TODOS RESSUSCITARÃO
(1 Cor 15, 12)
(Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
(resumo)
Ora, se se
prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns
dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos?
I. Justos e pecadores ressuscitarão
Já que formamos um corpo místico com Jesus,
de que Ele é a cabeça, a sua ressurreição leva consigo a
nossa, assim como a nossa exige a d’Ele; pois que não se
pode separar a vida da cabeça da dos membros, nem dar
movimento a estes sem o auxílio daquela:
“Ora, se se
prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns
dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos?”
(1 Cor 15, 12).
A ressurreição dos justos não é só
consequência da do Salvador, mas ser-lhe-á também conforme
(Fl 3, 2-21). “Ressurreição, diz o divino
Mestre, para a vida eterna” (Jo 5, 24-29).
Os seus corpos, como o de Jesus, serão adornados de
quatro qualidades gloriosas:
1. A impassibilidade, que os
isentará do sofrimento, da morte e de qualquer alteração
(Consiste em que o corpo não estará sujeito ao sofrimento
nem à morte).
Em que consiste a impassibilidade?
Santo Tomás de Aquino escreve: No domínio
e senhorio absolutos da alma sobre o corpo, em virtude dos
quais este, sob a tutela daquela, estará isento e livre de
toda debilidade e padecimento.
2. A subtilidade, que
consiste em que poderá penetrar outros corpos, como Cristo
penetrou no Cenáculo depois da Ressurreição.
3. A agilidade, pela qual
poderão locomover-se com a rapidez do relâmpago
(Consiste em que poderá deslocar-se num
momento a lugares muito distantes).
Em que consiste a agilidade?
Santo Tomás de Aquino escreve: Um dote
que consiste em sujeitá-los tão plena e absolutamente aos
impulsos motores da alma, que os obedecerão com uma
prontidão e rapidez maravilhosas.
4. A claridade, que os fará
como outros tantos sóis, cujo brilho não
deslumbrará a vista (Consiste em que estará revestido de
incomparável glória e formosura).
Em que consiste a claridade?
Santo Tomás de Aquino escreve:
Que o resplendor das almas glorificadas
comunicará e infiltrará nos corpos uma claridade que os
tornará luminosos e radiantes como o sol, e transparentes
como o mais puro cristal; apesar disso, a luminosidade não
apagará as cores naturais; pelo contrário, se amoldará às
suas distintas tonalidades para realçá-los, embelezá-los e
comunicar-lhes uma formosura mais divina de que humana.
Todos os corpos possuirão o mesmo grau de
claridade?
Não; porque a claridade dos corpos é o
reflexo da alma, e, portanto, proporcional ao grau de glória
de que esta desfruta. Por isso, querendo São Paulo dar-nos a
entender algo destas verdades sublimes, nos disse que serão
os corpos gloriosos como os astros do firmamento, entre os
quais um é o brilho do sol, outro o da lua e outro o das
estrelas, e ainda umas estrelas diferem das outras em brilho
e claridade (1 Cor 15, 41).
Se isso se dá com o corpo dos justos,
depois da ressurreição, que será das suas almas
bem-aventuradas? Meu Deus! Quem no-lo poderá dizer, senão
Vós? Cada uma delas excederá em brilho e beleza a todos os
corpos gloriosos reunidos, pois que a superioridade da alma
sobre o corpo é de certo modo infinita. Essa verdade deveria
inspirar-nos ardor na prática da mortificação dos sentidos e
da renúncia a nossas más inclinações.
“Os pecadores ressurgirão para o
julgamento”. Bem diferente dos
justos, eles serão disformes,
hediondos e miseráveis nos
corpos e nas almas. Sob o peso de males
incompreensíveis, cumulados de vergonha, tristeza e
remorsos, em vez de voarem nos ares com os eleitos,
arrastar-se-ão penosamente até ao vale, onde a sentença
final acabará mergulhando-os nos opróbrios, tormentos e
desesperos sem fim.
