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          CURA DE UM 
          PARALÍTICO 
          
          
          (Mc 2, 
          1-12) 
            
            
          
          "1 
          Entrando de novo em Cafarnaum, depois de alguns dias souberam que ele 
          estava em casa. 
          2 E tantos foram 
          os que se aglomeraram, que já não havia lugar à porta. E 
          anunciava-lhes a Palavra. 
          3 
          Vieram trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens.
          4 
          E como não pudessem aproximar-se por causa da multidão, abriram o teto 
          à altura do lugar onde ele se encontrava e, tendo feito um buraco, 
          baixaram o leito em que jazia o paralítico. 
          5 
          Jesus, vendo sua fé, disse ao paralítico: 'Filho, os teus pecados 
          estão perdoados'. 
          6 
          Ora, alguns dos escribas que lá estavam sentados refletiam em seus 
          corações: 7 
          'Por que está falando assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados a 
          não ser Deus?' 8 
          Jesus imediatamente percebeu em seu espírito o que pensavam em seu 
          íntimo, e disse: 'Por que pensais assim em vossos corações?     
          9 
          O que é mais fácil dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão 
          perdoados', ou dizer: 'Levanta-te, toma o teu leito e anda?' 
          10 
          Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem poder de perdoar 
          pecados na terra, 
          11 
          eu te ordeno - disse ele ao paralítico - levanta-te, toma o teu leito 
          e vai para tua casa'. 
          12 
          O paralítico levantou-se e, imediatamente, carregando o leito, saiu 
          diante de todos, de sorte que ficaram admirados e glorificaram a Deus, 
          dizendo: 'Nunca vimos coisa igual!" 
          
            
          
            
          
            
          
          Em Mc 
          2, 1-2 diz:
          "Entrando de novo em Cafarnaum, depois de alguns dias souberam que 
          ele estava em casa. E tantos foram os que se aglomeraram, que já não 
          havia lugar à porta. E anunciava-lhes a Palavra". 
          
            
          
          Jesus 
          Cristo entra em Cafarnaum, 
          
          "... sua cidade..." 
          (Mt 9, 1), 
          e: 
          "... 
          deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar" 
          (Mt 4, 
          13), 
          e também: 
          "Porque a misericórdia 
          divina não abandona nem aos homens carnais, antes lhes concede a graça 
          de visitá-los, para que por ela possam fazer-se espirituais. O Senhor  
          volta do deserto à cidade. 'E entrou de novo em Cafarnaum" 
          (São Beda). 
          
          
          Cafarnaum, cidade da Galiléia, identificada com a atual Tell Hum, na 
          margem norte do mar da Galiléia, a Oeste do Rio Jordão. O local se 
          encontra a cerca de 35 Km de Nazaré. 
          
          
          Cafarnaum é o centro da atividade de Jesus na Galiléia, é uma das 
          cidades onde Ele fez a maior parte de seus milagres. 
          
          
          "... souberam que ele estava em casa". 
          
          J. 
          Gonzáles Echegaray escreve: 
          "A casa 
          de Pedro, segundo o resultado de recentes escavações, era deste modo: 
          a entrada dá para a rua principal de Cafarnaum, e tem diante uma 
          pequena esplanada, estando esta um pouco remetida em relação com as 
          fachadas. A porta dava acesso a um pátio bastante amplo em forma de L 
          de 84 m2. Para ele abriram-se meia dúzia de compartimentos 
          com as clássicas janelas e com escada exterior para subir ao telhado. 
          Um destes compartimentos, o maior, o mais independente e próximo da 
          entrada geral, foi o que, com certas ampliações e acondicionamentos, 
          se converteu passados poucos anos em igreja doméstica e mais tarde 
          constituiu o centro de uma basílica bizantina. Dada a veneração com 
          que foi tratada, é quase certo que seria o compartimento destinado a 
          Jesus enquanto viveu na casa. Ao sul do pátio e dos compartimentos 
          descritos havia outro pátio com novos compartimentos"
          
          (Arqueologia, pág. 85). 
          
          O Pe. 
          Juan Leal escreve: 
          "A cena tem 
          lugar em Cafarnaum, aonde Jesus vem de novo (cf. 1, 21). A indicação 
          temporal vaga (depois de alguns dias) é muito própria de 
          Marcos. Fora da paixão, só se encontra uma referência temporal precisa 
          em Mc 9, 2. A casa em que para, o mesmo que em 1, 29; 3, 20; 9, 33, 
          deve ser a de Pedro. A palavra que lhes exorta equivale, na 
          linguagem da Igreja primitiva, ao Evangelho (cf. parábola do 
          semeador)". 
          
