SOLENIDADE DA
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
(Lc 1,
39-56)
"39
Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa,
dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. 40
Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. 41
Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe
estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo.
42 Com um grande grito, exclamou:
'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!
43 Donde me vem que a mãe do
meu Senhor me visite? 44 Pois
quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu
de alegria em meu ventre. 45
Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor
será cumprido!' 46
Maria, então disse: 'Minha alma engrandece o
Senhor, 47
e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador,
48
porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as
gerações todas me chamarão de bem-aventurada,
49 pois
o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo
50
e sua misericórdia perdura de geração em
geração, para aqueles que o temem.
51 Agiu
com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso.
52
Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.
53
Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias.
54
Socorreu Israel, seu servo, lembrando de sua misericórdia
55 –
conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua
descendência, para sempre!' 56
Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para
casa".
Em Lc
1, 39 diz:
"Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa,
dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá".
Santo
Afonso Maria de Ligório escreve:
"Do arcanjo São Gabriel ouviu a Santíssima Virgem que Isabel, sua
prima, estava grávida de seis meses. Iluminada interiormente pelo
Espírito Santo, conheceu que o Verbo humanado, e já feito seu Filho,
queria começar a manifestar ao mundo as riquezas de sua
misericórdia"
(Glórias de Maria,
Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 1).
A
Virgem Maria sabendo que Isabel, sua prima, precisava de sua ajuda,
não ficou num canto calculando a distância nem colocou dificuldades,
mas decidiu ajudá-la:
"... a
caridade é prestativa" (1 Cor 13,
4).
A bondosa Senhora deixou os seus afazeres para socorrer alguém que
necessitava urgentemente de sua colaboração.
O
católico tem o dever de imitar a disponibilidade da Santíssima
Virgem. É contraditório dizer ser filho de Nossa Senhora e viver no
egoísmo:
"Não podemos conviver filialmente com Maria
e pensar apenas em nós mesmos, nos nossos problemas. Não se pode
tratar com a Virgem e ter, egoisticamente, problemas pessoais"
(São
Josemaría Escrivá, Cristo que passa, nº 145).
"Maria
pôs-se a caminho".
Nossa Senhora não adiou a sua viagem e muito
menos se acovardou. Ela pôs-se a caminho! Para onde? Será que a
Virgem sabia das dificuldades que encontraria no percurso? Será que
a mesma sabia da distância? A caridade é a virtude das almas que
amam de verdade:
"A
caridade tudo suporta"
(1 Cor 13, 7),
e:
"...
pôs-se a tenra e delicada donzela a caminho, sem se atemorizar com
as fadigas da viagem"
(Santo Afonso Maria
de Ligório, Glórias de Maria, Parte II, capítulo II, V, Ponto
Primeiro, 1).
Imitemos com fervor e entusiasmo o exemplo da Virgem Maria. Quantos
católicos vivem amasiados, sem instrução religiosa, mergulhados na
imoralidade e longe de Nosso Senhor. São milhões! O que você faz
para ajudá-los a aproximarem da graça de Deus?
Saiamos
do comodismo e da vida de "poltronice", e aproximemo-nos com
caridade dessas pessoas que vivem nas trevas; não deixemos que
morram longe da Luz Eterna:
"Nada
mais frio do que um cristão que não se preocupa com a salvação dos
outros"
(São João
Crisóstomo, Homilia 20, 4: PG 60, 162-164).
"... para a região montanhosa, a uma cidade de
Judá".
Não se sabe com certeza onde residia Isabel, a
prima de Nossa Senhora. Muitos autores dizem que a cidade é
Ain-Karim, ou Ayn Karem, a uns sete quilômetros de Jerusalém. Deve o
seu nome à sua fonte (Ain) e aos vinhedos que a circundam (Kerem em
hebraico, Karm em árabe, significa vinha).
A
Virgem Maria percorreu um percurso de quase 150 Km com o coração
desejoso de prestar serviço à sua prima Isabel.
Hoje,
milhares de católicos não têm coragem de atravessarem a rua para
rezar e dar bons conselhos para uma família que necessita de ajuda;
mas os mesmos estão prontos para passarem horas e horas diante da
televisão olhando novelas pornográficas. Seriam esses os filhos
fiéis da Virgem Maria? Não! Esses só possuem casca, isto é, vivem de
aparência.
Nossa
Senhora não se preocupou com o perigo que corria em atravessar
aquela região montanhosa cheia de salteadores, e muito menos com a
altura dos montes. Quem ama de verdade não mede esforços para ajudar
o próximo:
"A caridade de Cristo estimula, incita-nos a
correr e voar com as asas do santo zelo. Quem ama a Deus de verdade,
também ama o próximo; o verdadeiro zeloso é o mesmo que ama, mas em
grau maior, conforme o grau de amor; quanto arde de amor, tanto mais
é impelido pelo zelo" (Das Obras
de Santo Antônio Maria Claret, bispo).
Imitemos o exemplo da Virgem Maria; ela não desanimou diante das
montanhas que estavam em seu caminho.
Todas
as vezes que decidirmos trabalhar para Deus e para o bem das almas,
aparecerão inúmeras "montanhas" de críticas, calúnias, zombarias e
perseguições à nossa frente; cabe a nós levantarmos a cabeça e
perseverarmos em meio aos ataques:
"Deixemos, pois, que os pecadores digam o que quiserem e continuemos
a servir a Deus que é tão fiel e amoroso para aqueles que o amam.
Quanto maiores forem os obstáculos e as contradições que
encontrarmos na prática do bem, tanto mais acendrada será a
complacência do Senhor e tanto maior o nosso mérito"
(Santo Afonso Maria
de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XXXI, Ponto II),
e:
"Abandonemos este mundo cego. Grite ele quanto quiser, como uma
coruja, para inquietar os passarinhos do dia. Sejamos firmes em
nossos propósitos, invariáveis em nossas resoluções e a constância
mostrará que a nossa devoção é séria e sincera"
(São
Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota, Parte IV, capítulo I).
A
Santíssima Virgem, mulher forte, não ficou parada nem retrocedeu,
mas com coragem e firmeza continuou a caminhar por entre as
montanhas. Imitemo-la!
