VIDA DE 
					TRIBULAÇÕES QUE JESUS CRISTO COMEÇOU A LEVAR DESDE SEU 
					NASCIMENTO
					
					(Pe. Divino Antônio Lopes FP.) 
					  
					
					Jesus Cristo podia salvar-nos sem padecer nem 
					morrer; mas não quis. A fim de nos fazer conhecer até que 
					ponto nos amava, quis escolher uma vida toda de tribulações. 
					Por isso, o profeta Isaías o chamou: 
					“Homem das dores”, porque 
					a vida de Jesus Cristo devia ser uma vida toda cheia de 
					dores. A sua Paixão não teve seu princípio no tempo da 
					sua morte, mas sim, no começo da sua vida. 
					
					Nosso Senhor, apenas nascido, é posto na 
					manjedoura de uma estrebaria,
					onde tudo concorria para o atormentar. É atormentado na 
					vista, que não descobre na gruta senão paredes grosseiras e 
					negras. É atormentado no olfato (cheiro), pelo fedor 
					das imundícies dos animais que ali se acham. É atormentado 
					no tato, pelas picadas da palha que lhe servia de cama. 
					Pouco depois de nascido, vê-se obrigado a fugir para o 
					Egito, onde passou vários anos da infância, na pobreza e no 
					desprezo. Nem diferente foi a sua vida depois em Nazaré; a 
					vida pública foi um oceano de sofrimentos...  e eis que 
					finalmente termina a sua vida em Jerusalém, morrendo sobre 
					uma cruz... morte dolorosa; depois de ser traído... noite 
					sem dormir, julgado, flagelado, coroado de espinhos... 
					viagem ao Calvário, zombarias e crucifixão. 
					
					De sorte que a vida de Jesus foi um martírio 
					contínuo, e mesmo um duplo martírio, por ter sempre diante 
					dos olhos todos os sofrimentos que em seguida deviam 
					atormentá-lo até à morte. 
					
					Não foram precisamente as dores futuras que 
					atormentaram Jesus Cristo, visto que de livre vontade 
					aceitara os padecimentos. O que O afligiu foi a 
					previsão dos nossos pecados e da nossa ingratidão depois de 
					tão grande amor seu. 
					
					A natureza humana de Jesus Cristo foi criada 
					expressamente para padecer, e assim desde o berço 
					começou a sofrer as maiores dores que os homens jamais tem 
					sofrido. Para o primeiro homem, Adão, houve um tempo 
					em que gozava as delícias do paraíso terrestre; mas o 
					segundo Adão, Jesus Cristo, não teve sem sequer um instante 
					de vida que não fosse cheio de aflições e agonias. Desde o 
					berço afligiu-O a dolorosa previsão de todas as penas e 
					ignomínias que deveria padecer no correr de sua vida e 
					particularmente na hora de sua morte, quando deveria 
					terminar a vida como que submergido num oceano de dores e de 
					opróbrios. 
					
					Desde o seio de Maria Santíssima, Jesus 
					Cristo aceitou obediente a ordem de seu Pai acerca da sua 
					paixão de morte. De sorte que já antes de nascer previu os 
					açoites e apresentou seu corpo para os receber; previu os 
					espinhos e apresentou-lhe a cabeça; previu as bofetadas e 
					apresentou-lhes a face; previu os cravos e apresentou-lhes 
					as mãos e os pés; previu a cruz e apresentou a sua vida. O 
					nosso Redentor, desde a primeira infância e a cada instante 
					da sua vida, padeceu um contínuo martírio, e a cada instante 
					oferecia esse martírio por nós ao Pai Eterno 
					
					No mesmo instante em que foi criada a alma de 
					Jesus Cristo e unida com seu pequenino corpo no seio de 
					Maria Santíssima, O Pai Eterno manifestou a seu Filho a sua 
					vontade que morresse para a redenção do mundo. No mesmo 
					tempo pôs-Lhe diante dos olhos a vista triste de todos os 
					sofrimentos que deveria sofrer até à morte a fim de remir o 
					gênero humano. Mostrou-Lhe então todos os trabalhos, 
					desprezos e pobreza que deveria suportar em toda a sua vida, 
					tanto em Belém como no Egito e em Nazaré. Mostrou-Lhe em 
					seguida as dores e ignomínias de sua Paixão: os açoites, os 
					espinhos, os cravos e a cruz; todos os desgostos, tristezas, 
					agonias e abandono em que havia de terminar a sua vida no 
					Calvário. 
					
					Toda a vida, portanto, e todos os anos do 
					Redentor foram vida e anos de dores e de lágrimas. O seu 
					divino Coração não teve um instante livre de padecimento. 
					Quer vigiasse, quer dormisse, sempre tinha diante dos olhos 
					aquela triste representação que lhe atormentou mais a 
					santíssima alma do que os santos mártires foram atormentados 
					por todos os seus suplícios. Os mártires padeceram, 
					mas, ajudados com a graça, padeceram com alegria e ardor; 
					Jesus Cristo, ao contrário, padeceu sempre com o Coração 
					cheio de desgosto e tristeza, e aceitou tudo por nosso amor. 
					  
					
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