          O Pe. 
          Juan de Maldonado comenta: "E outra vez 
          entrou em Cafarnaum. Ao que se pode juntar do que segue; Ele deve ter 
          entrado à noite, como um desconhecido, para evitar a afluência do 
          povo. E supor-se que estava em casa. Como se dissesse: tendo entrado 
          na cidade às escondidas, não sabia ninguém, além dos discípulos, que 
          estava ali, e, apesar disso, se divulgou pela cidade. No capítulo 
          anterior (v. 45) havia dito o evangelista que não podia Cristo entrar 
          manifestamente nas cidades. Parece que a razão de Cristo voltar agora 
          a Cafarnaum foi para confirmar com um novo milagre os ânimos daqueles 
          cidadãos, dispostos como já estavam para receber o Evangelho. 
          Importava muito para seu plano que fossem constantes os habitantes 
          daquela cidade principal. Depois de alguns dias. O certo, pois, é que 
          Cristo voltou depois de alguns dias; que fossem precisamente oito, não 
          é coisa certa, e não devemos sem argumentos certos querer afirmar o 
          que o evangelista quis deixar menos determinado. Mais ainda, me atrevo 
          assegurar que não podia Cristo voltar a Cafarnaum logo aos oito dias, 
          porque, quando saiu daquela cidade, esteve pregando em muitas 
          sinagogas da Galiléia, como havia dito antes o mesmo evangelista (1, 
          39), e para fazê-lo melhor, deve ter aproveitado os dias de sábado, em 
          que se reuniam as pessoas. Foram, pois, mister muitos sábados entre a 
          saída e o regresso de Jesus a Cafarnaum. Assim que não é possível que 
          voltasse oito dias depois. Autores gregos como Teofilacto e Eutímio 
          não dizem "oito dias", de onde suspeitou que esse acréscimo é 
          obra de algum copista, que pensava (como esses autores recentes) 
          que faltava sentido na outra lição indeterminada. E se ouviu que 
          estava em casa. Não é difícil supor como se podia ouvir que Ele tinha 
          vindo; podia indicar qualquer familiar ou amigo da casa em que Cristo 
          se hospedara. A qual indubitavelmente era a casa de Pedro, pois ali é 
          onde Cristo sempre se hospedava quando estava na cidade, como indica o 
          evangelista no capítulo anterior (v. 29). E se reuniram. Segundo o 
          grego literalmente, "logo, em seguida", se juntaram, como se lê 
          em Teofilacto e Eutímio com maior precisão e ênfase. Pois a intenção 
          do evangelista é notar o esforço e pressa do povo em acorrer, o qual 
          se manifesta particularmente por meio da partícula traduzida outras 
          vezes por "statim" ou ao "punto". De sorte que não 
          cabiam, nem sequer,  fora, junto à porta. Não sem razão especial 
          pondera o evangelista a multidão ali reunida; como querendo preparar 
          assim a narração do milagre seguinte, que não se realizou como às 
          escondidas, antes à vista de toda a cidade, com inumeráveis 
          testemunhas oculares. O mesmo dá a entender São Lucas em sua narração 
          (5, 17), quando põe não só os habitantes de Cafarnaum, mas aos 
          escribas e fariseus que vieram de todos os povoados da Galiléia, da 
          Judéia, até de Jerusalém; os quais como eram adversários de Cristo, 
          vem tornar mais ilustre o milagre, não só com sua presença, mas com a 
          mesma incredulidade e a repreensão que mereceram. Pois como começassem 
          a murmurar dizendo: Que está este falando? Blasfema. Quem pode 
          perdoar pecados  senão Deus só?; tomando da ocasião, Cristo lhes 
          diz: Para que saibais que o Filho do homem tem poder na terra de 
          perdoar os pecados - disse ao paralítico: "Te ordeno; levanta, 
          toma tua maca e vai para casa". 
          
          
          São Marcos narra que a 
          casa estava a transbordar:
          "E tantos foram os que se aglomeraram, que já não havia lugar à 
          porta". 
          
          O que 
          Nosso Senhor estava fazendo naquela casa? Com certeza absoluta não 
          estava contando piadinhas, bebendo bebidas alcoólicas, cantando 
          canções mundanas, perdendo tempo com conversas ociosas, etc., como 
          fazem hoje muitos do clero. Ele estava pregando a verdade:
          "E anunciava-lhes a Palavra". 
          
