DEUS
PROVA A FÉ DE ABRAÃO
(Resumo)
(Pe. Divino Antônio Lopes FP.)
Gênesis 22, 1-19:
“Depois desses acontecimentos, sucedeu que Deus pôs
Abraão à prova e lhe disse: ‘Abraão! Abraão!’ Ele respondeu:
‘Eis-me aqui!’ Deus disse: ‘Toma teu filho, teu único, que
amas, Isaac, e vai à terra de Moriá, e lá o oferecerás em
holocausto sobre uma montanha que eu te indicarei.’ Abraão
se levantou cedo, selou seu jumento e tomou consigo dois de
seus servos e seu filho Isaac. Ele rachou a lenha do
holocausto e se pôs a caminho para o lugar que Deus havia
indicado. No terceiro dia, Abraão, levantando os olhos, viu
de longe o lugar. Abraão disse a seus servos: ‘Permanecei
aqui com o jumento. Eu e o menino iremos até lá, adoraremos
e voltaremos a vós.’ Abraão tomou a lenha do holocausto e a
colocou sobre seu filho Isaac, tendo ele mesmo tomado nas
mãos o fogo e o cutelo, e foram-se os dois juntos. Isaac
dirigiu-se a seu pai Abraão e disse: ‘Meu pai!’ Ele
respondeu: ‘Sim, meu filho!’ — ‘Eis o fogo e a lenha,’
retomou ele, ‘mas onde está o cordeiro para o holocausto?’
Abraão respondeu: ‘É Deus quem proverá o cordeiro para o
holocausto, meu filho’, e foram-se os dois juntos. Quando
chegaram ao lugar que Deus lhe indicara, Abraão construiu o
altar, dispôs a lenha, depois amarrou seu filho e o colocou
sobre o altar, em cima da lenha. Abraão estendeu a mão e
apanhou o cutelo para imolar seu filho. Mas o anjo de Deus o
chamou do céu e disse: ‘Abraão! Abraão!’ Ele respondeu:
‘Eis-me aqui!’ O Anjo disse: ‘Não estendas a mão contra o
menino! Não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a
Deus: tu não me recusaste teu filho, teu único.’ Abraão
ergueu os olhos e viu um cordeiro, preso pelos chifres num
arbusto; Abraão foi pegar o cordeiro e o ofereceu em
holocausto no lugar de seu filho. A este lugar Abraão deu o
nome de ‘Deus proverá’, de sorte que se diz hoje: ‘Sobre a
montanha, Deus proverá.’ O Anjo de Deus chamou uma segunda
vez a Abraão, do céu, dizendo: ‘Juro por mim mesmo, palavra
de Deus: porque me fizeste isso, porque não me recusaste teu
filho, teu único, eu te cumularei de bênçãos, eu te darei
uma posteridade tão numerosa quanto as estrelas do céu e
quanto a areia que está na praia do mar, e tua posteridade
conquistará a porta de seus inimigos. Por tua posteridade
serão abençoadas todas as nações da terra, porque tu me
obedeceste.’ Abraão voltou aos seus servos e juntos
puseram-se a caminho para Bersabéia. Abraão residiu em
Bersabéia”.
Deus pôs Abraão à prova e lhe disse:
"Abraão! Abraão!" Ele respondeu: "Eis-me aqui!"
Deus disse: “Toma teu filho, teu único, que amas, Isaac,
e vai à terra de Moriá, e lá o oferecerá em holocausto sobre
uma montanha que eu te indicarei” (Gn 22, 2).
Abraão (hebr.
'abraham). Filho de Taré e antepassado dos israelitas.
Com muita probabilidade, o nome é uma variante dialetal do
nome original 'abram, que deve ser identificado com
'abiram.
Isaac (hebr.
yiçhak, "ele ri", ao qual provavelmente, na origem foi
acrescentado um nome divino). Filho de Abraão e de Sara e
pai de Esaú e Jacó.
