saudação aos meus ouvidos, logo o menino exultou de prazer em minhas entranhas" (Glórias de Maria, Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 1).

Sobre a saudação de Maria, Bernardino de Busti escreve: "Recebeu João a graça do Divino Espírito Santo que o santificou".

Assim como Isabel recebeu com alegria, piedade e respeito a Virgem Maria em sua casa, recebamos também nós a Virgem em nossa vida: "Meu viver é Maria" (São Gabriel da Virgem Dolorosa), e vivendo sob a sua proteção e sendo-lhes fiéis, seremos agraciados: "Os primeiros frutos da redenção passaram, pois, pelas mãos de Maria. Foi ela o canal pelo qual foi comunicada a graça ao Batista; o Espírito Santo a Isabel e o dom de profecia a Zacarias... e tantas outras graças àquela casa" (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria, Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 2).

Infeliz daquele que recusa receber Nossa Senhora em sua casa, isto é, na sua vida; esse será sempre infeliz: "Se a devoção à Virgem Santíssima é necessária a todos os homens para conseguirem simplesmente a salvação, é ainda mais para aqueles que são chamados a uma perfeição particular." (São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da derdadeira devoção à Santíssima Virgem, 43).

São João Crisóstomo escreve: "Ou de outro modo, a Virgem ocultava no fundo do seu coração o que lhe havia dito e não o revelou a ninguém, porque não acreditava que aprovassem a relatos admiráveis. Antes, acreditava, que se falasse, receberia ultrajes como se ocultasse um crime próprio" (Homilia in Matthaeum, 4), e: "Por isto vai refugiar-se – ou melhor dizendo, recorre – só a Isabel. Assim estava acostumada, tanto pelo parentesco e por conformidade de seus costumes" (Griego), e também: "Pronto se declaram os benefícios da vinda de Maria e a presença do Senhor, pois segue: 'E quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino deu saltos'. Adverte nisto a diferença e a conformidade de umas e outras palavras. Isabel ouviu a voz primeiro e São João recebeu primeiro a graça. Ela ouviu segundo a ordem da natureza e este saltou de gozo por razão do mistério. Aquela sentiu a vinda de Maria, este a vinda do Senhor" (Santo Ambrósio), e ainda: "O profeta vê e ouve melhor que sua mãe e saúda ao Príncipe dos profetas. Mas não podendo com palavras, o saúda no ventre - o qual constitui o cume da alegria -. Quem, alguma vez, já teve notícia de que alguém saltou de alegria antes de nascer? A graça insinuou coisas que eram desconhecidas à natureza. O soldado, encerrado no ventre, conheceu ao Senhor e ao Rei que havia de nascer, sem que o véu do ventre obstaculizasse a mística visão. Portanto, viu, não com os olhos da carne, mas sim, com os do espírito" (Griego), e: "Não havia sido cheio do Espírito Santo, até que a que levava a Jesus Cristo em seu ventre, se apresentou diante dela. Então foi quando – cheio do Espírito Santo – saltava de gozo dentro de sua mãe. E prossegue: 'E foi Isabel cheia do Espírito Santo'. Não há que duvidar, pois, que a que então ficou cheia do Espírito Santo, o foi por seu filho" (Orígenes).

Aceitemos com amor e devoção a Virgem Maria em nossa vida: "Virgem Imaculada e bendita, vós sois a dispensadora universal de todas as graças, e como tal sois a esperança de todos e a minha esperança também. Dou sempre graças ao meu Senhor que me fez conhecer-vos e compreender o meio de obter as graças e salvar-me. O meio sois vós, ó grande Mãe de Deus, porquanto sei que principalmente pelos merecimentos de Jesus e pela vossa intercessão, me hei de salvar. Ah! Minha Rainha! Vós noutro tempo vos destes tanta pressa em visitar e santificar em vossa visita a casa de Isabel. Visitai por quem sois, e visitai depressa a pobre casa da minha alma. Apressai-vos; vós sabeis, melhor do que eu, quanto ela é pobre e enferma de muitos males, de afetos desordenados, de hábitos maus e dos pecados cometidos. Visitai-me, pois, durante a vida e visitai-me especialmente na hora da morte, porque então me será ainda mais necessária a vossa assistência" (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria, Parte II, capítulo II, V, Ponto Segundo, Oração).

 

Em Lc 1, 42-44 diz também: "Com um grande grito, exclamou: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre".

 

Aqui, Isabel, cheia de alegria e iluminada pelo Espírito Santo, reconhece em Maria Santíssima a Mãe de Nosso Senhor.

