A inveja
(Pe. Divino Antônio Lopes FP.)
I Ponto
Que é a
inveja?
É o vício pelo qual o homem experimenta
tristeza profunda em face do bem alheio, acompanhada do
desejo de que esse bem seja destruído.
Está claro que o invejoso é amigo do demônio.
Ele nunca se contenta com o que possui ou recebe, e fica
revoltado com os benefícios, elogios ou felicidade de
qualquer tipo atribuídos à outra pessoa.
II Ponto
Demônio: o
primeiro a sentir inveja
O Pe. João Colombo escreve:
“O demônio foi o primeiro a sentir inveja”. Das chamas do
inferno, ele contemplou os nossos primeiros pais Adão e Eva,
felicíssimos no jardim das delícias, e, não podendo gozar da
alegria deles, quis que eles sofressem do seu tormento.
Transformou-se em serpente e fez Eva comer o fruto da
perdição: “Foi pela inveja do
diabo que a morte entrou no mundo, mas desde esse dia todos
os invejosos não fazem senão imitá-lo” (Sb
2, 24).
O invejoso imita ao demônio:
“A inveja assemelha o homem a
Satanás” (Frei Pedro Sinzig).
III Ponto
A Bíblia
fala sobre algumas pessoas que imitaram o demônio
A) Quem imitou o
demônio na família de Adão? Foi Caim. Ele tinha inveja de
seu irmão Abel. Abel cuidava das ovelhas e Caim cultivava a
terra: “Passado o tempo, Caim
apresentou produtos do solo em oferenda a Deus; Abel, por
sua vez, também ofereceu as primícias e a gordura de seu
rebanho. Ora, Deus agradou-se de Abel e de sua oferenda. Mas
não se agradou de Caim e de sua oferenda, e Caim ficou muito
irritado e com o rosto abatido” (Gn 4, 3-5).
E Caim, cheio de inveja e irritado disse para Abel:
“Vamos ao campo” (Gn
4, 8), e no mesmo capítulo e versículo diz:
“E, como estavam no campo, Caim se
lançou sobre seu irmão Abel e o matou”.
O Bem-aventurado
José Allamano diz:
“A inveja matou Abel: de fato, Caim o matou porque viu que
os sacrifícios do irmão eram preferidos por Deus”.
O invejoso é capaz
de cometer loucuras:
“Deus te salve do
invejoso”
(Pe. Orlando Gambi).
B)
Quem imitou o demônio na família de Jacó? Foram os onze
irmãos que o imitaram. Os onze irmãos, vendo como seu velho
pai, Jacó, amava José mais do que a todos os seus outros
filhos, começaram a odiar seu irmão e não mais lhe falavam
com amor... E, um dia, apenas o viram chegar ao campo,
disseram uns aos outros:
“Eis que chega o tal
sonhador! Vinde, matemo-lo, joguemo-lo numa cisterna
qualquer; diremos que um animal feroz o devorou. Veremos o
que acontecerá com seus sonhos!”
(Gn 37, 19-20).
Santo Agostinho via na inveja o
“pecado diabólico por excelência”.
No livro do Gênesis 26, 12-15 fala sobre a
inveja dos Filisteus contra Isaac:
“Isaac semeou naquela terra e
naquele ano colheu o cêntuplo. Deus o abençoou e o homem se
enriqueceu, enriqueceu-se cada vez mais, até tornar-se
extremamente rico. Ele tinha rebanhos de bois e ovelhas e
numerosos servos. Por causa disso os Filisteus ficaram
cheios de inveja. Todos os poços que os servos de seu pai
haviam cavado, do tempo de seu pai Abraão, os Filisteus os
haviam entulhado e coberto de terra”.
A inveja do rei
Saul contra o jovenzinho Davi foi monstruosa.
Saul sempre fora
um rei forte e vencedor; mas eis que um dia, dos campos em
que apascentava o seu rebanho, chega Davi. Este também,
forte e vencedor. Depois do jovenzinho Davi ter matado o
Filisteu, o gigante Golias, as mulheres fizeram festa,
vinham de todas as cidades de Israel para cantar na
presença do rei Saul. Elas cantavam dizendo:
“Saul matou mil,
mas Davi matou dez mil”
(1 Sm 18, 7).