            
          
          Em Mc 
          2, 3-4 diz:
          "Vieram trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. E 
          como não pudessem aproximar-se por causa da multidão, abriram o teto à 
          altura do lugar onde ele se encontrava e, tendo feito um buraco, 
          baixaram o leito em que jazia o paralítico". 
          
            
          
          
          Sabendo que o Senhor estava naquela casa, trouxeram-Lhe um homem 
          paralítico. Não podendo entrar na casa por causa da multidão, 
          
          "abriram 
          o teto à altura do lugar onde ele se encontrava e, tendo feito um 
          buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico". 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve: 
          
          "A cobertura das casas 
          era frequentemente de ramagem com terra batida e palha, fácil de 
          desmontar", e:
          
          "A casa 
          onde Jesus estava regurgitava de pessoas até à porta, e não era 
          possível entrar. De repente, do teto caiu cal e terra, e apareceu uma 
          larga abertura, da qual, por meio de cordas, se viu descer um leito 
          tendo em cima um paralítico" 
          (Pe. João Colombo), 
          e também: "Para 
          entender este episódio, convém recordar que as casas da Palestina não 
          terminam em telhado, mas em terraço, e quase todas têm uma escada 
          externa que, da rua, sobe diretamente ao terraço, formado por um 
          assoalho que se apóia num trançado de canas sustentado por traves de 
          madeira. Bastava levantar uma dessas traves mal fixadas, para fazer 
          nele uma larga abertura"
          
          (J. Lagrange, O 
          Evangelho de Jesus Cristo, Morcelliana, Brescia, pág. 124), 
          e ainda:
          "O brilho da descrição sugere dependência de 
          uma testemunha ocular que pode ser Pedro" 
          (Pe. Juan Leal). 
          
          O Pe. 
          Juan de Maldonado comenta: "Vem a Ele 
          trazendo um paralítico. Vêm alguns trazendo um paralítico, ou mais à 
          letra, certos portadores de um paralítico.  Chama os que levavam o 
          paralítico, a mim parece, não só aos que propriamente o conduziam, 
          mas a todos os que o acompanhavam - parentes e amigos. Pois aos 
          portadores os distinguem logo expressamente, quando disse: era 
          levado por quatro; e parece natural que o paralítico, sobretudo, 
          era de alguma posição, pois não era levado por familiares, mas por 
          criados ou gente paga para isso. Ele era levado por quatro. Não 
          temos de acreditar que o evangelista nota sem motivo o número dos 
          portadores. Segundo São Beda, significam, já os quatro Evangelhos, já 
          as quatro virtudes morais, pelas quais, como por certos graus, se 
          chega a Cristo". 
          
          
          Cristo Jesus é o Senhor 
          que está sempre pronto a nos ajudar, é preciso que caminhemos ao seu 
          encontro. Esse caminhar deve acontecer mesmo quando surgirem inúmeros 
          obstáculos no nosso caminho:
          "... tendo feito um buraco, baixaram o leito em que jazia o 
          paralítico". 
          
          
          Existem milhões de católicos paralíticos espiritualmente; é preciso 
          aproximá-los de Nosso Senhor, mesmo que encontremos dificuldades pelo 
          caminho. Talvez todo o apostolado não seja mais que isso: situar as 
          pessoas diante de Jesus. Com todas as dificuldades que isto pode levar 
          consigo, com o interesse que puseram estes amigos do paralítico. 
          Depois, o Senhor fará o resto, como em Cafarnaum. 
          
          O 
          católico que permanece de braços cruzados diante de milhões de pessoas 
          necessitadas da ajuda espiritual, não possui amor em seu coração:
          
          "Assim, 
          aquele que sabe fazer o bem e não o faz incorre em pecado"
          
          (Tg 4, 17). 
          
          Como 
          seria bom se cada católico trabalhasse para o bem das almas como 
          fervoroso missionário; se cada um descruzasse os braços e, fiel à 
          Santa Doutrina Católica, ajudasse os que estão paralíticos 
          espiritualmente a aproximarem de Nosso Senhor: 
          
          "Nenhum crente, nenhuma instituição da Igreja pode esquivar-se deste 
          dever supremo: anunciar Cristo a todos os povos" 
          (João 
          Paulo II, Carta Encíclica "Redemptoris Missio", 3). 
          
          São 
          milhões os católicos que já acostumaram a viver amontoados e 
          atarefados sem nada fazer. Quanto egoísmo! 
          
            
          
          Em Mc 
          2, 5 diz:
          "Jesus, vendo sua fé, disse ao paralítico: 'Filho, os teus pecados 
          estão perdoados". 
          
