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                    TENTADO 
                    PELO DIABO 
                    
                    
                    (Mt 4, 1-11) 
                      
                    
                    
                    “1 
                    Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para 
                    ser tentado pelo diabo. 
                    2 
                    Por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois 
                    teve fome. 
                    3 
                    Então, aproximando-se o tentador, disse-lhe: ‘Se és filho de Deus, 
                    manda que estas pedras se transformem em pães’. 
                    4 
                    Mas Jesus respondeu: ‘Está escrito: Não só de pão vive o 
                    homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’. 
                    5 
                    Então o diabo o levou à Cidade Santa e o colocou sobre o 
                    pináculo do Templo 
                    6 
                    e disse-lhe. Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, 
                    porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu 
                    respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para que não 
                    tropeces em nenhuma pedra’. 
                    7 
                    Respondeu-lhe Jesus: ‘Também está escrito: Não tentarás ao 
                    Senhor teu Deus’. 
                    8 
                    Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E 
                    mostrou-lhe todos os reinos do mundo com o seu esplendor  9 
                    e disse-lhe: ‘Tudo isto te darei, se, prostrado, me 
                    adorares’. 
                    10 
                    Aí Jesus lhe disse: ‘Vai-te, Satanás, porque está escrito: 
                    Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto’.
                    11 
                    Com isso, o diabo o deixou. E os anjos de Deus se 
                    aproximaram e puseram-se a servi-lo”.
                     
                    
                      
                    
                       
                    
                      
                    
                    Em Mt 4, 1 
                    diz: “Então Jesus foi levado pelo 
                    Espírito para o deserto, para ser tentado pelo  diabo”.
                     
                    
                      
                    
                    Nosso 
                    Salvador, imediatamente depois de ter sido batizado, foi 
                    impelido, isto é, levado pelo Espírito Santo para o deserto, 
                    como está em São Marcos 1,12: “E 
                    logo o Espírito o levou para o deserto”. Este 
                    deserto era um lugar muito árido, seco, na área do chamado 
                    deserto da Judéia. Das margens do Rio Jordão, onde fora 
                    batizado, caminhou Jesus Cristo uns oito quilômetros, até 
                    esta área do deserto; ele ficou na região mais alta do 
                    deserto, com muita probabilidade no que hoje se chama o 
                    monte da Quarentena, de 323 metros de altura, a uns 4 
                    quilômetros da moderna Jericó.  
                    
                    O deserto 
                    para onde Jesus Cristo foi levado era muito seco, possuía 
                    muitas pedras e era cheio de profundos regos. 
                    
                    Em São 
                    Marcos 1,13 diz que Jesus “vivia entre as feras”, 
                    indicando a sua extrema solidão. Estes animais viviam 
                    naquele lugar desabitado e eram sobretudo chacais, isto é, 
                    mamíferos ferozes; viviam também ali, raposas, águias e 
                    outras aves de rapina. 
                    