O rei Saul escuta
o cântico e sente inveja. Desde aquele dia ele não pode mais
ver Davi senão com olhos maus. Em 1 Sm 18, 8-9 diz:
“Então
Saul se indignou e ficou muito irritado e disse: ‘A Davi
deram dez mil, mas a mim só mil: que mais lhe falta senão a
realeza?, desse dia em diante, Saul sentiu inveja de Davi”.
Saul ouviu o
cântico e tornou-se intratável, insaciável, triste até ficar
louco. Em 1 Sm 18, 10 diz:
“... Saul começou a
delirar no meio da casa”.
A inveja de Saul contra Davi era tão grande, que o mesmo
tentou matar Davi por várias vezes.
Em 1 Sm 18, 10-11
diz:
“Davi tocava a lira como nos outros dias, e
Saul estava com a lança na mão. Saul atirou a lança e disse:
‘Encravarei Davi na parede!’, mas Davi lhe escapou duas
vezes”.
Em 1 Sm 18, 29
diz:
“Então Saul teve mais medo ainda de Davi, e
todos os dias, alimentava a hostilidade (guerra e
combate) que tinha contra ele”.
Em 1 Sm 19, 1 diz:
“Saul comunicou a seu filho Jônatas e a todos os seus
oficiais a sua intenção de levar Davi à morte”;
em 1 Sm 19, 10 diz:
“Saul procurou
transpassar Davi contra a parede, mas Davi se desviou e a
lança se encravou na parede. Então Davi fugiu e escapou”.
É preciso tomar
cuidado com o invejoso, porque ele é capaz de cometer
loucuras:
“A inveja não é um mistério, mas o invejoso
sempre é misterioso. O invejoso encontra um jeito de
disfarçar sua inveja, mas nunca consegue escondê-la”
(Pe. Orlando Gambi).
Quem sabe você
sofre a mesma perseguição que Abel, José, Isaac e Davi?
Existe também
inveja entre os religiosos:
“Nas comunidades, as
faltas mais frequentes são contra a caridade, depois as da
inveja”;
e o mesmo Bem-aventurado acrescenta:
“A inveja não é
apenas um vício das mulheres, mas também dos homens, dos
jovens e velhos. É, além disso, muito comum entre os
religiosos” (Bem-aventurado José Allamano).
Lembre-se também
de que Jesus Cristo foi entregue por inveja:
“Ele (Pilatos)
sabia, com efeito, que eles o haviam entregue por inveja”
(Mt 27, 18).
Os príncipes dos
sacerdotes e os anciãos tinham visto como a multidão ia
atrás de Jesus Cristo. Esta situação enchia-os de inveja que
se convertera gradualmente em ódio de morte, como está em
João 11, 47-48:
“Então, os chefes dos sacerdotes e os
fariseus reuniram o conselho e disseram: ‘Que faremos?’ Esse
homem realiza muitos sinais. Se o deixarmos assim, todos
crerão nele e os romanos virão, destruindo o nosso lugar
santo e a nação”.
IV Ponto
Quatro
sinais para conhecer o invejoso
Quatro sinais para saber se uma pessoa é
invejosa:
1.º Alegrar-se
com o mal alheio.
O invejoso se alegra com a desgraça do
próximo.
São João Crisóstomo escreve:
“Os invejosos são piores que o
diabo, pois o diabo não inveja os outros diabos, ao passo
que os homens não respeitam sequer os participantes da sua
própria natureza”.
2.º Entristecer-se com o bem alheio.
O invejoso não consegue se controlar diante
do sucesso do próximo, fica inquieto e se transforma num
“monstro”: enruga a testa, cerra os dentes,
torce o nariz, fica com o semblante azedo e com os olhos
fixos no chão: “A inveja
quando não destrói o invejado, tira a paz do invejoso”
(Pe. Orlando Gambi).
3.º Reprimir os
louvores dados aos outros.
O invejoso não suporta ouvir uma pessoa ser
elogiada; logo diz algo contra ela e cobre-a de defeitos:
“Aos olhos do invejoso qualquer
defeito dos outros é grande!” (Pe. Orlando
Gambi), e o mesmo sacerdote diz:
“O invejoso também vê o bem, mas
sempre com maus olhos”.