Quando
se trata de trabalhar para a glória de Deus e salvação das almas,
não meçamos esforços nem nos acovardemos; confiantes no Senhor que
nos fortalece e nos protege, lutemos corajosamente até o fim:
"O cristão nasceu para a luta, e quanto mais encarniçada se
apresenta, tanto mais segura há de ser a vitória com o auxílio de
Deus"
(Leão XIII, Enc. Sapientiae Christianae, 19).
"... dirigindo-se apressadamente".
Como já foi comentado, a Virgem Maria não ficou analisando se
valeria ou não a pena servir a sua prima Isabel, mas saiu
apressadamente: "Levantando-se da
tranquilidade de sua contemplação, a que estava sempre aplicada, e
deixando a sua cara solidão, com grande pressa partiu para a casa de
Isabel"
(Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria,
Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 1).
Não adiemos o bem
que pudermos fazer hoje, mas corramos ao encontro daqueles que
necessitam de nossa ajuda, sobretudo da ajuda espiritual. Não
percamos um só minuto, mas ajudemos todos a conhecerem o
Salvador da Humanidade, a exemplo de Nossa Senhora:
"Maria parte a fim de ir ao encontro da
velha prima, cuja extraordinária maternidade lhe fora revelada pelo
Anjo. Assim Nossa Senhora inicia a missão de portadora de Cristo ao
mundo, às pressas, sem delongas, levada pelo impulso interior que a
põe a caminho para a humanidade em expectativa e tão necessitada do
Salvador"
(Pe. Gabriel de
Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 390).
Orígenes escreve:
"Jesus, que estava em seu seio, se apressava para santificar a João
ainda dentro do ventre de sua mãe. Pelo que segue: 'Com pressa", e: “A graça do Espírito Santo não
conhece demora. Aprende, ó virgens, a não deter-lhes nas praças e a
não misturarem com o público em conversações"
(Santo Ambrósio),
e também: "Por isto foi às montanhas, porque Zacarias habitava nas
montanhas. Donde segue: 'Em uma cidade de Judá e entrou na casa de
Zacarias"
(Teofilacto).
A Santíssima Virgem
com o coração ardendo de amor fez a longa viagem de Nazaré até
Ain-Karim, percorrendo aproximadamente 150 Km.
Em Lc
1, 40-41 diz:
"Entrou
na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, quando Isabel ouviu a saudação
de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta
do Espírito Santo".
Nossa
Senhora chegando a Ain-Karim não procurou outro lugar, mas foi
diretamente para a casa de sua prima Isabel. A sua visita é
diferente, não pode ser comparada com as visitas das pessoas que
servem o mundo:
"Foi Maria a primeira a saudar Isabel. Mas não foi
a visita de Nossa Senhora como são as visitas dos mundanos, que pela
maior parte se reduzem a cerimônias e falsas exibições"
(Santo Ambrósio),
e Santo Afonso Maria de Ligório diz:
"Sua visita trouxe àquela casa um cúmulo de graças. Com efeito, mal
entrara e saudara seus habitantes, ficou já Isabel cheia do Espírito
Santo, e João livre de culpa e santificado. Por isso deu aquele
sinal de júbilo, exultando no ventre de sua mãe. Queria com isso
manifestar as graças recebidas por meio de Maria, como declarou a
mesma Isabel: Porque assim que chegou a voz da tua saudação aos meus
ouvidos, logo o menino exultou de prazer em minhas entranhas"
(Glórias
de Maria, Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 1).
Sobre a saudação de
Maria, Bernardino de Busti escreve:
"Recebeu João a graça do Divino Espírito Santo que o santificou".
Assim
como Isabel recebeu com alegria, piedade e respeito a Virgem Maria
em sua casa, recebamos também nós a Virgem em nossa vida:
"Meu viver é Maria"
(São Gabriel da
Virgem Dolorosa),
e vivendo sob a sua proteção e sendo-lhes fiéis, seremos agraciados:
"Os
primeiros frutos da redenção passaram, pois, pelas mãos de Maria.
Foi ela o canal pelo qual foi comunicada a graça ao Batista; o
Espírito Santo a Isabel e o dom de profecia a Zacarias... e tantas
outras graças àquela casa"
(Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria,
Parte II, capítulo II, V, Ponto Primeiro, 2).
Infeliz daquele que
recusa receber Nossa Senhora em sua casa, isto é, na sua vida; esse
será sempre infeliz: "Se a devoção à
Virgem Santíssima é necessária a todos os homens para conseguirem
simplesmente a salvação, é ainda mais para aqueles que são chamados
a uma perfeição particular."
(São Luís Maria
Grignion de Montfort, Tratado da derdadeira devoção à Santíssima
Virgem, 43).
São
João Crisóstomo escreve:
"Ou de
outro modo, a Virgem ocultava no fundo do seu coração o que lhe
havia dito e não o revelou a ninguém, porque não acreditava que
aprovassem a relatos admiráveis. Antes, acreditava, que se falasse,
receberia ultrajes como se ocultasse um crime próprio"
(Homilia in Matthaeum, 4),
e:
"Por isto
vai refugiar-se – ou melhor dizendo, recorre – só a Isabel. Assim
estava acostumada, tanto pelo parentesco e por conformidade de seus
costumes"
(Griego),
e também:
"Pronto
se declaram os benefícios da vinda de Maria e a presença do Senhor,
pois segue: 'E quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino deu
saltos'. Adverte nisto a diferença e a conformidade de umas e outras
palavras. Isabel ouviu a voz primeiro e São João recebeu primeiro a
graça. Ela ouviu segundo a ordem da natureza e este saltou de gozo
por razão do mistério. Aquela sentiu a vinda de Maria, este a vinda
do Senhor"
(Santo Ambrósio),
e ainda:
"O
profeta vê e ouve melhor que sua mãe e saúda ao Príncipe dos
profetas. Mas não podendo com palavras, o saúda no ventre - o qual
constitui o cume da alegria -. Quem, alguma vez, já teve notícia de
que alguém saltou de alegria antes de nascer? A graça insinuou
coisas que eram desconhecidas à natureza. O soldado, encerrado no
ventre, conheceu ao Senhor e ao Rei que havia de nascer, sem que o
véu do ventre obstaculizasse a mística visão. Portanto, viu, não com
os olhos da carne, mas sim, com os do espírito"
(Griego),
e:
"Não havia sido cheio do Espírito Santo, até que a que levava a
Jesus Cristo em seu ventre, se apresentou diante dela. Então foi
quando – cheio do Espírito Santo – saltava de gozo dentro de sua
mãe. E prossegue: 'E foi Isabel cheia do Espírito Santo'. Não há que
duvidar, pois, que a que então ficou cheia do Espírito Santo, o foi
por seu filho"
(Orígenes).