                    São Mateus 
                    especifica que Jesus foi ao deserto para ser tentado pelo 
                    diabo. Está claro que Ele não foi ali para passar férias ou 
                    descansar; São João Crisóstomo escreve: 
                    “Como o Senhor fazia todas as coisas 
                    para nos ensinar, quis também ser conduzido ao deserto e ali 
                    travar combate com o demônio, a fim de que os batizados, se 
                    depois do batismo sofrem maiores tentações, não se assustem 
                    com isso, como se fossem algo inesperado”, e: 
                    “Depois que Jesus foi batizado por 
                    São João com água, foi levado pelo Espírito ao deserto, para 
                    que ali fosse batizado com o fogo da tentação. Donde se diz 
                    que Jesus foi levado ao deserto pelo Espírito. Foi então 
                    quando o Pai clamou desde o céu: Este é meu filho muito 
                    amado” (Pseudo-Crisóstomo, 
                    Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 5), 
                    e também: “Alguns perguntam por 
                    qual espírito foi levado Jesus ao deserto... o diabo o levou 
                    à cidade santa. Porém, verdadeiramente e sem vacilo algum se 
                    entende por todos e se acredita que foi levado pelo Espírito 
                    Santo... onde o espírito maligno havia de tentá-lo”
                    (São Gregório Magno, 
                    Homilia in Evangelia, 16, 1), 
                    e ainda: “Foi levado, não 
                    obrigado nem preso, mas pelo desejo de combater”
                    (São Jerônimo), 
                    e: “O diabo se aproxima dos 
                    homens para tentá-los, mas como o demônio não podia ir ao 
                    encontro do Senhor, Este foi ao seu encontro. Por isso se 
                    diz: foi para o deserto” 
                    (Pseudo-Crisóstomo, Opus 
                    Imperfectum super Matthaem, Hom. 5), 
                    e também: “Quanto maior é a 
                    solidão, mais tenta o diabo. Por isso tentou a primeira 
                    mulher quando esteve só, sem seu marido. Donde se deu 
                    ocasião ao demônio que tentasse. Por isso foi conduzido ao 
                    deserto” 
                    (São João Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, Hom. 13, 1), 
                    e ainda: “Este deserto está entre 
                    Jerusalém e Jericó, onde habitavam os ladrões, cujo lugar se 
                    chama Dammaín, isto é, do sangue, pelo derramamento de 
                    sangue que com tanta freqüência ali acontecia por parte dos 
                    ladrões. É aí onde aquele homem que vinha de Jerusalém a 
                    Jericó, se diz que caiu em poder dos ladrões, representando 
                    a Adão, que havia caído em poder dos demônios. Era 
                    conveniente, pois, que Cristo vencesse ao demônio, no lugar 
                    em que o demônio venceu ao primeiro homem, sob a figura da 
                    serpente” (A Glosa). 
                    
                    Jesus 
                    Cristo foi tentado porque assim o quis, por amor a nós e 
                    para a nossa instrução. 
                    
                    Jesus quis 
                    ensinar-nos, ao permitir ser tentado, como devemos lutar e 
                    vencer nas nossas tentações, isto é, confiando em Deus, 
                    rezando, e com a fortaleza. Em Hebreus 2, 18 diz: 
                    “Pois,  tendo ele mesmo  sofrido 
                    pela tentação, é capaz de  socorrer os que são tentados”.
                     
                    
                    Por outro 
                    lado, estas tentações de Jesus no deserto, têm uma 
                    significação muito profunda na História da salvação. Todos 
                    os personagens mais importantes da História Sagrada foram 
                    tentados e provados: Adão e Eva, Abraão, Moisés, o próprio 
                    povo  eleito; e assim também Jesus Cristo. Ele ao rejeitar 
                    as tentações diabólicas, reparava as quedas dos homens antes 
                    e depois d’Ele; preludia  as futuras tentações de cada um de 
                    nós e as lutas da Igreja Católica contra as tentações do 
                    poder diabólico. 
                    
                      
                    
                    Em Mt 4, 2 
                    diz: “Por  quarenta dias e 
                    quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome”. 
                    
                      
                    
                    Jesus 
                    Cristo, depois de ter jejuado durante quarenta dias e 
                    quarenta noites, teve fome, como qualquer homem nas mesmas 
                    circunstâncias. Antes de começar a Sua obra messiânica e, 
                    portanto, de promulgar a Nova Lei ou Novo Testamento, Jesus, 
                    o Messias, prepara-se com a oração e o jejum no deserto, 
                    está claro que não foi com bebedeira, glutonaria e com 
                    barulho que Ele se preparou. 
                    
                    Moisés fez 
                    o mesmo antes de promulgar, em nome de Deus, a antiga Lei do 
                    Sinai. No livro do Êxodo 34, 28 diz: 
                    “Moisés esteve ali com Deus
                    quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber 
                    água. Ele escreveu nas tábuas as palavras da aliança”.
                    Também Elias caminhou quarenta dias no deserto para 
                    levar até o fim a sua missão de fazer renovar o cumprimento 
                    da Lei; em 1 Reis 19, 8  diz:   “Levantou-se, 
                    comeu e bebeu e, depois, sustentado por aquela comida, 
                    caminhou quarenta dias e quarenta noites até a montanha de 
                    Deus, o  Horeb”. 
                    