Comenta São Beda: "Isabel bendiz Maria com as mesmas palavras usadas pelo Arcanjo para que se veja que deve ser honrada pelos anjos e pelos homens e que com razão se deve antepor a todas as mulheres" (In Lucae Evangelium expositio, ad loc.), e: "Na recitação da Ave-Maria repetimos estas saudações divinas com as quais nos alegramos com Maria Santíssima pela sua excelsa dignidade de Mãe de Deus e bendizemos o Senhor e agradecemos-Lhe ter-nos dado Jesus Cristo por meio de Maria" (São Pio X, Catecismo Maior, nº 333).

Maria Santíssima, sendo a Mãe de Deus, não foi à casa de Isabel para ser servida; pelo contrário, foi servi-la por noventa dias: "Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para casa" (Lc 1, 56).

Aprendamos com Nossa Senhora a servir o próximo com generosidade e humildade. A generosidade enriquece o coração, enquanto que o egoísmo o destrói.

Muitos se acham auto-suficientes e poderosos, e por isso não gostam de servir; vivem trancados no egoísmo apodrecendo o coração. É preciso lembrá-los de que Nossa Senhora, sendo a Mãe de Deus, serviu Santa Isabel nos afazeres domésticos. Imitemos a humildade de nossa Mãe do Céu: "Ó Virgem santa, quão fervorosa é vossa caridade em procurar a graça, quão luminosa vossa virgindade na carne, quão excelsa vossa humildade em oferecer-vos ao serviço do próximo! Se quem se humilha será exaltado, que há de mais sublime do que a humildade, ó Maria? Ao ver-vos, Isabel se admira e exclama: 'Donde a mim esta honra de vir visitar-me a Mãe de meu Senhor?' Ainda mais, porém, se admirará ao verificar que também vós, ó Maria, à semelhança de vosso Filho, não fostes a ela para ser servida, mas para servir" (São Bernardo de Claraval, De aquaeductu 9).

Santo Ambrósio escreve: "Aquela que se havia ocultado, porque havia concebido um filho, começou a manifestar-se porque levava em seu ventre um profeta. E a que antes se envergonhava, agora abençoa. Portanto, prossegue: 'E exclamou em alta voz: 'Bendita és tu entre as mulheres'. Exclamou em alta voz quando notou a vinda do Salvador, porque acreditou que seu parto devia ser misterioso", e: "Disse, pois: 'Bendita és tu entre as mulheres'. Ninguém jamais foi tão cheia de graça, nem podia sê-lo, porque somente ela é Mãe de um fruto divino" (Orígenes), e também: "Porém, como já havia outras mulheres santas que haviam gerado filhos manchados pelo pecado, acrescenta: 'E bendito o fruto de teu ventre'. Ou de outro modo, havia dito: 'Bendita és tu entre as mulheres'. E como se alguém lhe perguntasse o porquê, acrescentou a causa: 'E bendito o fruto de teu ventre...'. Assim como se diz no Salmo 117 (Sl 117, 26-27): 'Bendito o Senhor Deus, que vem em nome do Senhor, e nos ilumina" (Teofilacto), e ainda: "Chamou ao Senhor fruto do ventre da Mãe de Deus, porque não procedeu de homem, mas somente de Maria, pois os que tomaram a substância de seus pais, são frutos deles" (Orígenes), e: "Somente este fruto é bendito, porque se produz sem homem e sem pecado" (Griego), e também: "Este é o fruto que se prometeu a Davi: 'É um fruto do teu ventre que eu vou colocar em teu trono" (Sl 131, 11)" (São Beda), e ainda: "Não disse isto como ignorando, pois sabe que por graça e obra do Espírito Santo, a Mãe do Senhor saúda a mãe do profeta para proveito de seu filho. E para que conste que isto não suceda em virtude de mérito humano, mas do dom da graça divina, disse: 'Donde me vem?', isto é: Em virtude de quais ações, por quais méritos?" (Santo Ambrósio), e: "Dizendo isto está conforme seu filho; porque também São João se considera indigno da vinda de Jesus Cristo a ele. Chama Mãe do Senhor a que, todavia, é Virgem, predizendo assim a realização do que se havia anunciado. A provisão de Deus - ou seja, sua providência - havia chegado Maria a casa de Isabel para que o testemunho de São João chegasse desde o ventre ao Senhor. E desde aquele momento, o Senhor constituiu a São João seu profeta. Pelo qual segue: 'Porque, logo que chegou a voz de tua saudação a meus ouvidos" (Orígenes).

São João Crisóstomo admirava-se na contemplação desta cena do Evangelho: "Vede que novo e admirável é este mistério. Ainda não saiu do seio e já fala mediante saltos; ainda não lhe é permitido clamar e já é escutado pelos fatos (...); ainda não vê a luz e já indica qual é o Sol; ainda não nasceu e já se apressa a fazer de Precursor. Estando presente o Senhor não se pode conter nem suporta esperar os prazos da natureza, mas procura romper o cárcere do seio materno e busca dar testemunho de que o Salvador está prestes a chegar" (Sermo apud Metaphr., mense julio).