Moriá (hebr.
moriyyah, significado e etimologia incertos). Nome
geográfico; local do sacrifício de Isaac (Gn 22, 2). As
versões antigas não consideram Moriá como um nome próprio:
em sir., “terra dos amorreus”.
“Deus pôs Abraão à prova...”
(Gn 22, 1).
No livro de Judite diz: “Demos graças ao
Senhor nosso Deus, que nos submete a provações, como fez com
nossos pais. Lembrai-vos de tudo o que Deus fez a ABRAÃO, de
como provou Isaac, de tudo o que aconteceu a Jacó. Assim
como os provou pelo fogo, para lhes experimentar o coração,
assim também ele não se está vingando de nós. É antes para
advertência que o Senhor açoita os que dele se aproximam”
(Jt 8, 25-27).
Deus provou Abraão, pedindo que ele
oferecesse Isaac, SEU ÚNICO filho, em holocausto:
“Não é, pois, estranho, que a tradição judia atribuísse um
certo valor redentor à submissão de Isaac, e que os Santos
Padres viram aí prefigurada a Paixão de Cristo, o Filho
Único do Pai” (EUNSA), e: “A
ordem divina é cortante e, além disso, parece querer ferir o
patriarca no mais íntimo de seu coração ao recordar-lhe que
deve sacrificar a seu filho unigênito, a quem tanto ama. Era
o filho legítimo de sua verdadeira esposa, o único filho que
lhe restava depois da partida de Ismael, sem esperança
humana de ter outro, o filho que devia ser herdeiro de suas
promessas divinas. Não sabemos quais eram os pensamentos
íntimos do patriarca diante desta perspectiva; porém, sem
dúvida, que ele, que sabia que seu filho havia nascido em
condições excepcionais, pensaria que o onipotente Deus
dirigiria o modo de que as promessas se cumprissem”
(Pe. Alberto Colunga), e também: “Um
dia, para provar a fé e obediência de Abraão, Deus o chamou
e lhe disse: Abraão, toma Isaac, teu filho, e oferece-o a
mim em sacrifício sobre o monte que indicarei. Impossível
exprimir a dor de Abraão ao receber esse doloroso
imperativo. Pobre pai, deve matar, com as próprias mãos, o
filho a quem amava mais que a si mesmo” (Pe. Ângelo
Gattesco), e ainda: “Com esta ordem
incomum, Deus não queria propriamente de Abraão a morte de
seu filho Isaac (v. 12), mas a prontidão da vontade para
tamanho sacrifício. Ele pretendia: 1.° Provar a fé
de Abraão, dando-lhe uma ordem aparentemente contrária à
promessa que lhe fizera de numerosa posteridade por meio de
Isaac (21, 22; cf. Hb 11, 17-20); 2.° Provar a sua
obediência e amor a Deus, se estivesse pronto a
sacrificar o que de mais caro possuía no mundo; 3.°
Condenar, com a contra-ordem imprevista do v. 12, os
sacrifícios humanos, muito em voga entre os cananeus”
(PIB), e também: “Perante esta ordem
desconcertante, Abraão ficou estarrecido. Contudo, não teve
qualquer intenção de se queixar ou desobedecer. Deus falara:
ele apenas devia obedecer e esperar contra toda a esperança”
(Pe. Augustin Berthe).
Deus é o Senhor absoluto da vida e da morte;
pode, pois prescrever a morte de justos e injustos; donde
segue que, obedecendo, Abraão não seria homicida, antes
seria merecedor de prêmio.
O Pe. João Colombo escreve: “Abraão
obedeceu a Deus ainda mesmo quando a ordem lhe repugnava à
natureza”.
Assim como Abraão foi provado por Deus, você
também poderá ser provado pelo Senhor. Quando isso
acontecer, imite o exemplo de Abraão: não resista,
nem se impaciente nem desconfie de Nosso Senhor;
mas aceite tudo com fé: “Nós devemos crer em Deus ainda
mesmo quando as suas revelações são incompreensíveis à nossa
razão, e teremos disso um grande prêmio” (Pe. João
Colombo).