                    A Igreja 
                    Católica segue as pegadas de Cristo Jesus ao estabelecer 
                    anualmente o tempo do jejum quaresmal. Com este 
                    espírito de piedade devemos viver cada ano o tempo da 
                    Quaresma. Infelizmente, a maioria dos católicos vive a 
                    quaresma como pagãos: com bailes, bebedeiras, carnaval 
                    temporão, barulho, etc. O Papa João Paulo II escreve: 
                    “Pode-se dizer que Cristo introduziu 
                    a tradição do jejum de quarenta dias no ano litúrgico da 
                    Igreja, porque ele mesmo ‘jejuou 40 dias e 40 noites’ antes 
                    de começar a ensinar. Com este jejum quaresmal, a Igreja em 
                    certo sentido, é chamada cada ano a seguir o seu Mestre e 
                    Senhor se quer pregar eficazmente o Seu Evangelho”. 
                    Será que os católicos estão seguindo o Mestre Jesus ou o 
                    mundo inimigo das almas? Dê uma olhada à sua volta e verá. 
                    
                    Do mesmo 
                    modo o retiro de Jesus no deserto convida-nos a 
                    prepararmo-nos com a oração e a penitência, antes de 
                    empreendermos qualquer atividade ou decisão importante na 
                    nossa vida. Antes de tomarmos uma decisão, precisamos rezar 
                    e fazer penitência. Seria agradável a Deus e um bem imenso 
                    para a alma, se jejuássemos ao menos uma vez por mês a pão e 
                    água; quem for generoso, faça mais de uma vez por mês e não 
                    se arrependerá no dia do Juízo. 
                    
                    Quarenta 
                    dias e quarenta noites passou Jesus no deserto, sem tomar 
                    alimento algum. Em São Lucas 4, 2 diz: 
                    “Nada comeu nesses dias...”, 
                    neste longo período, Jesus viveu unido a Seu Pai, ao Pai 
                    Eterno. 
                    
                    Jesus 
                    jejuou quarenta dias e quarenta noites. Hoje existem milhões 
                    de católicos que não são capazes de renunciar, sequer, um 
                    pouco de alimento por amor a Deus e pelo bem de sua alma. 
                    Muitos sentem nojo só em ouvir falar em renúncia e 
                    penitência.   
                    
                    Para 
                    milhões de católicos, a quaresma só existe no calendário, 
                    porque na prática é zero. 
                    
                    São João 
                    Maria Vianney escreve: “... (Jesus) diz-nos que se não fizermos penitência todos pereceremos. Tudo 
                    se compreende facilmente. Desde que o homem pecou, todos os 
                    seus sentidos se rebelaram contra a razão; por conseguinte, 
                    se quisermos que a carne esteja submetida ao espírito e à 
                    razão, é necessário mortificá-la; se quisermos que o corpo 
                    não faça guerra à alma, é preciso castigá-lo e a todos os 
                    seus sentidos; se quisermos ir a Deus, é necessário 
                    mortificar a alma com todas as suas potências”. 
                    
                      
                    
                    Em Mt 4, 
                    3-4 diz: “Então, aproximando-se o 
                    tentador, disse-lhe: “Se és o  Filho de Deus, manda que 
                    estas pedras se transformem em pães”. Mas Jesus respondeu: 
                    “Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda 
                    palavra que sai da boca de Deus”. 
                      
                    
                    
                    Depois destes 
                    quarenta dias e quarenta noites de jejum, em que a natureza 
                    humana de Jesus se encontra debilitada, isto é, 
                    enfraquecida; aproximou-se o Tentador, isto é, o atrevido 
                    diabo, para lhe armar a primeira armadilha. O evangelho 
                    mostra-nos o príncipe dos demônios aproximando-se de Nosso 
                    Senhor de modo insidioso, falso, provavelmente com forma 
                    humana. Ele diz a Nosso Senhor: 
                    “Se és o Filho de Deus manda que estas pedras se transformem 
                    em pães” (Mt 
                    4, 3). 
                    
                    É lógico 
                    que Jesus estava com muita fome. Embora pudesse fazer esse 
                    milagre, transformar pedras em pães, prefere continuar a 
                    confiar no Pai e não realizá-lo, porque não entra no seu 
                    plano de salvação.  
                    