            
          
          O 
          paralítico foi colocado no solo, o mesmo está sem palavras. A sua 
          maneira de entrar na casa, os seus olhos, toda a sua pessoa falava por 
          ele e diziam o que ele esperava. Nosso Senhor disse-lhe: 
          
          "Filho, os teus pecados estão perdoados". 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          "Jesus 
          põe em realce neste versículo a relação entre a fé e o perdão dos 
          pecados. A audácia dos que levam o paralítico mostra a fé que tinham 
          em Cristo. Movido por isso Jesus perdoa os pecados do doente. 
          Consideremos o que vale a nossa fé diante de Deus, quando a dos outros 
          é via para que um homem seja curado e exteriormente de modo 
          instantâneo, e que pelo mérito de uns se remediam as necessidades de 
          outros", e:
          
          "São Mateus chama Cafarnaum 
          sua cidade, porque ia ali com frequência e fazia muitos milagres nela. 
          E se espalhou a voz de que Ele estava em casa; muitos foram até Ele. 
          Depois levaram-Lhe muitos paralíticos, de que dizem São Mateus e São 
          Lucas: 'Então chegaram uns conduzindo um paralítico...' Ao encontrar a 
          porta obstruída pela multidão, não puderam introduzi-lo de nenhum modo 
          por ela. Esperando, pois, os que o lavavam, que poderia merecer a 
          graça de sua cura, descobriram o teto e, levantando a maca, o 
          colocaram diante do Salvador. Vendo Jesus a fé daqueles homens disse 
          ao paralítico: 'Filho, teus pecados te são perdoados" 
          (São João Crisóstomo, 
          Homilia in Matthaeum, 30), 
          e também: "Para 
          curar, pois, aquele homem da paralisia, o Senhor começou por desatar 
          os laços de seus pecados... Deste modo lhe manifestou que por causa 
          deles estava sofrendo a invalidade de seus membros, cujo uso não podia 
          recobrar, senão, desatando aqueles laços. Admirável humildade!" 
          (São Beda). 
          
          São 
          Jerônimo vê na paralisia corporal daquele homem um tipo ou figura da 
          paralisia espiritual: o tolhido de Cafarnaum também não tinha forças, 
          por si mesmo, para voltar a Deus. Jesus, Deus e Homem curou-o de ambas 
          as paralisias (cfr Comm. in Mercum, ad loc.). 
          
          As 
          palavras dirigidas ao paralítico - "os teus pecados te são 
          perdoados" - refletem que no fato de lhe perdoar se dá um encontro 
          pessoal com Cristo; o mesmo acontece no sacramento da Penitência:
          
          
          "A Igreja, pois, ao observar fielmente a plurissecular prática do 
          sacramento da Penitência - a prática da confissão individual, unida ao 
          ato pessoal de arrependimento e ao propósito de se corrigir e de 
          satisfazer - defende o direito particular da alma humana. É o direito 
          a um encontro mais pessoal do homem com Cristo crucificado que perdoa, 
          com Cristo que diz, por meio do ministro do sacramento da 
          Reconciliação: 'São-te perdoados os teus pecados' (Mc 2, 5); 'Vai e 
          doravante não tornes a pecar' (Jo 8, 11). Como é evidente, isto é ao 
          mesmo tempo o direito do próprio Cristo em relação a todos e a cada um 
          dos homens por Ele remidos. É o direito de encontrar-se com cada um de 
          nós naquele momento-chave da vida humana, que é o momento da conversão 
          e do perdão"
          