Até das pessoas santas o invejoso tenta tirar
alguma coisa, não podendo negar o louvor aos santos, ele o
faz com avareza e reserva.
4.º
Falar mal do próximo.
A língua do invejoso se assemelha a uma
metralhadora incontrolável; ele fala mal do próximo
publicamente e também em segredo. Ele costuma aumentar e
inventar os defeitos do próximo.
São Gregório Magno escreve:
“Da inveja nascem o ódio, a maledicência e a calúnia”.
O Catecismo da Igreja Católica, n.º 2538,
diz: “A inveja pode levar às
piores ações”.
A inveja, plenamente consentida, é pecado
mortal, porque é diretamente oposta à virtude da caridade
que exige que nos regozijemos com o bem dos outros. Quanto
mais importante é o bem que se inveja, tanto mais grave é o
pecado. Ter inveja dos bens espirituais do próximo,
entristecer-se dos seus progressos e dos seus triunfos
apostólicos é pecado gravíssimo; mas é evidente que quando
os movimentos da inveja não passam de impressões, de
sentimentos irrefletidos, o pecado ou não existe ou, ao
máximo, é pecado venial.
V Ponto
Remédios
para combater a inveja
1º Remédio: Oração:
“O primeiro
remédio é sempre a oração: pedir a Nosso Senhor que nos faça
conhecer que somos invejosos e nos dê a graça de vencer-nos”
(Bem-aventurado José
Allamano).
2º Remédio:
“Avaliar as coisas mundanas pelo que
valem” (São Basílio
Magno).
As coisas mundanas não dão a verdadeira
felicidade: são porventura felizes os ricos? São acaso mais
contentes do que nós as pessoas honradas pelo mundo? É
importante lembrar de que as coisas mundanas não são
eternas; e que na hora da morte, nenhuma soma de dinheiro
vai nos alongar a vida nem por um minuto.
3º Remédio:
“Devemos examinar-nos sobre a inveja, especialmente na
confissão, arrependendo-nos e fazendo o propósito de usar os
meios práticos para nos emendar”
(Bem-aventurado José
Allamano).
O exame de consciência sobre a inveja deve ser sincero e
rigoroso, somente assim emendaremos de vida; porque alguns
sentem preguiça de aprofundar no exame de consciência com
medo de se conhecer e ter que se corrigir.
4º Remédio:
“Considerar a inutilidade da inveja”
(São Bernardo de
Claraval).
É uma tolice
invejar o próximo. Quem tem, tem, e não lhe podemos tirar.
Assim como a ferrugem consome o ferro, assim também a inveja
não faz outra coisa senão roer o invejoso. A inveja é como
um caruncho, uma serra... é como uma víbora na alma do
invejoso.
5º Remédio:
“Considerar os prejuízos que a inveja causa à alma e ao
corpo”
(Bem-aventurado José
Allamano).
A inveja é uma
tristeza, uma melancolia e uma espécie de doença do coração:
“A
inveja não traz nenhum proveito à alma ou ao corpo, mas
muitos prejuízos”
(São Bernardo de Claraval),
e:
“O mundo está repleto de mártires, mas nem todos por causa
da fé; a maioria o são por causa da inveja”
(Pe. Bruno).
6º Remédio:
“Alegrar-nos com o bem que Deus concedeu a outros como se
fosse nosso” (Bem-aventurado José Allamano).
Se não somos
capazes de fazer o bem, devemos ao menos alegrar-nos de que
haja alguém capaz de suprir as nossas imperfeições e de
atrair as bênçãos de Deus.
7º Remédio:
“É
preciso desejar e pedir para os outros o bem que desejamos
para nós, e mais copioso ainda”
(São Bernardo de Claraval).
Precisamos, com alegria, repartir as nossas idéias com os
outros, nossas qualidades e dons, sem inveja e sem engano:
“Eu
estudei lealmente e reparto sem inveja”
(Sl 7, 13).
São João Maria
Vianney escreve:
“Não creio que exista um pecado pior e mais
terrível do que o da inveja, porque é um pecado oculto e
muitas vezes encoberto por um belo traje de virtude e de
amizade... uma serpente coberta por algumas folhas que vos
picará sem que vos apercebais disso”.
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