                    A proposta 
                    do demônio nesta tentação, não tinha razão de ser dentro do 
                    plano de redenção, já que iria em benefício exclusivo de 
                    Jesus Cristo, que era matar a sua fome. Com a sua intenção, 
                    o diabo parece querer certificar-se sobre se Jesus Cristo é 
                    verdadeiramente “Filho de Deus”, pois, embora seja 
                    verdade que se mostra informado acerca da voz do céu no 
                    batismo, o diabo vê um contra-senso, um absurdo, um 
                    disparate, em que Jesus seja Filho de Deus, e por outro 
                    lado, sinta fome. 
                    
                    Com a Sua 
                    posição perante a tentação, Jesus Cristo vem ensinar-nos que 
                    as nossas petições a Deus não devem ser em primeiro lugar 
                    acerca das coisas que se podem conseguir com o esforço 
                    pessoal, nem que vão exclusivamente em benefício próprio; 
                    mas antes, acerca das que vão encaminhados para a santidade. 
                    
                    O diabo 
                    disse a Jesus Cristo: “...manda 
                    que estas pedras se transformem em pães”. 
                    
                    O pão! 
                    Alimento do corpo; a vida sensual em todas as suas 
                    manifestações, eis onde o demônio tenta afogar a alma. 
                    
                    Lance um 
                    olhar sobre o mundo! Quanta gente corre, agita, sua, 
                    sofre... Somente atrás de interesses materiais: pelo pão, 
                    para ganhar dinheiro, para conseguir bens, para gozar dos 
                    prazeres, etc. Até parece que o corpo é o imortal, e não a 
                    alma. Quanta loucura! Quanta cegueira! 
                    
                    
                    Milhões de católicos profanam os domingos e os dias Santos de 
                    guarda: pelo pão, exatamente, pelo pão. Trabalham aos 
                    domingos e dias santos de guarda, somente atrás do pão, 
                    somente com a intenção de 
                    saciar o corpo, e não se preocupam com a própria alma. 
                    Muitos, por causa do dinheiro, atropelam e pisam na justiça, 
                    ficam cegos e desorientados; outros brigam com ódio 
                    pelos bens materiais. Quantas guerras nas famílias por causa 
                    de uma herança... Cometem até assassinatos. Outros 
                    transgridem qualquer lei para gozar dos prazeres, até 
                    parecem cavalos selvagens.     Quanta loucura! 
                    
                    Hoje, 
                    infelizmente, milhões de pessoas consentem nesta tentação, 
                    esquecem da salvação da própria alma para correrem 
                    desesperadamente atrás dos bens materiais; não reservam 
                    nenhum horário para a leitura espiritual, porque estão 
                    preocupadas somente em satisfazer todos os prazeres do 
                    corpo; eis onde milhões colocam os seus desejos. Santo 
                    Ambrósio escreve: “Não era esta a 
                    fome que atormentava Jesus; era sim a fome das almas”.
                     
                    
                    Por isso, 
                    Jesus Cristo respondeu ao demônio: 
                    “Está escrito: Não só de Pão vive o 
                    homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”
                    (Mt 4, 4). 
                    
                    A resposta 
                    de Jesus é um ato de confiança na providência de Deus. Quem 
                    o levou para o deserto, como preparação da sua obra 
                    messiânica, ocupar-Se-á de que Jesus não desfaleça. A 
                    resposta fica sublinhada, pelo fato da resposta de Jesus ser 
                    uma evocação de Dt 8, 3, onde se recorda aos filhos de 
                    Israel, como Deus os alimentou miraculosamente com o  maná 
                    do deserto. Assim, pois, Jesus, em contraste com o antigo 
                    Israel, que se impacientou perante a fome no deserto, 
                    entrega confiadamente o Seu cuidado à providência do Pai. 
                    As palavras de Dt 8, 3 que Jesus pronuncia, associam as 
                    imagens de pão e palavra como saídas ambas da  boca de Deus: 
                    Deus fala e faz surgir o alimento do maná. 
                    
                    Lembre-se 
                    de que não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que 
                    sai da boca de Deus. Está claro que possuímos uma alma 
                    imortal, e é preciso trabalhar fervorosamente para salvá-la, 
                    como escreve São Pedro Julião Eymard: 
                    “Preciso salvar a minha alma, isto 
                    é, ganhar o céu, evitar a eternidade do inferno. Não há 
                    meio-termo. Salvar a minha alma é o fim da minha vida”. 
                    Infelizmente, milhões de pessoas andam esquecidas da 
                    salvação da própria alma, como escreve Santo Afonso Maria de 
                    Ligório: “O negócio da eterna 
                    salvação é, sem dúvida, o mais importante, e, contudo, é 
                    aquele de que os cristãos mais se esquecem”.
                     