Aceitemos com amor
e devoção a Virgem Maria em nossa vida:
"Virgem Imaculada e bendita, vós sois a dispensadora universal de
todas as graças, e como tal sois a esperança de todos e a minha
esperança também. Dou sempre graças ao meu Senhor que me fez
conhecer-vos e compreender o meio de obter as graças e salvar-me. O
meio sois vós, ó grande Mãe de Deus, porquanto sei que
principalmente pelos merecimentos de Jesus e pela vossa intercessão,
me hei de salvar. Ah! Minha Rainha! Vós noutro tempo vos destes
tanta pressa em visitar e santificar em vossa visita a casa de
Isabel. Visitai por quem sois, e visitai depressa a pobre casa da
minha alma. Apressai-vos; vós sabeis, melhor do que eu, quanto ela é
pobre e enferma de muitos males, de afetos desordenados, de hábitos
maus e dos pecados cometidos. Visitai-me, pois, durante a vida e
visitai-me especialmente na hora da morte, porque então me será
ainda mais necessária a vossa assistência"
(Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria,
Parte II, capítulo II, V, Ponto Segundo, Oração).
Em Lc
1, 42-44 diz também:
"Com um grande grito, exclamou: 'Bendita
és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me
vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando a tua saudação
chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu
ventre".
Aqui,
Isabel, cheia de alegria e iluminada pelo Espírito Santo, reconhece
em Maria Santíssima a Mãe de Nosso Senhor.
Comenta
São Beda:
"Isabel
bendiz Maria com as mesmas palavras usadas pelo Arcanjo para que se
veja que deve ser honrada pelos anjos e pelos homens e que com razão
se deve antepor a todas as mulheres"
(In
Lucae Evangelium expositio, ad loc.),
e:
"Na
recitação da Ave-Maria repetimos estas saudações divinas com as
quais nos alegramos com Maria Santíssima pela sua excelsa dignidade
de Mãe de Deus e bendizemos o Senhor e agradecemos-Lhe ter-nos dado
Jesus Cristo por meio de Maria"
(São Pio X,
Catecismo Maior, nº 333).
Maria
Santíssima, sendo a Mãe de Deus, não foi à casa de Isabel para ser
servida; pelo contrário, foi servi-la por noventa dias:
"Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou
para casa" (Lc 1, 56).
Aprendamos com Nossa Senhora a servir o próximo com generosidade e
humildade. A generosidade enriquece o coração, enquanto que o
egoísmo o destrói.
Muitos
se acham auto-suficientes e poderosos, e por isso não gostam de
servir; vivem trancados no egoísmo apodrecendo o coração. É preciso
lembrá-los de que Nossa Senhora, sendo a Mãe de Deus, serviu Santa
Isabel nos afazeres domésticos. Imitemos a humildade de nossa Mãe do
Céu:
"Ó Virgem santa, quão fervorosa é vossa caridade em
procurar a graça, quão luminosa vossa virgindade na carne, quão
excelsa vossa humildade em oferecer-vos ao serviço do próximo! Se
quem se humilha será exaltado, que há de mais sublime do que a
humildade, ó Maria? Ao ver-vos, Isabel se admira e exclama: 'Donde a
mim esta honra de vir visitar-me a Mãe de meu Senhor?' Ainda mais,
porém, se admirará ao verificar que também vós, ó Maria, à
semelhança de vosso Filho, não fostes a ela para ser servida, mas
para servir" (São
Bernardo de Claraval, De aquaeductu 9).
Santo
Ambrósio escreve:
"Aquela
que se havia ocultado, porque havia concebido um filho, começou a
manifestar-se porque levava em seu ventre um profeta. E a que antes
se envergonhava, agora abençoa. Portanto, prossegue: 'E exclamou em
alta voz: 'Bendita és tu entre as mulheres'. Exclamou em alta voz
quando notou a vinda do Salvador, porque acreditou que seu parto
devia ser misterioso",
e:
"Disse, pois: 'Bendita és tu entre as mulheres'. Ninguém jamais
foi tão cheia de graça, nem podia sê-lo, porque somente ela é Mãe de
um fruto divino"
(Orígenes),
e também: "Porém, como já havia outras mulheres santas que haviam
gerado filhos manchados pelo pecado, acrescenta: 'E bendito o fruto
de teu ventre'. Ou de outro modo, havia dito: 'Bendita és tu entre
as mulheres'. E como se alguém lhe perguntasse o porquê, acrescentou
a causa: 'E bendito o fruto de teu ventre...'. Assim como se diz no
Salmo 117 (Sl 117, 26-27): 'Bendito o Senhor Deus, que vem em nome
do Senhor, e nos ilumina"
(Teofilacto),
e ainda: "Chamou ao Senhor fruto do ventre da Mãe de Deus, porque não
procedeu de homem, mas somente de Maria, pois os que tomaram a
substância de seus pais, são frutos deles"
(Orígenes),
e:
"Somente este fruto é bendito, porque se produz sem homem e sem
pecado"
(Griego),
e também:
"Este é o fruto que se prometeu a Davi: 'É um fruto do teu
ventre que eu vou colocar em teu trono" (Sl 131, 11)"
(São Beda),
e ainda: "Não disse isto como ignorando, pois sabe que por graça e obra do
Espírito Santo, a Mãe do Senhor saúda a mãe do profeta para proveito
de seu filho. E para que conste que isto não suceda em virtude de
mérito humano, mas do dom da graça divina, disse: 'Donde me vem?',
isto é: Em virtude de quais ações, por quais méritos?"