 

Em Lc 1, 45 diz ainda: "Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!"

 

Santa Isabel proclama bem-aventurada a Mãe de Nosso Senhor e louva a sua fé. Não houve fé como a da Virgem Maria: "Ó Virgem nobilíssima. Bem-aventurada sois porque crestes, como disse vossa prima Isabel. Bem-aventurada sois porque trouxestes e encerrastes no seio o Salvador, e muito mais bem-aventurada porque ouvistes sua palavra e a observastes" (Luís da Ponte, Meditações II 12, 3), e: "Ó Virgem, tivestes mais fé que todos os homens e Anjos! Vistes vosso Filho na gruta de Belém, e crestes ser ele o Criador do mundo. Viste-O fugir de Herodes e não deixastes de crê-lo Rei dos reis. Viste-o nascer, e o crestes eterno; pobre, necessitado de alimento, e o crestes Senhor do universo; deitado na palha, e o crestes onipotente! Vistes que não falava, e o crestes Sabedoria infinita. Chorava, e o crestes a alegria do paraíso. Desprezado, crucificado e morto, continuastes firme em crer que era Deus, embora nos outros vacilasse a fé." (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria II, 3, 4), e também: "A Virgem, tão pequena aos próprios olhos, não foi menos magnânima no crer na promessa de Deus. Ela que se considerava nada mais que pobre serva, nunca teve a mínima dúvida sobre sua vocação a este incompreensível mistério, a esta admirável troca, a este insondável sacramento, e creu firmemente que viria a ser a verdadeira Mãe do Homem-Deus" (São Bernardo de Claraval, De duod. Praerog. B.V.M. 13).

Sem a fé é impossível agradar a Nosso Senhor: "Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável" (Hb 11, 6).

Santo Ambrósio escreve: "Veja que Maria não duvidou, mas acreditou, pelo qual conseguiu o fruto da fé", e: "E não deve chamar a atenção que o Senhor - que havia de redimir o mundo - começasse sua obra por sua própria Mãe, a fim de que aquela, pela qual se preparava a salvação a todos, recebesse em prenda – a primeira – o fruto de salvação" (São Beda), e também: "Porém, também vocês são bem-aventurados, porque ouviram e acreditaram. Qualquer alma que acreditar, concebe e gera ao Verbo de Deus e conhece suas obras" (Santo Ambrósio), e ainda: "Foi iluminada pelo espírito de profecia sobre o passado, o presente e o futuro, que conheceu que aquela havia acreditado nas promessas do anjo. E chamando-a Mãe, compreendeu que levava em seu ventre o Redentor do gênero humano. E predizendo as coisas que haviam de suceder, viu também o que se seguiria no futuro" (São Gregório Magno, Super. Ezech., 1, 8).

Nossa Senhora possuía a fé. Aprendamos dessa fiel Senhora a crer em nossa própria vocação à santidade; a crer sempre, principalmente quando surgem "nuvens" escuras querendo nos desviar do caminho da salvação; crer também quando encontramos "montanhas" de dificuldades à nossa frente, querendo nos impedir de caminharmos na perfeição.

Peçamos com humildade à Santíssima Virgem: "Pelo mérito de vossa fé, impetrai-me a graça de viva fé: 'Senhora, aumentai em nós a fé!" (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria II, 3, 4).

 

Em Lc 1, 46-56 diz: "Maria, então disse: 'Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador, porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada, pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem. Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando de sua misericórdia – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre!' Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para casa".

 