                    
                    Você se 
                    preocupa com a salvação de sua alma ou você é um toco? 
                    
                    Pare com 
                    tanta correria atrás do material! Pense mais na 
                    salvação de sua alma imortal, como fala Nosso Senhor Jesus 
                    Cristo: “Com efeito, que 
                    aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e arruinar a sua 
                    vida?” (Mc 8, 
                    36). 
                    
                    
                                      
                    
                    Em Mt 4, 
                    5-7 diz: “Então o diabo o levou à 
                    Cidade Santa e o colocou sobre o pináculo do Templo e 
                    disse-lhe! ‘Se és o Filho de Deus, atira-te para baixo, 
                    porque está escrito: Ele dará ordem aos  seus anjos a teu 
                    respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para que não 
                    tropeces em nenhuma pedra’.  Respondeu-lhe Jesus: ‘Também 
                    está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus”. 
                    
                    
                                    
                     
                    
                    
                    Rábano escreve: “Se chama santa a cidade de Jerusalém, porque se encontrava nela o 
                    templo, o Sancta Sanctorum e o culto do verdadeiro Deus, 
                    estabelecido por Moisés”, 
                    e: 
                    “Para que se 
                    conheça que o diabo tenta os homens ainda que em lugares 
                    mais santos”
                    (Remígio), 
                    e também: 
                    “O diabo sempre 
                    eleva às alturas por meio da jactância, para se precipitar 
                    melhor” 
                    (A Glosa), 
                    e ainda: 
                    “Mas, como podia conhecer nesta ocasião se era Filho de Deus ou não? 
                    Voar pelos ares não é propriamente obra de Deus, porque a 
                    nada conduz”
                    (Pseudo-Crisóstomo, 
                    Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 5), 
                    e: “Perturbando os esforços do 
                    diabo, Jesus se manifesta como Deus e como homem” 
                    
                    (Santo Hilário, in Matthaeum, 3), e também: “Não lhe disse: ‘Não me tentarás, pois sou 
                    teu Deus e teu Senhor’, mas sim: ‘Não tentarás ao Senhor teu 
                    Deus’, o mesmo que poderá dizer todo homem de Deus tentado 
                    pelo demônio, porque o que tenta o homem de Deus, tenta ao 
                    mesmo Deus” 
                    (Pseudo-Crisóstomo, 
                    Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 5), 
                    e ainda: 
                    “A sã doutrina ensina que quando o 
                    homem tenha algo que fazer, não deve tentar ao Senhor seu 
                    Deus” 
                    (Santo 
                    Agostinho, contra Faustum, 22, 36), e:  “Tenta a 
                    Deus quem faz algo pondo-se em perigo sem motivo” 
                    (Teodoto). 
                    
                    Na 
                    primeira tentação, Jesus Cristo mostrou um total abandono em 
                    Deus. Agora, o demônio quer induzi-Lo a uma confiança 
                    presunçosa, cheia de vaidade. No versículo 5 diz que o diabo 
                    leva Jesus consigo à Cidade Santa. Não quer dizer que o 
                    diabo o obrigasse a segui-lo com violência, nem que Cristo o 
                    acompanhasse amigavelmente. Orígenes escreve: 
                    “Jesus seguia o diabo como um atleta 
                    que voluntariamente caminha para a luta”, e o Pe. 
                    Francisco Fernandes Carvajal também escreve: 
                    “É mais provável que seja somente 
                    uma representação de tipo imaginativo, sem que Jesus o 
                    acompanhasse ‘fisicamente”, e São Gregório Magno 
                    diz ainda: “...quem considere 
                    como  permitiu Nosso Senhor ser tratado na Sua Paixão, não 
                    estranhará que permitisse também ao demônio comportar-se com 
                    Ele dessa  maneira”. 
                    
                    A Cidade 
                    Santa era Jerusalém, centro judaico. O pináculo parece 
                    referir-se a algum dos ângulos dos pórticos do Templo que se 
                    levantavam sobre a torrente Cedron, a 180 metros de altura 
                    sobre o fundo da torrente. De uma destas alturas, segundo a 
                    tradição, foi precipitado São Tiago, o Menor. 
                    