(Santo Ambrósio),
e:
"Dizendo isto está conforme seu filho; porque também São João se
considera indigno da vinda de Jesus Cristo a ele. Chama Mãe do
Senhor a que, todavia, é Virgem, predizendo assim a realização do
que se havia anunciado. A provisão de Deus - ou seja, sua
providência - havia chegado Maria a casa de Isabel para que o
testemunho de São João chegasse desde o ventre ao Senhor. E desde
aquele momento, o Senhor constituiu a São João seu profeta. Pelo
qual segue: 'Porque, logo que chegou a voz de tua saudação a meus
ouvidos"
(Orígenes).
São
João Crisóstomo admirava-se na contemplação desta cena do Evangelho:
"Vede que
novo e admirável é este mistério. Ainda não saiu do seio e já fala
mediante saltos; ainda não lhe é permitido clamar e já é escutado
pelos fatos (...); ainda não vê a luz e já indica qual é o Sol;
ainda não nasceu e já se apressa a fazer de Precursor. Estando
presente o Senhor não se pode conter nem suporta esperar os prazos
da natureza, mas procura romper o cárcere do seio materno e busca
dar testemunho de que o Salvador está prestes a chegar"
(Sermo apud Metaphr., mense julio).
Em Lc
1, 45 diz ainda:
"Feliz aquela que creu, pois o que lhe
foi dito da parte do Senhor será cumprido!"
Santa
Isabel proclama bem-aventurada a Mãe de Nosso Senhor e louva a sua
fé. Não houve fé como a da Virgem Maria:
"Ó Virgem nobilíssima. Bem-aventurada sois porque crestes, como
disse vossa prima Isabel. Bem-aventurada sois porque trouxestes e
encerrastes no seio o Salvador, e muito mais bem-aventurada porque
ouvistes sua palavra e a observastes"
(Luís da Ponte, Meditações II 12, 3), e:
"Ó Virgem, tivestes mais fé que todos os homens e
Anjos! Vistes vosso Filho na gruta de Belém, e crestes ser ele o
Criador do mundo. Viste-O fugir de Herodes e não deixastes de crê-lo
Rei dos reis. Viste-o nascer, e o crestes eterno; pobre, necessitado
de alimento, e o crestes Senhor do universo; deitado na palha, e o
crestes onipotente! Vistes que não falava, e o crestes Sabedoria
infinita. Chorava, e o crestes a alegria do paraíso. Desprezado,
crucificado e morto, continuastes firme em crer que era Deus, embora
nos outros vacilasse a fé."
(Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria II, 3, 4),
e também:
"A
Virgem, tão pequena aos próprios olhos, não foi menos magnânima no
crer na promessa de Deus. Ela que se considerava nada mais que pobre
serva, nunca teve a mínima dúvida sobre sua vocação a este
incompreensível mistério, a esta admirável troca, a este insondável
sacramento, e creu firmemente que viria a ser a verdadeira Mãe do
Homem-Deus" (São Bernardo de
Claraval, De duod. Praerog. B.V.M. 13).
Sem a
fé é impossível agradar a Nosso Senhor:
"Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável"
(Hb 11, 6).
Santo
Ambrósio escreve:
"Veja que
Maria não duvidou, mas acreditou, pelo qual conseguiu o fruto da fé",
e:
"E não deve chamar a atenção que o Senhor - que havia de redimir o
mundo - começasse sua obra por sua própria Mãe, a fim de que aquela,
pela qual se preparava a salvação a todos, recebesse em prenda – a
primeira – o fruto de salvação"
(São Beda),
e também:
"Porém, também vocês são bem-aventurados, porque
ouviram e acreditaram. Qualquer alma que acreditar, concebe e gera
ao Verbo de Deus e conhece suas obras"
(Santo Ambrósio),
e ainda:
"Foi iluminada pelo espírito de profecia sobre o passado, o presente
e o futuro, que conheceu que aquela havia acreditado nas promessas
do anjo. E chamando-a Mãe, compreendeu que levava em seu ventre o
Redentor do gênero humano. E predizendo as coisas que haviam de
suceder, viu também o que se seguiria no futuro"
(São Gregório Magno, Super. Ezech., 1, 8).
Nossa
Senhora possuía a fé. Aprendamos dessa fiel Senhora a crer em nossa
própria vocação à santidade; a crer sempre, principalmente quando
surgem "nuvens" escuras querendo nos desviar do caminho da salvação;
crer também quando encontramos "montanhas" de dificuldades à nossa
frente, querendo nos impedir de caminharmos na perfeição.
Peçamos
com humildade à Santíssima Virgem:
"Pelo mérito de vossa fé, impetrai-me a graça de viva fé:
'Senhora, aumentai em nós a fé!"
(Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria II, 3, 4).
Em Lc
1, 46-56 diz:
"Maria,
então disse: 'Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta
em Deus em meu Salvador, porque olhou para a humilhação de sua
serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de
bem-aventurada, pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu
favor. Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em
geração, para aqueles que o temem. Agiu com a força de seu braço,
dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus
tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu
ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando de sua
misericórdia – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão
e de sua descendência, para sempre!' Maria permaneceu com ela mais
ou menos três meses e voltou para casa".
O
cântico Magnificat que Nossa Senhora pronuncia na casa de Zacarias é
de uma singular beleza poética:
"Evoca
alguns passos do Antigo Testamento que a Virgem Santíssima tinha
meditado (recorda especialmente 1 Sm 2, 1-10). Neste cântico podem
distinguir-se três estrofes: na primeira (vv. 46-50), Maria
glorifica a Deus por a ter feito Mãe do Salvador, faz ver o motivo
pelo qual a chamarão bem-aventurada todas as gerações e mostra como
no mistério da Encarnação se manifestam o poder, a santidade e a
misericórdia de Deus. Na segunda (vv. 51-53), a Virgem Santíssima
ensina-nos como em todo o tempo o Senhor teve predileção pelos
humildes, resistindo aos soberbos e arrogantes. Na terceira (vv.