É muito fácil oferecer ao Senhor o que sobra
e o que não gostamos. Mostramos-Lhe o nosso amor oferecendo
aquilo que mais Lhe agrada e o que mais custa-nos: “O
Senhor ama os corações fortes e generosos”
(Bem-aventurada Elisabete da Trindade).
Nosso Senhor não pedirá que você TIRE
a VIDA do seu filho, do seu
pai, da sua mãe, dos seus irmãos... mas
sim, pedirá que você “ASSASSINE” a sua
vontade própria, as desobediências, as
impurezas, as rebeldias, a ociosidade,
a inveja, a maledicência, a tibieza...
Quando o Senhor te colocar à prova, atenda-O prontamente.
Lembre-se de que Isaac era filho único de
Abraão, e seu pai o amava muito; mesmo assim, aceitou, por
obediência, oferecê-lo em holocausto.
O Senhor pedirá que você ELIMINE de
sua vida, NÃO ALGO PRECIOSO, mas sim, tudo aquilo que
ATRAPALHA a sua UNIÃO com Ele. Seja dócil ao
Senhor e Ele lhe fará feliz: “... é preciso livrar-se do
gosto de todas as coisas criadas, pois a criatura atormenta
e o espírito de Deus gera alegria” (São João da Cruz,
Subida do Monte Carmelo, Capítulo VII, 4).
Em Gn 22, 3-5 diz: “Abraão se levantou
cedo, selou seu jumento e tomou consigo dois de seus servos
e seu filho Isaac. Ele rachou a lenha do holocausto e se pôs
a caminho para o lugar que Deus havia indicado. No terceiro
dia, Abraão, levantando os olhos, viu de longe o lugar.
Abraão disse a seus servos: ‘Permanecei aqui com o jumento.
Eu e o menino iremos até lá, adoraremos e voltaremos a vós”.
Abraão abaixou a cabeça e não disse uma
palavra áspera.
Por que você resmunga e se revolta quando o
Senhor lhe pede algo que te custa? Com certeza faltam fé e
generosidade em seu coração.
“Abraão se levantou cedo”.
Ele não ficou adiando o sacrifício que Deus lhe havia
pedido, mas se levantou cedo.
Ofereçamos também ao Senhor tudo aquilo que
Ele nos pede, sem jamais ficar adiando, principalmente
quando Ele nos pede algum sacrifício que custa-nos.
A fé, a obediência, a
docilidade e a generosidade de Abraão são totais:
LEVANTOU cedo, SELOU o jumento e RACHOU
a lenha; não devia faltar nada para o holocausto.
Muitos oferecem algo a Deus, "torcendo"
para que surja algum imprevisto. Quanta falta de
generosidade!
O Pe. Alberto Colunga escreve: “Com a
maior naturalidade, o pai aceita a ordem divina, e se dispõe
a oferecer o seu filho em ‘sacrifício’ de holocausto, que
era o mais perfeito e aceitável à divindade, pois nele se
queima toda a vítima. Era por ele a expressão mais completa
do abandono do dom oferecido à divindade, excluindo todo
próprio proveito, como sucederá nos sacrifícios ‘pacíficos’”.
Em Gn 22, 6-8 diz: “Abraão tomou a lenha
do holocausto e a colocou sobre seu filho Isaac, tendo ele
mesmo tomado nas mãos o fogo e o cutelo, e foram-se os dois
juntos. Isaac dirigiu-se a seu pai Abraão e disse: ‘Meu
pai!’ Ele respondeu: ‘Sim, meu filho!’ – ‘Eis o fogo e a
lenha’, retornou ele, ‘mas onde está o cordeiro para o
holocausto?’ Abraão respondeu: ‘É Deus quem proverá o
cordeiro para o holocausto, meu filho’, e foram-se os dois
juntos”.