O cântico Magnificat que Nossa Senhora pronuncia na casa de Zacarias é de uma singular beleza poética: "Evoca alguns passos do Antigo Testamento que a Virgem Santíssima tinha meditado (recorda especialmente 1 Sm 2, 1-10). Neste cântico podem distinguir-se três estrofes: na primeira (vv. 46-50), Maria glorifica a Deus por a ter feito Mãe do Salvador, faz ver o motivo pelo qual a chamarão bem-aventurada todas as gerações e mostra como no mistério da Encarnação se manifestam o poder, a santidade e a misericórdia de Deus. Na segunda (vv. 51-53), a Virgem Santíssima ensina-nos como em todo o tempo o Senhor teve predileção pelos humildes, resistindo aos soberbos e arrogantes. Na terceira (vv. 54-55), proclama que Deus, segundo a sua promessa, teve sempre especial cuidado do povo escolhido, ao qual vai dar o maior título de glória: a Encarnação de Jesus Cristo, judeu segundo a carne (cfr Rm 1, 3)" (Edições Theologica), e: "O Magnificat, verdadeiro cântico dos cânticos do Novo Testamento, ressoa todos os dias em nossos lábios, irmãos. Devemos recitá-lo com particular fervor, para que, em união espiritual com Maria, repetindo-o com ela palavra por palavra, e quase sílaba por sílaba, aprendamos em sua escola como e por que devemos celebrar e bendizer o Senhor. O Magnificat nos ensina que só Deus é grande, por isso deve ser por nós engrandecido. Só Ele nos salva e, por isso, o nosso espírito deve exultar Nele. Ele se inclina sobre nós com a sua misericórdia e nos eleva para junto de si com o seu poder. Grande, na verdade, e elevada a lição do Magnificat, que cada um de nós, em todas as condições de vida, pode e deve assumir como seu, para nele haurir, além dos dons de graça e luz, o conforto e a serenidade também nas provas das tribulações e nos sofrimentos do corpo" (João Paulo II, Meditações e Orações, 9 de maio).

 

Em Lc 1, 46- 47 diz: "Maria, então disse: 'Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador".

 

São Basílio Magno escreve: "Os primeiros frutos do Espírito Santo são a paz e a alegria. E a Santíssima Virgem tinha reunido em si toda a graça do Espírito Santo" (In Psalmos homiliae, in Ps 32), e: "Os sentimentos da alma de Maria derramam-se no Magnificat. A alma humilde diante dos favores de Deus sente-se movida ao gozo e ao agradecimento. Na Santíssima Virgem o benefício divino ultrapassa toda a graça concedida a qualquer criatura" (Edições Theologica), e também: "Virgem Mãe de Deus, o que não cabe nos Céus, feito homem, encerrou-se no teu seio" (Antífona da Missa do Comum das festas de Santa Maria), e ainda: "O Senhor, diz ela, elevou-me por um dom tão grande e inaudito, que nenhuma palavra o pode descrever e mesmo no íntimo do coração é difícil compreendê-lo. Por isso dedico todas as forças de meu ser ao louvor e à ação de graças, contemplando a grandeza daquele que é eterno, e ofereço com alegria minha vida, tudo que sinto e penso, porque meu espírito rejubila pela divindade eterna de Jesus, o Salvador, que concebi e é gerado em meu seio" (Do Comentário de São Beda, o Venerável, sobre o Evangelho de São Lucas), e: "Minha  alma glorifica o Senhor e meu espírito exulta em Deus, meu salvador'. Logo nas primeiras palavras louva os dons especialmente concedidos a ela; em seguida enumera os benefícios universais, com os quais ele não cessa nunca de cumular o gênero humano. Glorifica o Senhor sua alma que pôs inteiramente ao serviço e ao louvor divino todos os sentimentos do homem interior e que, pela obediência aos preceitos de Deus, revela pensar sempre na grandeza de sua majestade. Seu espírito exulta em Deus, seu Salvador, ela que só sente prazer na lembrança de seu Criador, de quem espera a salvação eterna. Palavras que corretamente convêm a todos os perfeitos; mas convinha, sobretudo, à santa Mãe de Deus proferi-las, porque, pelo privilégio único, ardia de amor espiritual por aquele que a fazia alegrar-se pela concepção corporal. Com toda razão pode exultar em Jesus, seu Salvador, mais do que os outros, com júbilo singular, por saber que iria nascer dela por nascimento temporal aquele mesmo que conhecia como o autor da perpétua salvação, a ponto de uma e mesma pessoa vir a ser, verdadeiramente, seu filho e seu Senhor" (Idem, Homilias), e também: "A Santíssima Virgem, considerando a imensidade do mistério, com sublime intenção, e com um fim elevado e como avançando em suas profundidades, engrandece ao Senhor. Por isso prossegue: 'E disse Maria: Minha alma engrandece ao Senhor" (São Basílio, In Psalmo 33), e ainda: "Se Deus não pode receber nem aumento nem dano, como é que Maria diz: 'Minha alma engrandece ao Senhor?' Mas se considero que o Senhor Salvador é imagem do Deus invisível, e que a alma foi feita à sua imagem, para que seja imagem da imagem, então será como a imitação daqueles que pintam imagens; quando engrandecer minha alma com pensamento, palavras e obras, a imagem de Deus se faz grande e o mesmo Senhor – cuja imagem está em minha alma – se engrandece" (Orígenes), e: "A alma de Maria engrandece ao Senhor e seu espírito se regozija em Deus; porque consagrada em alma, espírito e corpo ao Pai e ao Filho, venera com piedoso afeto a um só Deus de quem são todas as coisas. Que a alma de Maria esteja em todas as coisas para engrandecer ao Senhor; que o espírito de Maria esteja em todas as coisas para regozijar-se no Senhor. Se segundo a carne uma só é a Mãe de Cristo, segundo a fé, o fruto de todos é Cristo. Porque toda alma concebe o Verbo de Deus; se, imaculada e isenta de vícios, guarda sua castidade com pudor inviolável" (Santo Ambrósio), e também: "Engrandece ao Senhor aquele que segue dignamente a Jesus Cristo, e, entretanto, se chama cristão quem não ofende a dignidade de Cristo, mas que pratica obras grandes e celestiais; então, se regozijará o espírito - isto é, o toque espiritual-, ou o que é o mesmo, adiantará e não será castigado" (Teofilacto), e ainda: "Se quando a luz penetrar em teu coração,  perceber - por aquela escura e breve imagem - a perseverança dos justos em amar a Deus e em desprezar as coisas corporais, sem dificuldade alguma conseguirá gozo no Senhor" (São Basílio, In Psalmo 33), e: "Primeiro a alma engrandece ao Senhor para depois alegrar-se em Deus. Pois se antes não cremos, não podemos alegrar-nos" (Orígenes).