          (João Paulo II, Redemptor hominis, 20), 
          e: 
          "Quatro 
          amigos levam à presença do Senhor um paralítico desejoso de ver-se 
          livre da doença que o mantém preso ao leito. Depois de inúmeros 
          esforços para consegui-lo, ouvem as palavras dirigidas ao seu amigo 
          enfermo: Os teus pecados te são perdoados. É muito possível que 
          não fossem essas as palavras que esperavam ouvir do Mestre, mas Cristo 
          indica-nos que a pior de todas as opressões, a mais trágica das 
          escravidões que um homem pode sofrer é o pecado, pois este não é 
          apenas mais um dentre os males que podem afligir as criaturas, mas é o 
          único mal absoluto. Os amigos que levaram o paralítico à presença de 
          Jesus compreenderam que acabava de ser-lhe concedido o maior de todos 
          os bens: a libertação dos seus pecados. E nós não podemos esquecer a 
          grande cooperação para o bem que significa empregarmos todos os meios 
          ao nosso alcance para desterrar o pecado do mundo. Muitas vezes, o 
          maior favor, o maior benefício que podemos fazer a um amigo, ao 
          irmão, aos pais, aos filhos... é ajudá-los a ter muito em conta o 
          sacramento da misericórdia divina. É um bem para a família, para a 
          Igreja, para a humanidade inteira, ainda que aqui na terra muito pouca 
          gente ou nenhuma se aperceba disso" 
          (Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal), 
          e também: 
          "Filho é empregado como uma forma carinhosa. É estranho que 
          este aspecto de ternura se perdeu em Lucas, tão propenso a expressões 
          semelhantes (em Lc 5, 20 se diz homem)" 
          (Pe. Juan Leal), e 
          ainda: 
          "Este milagre é transmitido 
          pelos três sinóticos. A importância dogmática do mesmo é 
          extraordinária. Cristo prova, apologeticamente, os poderes de que está 
          investido com um milagre. E esta doutrina é que Ele tem o poder, e por 
          sua autoridade, de perdoar os pecados. Porém, este é o poder reservado 
          exclusivamente no Antigo Testamento a Deus. É, pois, uma argumentação 
          indireta, porém real, de apresentar Cristo como Deus. Ambas obras 
          transcendem o poder do homem: uma é efeito da misericórdia divina, e a 
          outra da onipotência. Anunciar a primeira sem confirmá-la com fatos 
          podia ser ali contraproducente. Daí o milagre sensível como prova da 
          renovação invisível. Além disso, o perdão dos pecados é dom messiânico 
          característico (Jr 31, 34; Ez 36, 25). É um  modo indireto de 
          se apresentar como o Messias. É o processo  que se vê nos Evangelhos: 
          sua revelação, tanto messiânica como divina, vai fazendo gradualmente. 
          A situação histórica que lhe dá Mc - o que fazem em forma imprecisa 
          Mt-Lc - está em íntima relação com esta morada de Cristo em Cafarnaun, 
          pois foi "entrando de novo, depois de  alguns dias, em Cafarnaum". 
          O que diz Mt (9,1) pareceria supor uma ausência maior de Cristo, a 
          causa de um deslocamento para uma região. Porém, é que Mt 9, 1 não é o 
          começo de uma nova cena, mas o final de 8, 34"
          (Pe. Manuel de Tuya). 
          
            
          
          Em Mc 
          2, 6-12 diz:
          "Ora, alguns dos escribas que lá estavam sentados refletiam em seus 
          corações: 'Por que está falando assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar 
          pecados a não ser Deus?' Jesus imediatamente percebeu em seu espírito 
          o que pensavam em seu íntimo, e disse: 'Por que pensais assim em 
          vossos corações? O que é mais fácil dizer ao paralítico: 'Os teus 
          pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te, toma o teu leito e 
          anda?' Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem poder de 
          perdoar pecados na terra, eu te ordeno - disse ele ao paralítico - 
          levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa'. O paralítico 
          levantou-se e, imediatamente, carregando o leito, saiu diante de 
          todos, de sorte que ficaram admirados e glorificaram a Deus, dizendo: 
          'Nunca vimos coisa igual!" 
          
            
          
          Um 
          arrepio de horror e de pasmo passou pela alma dos fariseus e dos 
          hebreus presentes: 
          
          "Teriam eles ouvido bem? Então Jesus perdoava os pecados? Profeta 
          algum jamais ousara falar assim. Não é só Deus quem pode tirar os 
          pecados? Jesus julgava-se Deus? Ele blasfemou! - pensavam eles; 
          blasfemou. E o Senhor, que lia esses seus sentimentos ocultos disse: 
          'Por que pensais mal nos vossos corações? Ora, a fim de que saibais 
          que eu tenho poder de perdoar na terra os pecados, observai como eu 
          mando a um paralítico: 'Levante-se! Toma o teu leito! Volta para tua 
          casa!' E o paralítico levantando-se, tomou o seu leito, e foi-se 
          embora para casa. Ainda depois de dois mil anos, a Palavra do Filho de 
          Deus repete-se na terra com a mesma eficácia com que Ele a disse, da 
          primeira vez, naquela casa destapada de Cafarnaum: 'Coragem, filho: 
          teus pecados te são perdoados'. Depois de dois mil anos, são infinitos 
          os paralíticos espirituais, pregados há anos no leito dos seus maus 
          hábitos, os quais são levados à presença de Jesus no tribunal da 
          confissão e se sentem miraculosamente curados. Mas não faltam, tão 
          pouco, os fariseus e os escribas que ainda se escandalizam ante a 
          bondade de Deus. Nenhum Sacramento é caluniado, desprezado, 
          maltratado, esquecido como o Sacramento do perdão dos pecados. Assim 
          como os antigos fariseus, não acreditavam que Jesus fosse o Filho de 
          Deus e tivesse poder de perdoar os pecados, assim também os modernos 
          fariseus não crêem que o sacerdote seja o representante de Jesus e 
          tenha recebido d'Ele o poder de confessar e perdoar" 
          (Pe. 
          João Colombo), 
          e: 
          