54-55), proclama que Deus, segundo a sua promessa, teve sempre
especial cuidado do povo escolhido, ao qual vai dar o maior título
de glória: a Encarnação de Jesus Cristo, judeu segundo a carne (cfr
Rm 1, 3)"
(Edições Theologica), e:
"O Magnificat, verdadeiro cântico dos cânticos do
Novo Testamento, ressoa todos os dias em nossos lábios, irmãos.
Devemos recitá-lo com particular fervor, para que, em união
espiritual com Maria, repetindo-o com ela palavra por palavra, e
quase sílaba por sílaba, aprendamos em sua escola como e por que
devemos celebrar e bendizer o Senhor. O Magnificat nos ensina que só
Deus é grande, por isso deve ser por nós engrandecido. Só Ele nos
salva e, por isso, o nosso espírito deve exultar Nele. Ele se
inclina sobre nós com a sua misericórdia e nos eleva para junto de
si com o seu poder. Grande, na verdade, e elevada a lição do
Magnificat, que cada um de nós, em todas as condições de vida, pode
e deve assumir como seu, para nele haurir, além dos dons de graça e
luz, o conforto e a serenidade também nas provas das tribulações e
nos sofrimentos do corpo"
(João Paulo
II, Meditações e Orações, 9 de maio).
Em Lc
1, 46- 47 diz:
"Maria,
então disse: 'Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta
em Deus em meu Salvador".
São
Basílio Magno escreve:
"Os
primeiros frutos do Espírito Santo são a paz e a alegria. E a
Santíssima Virgem tinha reunido em si toda a graça do Espírito
Santo"
(In Psalmos homiliae, in Ps 32),
e:
"Os
sentimentos da alma de Maria derramam-se no Magnificat. A alma
humilde diante dos favores de Deus sente-se movida ao gozo e ao
agradecimento. Na Santíssima Virgem o benefício divino ultrapassa
toda a graça concedida a qualquer criatura"
(Edições
Theologica),
e também:
"Virgem
Mãe de Deus, o que não cabe nos Céus, feito homem, encerrou-se no
teu seio"
(Antífona da Missa do Comum das festas de Santa Maria), e ainda:
"O Senhor, diz ela, elevou-me por um dom tão grande e inaudito,
que nenhuma palavra o pode descrever e mesmo no íntimo do coração é
difícil compreendê-lo. Por isso dedico todas as forças de meu ser ao
louvor e à ação de graças, contemplando a grandeza daquele que é
eterno, e ofereço com alegria minha vida, tudo que sinto e penso,
porque meu espírito rejubila pela divindade eterna de Jesus, o
Salvador, que concebi e é gerado em meu seio"
(Do
Comentário de São Beda, o Venerável, sobre o Evangelho de São Lucas), e:
"Minha alma glorifica o Senhor e meu espírito
exulta em Deus, meu salvador'. Logo nas primeiras palavras louva os
dons especialmente concedidos a ela; em seguida enumera os
benefícios universais, com os quais ele não cessa nunca de cumular o
gênero humano. Glorifica o Senhor sua alma que pôs inteiramente ao
serviço e ao louvor divino todos os sentimentos do homem interior e
que, pela obediência aos preceitos de Deus, revela pensar sempre na
grandeza de sua majestade. Seu espírito exulta em Deus, seu
Salvador, ela que só sente prazer na lembrança de seu Criador, de
quem espera a salvação eterna. Palavras que corretamente convêm a
todos os perfeitos; mas convinha, sobretudo, à santa Mãe de Deus
proferi-las, porque, pelo privilégio único, ardia de amor espiritual
por aquele que a fazia alegrar-se pela concepção corporal. Com toda
razão pode exultar em Jesus, seu Salvador, mais do que os outros,
com júbilo singular, por saber que iria nascer dela por nascimento
temporal aquele mesmo que conhecia como o autor da perpétua
salvação, a ponto de uma e mesma pessoa vir a ser, verdadeiramente,
seu filho e seu Senhor"
(Idem,
Homilias),
e também:
"A Santíssima Virgem, considerando a
imensidade do mistério, com sublime intenção, e com um fim elevado e
como avançando em suas profundidades, engrandece ao Senhor. Por isso
prossegue: 'E disse Maria: Minha alma engrandece ao Senhor"
(São Basílio, In Psalmo 33),
e ainda:
"Se Deus não pode receber nem aumento nem dano, como é que Maria diz:
'Minha alma engrandece ao Senhor?' Mas se considero que o Senhor
Salvador é imagem do Deus invisível, e que a alma foi feita à sua
imagem, para que seja imagem da imagem, então será como a imitação
daqueles que pintam imagens; quando engrandecer minha alma com
pensamento, palavras e obras, a imagem de Deus se faz grande e o
mesmo Senhor – cuja imagem está em minha alma – se engrandece"
(Orígenes),
e:
"A alma de Maria engrandece ao Senhor e seu
espírito se regozija em Deus; porque consagrada em alma, espírito e
corpo ao Pai e ao Filho, venera com piedoso afeto a um só Deus de
quem são todas as coisas. Que a alma de Maria esteja em todas as
coisas para engrandecer ao Senhor; que o espírito de Maria esteja em
todas as coisas para regozijar-se no Senhor. Se segundo a carne uma
só é a Mãe de Cristo, segundo a fé, o fruto de todos é Cristo.
Porque toda alma concebe o Verbo de Deus; se, imaculada e isenta de
vícios, guarda sua castidade com pudor inviolável"
(Santo Ambrósio),
e também:
"Engrandece ao Senhor aquele que segue dignamente a Jesus
Cristo, e, entretanto, se chama cristão quem não ofende a dignidade
de Cristo, mas que pratica obras grandes e celestiais; então, se
regozijará o espírito - isto é, o toque espiritual-, ou o que é o
mesmo, adiantará e não será castigado"
(Teofilacto),
e ainda:
"Se quando a luz penetrar em teu coração, perceber
- por aquela escura e breve imagem - a perseverança dos justos em
amar a Deus e em desprezar as coisas corporais, sem dificuldade
alguma conseguirá gozo no Senhor"
(São Basílio, In Psalmo 33),
e:
"Primeiro a alma engrandece ao Senhor para depois alegrar-se em Deus.
Pois se antes não cremos, não podemos alegrar-nos"
(Orígenes).