A Virgem humilde de Nazaré vai ser a Mãe de Deus; jamais a onipotência do Criador se manifestou de um modo tão pleno. E o Coração de Nossa Senhora manifesta de modo desbordante a sua gratidão e a sua alegria.

 

Em Lc 1, 48-49 diz: "... porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada, pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo".

 

Diante desta manifestação de humildade de Nossa Senhora, exclama São Beda: "Convinha, pois, que assim como tinha entrado a morte no mundo pela soberba dos nossos primeiros pais, se manifestasse a entrada da Vida pela humildade de Maria" (In Lucae Evangelium expositio, ad loc.), e: "Que grande é o valor da humildade! – 'Quia respexit humilitatem'. Acima da fé, da caridade, da pureza imaculada, reza o hino jubiloso da nossa Mãe em casa de Zacarias: 'Porque viu a minha humildade, eis que por isto me chamarão bem-aventurada todas as gerações" (São Josemaría Escrivá, Caminho, 598), e também: "Deus premia a humildade da Virgem Santíssima com o reconhecimento por parte de todos os homens da sua grandeza: 'Me hão de chamar ditosa todas as gerações'. Isto cumpre-se sempre que alguém pronuncia as palavras da Ave-Maria. Este clamor de louvor à nossa Mãe é ininterrupto em toda a terra. Desde os tempos mais antigos a Santíssima Virgem é honrada com o título de 'Mãe de Deus', e sob a sua proteção se acolhem os fiéis em todos os perigos e necessidades. Foi, sobretudo, a partir do Concílio de Éfeso que o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu admiravelmente, na veneração e no amor, na invocação e na imitação, segundo as suas proféticas palavras: 'Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é poderoso" (Edições Theologica), e ainda: "Estas palavras se relacionam com o início do  cântico que diz: 'Minha alma glorifica o Senhor'. E certamente só a alma em que o Senhor se dignou fazer maravilhas pode glorificá-lo e louvá-lo dignamente e dizer, exortando os que compartilham seus desejos e aspirações: 'Glorificai comigo o Senhor e exaltemos juntos o seu nome'... Diz-se que santo é o seu nome porque, pelo seu poder ilimitado, transcende toda criatura e está infinitamente separado de todas as coisas criadas" (Do Comentário de São Beda, o Venerável, sobre o Evangelho de São Lucas), e também: "Nada atribui a seus méritos; atribui toda a sua grandeza ao dom daquele que, essencialmente poderoso e grande, costuma tornar fortes e grandes seus pequeninos e fracos fiéis. E acrescentou bem: 'E santo é o seu nome'. Exorta assim os ouvintes, ou melhor, a todos aos quais chegarem estas palavras, e ensina voar para a fé e invocação deste nome se quiserem ser participantes da eterna santidade e verdadeira salvação, conforme foi predito: 'E acontecerá, que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo'. É este o nome do qual disse acima: 'E meu espírito exulta em Deus meu salvador" (Idem, Homilias), e: "Manifesta a causa pela qual convém engrandecer ao Senhor e alegrar-se n'Ele dizendo: 'Porque olhou a humildade de sua serva'. Como se dissesse: O Senhor o quis assim e eu não esperava; estava contente com os humildes, agora sou eleita para um conselho inefável e exaltada da terra ao céu" (Griego), e também: "Ó verdadeira humildade, que deu a luz aos homens um Deus, deu aos mortais a vida, renovou os céus, purificou o mundo, abriu o paraíso e livrou as almas dos homens! A humildade de Maria se transformou em escada para subir ao céu, pela qual Deus baixou até a terra. Que quer dizer 'olhou', senão 'aprovou?' Muitos parecem humildes aos olhos dos homens; porém a humildade deles não é olhada pelo Senhor, porque se fossem verdadeiramente humildes, quereriam que Deus fosse louvado pelos homens, e não que os homens os louvassem. E seu espírito se alegraria, não neste mundo, senão em Deus" (Pseudo-Agostinho, Serm. De Assumpt., 208), e ainda: "Se segundo o Profeta são bem-aventurados todos os que procedem de Sião e vivem próximo de Jerusalém como íntimos; quanto deve ser o louvor da excelsa e sacrossanta Virgem Maria, que foi escolhida para ser Mãe do Verbo, segundo a carne?" (Santo Atanásio), e: "Não se chama a si mesma de bem-aventurada por vanglória. Porque, onde poderia estar o orgulho naquela que se chama serva do Senhor? Porém, prediz o que há de suceder, inspirada pelo Espírito Santo" (Griego), e também: "E por isso disse: 'Todas as gerações'. Não somente Israel, mas também todas as nações dos crentes" (Teofilacto), e ainda: "Manifesta a Virgem que não será proclamada bem-aventurada por sua virtude, mas ela explica a causa dizendo: 'Porque o poderoso fez em mim grandes coisas" (Idem.), e: "Que grandes coisas fez em ti? Creio que sendo criatura dera a luz ao Criador, e que sendo serva, gerou ao Senhor, para que Deus redimisse o mundo por ti, e por ti também o devolvesse a vida" (Pseudo-Augustinho, Serm. De Assumpt., 208), e também: "É considerada digna de ser Mãe sem obra de homem e não uma mãe qualquer, mas do Unigênito Salvador" (Tito Bostrense), e ainda: "Disse, pois: 'Ele que é poderoso', para que se alguém duvidasse da verdade da encarnação, permanecendo virgem depois de haver concebido, refere ao grande poder d'Aquele que o fez. Nem se  manchou porque o Unigênito nasceu dela porque santo é seu nome" (Idem.), e: "O nome de Deus se chama santo, não porque nessas sílabas se encerra certa virtude significativa, mas porque toda menção de Deus é santa e pura" (São Basílio, In Psalmo, 33).