Não existe nesse trecho nenhuma palavra
áspera ou de desespero proferida por Abraão ou Isaac, nem
mesmo quando o pai colocou a lenha sobre o filho; mas sim,
muita união entre pai e filho: “... foram-se os dois
juntos... Meu pai... Sim, meu filho... meu filho... foram-se
os dois juntos”.
Que as crianças, adolescentes e jovens
aprendam de Isaac a ajudarem, com generosidade e
amor, o pai a carregar a "lenha", isto é, as
dificuldades que surgirem na família.
São muitos os que obedecem a Deus com o
coração fechado, rosto carrancudo e palavras ásperas. Jamais
devemos agir dessa forma, “pois
Deus ama a quem dá com alegria” (2
Cor 9, 7). A ninguém - muito menos a Deus nosso Senhor -
pode ser grata uma esmola ou um serviço feitos de má vontade
e com tristeza: “Se dás o pão
entristecendo-te, perdes o pão e a recompensa”
(Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmos,
42, 8), e: “Pelo contrário, o Senhor entusiasma-se diante
da entrega alegre de quem dá e se dá por amor, com
espontaneidade, e não como quem realiza um favor custoso”
(São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n.° 140).
Orígenes escreve: “Abraão tomou a lenha do
sacrifício e colocou-a sobre os ombros de seu filho Isaac.
Tomou na mão o fogo e o cutelo, e foram juntos. Ora, Isaac,
carregando a lenha para o próprio holocausto, é uma figura
de Cristo carregando sua cruz. No entanto levar a lenha para
o holocausto é ofício de sacerdote. Torna-se então ele mesmo
a vítima e o sacerdote. O que se segue: e foram ambos
juntos refere-se a essa realidade, porque Abraão, como
sacrificador, leva o fogo e o cutelo; mas Isaac não vai
atrás e sim a seu lado, para que se veja que, juntamente com
ele, exerce igual sacerdócio. E depois? Disse Isaac a seu
pai Abraão: Pai! Neste momento, uma palavra assim parece
uma tentação. Como terá abalado o coração paterno esta
palavra do filho que ia ser imolado! Mesmo endurecido pela
fé, Abraão responde com voz branda: Que queres, filho? E
ele: Vejo o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o
holocausto? Abraão respondeu: Deus providenciará uma ovelha
para o holocausto, meu filho. Impressiona-me a resposta
cuidadosa e prudente de Abraão. Não sei o que via em
espírito, pois responde olhando para o futuro e não para o
presente: Deus mesmo providenciará uma ovelha. Assim fala do
futuro ao filho que indaga pelo presente. O Senhor
providenciava para si um cordeiro em Cristo” (Das
Homilias sobre o Gênesis), e: “Isaac, levando às costas a
lenha para o sacrifício do qual devia ser vítima, é uma
figura de Cristo que leva a cruz ao Calvário” (PIB), e
também: “Isaac prefigura à vítima dominical, quando se
oferece para ser imolada por seu pai, mostrando-se paciente”
(São Cipriano, De bono patientiae X), e ainda:
“Com a maior naturalidade, e sem explicação
sobre o estado de ânimo do patriarca, o elohista nos
diz que o patriarca se pôs a caminho, levantando-se de
manhã, o que supõe que a ordem divina foi recebida em
sonhos durante a noite, segundo o costume no estilo
narrativo deste documento. O patriarca, pois, se pôs a
caminho, preparou a lenha, selou o jumento e, acompanhado de
dois servos e de seu filho, que será a vítima, se dirigiu
para o lugar indicado por Deus. Ali chegou ao terceiro
dia... Chegados ao pé do monte, o pai colocou a lenha sobre
os ombros do filho e começou a subir o monte, levando ele o
fogo e o cutelo. Caminhavam juntos pai e filho, este
tranquilo, e o pai com o coração oprimido pela dor. Num
momento, o filho quebra o silêncio, perguntando pela vítima
do sacrifício que vão oferecer, e o pai responde: Deus
proverá. Por delicadeza, o patriarca havia deixado longe
os seus dois servos, para que não fossem testemunhas de tão
terrível cena” (Pe. Alberto
Colunga).