A
Virgem humilde de Nazaré vai ser a Mãe de Deus; jamais a onipotência
do Criador se manifestou de um modo tão pleno. E o Coração de Nossa
Senhora manifesta de modo desbordante a sua gratidão e a sua
alegria.
Em Lc
1, 48-49 diz:
"... porque olhou para a humilhação de
sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de
bem-aventurada, pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu
favor. Seu nome é santo".
Diante
desta manifestação de humildade de Nossa Senhora, exclama São Beda:
"Convinha, pois, que assim como tinha entrado a morte no mundo pela
soberba dos nossos primeiros pais, se manifestasse a entrada da Vida
pela humildade de Maria"
(In Lucae
Evangelium expositio, ad loc.),
e:
"Que
grande é o valor da humildade! – 'Quia respexit humilitatem'. Acima
da fé, da caridade, da pureza imaculada, reza o hino jubiloso da
nossa Mãe em casa de Zacarias: 'Porque viu a minha humildade, eis
que por isto me chamarão bem-aventurada todas as gerações" (São
Josemaría Escrivá, Caminho, 598), e também:
"Deus premia a humildade da Virgem
Santíssima com o reconhecimento por parte de todos os homens da sua
grandeza: 'Me hão de chamar ditosa todas as gerações'. Isto
cumpre-se sempre que alguém pronuncia as palavras da Ave-Maria. Este
clamor de louvor à nossa Mãe é ininterrupto em toda a terra. Desde
os tempos mais antigos a Santíssima Virgem é honrada com o título de
'Mãe de Deus', e sob a sua proteção se acolhem os fiéis em todos os
perigos e necessidades. Foi, sobretudo, a partir do Concílio de
Éfeso que o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu
admiravelmente, na veneração e no amor, na invocação e na imitação,
segundo as suas proféticas palavras: 'Todas as gerações me
proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas
Aquele que é poderoso"
(Edições Theologica), e ainda:
"Estas palavras se relacionam com o início
do cântico que diz: 'Minha alma glorifica o Senhor'. E certamente
só a alma em que o Senhor se dignou fazer maravilhas pode
glorificá-lo e louvá-lo dignamente e dizer, exortando os que
compartilham seus desejos e aspirações: 'Glorificai comigo o Senhor
e exaltemos juntos o seu nome'... Diz-se que santo é o seu nome
porque, pelo seu poder ilimitado, transcende toda criatura e está
infinitamente separado de todas as coisas criadas"
(Do
Comentário de São Beda, o Venerável, sobre o Evangelho de São Lucas), e também:
"Nada atribui a seus méritos; atribui toda a
sua grandeza ao dom daquele que, essencialmente poderoso e grande,
costuma tornar fortes e grandes seus pequeninos e fracos fiéis. E
acrescentou bem: 'E santo é o seu nome'. Exorta assim os ouvintes,
ou melhor, a todos aos quais chegarem estas palavras, e ensina voar
para a fé e invocação deste nome se quiserem ser participantes da
eterna santidade e verdadeira salvação, conforme foi predito: 'E
acontecerá, que todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo'. É este o nome do qual disse acima: 'E meu espírito exulta em
Deus meu salvador" (Idem,
Homilias),
e:
"Manifesta a causa pela qual convém engrandecer ao Senhor e
alegrar-se n'Ele dizendo: 'Porque olhou a humildade de sua serva'.
Como se dissesse: O Senhor o quis assim e eu não esperava; estava
contente com os humildes, agora sou eleita para um conselho inefável
e exaltada da terra ao céu"
(Griego), e também:
"Ó
verdadeira humildade, que deu a luz aos homens um Deus, deu aos
mortais a vida, renovou os céus, purificou o mundo, abriu o paraíso
e livrou as almas dos homens! A humildade de Maria se transformou em
escada para subir ao céu, pela qual Deus baixou até a terra. Que
quer dizer 'olhou', senão 'aprovou?' Muitos parecem humildes aos
olhos dos homens; porém a humildade deles não é olhada pelo Senhor,
porque se fossem verdadeiramente humildes, quereriam que Deus fosse
louvado pelos homens, e não que os homens os louvassem. E seu
espírito se alegraria, não neste mundo, senão em Deus"
(Pseudo-Agostinho, Serm. De Assumpt., 208),
e ainda:
"Se segundo o Profeta são bem-aventurados todos os
que procedem de Sião e vivem próximo de Jerusalém como íntimos;
quanto deve ser o louvor da excelsa e sacrossanta Virgem Maria, que
foi escolhida para ser Mãe do Verbo, segundo a carne?"
(Santo Atanásio),
e: "Não se chama a si mesma de bem-aventurada por vanglória.
Porque, onde poderia estar o orgulho naquela que se chama serva do
Senhor? Porém, prediz o que há de suceder, inspirada pelo Espírito
Santo"
(Griego),
e também:
"E por
isso disse: 'Todas as gerações'. Não somente Israel, mas também
todas as nações dos crentes"
(Teofilacto),
e ainda: "Manifesta a Virgem que não será
proclamada bem-aventurada por sua virtude, mas ela explica a causa
dizendo: 'Porque o poderoso fez em mim grandes coisas"
(Idem.),
e:
"Que grandes coisas fez em ti? Creio que sendo criatura
dera a luz ao Criador, e que sendo serva, gerou ao Senhor, para
que Deus redimisse o mundo por ti, e por ti também o devolvesse a
vida"
(Pseudo-Augustinho, Serm. De Assumpt., 208),
e também:
"É considerada digna de ser Mãe sem obra de homem e não uma mãe
qualquer, mas do Unigênito Salvador"
(Tito Bostrense),
e ainda:
"Disse, pois: 'Ele que é poderoso', para que se alguém duvidasse da
verdade da encarnação, permanecendo virgem depois de haver
concebido, refere ao grande poder d'Aquele que o fez. Nem se
manchou porque o Unigênito nasceu dela porque santo é seu nome"
(Idem.),
e:
"O nome de Deus se chama santo, não porque nessas
sílabas se encerra certa virtude significativa, mas porque toda
menção de Deus é santa e pura"
(São
Basílio, In Psalmo, 33).