 

Em Lc 1, 50 diz: "... e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem".

 

João Paulo II escreve: "A sua misericórdia estende-se de geração em geração'. Tais palavras, já desde o momento da Encarnação, abrem nova perspectiva da história da Salvação. Após a ressurreição de Cristo, esta nova perspectiva passa para o plano histórico e, ao mesmo tempo, reveste-se de sentido escatológico novo. Desde então sucedem-se sempre novas gerações de homens na imensa família humana, em dimensões sempre crescentes; sucedem-se também novas gerações do Povo de Deus, assinaladas pelo sinal da Cruz e da Ressurreição e 'seladas' com o sinal do mistério pascal de Cristo, revelação absoluta daquela misericórdia que Maria proclamou à entrada da casa da sua parente: 'A sua misericórdia estende-se de geração em geração'(...).

Maria, portanto, é aquela que conhece mais profundamente o mistério da misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe quanto é elevado. Neste sentido chamamos-lhe Mãe da misericórdia, Nossa Senhora da Misericórdia, ou Mãe da divina misericórdia. Em cada um destes títulos há um profundo significado teológico, porque exprimem a particular preparação da sua alma e de toda a sua pessoa, para torná-la capaz de descobrir, primeiro, através dos complexos acontecimentos de Israel e, depois, daqueles que dizem respeito a cada um dos homens e à humanidade inteira, a misericórdia da qual todos se tornam participantes, segundo o eterno desígnio da Santíssima Trindade, 'de geração em geração" (Encíclica Dives em misericordia, 9).

São Beda escreve: "Voltando-se desde os dons especiais que recebeu do Senhor, para as graças gerais, explica a situação de todo o gênero humano acrescentando: 'E sua misericórdia de geração em geração aos que o temem'. Como dizendo: Não só me há dispensado graças especiais o que é poderoso, mas a todos os que temem a Deus e são aceitos em sua presença", e: "A misericórdia de Deus não se limita a uma só geração, mas que eternamente se estende de geração em geração" (Orígenes), e também: "Ou indicou com isso, que os que temem conseguirão misericórdia nesta geração - isto é, na presente - e na outra - isto é, na vida eterna - recebendo nesta vida cem por um (Mt 19), porém na outra, benefícios muito maiores" (Teofilacto).

 

Em Lc 1, 51 diz: "Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso".