                    No 
                    versículo 6, o diabo diz a Jesus Cristo:  
                    “Se és o Filho de Deus, atira-te 
                    para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos 
                    a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para que não 
                    tropeces em nenhuma pedra”. 
                    
                    Santo 
                    Agostinho escreve: “As heresias 
                    nasceram por se entenderem mal as escrituras, que são boas”. 
                    O católico deve estar alerta perante falsas argumentações 
                    que pretendem basear-se na Sagrada Escritura. Como estamos 
                    vendo neste trecho do Evangelho, o demônio apresenta-se 
                    algumas vezes como “exegeta” da Bíblia, 
                    interpretando-a como lhe convém. Ele é realmente um exegeta 
                    ridículo e enganador. Por isso, qualquer interpretação que 
                    não esteja de acordo com a doutrina contida na Tradição da 
                    Igreja deve ser rejeitada. Normalmente o erro da heresia 
                    consiste em fixar-se nuns passos da Escritura com exclusão 
                    de outros, interpretando-os a seu bel-prazer, perdendo de 
                    vista a unidade da Escritura e a totalidade da fé. 
                    
                    Lembre-se 
                    de que o demônio é atrevido, a ponto de citar a Sagrada 
                    Escritura. 
                    
                    Essa 
                    tentação era aparentemente capciosa, astuciosa: se Jesus 
                    recusasse pular da altura, demonstraria que não confiava em 
                    Deus plenamente; se aceitasse pular, obrigaria Deus a enviar 
                    em proveito pessoal os seus anjos para salvá-lo. 
                    
                    Jesus 
                    Cristo nega-se a fazer milagres inúteis por vaidade ou por 
                    vanglória, Ele não é exibicionista, como muitos de hoje, que 
                    fingem fazer curas, mas que tudo não passa de falsidade, 
                    porque os hospitais continuam cheios de enfermos. 
                     
                    
                    Devemos 
                    estar atentos para saber rejeitar tentações semelhantes, 
                    como por exemplo: o desejo de montar em benefício próprio 
                    falsas argumentações que pretendem fundar-se na Sagrada 
                    Escritura e a atitude de quem pede (e até exige) provas ou 
                    sinais extraordinários para crer. Essas pessoas se esquecem 
                    de que Deus nos dá no meio da nossa vida cotidiana, graças e 
                    testemunhas suficientes, para iluminarem o caminho da fé. 
                    
                    O demônio 
                    disse a Jesus: “Lança-te daqui 
                    para baixo!” O maligno, isto é, Satanás, repete a 
                    todo homem que peca as mesmas palavras: Tu estás no alto, ó 
                    homem, sobre os méritos, sobre a graça, próximo de Deus... 
                    lança-te  daqui abaixo, no inferno onde eu estou a 
                    atormentar-me, assim diz Satanás. E infelizmente, milhares 
                    de pessoas aceitam o convite dessa serpente infernal e se 
                    perdem eternamente; mergulham no mar de fogo do inferno, 
                    onde serão atormentadas para sempre. 
                    
                    No 
                    versículo 7, Jesus Cristo responde a Satanás:  
                    “Também está escrito: Não tentarás 
                    ao Senhor  teu Deus”.
                     
                    
                    A resposta 
                    de Jesus perante esta segunda tentação é de novo uma 
                    rejeição radical, porque aceitá-la seria tentar a Deus. Para 
                    isso, Nosso Senhor emprega uma frase do livro do 
                    Deuteronômio 6, 16: “Não tentarás 
                    o Senhor teu Deus”,  referindo com ela o que está 
                    em Êxodo 17, 2, em que os Israelitas, ao faltar-lhes a água, 
                    exigem a Moisés um milagre e ele lhes responde: 
                    “Por que tentais a Deus?”
                     
                    
                    Tentar a 
                    Deus é completamente diverso de confiar n’Ele; é expor-se 
                    vaidosamente a um perigo desnecessário, contando sem motivo 
                    com uma ajuda extraordinária de Deus. Tentar a Deus, é 
                    também pedir-lhe provas por causa da incredulidade e 
                    arrogância humanas. 
                    