Em Gn 22, 9-14 diz: “Quando chegaram ao
lugar que Deus lhes indicara, Abraão construiu o altar,
dispôs a lenha, depois amarrou seu filho e o colocou sobre o
altar, em cima da lenha. Abraão estendeu a mão e apanhou o
cutelo para imolar seu filho. Mas o anjo de Deus o chamou do
céu e disse: 'Abraão! Abraão! Ele respondeu: ‘Eis-me aqui!’
O Anjo disse: ‘Não estendas a mão contra o menino! Não lhe
faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus: tu não me
recusaste teu filho, teu único’. Abraão ergueu os olhos e
viu um cordeiro, preso pelos chifres num arbusto; Abraão foi
pegar o cordeiro e o ofereceu em holocausto no lugar de seu
filho. A este lugar Abraão deu o nome de ‘Deus proverá’, de
sorte que se diz hoje: ‘Sobre a montanha, Deus prover’”.
Abraão permaneceu tranquilo e dócil depois
que o Anjo do Senhor lhe disse: “Não estendas a mão
contra o menino! Não lhe faças nenhum mal! Agora sei que
temes a Deus”. Nenhuma atitude rebelde ou palavra
grosseira saiu de sua boca.
Muitos são aqueles que blasfemam e se
revoltam contra Deus depois de uma provação. Esses não
"entesouram" para a eternidade.
Orígenes escreve: “Abraão estendeu a
mão para pegar a faca e imolar o filho. O anjo do Senhor
chamou-o do céu, dizendo: Abraão, Abraão. Respondeu ele:
Eis-me aqui. Tornou o anjo: Não toques no menino nem lhe
faças nenhum mal. Agora sei que temes a Deus.
Comparemos estas palavras com as do Apóstolo a respeito de
Deus: Ele não poupou seu Filho, mas entregou-o por todos
nós. Vede Deus rivalizando com os homens em magnífica
generosidade. Abraão, mortal, ofereceu a Deus o filho
mortal, que não morreria então. Deus entregou à morte por
todos o Filho imortal. Olhando Abraão para trás, viu um
carneiro preso pelos chifres entre os espinhos. Dissemos
acima, creio, que Isaac figurava Cristo e, no entanto,
também o carneiro parece figurar Cristo. É muito importante
ver como ambos se relacionam a Cristo: Isaac que não foi
morto e o carneiro que o foi. Cristo é o Verbo de Deus, mas
o Verbo se fez carne. Padece, portanto, Cristo, mas,
na carne; morre enquanto homem do qual o carneiro é figura;
já dizia João: Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados
do mundo. O Verbo, porém, permanece incorrupto, isto é,
Cristo segundo o espírito; a imagem deste é Isaac. Por isto
ele é vítima e também pontífice segundo o espírito. Pois
aquele que oferece a vítima ao Pai, segundo a carne, este
mesmo é oferecido no altar da cruz” (Das Homilias sobre
o Gênesis).
Também naquele carneiro viram alguns Padres
da Igreja uma representação antecipada de Jesus Cristo,
enquanto que, como Cristo, aquele cordeiro foi imolado para
salvar o homem. Neste sentido escreve Santo Ambrósio: “A
quem representa o carneiro, senão àquele de quem está
escrito: ‘Exaltou o vigor de seu povo?’ (Sl, 148, 14) (...)
Cristo: Ele é a quem viu Abraão naquele sacrifício, e sua
paixão o que contemplou. Assim, pois, o mesmo Senhor disse
dele: ‘Abraão quis ver meu dia, o viu e se alegrou’ (cfr. Jo
8, 56). Por isso disse a Escritura: ‘Abraão chamou aquele
lugar, o Senhor proverá’, para que hoje possa dizer: o
Senhor apareceu no monte, é dizer, que se apareceu a Abraão
revelando sua futura paixão em seu corpo, pela que redimiu o
mundo; e mostrando, ao mesmo tempo, o gênero de sua paixão
quando lhe disse ver o cordeiro preso pelos chifres. Aquela
sarça significa o patíbulo da cruz” (De Abraham 1, 8,
77-78).