 

São Josemaría Escrivá comenta: "Os que se elevavam no seu próprio conceito': São os que querem aparecer como superiores aos outros a quem desprezam. E também alude à condição daqueles que na sua arrogância projetam planos de ordenação da sociedade e do mundo de costas ou contra a Lei de Deus. Embora possa parecer que de momento têm êxito, no fim cumpre-se estas palavras do cântico da Virgem Santíssima, pois Deus os dispersará como já fez com os que tentaram edificar a torre de Babel, que pretendiam que chegasse até ao Céu (cfr Gn 11, 4). Quando o orgulho se apodera da alma, não é estranho que atrás dele, como pela arreata, venham todos os vícios: a avareza, as intemperanças, a inveja, a injustiça. O soberbo procura inutilmente arrancar Deus - que é misericordioso com todas as criaturas - do seu trono para se colocar lá ele, que atua com entranhas de crueldade. Temos de pedir ao Senhor que não nos deixe cair nesta tentação. A soberba é o pior dos pecados e o mais ridículo. (...) A soberba é desagradável, mesmo humanamente, porque o que se considera superior a todos e a tudo está continuamente a contemplar-se a si mesmo e desprezar os outros, que lhe pagam na mesma moeda, rindo-se da sua futilidade" (Amigos de Deus, 100).

Orígenes escreve: "Fez valentia com seu braço para os que o temem; porque ainda que você se aproximasse de Deus com fraqueza, se o temesse, conseguiria o desejado", e: "Também em seu braço - isto é, em seu Filho encarnado - fez valentia, porque a natureza humana foi vencida pelo parto da Virgem e o Deus humanado" (Teofilacto), e também: "Estas coisas devem entender-se mais profundamente da corte inimiga dos demônios. A estes, pois, que oprimiam a terra, os dissipou o Senhor quando veio e restituiu a sua obediência aos que estavam presos" (São Cirilo de Jerusalém), e ainda: "Também pode entender-se dos judeus, a quem dispersou por todas as nações como agora estão dispersos" (Teofilacto).

 

Em Lc 1, 52- 53 diz: "Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias".

 

Esta Providência divina manifestou-se muitíssimas vezes ao longo da História: "Assim, Deus alimentou com o maná o povo de Israel na sua peregrinação pelo deserto durante quarenta anos (Ex 16, 4-35); igualmente Elias por meio de um anjo (1 Rs 19, 5-8); Daniel no fosso dos leões (Dn 14, 31-40); a viúva de Sarepta com o azeite que miraculosamente não se esgotava (1 Rs 17, 8 ss.). Assim também culminou as ânsias de santidade da Virgem Santíssima com a Encarnação do Verbo. Deus tinha alimentado com a sua Lei  e a pregação dos seus Profetas o povo eleito, mas o resto da humanidade sentia a necessidade da Palavra de Deus. Agora, com a Encarnação do Verbo, Deus satisfaz a indigência da humanidade inteira. Serão os humildes que acolherão este oferecimento de Deus; os auto-suficientes, ao não desejarem os bens divinos, ficarão privados deles" (São Basílio Magno, In Psalmos homiliae, in Ps 33).

São Beda escreve: "O que disse: 'Fez valentia com seu braço' e o que havia dito antes: 'E sua misericórdia de geração em geração', deve unir-se a estes versículos; porque, com efeito, em toda a sucessão das gerações, os soberbos não cessam de perecer e os humildes de serem exaltados por justa e piedosa disposição do poder divino. Por isso se diz: 'Destronou aos poderosos e exaltou aos humildes", e: "Coisas grandes sabiam os demônios... os fariseus e escribas; sem, contudo, Deus os depôs e elevou os que se humilharam sob a mão poderosa de Deus (1 Pd 5), dando-lhes a virtude de calcar com os pés as serpentes, os escorpiões e todo o poder do inimigo (Lc 10). Os judeus eram também soberbos por seu poder, porém sua incredulidade os enfraqueceu; e dentre os gentios subiram muitos, escondidos e humildes, por meio da fé, ao auge da perfeição" (São Cirilo de Jerusalém), e também: "Se conhece que nossa inteligência é trono da Divindade. Porém, as potestades infernais, depois da transgressão, se assentaram na consciência do nosso primeiro pai como em sua própria sede. Por isso veio o Senhor, expulsou os espíritos malignos dos tronos das vontades e exaltou os que viviam humilhados pelos demônios, limpando suas consciências e convertendo suas almas em seu próprio trono" (Griego), e ainda: "Como parece que a prosperidade humana consiste principalmente na dignidade dos poderosos e na abundância das riquezas, depois da caída dos poderosos e a exaltação dos humildes, faz menção do aniquilamento dos ricos e a abundância dos pobres" (Glosa), e: "Os que desejam as coisas eternas com todo interesse e como famintos, serão saciados quando Jesus Cristo aparecer em sua glória. Porém, os que gozam das coisas da terra, no final serão abandonados... vazios de toda felicidade" (Idem.).