                    O primeiro 
                    ensinamento desta cena evangélica é que, se alguma vez 
                    ocorresse ao homem pedir ou quase exigir de Deus provas ou 
                    sinais extraordinários, isso seria uma clara tentação a 
                    Deus.  
                    
                    Você tem o 
                    costume de tentar a Deus? De se expor a perigos, e 
                    pedir que Deus o proteja? Deixe de estupidez, seja uma 
                    pessoa normal; Deus não é obrigado ajudar uma pessoa 
                    caprichosa. 
                      
                    
                    Em Mt 4, 
                    8-10 diz: “Tornou o diabo a 
                    levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos 
                    os reinos do mundo com o seu esplendor e disse-lhe: ‘Tudo 
                    isto te darei, se, prostrado, me adorares’. Aí Jesus lhe 
                    disse: ‘Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu 
                    Deus adorarás e só  a ele prestarás culto”. 
                      
                    
                    Nesta 
                    última tentação, o demônio oferece a Jesus toda a glória e 
                    poder terreno que um homem pode ambicionar e cobiçar. 
                     
                    
                    O demônio 
                    promete sempre mais do que pode dar, ele é enganador, a 
                    felicidade está muito longe das suas mãos. Toda a tentação é 
                    sempre um logro, um engano miserável. Mas, para nos 
                    experimentar, o demônio conta com a nossa ambição. E a pior 
                    ambição é desejar a todo o custo a glória pessoal: a ânsia 
                    de nos procurarmos a nós mesmos nas coisas que fazemos e 
                    projetamos. Muitas vezes, o pior dos ídolos é o nosso 
                    próprio eu. Temos que vigiar, em luta constante, porque 
                    dentro de nós permanece a tendência de desejar a glória 
                    humana, apesar de termos dito ao Senhor Jesus repetidamente 
                    que não queremos outra glória que não a d’Ele. 
                    
                    Antes de 
                    cometer o pecado, a pessoa vê no fruto proibido a verdadeira 
                    felicidade; mas é tudo um engano. E a ingênua alma do homem, 
                    por detrás da lisonja de ser rainha, é feita escrava de 
                    Satanás: “Adora-me, 
                    comete esse pecado”, diz o demônio, 
                    “... e serás um rei”. 
                    Puro engano! Puro engano! Infeliz daquele que escorrega na 
                    saliva de Satanás; esse viverá na mais fria ilusão. 
                    
                    
                    No versículo 10 
                    Jesus diz ao demônio: 
                    “Vai-te, Satanás, 
                    por que está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele 
                    prestarás culto”. 
                    
                    Num 
                    segundo, Jesus enxotou o demônio; porém quarenta dias, na 
                    solidão, Jesus gastou em mortificar a sua carne. Grande 
                    ensinamento! Quando se sabe dominar os próprios instintos, o 
                    demônio não passa de um covarde que foge à primeira 
                    jaculatória ou de um pouco de água benta, como escreve Santa 
                    Teresa de Jesus: “De nenhuma 
                    coisa fogem tanto os demônios para não voltar, como da água 
                    benta”. 
                    
                    Jesus 
                    respondeu energicamente a Satanás: 
                    “Vai-te, Satanás”. Faça 
                    você também o mesmo, não dialogue com a serpente infernal, 
                    porque acabará caindo. Faça o sinal da cruz, chame por Jesus 
                    e grite com o coração: “Eu 
                    adoro a Deus! Só n’Ele e na sua vontade está a minha paz. 
                    Retira-te, Satanás!” 
                    
                    São 
                    Josemaria Escrivá diz: 
                    “Aprendamos desta atitude de Jesus: durante a Sua vida na 
                    Terra, não quis sequer a glória que Lhe pertencia, pois 
                    tendo direito a ser tratado como Deus, assumiu a forma de 
                    servo, de escravo. O cristão sabe, portanto, que toda a 
                    glória é para Deus e que não pode servir-se da sublimidade e 
                    grandeza do Evangelho como instrumento de interesses e de  
                    ambições humanas”. Você enxota a Satanás ou gosta 
                    de conversar com ele? Cuidado! Ele te seduzirá com as suas 
                    falsas promessas e a ruína será total. 
                      