Em Lc 1, 50 diz:
"... e sua misericórdia perdura de geração
em geração, para aqueles que o temem".
João Paulo II
escreve:
"A sua misericórdia estende-se de geração em
geração'. Tais palavras, já desde o momento da Encarnação, abrem
nova perspectiva da história da Salvação. Após a ressurreição de
Cristo, esta nova perspectiva passa para o plano histórico e, ao
mesmo tempo, reveste-se de sentido escatológico novo. Desde então
sucedem-se sempre novas gerações de homens na imensa família humana,
em dimensões sempre crescentes; sucedem-se também novas gerações do
Povo de Deus, assinaladas pelo sinal da Cruz e da Ressurreição e
'seladas' com o sinal do mistério pascal de Cristo, revelação
absoluta daquela misericórdia que Maria proclamou à entrada da casa
da sua parente: 'A sua misericórdia estende-se de geração em
geração'(...).
Maria,
portanto, é aquela que conhece mais profundamente o mistério da
misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe quanto é elevado.
Neste sentido chamamos-lhe Mãe da misericórdia, Nossa Senhora da
Misericórdia, ou Mãe da divina misericórdia. Em cada um destes
títulos há um profundo significado teológico, porque exprimem a
particular preparação da sua alma e de toda a sua pessoa, para
torná-la capaz de descobrir, primeiro, através dos complexos
acontecimentos de Israel e, depois, daqueles que dizem respeito a
cada um dos homens e à humanidade inteira, a misericórdia da qual
todos se tornam participantes, segundo o eterno desígnio da
Santíssima Trindade, 'de geração em geração"
(Encíclica Dives em misericordia, 9).
São
Beda escreve:
"Voltando-se desde os dons especiais que recebeu do Senhor, para as
graças gerais, explica a situação de todo o gênero humano
acrescentando: 'E sua misericórdia de geração em geração aos que o
temem'. Como dizendo: Não só me há dispensado graças especiais o que
é poderoso, mas a todos os que temem a Deus e são aceitos em sua
presença", e:
"A misericórdia de Deus não se limita a uma só geração, mas que
eternamente se estende de geração em geração"
(Orígenes), e também:
"Ou indicou com isso, que os que temem
conseguirão misericórdia nesta geração - isto é, na presente - e na
outra - isto é, na vida eterna - recebendo nesta vida cem por um (Mt
19), porém na outra, benefícios muito maiores"
(Teofilacto).
Em Lc
1, 51 diz:
"Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração
orgulhoso".
São
Josemaría Escrivá comenta:
"Os que se elevavam no seu próprio conceito': São os que querem
aparecer como superiores aos outros a quem desprezam. E também alude
à condição daqueles que na sua arrogância projetam planos de
ordenação da sociedade e do mundo de costas ou contra a Lei de Deus.
Embora possa parecer que de momento têm êxito, no fim cumpre-se
estas palavras do cântico da Virgem Santíssima, pois Deus os
dispersará como já fez com os que tentaram edificar a torre de
Babel, que pretendiam que chegasse até ao Céu (cfr Gn 11, 4). Quando
o orgulho se apodera da alma, não é estranho que atrás dele, como
pela arreata, venham todos os vícios: a avareza, as intemperanças, a
inveja, a injustiça. O soberbo procura inutilmente arrancar Deus -
que é misericordioso com todas as criaturas - do seu trono para se
colocar lá ele, que atua com entranhas de crueldade. Temos de pedir
ao Senhor que não nos deixe cair nesta tentação. A soberba é o pior
dos pecados e o mais ridículo. (...) A soberba é desagradável, mesmo
humanamente, porque o que se considera superior a todos e a tudo
está continuamente a contemplar-se a si mesmo e desprezar os outros,
que lhe pagam na mesma moeda, rindo-se da sua futilidade"
(Amigos de Deus, 100).
Orígenes escreve: "Fez valentia com seu braço para os que o temem; porque ainda
que você se aproximasse de Deus com fraqueza, se o temesse,
conseguiria o desejado", e:
"Também em seu braço - isto é, em seu Filho encarnado - fez valentia,
porque a natureza humana foi vencida pelo parto da Virgem e o Deus
humanado"
(Teofilacto),
e também:
"Estas
coisas devem entender-se mais profundamente da corte inimiga dos
demônios. A estes, pois, que oprimiam a terra, os dissipou o Senhor
quando veio e restituiu a sua obediência aos que estavam presos"
(São Cirilo de Jerusalém), e ainda:
"Também pode entender-se dos judeus, a quem
dispersou por todas as nações como agora estão dispersos"
(Teofilacto).
Em Lc
1, 52- 53 diz: "Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de
bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias".
Esta
Providência divina manifestou-se muitíssimas vezes ao longo da
História:
"Assim,
Deus alimentou com o maná o povo de Israel na sua peregrinação pelo
deserto durante quarenta anos (Ex 16, 4-35); igualmente Elias por
meio de um anjo (1 Rs 19, 5-8); Daniel no fosso dos leões (Dn 14,
31-40); a viúva de Sarepta com o azeite que miraculosamente não se
esgotava (1 Rs 17, 8 ss.). Assim também culminou as ânsias de
santidade da Virgem Santíssima com a Encarnação do Verbo. Deus tinha
alimentado com a sua Lei e a pregação dos seus Profetas o povo
eleito, mas o resto da humanidade sentia a necessidade da Palavra de
Deus. Agora, com a Encarnação do Verbo, Deus satisfaz a indigência
da humanidade inteira. Serão os humildes que acolherão este
oferecimento de Deus; os auto-suficientes, ao não desejarem os bens
divinos, ficarão privados deles"
(São
Basílio Magno, In Psalmos homiliae, in Ps 33).