 

Em Lc 1, 54 diz: "Socorreu Israel, seu servo, lembrando de sua misericórdia".

 

São Beda escreve: "Israel é, com razão, denominado servo do Senhor, porque, sendo obediente e humilde, foi por ele tomado (escolhido) para ser salvo, como diz Oséias: Quando 'Israel era ainda menino, eu o amei'. Aquele que se recusa a humilhar-se não pode certamente ser salvo nem dizer com o Profeta: 'Eis que Deus vem em meu auxílio, o Senhor é o protetor de minha vida'. Mas, 'quem se fizer humilde como uma criança, este é o maior no reino dos céus" (Do Comentário sobre o Evangelho de Lucas).

Deus conduziu o povo israelita como uma criança, como seu filho a quem amava ternamente: "O Senhor, teu Deus, conduziu-te por todo o caminho que tendes percorrido como um homem conduz o seu filho." (Dt 1, 31).

Edições Theologica comenta: "Isto o fez Deus muitas vezes, valendo-se de Moisés, de Josué, de Samuel, de Davi, etc., e agora conduz o seu povo de maneira definitiva enviando o Messias. A origem última deste proceder divino é a grande misericórdia de Deus que se compadeceu da miséria de Israel e de todo o gênero humano".

 

Em Lc 1, 55 diz: "– conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre!"

 

São Beda escreve: "Trata-se da descendência de Abraão segundo o espírito e não segundo a carne, isto é, não apenas dos filhos segundo a natureza, mas de todos que seguiram o seu exemplo, fossem eles circuncidados ou incircuncisos, mas seguindo-o na fé. Pois o próprio Abraão, ainda incircunciso, creu e isto lhe foi imputado como justiça. A vinda do Salvador foi, portanto, prometida a Abraão e à sua descendência para sempre, isto é, aos filhos da promessa, aos quais se diz: 'Se sois de Cristo, sois então descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa'. É com razão que, antes do nascimento do Senhor e de João, suas mães profetizam, para que, tendo o pecado começado pela mulher, os bens comecem igualmente por ela e a vida perdida pela fraude que seduziu a uma seja restituída ao mundo pelo anúncio da salvação feito por duas" (Do Comentário sobre o Evangelho de Lucas), e: "A misericórdia de Deus foi prometida desde tempos antigos aos Patriarcas. Assim, a Adão (Gn 3, 15), a Abraão (Gn 22, 18), a Davi (2 Sm 7, 12), etc. A Encarnação de Cristo tinha sido preparada e decretada por Deus desde a eternidade para a salvação da humanidade inteira. Tal é o amor que Deus tem aos homens; o próprio Filho de Deus Encarnado o declarará: 'De fato, Deus amou de tal maneira o mundo que lhe deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que n'Ele acredita não pereça, mas tenha a vida eterna' (Jo 3, 16)" (Edições Theologica).

 

Em Lc 1, 56 diz: "Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para casa".

 

O Pe. Francisco Fernández Carvajal escreve: "São Lucas termina a cena com estas palavras: Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para casa. A menção expressa dos três meses, tempo que faltava para o nascimento de João, leva a pensar com toda a lógica que Maria ficou com Isabel até ao nascimento de João. Muito provavelmente alguns dias mais, pois imaginamos que não faltaria à circuncisão e à imposição do nome oito dias mais tarde, e à pequena festa familiar que tinha lugar com este motivo".

Santo Ambrósio escreve: "Permaneceu Maria na casa de Isabel até que se cumprisse o tempo em que esta devia dar a luz. Pelo qual se diz: 'E Maria se deteve", e: "No sexto mês da concepção do precursor se apresentou o anjo a Maria, a qual permaneceu três meses com Isabel. E assim se completaram os nove meses" (Teofilacto), e também: "Porém, quando Santa Isabel ia dar a luz, a Virgem se retirou. Pelo qual acrescenta: 'E voltou para sua casa'; a saber, pela multidão que devia se reunir para o parto, pois não era conveniente que a Virgem estivesse presente em tais circunstâncias" (Idem.), e ainda: "É, pois, costume das virgens retirarem-se quando uma mulher vai dar a luz. Desde que chegou na casa de Isabel não saiu para outra parte; mas ali permaneceu, até que chegou a hora do parto" (Griego).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 14 de agosto de 2007

 

Vide também:

Tu que deixaste a terra, levai-nos para o céu!

Maria, então, disse…

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Solenidade da Assunção de Nossa Senhora"

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