                    
                    Em Mt 4, 
                    11 diz: “Com isso, o diabo o 
                    deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e puseram-se a 
                    servi-lo”. 
                      
                    
                    Também nós 
                    somos ajudados pelos anjos, que 
                    são mensageiros de Deus. No livro do Ex 23, 20 diz:
                    “Eu mandarei um anjo diante de ti 
                    para que te defenda no caminho e te faça chegar ao lugar que 
                    te dispus”. Isto torna-se realidade na vida de 
                    cada homem. 
                    
                    A missão 
                    dos anjos é auxiliar os homens contra as tentações e 
                    perigos, e trazer ao coração dos mesmos boas inspirações. 
                    São os anjos nossos intercessores, os nossos custódios, e 
                    prestam-nos o seu auxílio quando os invocamos. Também pode 
                    prestar-nos ajudas materiais, se são convenientes para o 
                    nosso fim sobrenatural ou para o dos outros. Especialmente 
                    podem colaborar conosco no apostolado, na luta contra as 
                    tentações e contra o demônio e na oração. São João da Cruz 
                    escreve: “Além de levarem a Deus 
                    as nossas notícias, trazem os auxílios de Deus às nossas 
                    almas e apresentam-nos como bons pastores, com comunicações 
                    doces e inspirações divinas. Os anjos defendem-nos dos 
                    lobos, que são os demônios e amparam-nos”  Você 
                    confia no seu anjo da guarda? Você pede que ele o proteja? 
                    Ou você nem sabe que possui um anjo que te protege? 
                    
                    A vitória 
                    é conseqüência da perseverança na luta. Ninguém é coroado 
                    sem ter vencido. Em Ap 2,10 diz: 
                    “Sê fiel até à morte e dar-te-ei da coroa da vida”. 
                    Os anjos que servem a Jesus depois de ter resistido às 
                    sucessivas tentações, mostram-nos a alegria interior que 
                    Deus dá ao que se opõe com esforço à tentação diabólica. 
                    Nunca estamos sós na tentação ou na dificuldade, o nosso 
                    anjo nos ajuda; estará ao nosso lado até o momento em que 
                    abandonamos este mundo, e depois acompanhar-nos-á no juízo.
                     
                    
                    O Cônego 
                    Duarte Leopoldo escreve: “Esta 
                    refeição de Jesus é a imagem do festim que Deus serve à alma 
                    vitoriosa. O momento que se segue à vitória é o mais 
                    delicioso de todos os momentos”. 
                     
                    
                    Rezemos 
                    com atenção, devoção e respeito, essa oração composta 
                    por Santo Afonso Maria de Ligório: 
                    “Ò meu amabilíssimo Jesus, vejo que 
                    no passado caí e recaí tão miseravelmente, porque me 
                    descuidei de imitar os vossos diversos exemplos. 
                    Arrependo-me de todo o coração; peço-Vos perdão e prometo 
                    que para o futuro serei mais cuidadoso. Mas fortalecei a 
                    minha fraqueza. Eu vo-lo peço pela mortificação que 
                    praticastes, abstendo-vos por quarenta dias de toda a 
                    alimentação, e pela humildade que mostrastes, permitindo ao 
                    demônio que Vos tentasse como a qualquer outro filho de 
                    Adão”. 
                    
                    
                                   
                     
                     
                    
                    
                    Pe. Divino Antônio Lopes FP. 
                    
                    
                    Anápolis, 06 de fevereiro de 2008 
                    
                      
                    
                    
                    Bibliografia 
                    
                      
                    
                    Bíblia 
                    Sagrada 
                    
                    Catena 
                    Aurea 
                    
                    Adolfo 
                    Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística 
                    
                    Dom Duarte 
                    Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos 
                     
                    
                    Pe. João 
                    Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos 
                    
                    Pe. 
                    Francisco Fernándes-Carvajal, Falar com Deus 
                    
                    Pe. 
                    Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina 
                    
                    Santo 
                    Afonso Maria de Ligório, Meditações 
                     
                     
                     
                     
                    
                    Vide também: 
                    
                    
                    Tentado por Satanás 
                    
                    
                  
                  Esteve no deserto 
                  quarenta dias 
                    
                    
                    Os anjos o serviam 
                      
					                  
                                        |