São
Beda
escreve: "O que disse: 'Fez valentia com
seu braço' e o que havia dito antes: 'E sua misericórdia de geração
em geração', deve unir-se a estes versículos; porque, com efeito, em
toda a sucessão das gerações, os soberbos não cessam de perecer e os
humildes de serem exaltados por justa e piedosa disposição do poder
divino. Por isso se diz: 'Destronou aos poderosos e exaltou aos
humildes", e:
"Coisas grandes sabiam os demônios... os
fariseus e escribas; sem, contudo, Deus os depôs e elevou os que se
humilharam sob a mão poderosa de Deus (1 Pd 5), dando-lhes a virtude
de calcar com os pés as serpentes, os escorpiões e todo o poder do
inimigo (Lc 10). Os judeus eram também soberbos por seu poder, porém
sua incredulidade os enfraqueceu; e dentre os gentios subiram
muitos, escondidos e humildes, por meio da fé, ao auge da perfeição"
(São Cirilo de Jerusalém),
e
também: "Se conhece que nossa
inteligência é trono da Divindade. Porém, as potestades infernais,
depois da transgressão, se assentaram na consciência do nosso
primeiro pai como em sua própria sede. Por isso veio o Senhor,
expulsou os espíritos malignos dos tronos das vontades e exaltou os
que viviam humilhados pelos demônios, limpando suas consciências e
convertendo suas almas em seu próprio trono"
(Griego),
e
ainda: "Como parece que a
prosperidade humana consiste principalmente na dignidade dos
poderosos e na abundância das riquezas, depois da caída dos
poderosos e a exaltação dos humildes, faz menção do aniquilamento
dos ricos e a abundância dos pobres"
(Glosa),
e:
"Os que
desejam as coisas eternas com todo interesse e como famintos, serão
saciados quando Jesus Cristo aparecer em sua glória. Porém, os que
gozam das coisas da terra, no final serão abandonados... vazios de
toda felicidade"
(Idem.).
Em Lc
1, 54 diz:
"Socorreu Israel, seu servo, lembrando de sua misericórdia".
São
Beda escreve:
"Israel
é, com razão, denominado servo do Senhor, porque, sendo obediente e
humilde, foi por ele tomado (escolhido) para ser salvo, como diz
Oséias: Quando 'Israel era ainda menino, eu o amei'. Aquele que se
recusa a humilhar-se não pode certamente ser salvo nem dizer com o
Profeta: 'Eis que Deus vem em meu auxílio, o Senhor é o protetor de
minha vida'. Mas, 'quem se fizer humilde como uma criança, este é o
maior no reino dos céus"
(Do Comentário
sobre o Evangelho de Lucas).
Deus
conduziu o povo israelita como uma criança, como seu filho a quem
amava ternamente:
"O Senhor, teu Deus, conduziu-te por todo o caminho que tendes
percorrido como um homem conduz o seu filho."
(Dt 1, 31).
Edições
Theologica comenta:
"Isto o fez Deus muitas vezes, valendo-se de Moisés, de Josué, de
Samuel, de Davi, etc., e agora conduz o seu povo de maneira
definitiva enviando o Messias. A origem última deste proceder divino
é a grande misericórdia de Deus que se compadeceu da miséria de
Israel e de todo o gênero humano".
Em Lc
1, 55 diz:
"– conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua
descendência, para sempre!"
São
Beda escreve:
"Trata-se
da descendência de Abraão segundo o espírito e não segundo a carne,
isto é, não apenas dos filhos segundo a natureza, mas de todos que
seguiram o seu exemplo, fossem eles circuncidados ou incircuncisos,
mas seguindo-o na fé. Pois o próprio Abraão, ainda incircunciso,
creu e isto lhe foi imputado como justiça. A vinda do Salvador foi,
portanto, prometida a Abraão e à sua descendência para sempre, isto
é, aos filhos da promessa, aos quais se diz: 'Se sois de Cristo,
sois então descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa'. É
com razão que, antes do nascimento do Senhor e de João, suas mães
profetizam, para que, tendo o pecado começado pela mulher, os bens
comecem igualmente por ela e a vida perdida pela fraude que seduziu
a uma seja restituída ao mundo pelo anúncio da salvação feito por
duas"
(Do Comentário sobre o Evangelho de Lucas),
e:
"A
misericórdia de Deus foi prometida desde tempos antigos aos
Patriarcas. Assim, a Adão (Gn 3, 15), a Abraão (Gn 22, 18), a Davi
(2 Sm 7, 12), etc. A Encarnação de Cristo tinha sido preparada e
decretada por Deus desde a eternidade para a salvação da humanidade
inteira. Tal é o amor que Deus tem aos homens; o próprio Filho de
Deus Encarnado o declarará: 'De fato, Deus amou de tal maneira o
mundo que lhe deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que n'Ele
acredita não pereça, mas tenha a vida eterna' (Jo 3, 16)"
(Edições Theologica).
Em Lc
1, 56 diz:
"Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para
casa".
O Pe.
Francisco Fernández Carvajal escreve:
"São Lucas termina a cena com estas palavras: Maria permaneceu
com ela mais ou menos três meses e voltou para casa. A menção
expressa dos três meses, tempo que faltava para o nascimento de
João, leva a pensar com toda a lógica que Maria ficou com Isabel até
ao nascimento de João. Muito provavelmente alguns dias mais, pois
imaginamos que não faltaria à circuncisão e à imposição do nome oito
dias mais tarde, e à pequena festa familiar que tinha lugar com este
motivo".
Santo Ambrósio escreve:
"Permaneceu Maria na casa de Isabel até
que se cumprisse o tempo em que esta devia dar a luz. Pelo qual se
diz: 'E Maria se deteve", e:
"No sexto mês da concepção do precursor
se apresentou o anjo a Maria, a qual permaneceu três meses com
Isabel. E assim se completaram os nove meses"
(Teofilacto),
e
também:
"Porém, quando Santa Isabel ia dar a luz, a Virgem se retirou. Pelo
qual acrescenta: 'E voltou para sua casa'; a saber, pela multidão
que devia se reunir para o parto, pois não era conveniente que a
Virgem estivesse presente em tais circunstâncias"
(Idem.),
e ainda:
"É,
pois, costume das virgens retirarem-se quando uma mulher vai dar a
luz. Desde que chegou na casa de Isabel não saiu para outra parte;
mas ali permaneceu, até que chegou a hora do parto"
(Griego).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 14 de agosto de 2007
Vide também:
Tu que deixaste a terra, levai-nos para o céu!
Maria, então, disse…
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