Em Gn 22, 15-19 diz: “O Anjo de Deus
chamou uma segunda vez a Abraão, do céu, dizendo: ‘Juro por
mim mesmo, palavra de Deus: porque me fizeste isso, porque
não me recusaste teu filho, teu único, eu te cumularei de
bênçãos, eu te darei uma posteridade tão numerosa quanto as
estrelas do céu e quanto a areia que está na praia do mar, e
tua posteridade conquistará a porta de seus inimigos. Por
tua posteridade serão abençoadas todas as nações da terra,
porque tu me obedeceste’. Abraão voltou aos seus servos e
juntos puseram-se a caminho para Bersabéia. Abraão residiu
em Bersabéia”.
Feliz do católico que permanece fiel,
obediente e generoso a Deus durante as
provações. Nosso Senhor prova, mas depois CUMULA de
bênçãos quem perseverou durante a provação: “Deus não
manda nenhum sofrimento sem pagá-lo imediatamente com algum
favor” (Santa Teresa de Jesus, XXXVI, Obras, II, Burgos
1915; Camino de perfeicción, c. 18, Obras, III; Libro de la
vida, c. 11, Obras, I, 77).
Não desanimemos com a escuridão das
"trovoadas" das provações, porque depois o sol brilhará
mais forte: “Saibam todos que
depois da tribulação se seguirá a graça”
(Dos Escritos de Santa Rosa de Lima, Virgem).
O Pe. Alberto Colunga escreve: “Quanto
agradou a Deus esta obediência do pai e do filho, nos mostra
a solenidade com que confirmou suas anteriores promessas
messiânicas: ‘Juro por mim mesmo, palavra de Deus: porque me
fizeste isso, porque não me recusaste teu filho, teu único,
eu te cumularei de bênçãos, eu te darei uma posteridade tão
numerosa quanto as estrelas do céu e quanto a areia que está
na praia do mar...’ É a primeira vez que na Bíblia se
menciona um juramento divino (‘O anjo de Deus’ é
provavelmente acréscimo de um redator preocupado de salvar a
transcendência divina). Em Hb 6, 13 diz que Deus, não
encontrando nada superior a Ele, jurou por si mesmo (sobre
esta fórmula de juramento: Ex 32, 13; Is 45, 23; Jr 22, 5;
Am 6, 8; 4, 2; Jr 44, 26). A numerosa posteridade de Abraão
conquistará a porta de seus inimigos. Submeterá seus
inimigos, cuja força de resistência está nas portas de suas
cidades muradas (cf. Gn 24, 60). ‘Por tua posteridade serão
abençoadas todas as nações da terra, porque tu me
obedeceste’; é dizer, todos os povos se considerarão
abençoados por influência do grande antepassado Abraão”,
e: “Juro-te por mim mesmo: o anjo fala em nome de
Deus, e Deus, ‘não podendo jurar por alguém maior do que Ele
mesmo, jura por si próprio’ (Hb 6, 13). - por não te
recusares, etc.: por teres estado disposto a
sacrificar-me. Possuir as portas de uma cidade
inimiga equivale a dizer: vencer, triunfar
sobre alguém. Julgar-se-ão felizes em participar dos bens
comunicados (a fé e a graça) ou prometidos (o prêmio eterno)
aos teus pósteros, os hebreus. Destarte a bênção dada a
Abraão descerá, propagando-se a todos que lhe imitarem a fé
e a virtude” (PIB).
Cumprida a sua missão: “Abraão voltou aos
seus servos e juntos puseram-se a caminho para Bersabéia.
Abraão residiu em Bersabéia”.
Bersabéia:
(hebr. be 'er sheda ').
Cidade do
Negueb. Literalmente, o nome significa “poço de sete”,
talvez derivando-se do grande número de fontes que se
encontram na região.
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