          "Perdoando-lhe os pecados, antes de curar aquele pobre paralítico, 
          quis Nosso Senhor, ensinar-nos que os nossos desmandos são, muitas 
          vezes, a causa das nossas enfermidades. Pedem-lhe a cura do corpo, 
          Jesus cura também a alma, confirmando com um milagre estupendo a sua 
          divindade. Se Ele pode dizer a um paralítico - levanta-te e anda, pode 
          também perdoar-lhe os pecados. Se pode perdoar-lhe os pecados, é 
          certamente Deus. Infelizmente, porém, os fariseus de então, como os de 
          hoje, não aceitam a consequência lógica das premissas estabelecidas 
          por eles mesmos"
          
          (Dom Duarte Leopoldo), 
          e também: 
          "O acusaram de blasfêmia, apressando assim sua sentença de morte, 
          porque mandava a lei que fosse castigado de morte qualquer um que 
          blasfemasse. E  lançavam sobre Ele esta sentença, porque se atribuía 
          ao poder divino de perdoar os pecados: 'Quem pode perdoar os pecados, 
          continua, senão Deus só?' Ele que é o único Juiz de todos e que tem o 
          poder de perdoar os pecados" 
          (São Cirilo de Alexandria), 
          e ainda: "E disse: 
          'Pega a sua maca' para fazer mais evidente o milagre, mostrando que 
          não é coisa que se realiza na fantasia, mas no fato positivo e 
          patente. E para mostrar que não só curava, mas que devolvia a força ao 
          enfermo. Assim, não somente separa os homens do pecado, mas lhes dá a 
          virtude para cumprir os mandamentos" 
          (Teofilacto), 
          e: "Fez um milagre 
          visível para provar outro invisível, ainda que seja obra de igual 
          poder o curar os vícios do corpo e os do espírito, pelo que disse: 'E 
          num instante se pôs de pé, e carregando a sua maca, caminhou à vista 
          de todos" (São 
          Beda), e 
          também: 
          "Primeiramente curou perdoando os pecados, para isso Ele veio, isto é, 
          para o espírito. E para que não duvidassem os incrédulos, fez um 
          milagre publicamente para confirmar a palavra com a obra e para 
          demonstrar o milagre oculto, ou seja, a cura do espírito pela medicina 
          do corpo" (São 
          João Crisóstomo), 
          e ainda: "Não 
          dando importância à remissão dos pecados, que era o mais importante, 
          se admiram tão somente da cura do corpo" 
          (Victor Antiqueno), 
          e: "Não é este o 
          paralítico de cuja cura fala São João: àquele não o acompanhava 
          ninguém, e este era levado por quatro homens; o primeiro foi curado na 
          piscina,  o último em uma casa. É o mesmo, pois, cuja cura referem São 
          Mateus e São Marcos. Em sentido místico, Cafarnaum, onde está agora 
          Cristo, significa casa do consolo; isto é, na Igreja que é a casa do 
          paralítico" (Teofilacto). 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          
          "São vários os elementos que manifestam aqui a divindade de Jesus: 
          perdoa os pecados, conhece por Si mesmo a intimidade do coração humano 
          e tem poder para curar instantaneamente doenças corporais. Os escribas 
          sabem que só Deus pode outorgar o perdão das culpas e por isso 
          consideram infundada, e inclusivamente blasfema, a afirmação do 
          Senhor. Necessitam de um sinal que mostre a verdade daquelas palavras. 
          E Jesus oferece-lhe: assim como ninguém discutirá a cura do 
          paralítico, do mesmo modo ninguém poderá negar razoavelmente a 
          libertação das suas culpas. Cristo, Deus e Homem, exerceu o poder de 
          perdoar os pecados e, pela Sua infinita misericórdia, quis estendê-lo 
          à Santa Igreja". 
          