Para os bem-aventurados será um corpo de
glória; para os réus, um corpo para sempre obscurecido.
Diante de Jesus Cristo os condenados sentirão grande
vergonha; também diante dos santos. Os condenados sofrerão
pena eterna em seus corpos usados para o pecado.
II. O que deve ser feito para merecer
a ressurreição gloriosa
Para merecer essa ressurreição, é
preciso evitar o que pode manchar o
corpo e a alma. O nosso
corpo deve reunir-se à alma e partilhar a sua glória: eis
por que foi santificado com ela pelo Batismo, pela
Eucaristia, pela Unção dos Enfermos, pelas
bênçãos da Igreja, jejuns e
abstinências: “Não
sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito Santo
habita em vós? Se alguém violar esse templo, que é o vosso
corpo, o Senhor o destruirá”
(1 Cor 3, 16-17; 6, 15).
Mereceremos ressuscitar para a vida eterna:
recusando as satisfações proibidas,
mortificando-nos e praticando a castidade.
Sábio é o católico que vive nesse mundo
mortificando o seu corpo, carregando a
cruz com alegria e buscando a santidade.
Agora não é tempo de se poupar, de
viver na “poltronice” e de se enveredar por um
caminho fácil; mas sim, é tempo de se consumir por
Deus para conquistar o prêmio eterno, isto é, o céu.
Aquele que busca uma vida fácil não
pode ser chamado de discípulo de Cristo Jesus:
“O cristão que se poupa, que calcula
para dar a Deus o mínimo indispensável, de modo a não lhe
ser traidor, que vive procurando antes fugir da cruz que
carregá-la, antes defender-se que renunciar-se, antes salvar
a própria vida que sacrificá-la, não é discípulo de Cristo.
Se não nos é dado testemunhar nosso amor e nossa fé com o
martírio do sangue, devemos, todavia, testemunhá-los
abraçando com generoso coração todos os deveres que o
seguimento de Cristo impõe, sem recuar perante o sacrifício”
(Pe. Gabriel de Santa Maria
Madalena).
As nossas almas são as esposas do Deus de
santidade. Criadas à sua imagem e semelhança, resgatadas
pelo sangue de Jesus, são destinadas a contemplar, depois
desta vida, a própria divindade, a
amá-la e possuí-la para sempre. Um fim tão
sublime exige de nós conduta irrepreensível. Senhor, vós
dissestes: “Os pecadores não
ressuscitarão para a glória”
(Sl 1, 5).
Tal ventura reclama o fervor e a
constância no bem. Não basta
começar, é preciso perseverar até à morte na piedade sólida,
isto é, na piedade que nos ensina a separar-nos de nós
mesmos e a unir-nos a Deus. Para isso: 1. Meditemos e
rezemos não só na abundância do fervor, mas também na aridez
da alma. 2. Mortifiquemos os olhos, a língua e o paladar,
combatamos o mau humor, o caráter, os maus hábitos, de sorte
a nos tornarmos tudo para todos, mansos com os temperamentos
difíceis, caridosos para os que nos contrariam, bons e
pacientes para com os que nos afligem. Numa palavra, fujamos
do mal e façamos o bem até ao derradeiro suspiro; assim
teremos parte na ressurreição gloriosa do nosso amante
Redentor.
Para
ressuscitarmos gloriosamente,
precisamos perseverar no caminho
estreito e carregar as cruzes com
paciência: “Ó Cristo
Crucificado, vós me bastais, convosco quero sofrer e
repousar... Fazei que, crucificado convosco interior e
exteriormente, viva neste mundo com grande satisfação de
minha alma, possuindo-a na paciência. Ensinai-me a muitos
amar o padecimento e a considerá-los bem pouca coisa para
cair em vossas graças, ó Senhor, que não hesitastes em
morrer por mim”
(São João da Cruz).
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