          O Pe. 
          Juan Leal comenta Mc 2, 6-12: 
          "O 
          perdão é um direito de Deus na mentalidade do Antigo Testamento 
          (cf. Ex 34, 6ss; Is 43, 25; 44, 22), e, em consequência, tomar 
          este direito é blasfemá-lo. Isto é o que pensam dentro de si os 
          escribas, sem explicação da palavra. Jesus lê seus pensamentos e lhes 
          faz uma pergunta. Do êxito visível da cura resulta evidente que as 
          palavras da remissão dos pecados não são uma blasfêmia. Com o milagre, 
          atributo divino, Jesus confirma suas palavras e manifesta seus 
          poderes. Também este milagre, como os demais (cf. Lc 11, 20; Mt 12, 
          28), o mesmo que  os exorcismos, têm a finalidade primordial de 
          indicar a presença ou proximidade do reino. O perdão dos pecados é o 
          dom messiânico por excelência (Jr 31, 34; Ez 36, 25). Toda a 
          cena oferece várias dificuldades. A principal está em que Jesus faz 
          profissão ante os escribas do poder de perdoar os pecados, o que 
          parece que está contra o proceder do 'segredo messiânico' com 
          que lhe apresenta Marcos no ministério Galileu até a paixão".
           
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve:
          "Cristo liberta do pecado com o seu poder divino: Quem pode 
          perdoar pecados senão só Deus? Ele veio à terra para isso: 
          Deus, porém, rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, 
          e estando nós mortos pelos nossos pecados, deu-nos a vida por Cristo. 
          Depois de perdoar o paralítico os seus pecados, o Senhor curou-o 
          também dos seus males físicos. Este homem não deve ter demorado a
          compreender que a sua grande 
          sorte fora a primeira: sentir a sua alma traspassada pela misericórdia 
          divina e poder olhar para Jesus com um coração limpo. 
          
          
          O paralítico ficou curado de alma e de 
          corpo. E os seus amigos são hoje um exemplo para nós de como devemos 
          estar dispostos a prestar a nossa ajuda para o bem das almas - 
          sobretudo mediante um apostolado pessoal de amizade - e a potenciar o 
          bem humano da sociedade por todos os meios ao nosso alcance: 
          oferecendo soluções positivas para anular o mal, colaborando com 
          qualquer obra a favor do bem, da vida... 
          
          Não é 
          raro observar como, na vida social, muitos adotam uma atitude de meros 
          espectadores perante problemas que os afetam, às vezes profundamente, 
          a eles próprios, aos seus filhos ou ao seu ambiente social... Têm a 
          impressão errada de que são "os outros" que deveriam tomar 
          iniciativas para sustar o mal e fazer o bem, e não eles próprios; 
          contentam-se com um lamento ineficaz. 
          
          
          Um cristão não pode adotar essa linha de 
          conduta, porque sabe muito bem que deve exercer dentro da sociedade o 
          papel de fermento. No meio das realidades humanas, o que a alma 
          é no corpo, isso são os cristãos no mundo. Esse é o lugar que Deus 
          lhes fixou e não lhes é lícito desertar dele. 
          
          Existe 
          uma obrigação positiva de cooperar para o bem, que deve levar todo o 
          cristão a contribuir com o máximo das suas forças para informar todos 
          os campos da sua atividade com a mensagem de Cristo, fugindo de 
          atitudes que se limitem a não praticar pessoalmente obras más. 
          
          A 
          cooperação para o bem inclui, logicamente, que não se coopere para o 
          mal, no muito ou no pouco que esteja ao nosso alcance: não 
          comprar revistas, jornais, livros... que, pelo seu caráter sectário 
          anticristão ou imoral, fazem mal às almas; não comprar o jornal 
          naquela banca e sim em outra, ainda que tenhamos que andar um pouco 
          mais, porque a primeira distribui publicações que atacam a nossa Mãe 
          Igreja ou ofendem a moral; não ser cliente de uma farmácia que anuncia 
          anticoncepcionais...; ou não adquirir determinado produto - talvez de 
          melhor qualidade - lançado por uma empresa que patrocina um programa 
          imoral na televisão ou no rádio ou que publica anúncios imorais... 
          
          
          Se os cristãos tíbios não comprassem 
          determinadas revistas e publicações e aconselhassem os seus amigos a 
          fazer o mesmo, muitas delas não poderiam subsistir. Dá pena pensar 
          que, às vezes, grande parte do enorme mal que essas publicações causam 
          é devido aos meios econômicos de muitos cristãos acomodados que, por 
          outro lado, se queixam da crise moral da sociedade. 
          
          O 
          cristão deve cooperar para o bem, pesquisando e oferecendo soluções 
          positivas para os problemas de sempre e para os que vão aparecendo 
          pelas condições particulares da sociedade atual. A sua pior derrota 
          seria calar-se e inibir-se, como se se tratasse de assuntos que não 
          lhe dissessem respeito. 
          
          Um bom 
          cristão não deve limitar-se a não dar o seu voto a um partido ou a um 
          projeto que ataque o ideal da família cristã, a liberdade de ensino ou 
          a vida desde a sua concepção. Essa atitude não é suficiente. É preciso 
          que se
          empenhe em levar a cabo, de 
          acordo com as suas possibilidades, um apostolado doutrinal constante, 
          intenso, sem falsas prudências e sem medo de navegar contra a 
          corrente. 
          
          Este 
          apostolado doutrinal que cada um há de empreender no seu ambiente, 
          contribuindo para difundir a doutrina de Cristo de forma capilar, 
          acaba por fazer que o fermento transforme a massa. 
          
          
          A tarefa de recristianizar a sociedade 
          atual assemelha-se à que empreenderam os nossos primeiros irmãos na 
          fé, e exige que se lance mão de meios análogos aos que eles 
          empregaram: a exemplaridade na atuação privada e pública, a oração, a 
          amizade e a nobreza no trato, a autoridade proveniente do prestígio 
          profissional, a solidariedade com os anseios justos dos outros, o 
          desejo profundo de vê-los felizes, além da convicção de que não existe 
          paz - nem pessoal, nem familiar, nem social - à margem de Deus. 
          
          Os 
          primeiros cristãos encontraram-se mergulhados num ambiente bem 
          afastado da doutrina que traziam no coração, e, ainda que não tivessem 
          deixado de fazer ouvir a sua voz contra costumes que aviltavam até a 
          própria dignidade humana, não gastaram as suas melhores energias em 
          queixar-se e em denunciar o mal. Preferiram, pelo contrário, 
          empregar-se a fundo em difundir o tesouro que traziam na alma, 
          mediante um testemunho alegre e fraternal, e servindo a sociedade com 
          inumeráveis iniciativas de cultura, de assistência social, de ensino, 
          de redenção dos cativos, etc. Teriam podido passar a vida vasculhando 
          tudo o que não estava de acordo com o ideal de uma vida reta... e 
          teriam deixado de dar ao mundo a verdadeira solução, que era então 
          como um grão de mostarda, mas que continha dentro de si uma força 
          portentosa. 
          
          
          Para identificar o mal, não se requer 
          uma grande esperteza; para descobrir os interesses de Deus a todo o 
          instante, requer-se espírito cristão. Tenhamos os olhos abertos para o 
          bem, como esses verdadeiros bons amigos do paralítico de que nos fala 
          São Marcos, e procuremos - tal como nos aconselha São Paulo - vencer o 
          mal com o bem. 
          
          
          Comecemos por dar todo o destaque às virtudes daqueles que estão perto 
          de nós: à generosidade do amigo, à laboriosidade do colega de 
          trabalho, ao espírito de colaboração da vizinha, à paciência do 
          professor... Fomentemos depois tudo o que nasce de positivo à nossa 
          volta: umas vezes, com uma palavra de ânimo; outras, com uma 
          colaboração efetiva de tempo e dinheiro. Perante tanta leitura inútil 
          ou prejudicial, difundamos a notícia do lançamento de um bom livro, de 
          uma revista que pode estar dignamente na sala de estar de uma família, 
          sem que os pais tenham de sentir-se envergonhados diante dos filhos... 
          Escrevamos uma cartinha ao jornal ou à emissora de TV, elogiando e 
          agradecendo um bom programa, um bom artigo... custa pouco e é sempre 
          eficaz. 
          
          Deus 
          não pede aos seus filhos que sejam ingênuos perante o mal e os duros 
          acontecimentos da vida; pede-lhes, sim, que não sejam nunca
          ressentidos e azedos, que tenham olhos para ver o que há de bom nas 
          pessoas e nas realidades sociais, que não passem a melhor parte dos 
          seus dias entregues a lamentações estéreis, mas dando a conhecer o 
          imenso tesouro da fé, que é capaz de transformar as pessoas e a 
          sociedade. Não esqueçamos que o bem é atrativo, contagioso e gera 
          sempre muito mais felicidade que a tibieza. E essa alegria que 
          transbordará das nossas vidas é também uma forma de cooperar para o 
          bem; frequentemente, a mais eficaz". 
          
            
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 25 de setembro de 2007 
            
          
          Vide também:  
            
          
          
          Abriram 
          o teto 
          
          
          Carregando a maca 
          
          
          Transportado 
             |