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					Parábola dos talentos 
					(Mt 25, 14-30) 
					
					(Palestra elaborada pelo Pe. Divino 
					Antônio Lopes FP. em 13 de novembro de 2008) 
					  
					
					
					“14 
		Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus 
		próprios servos e entregou-lhes os seus bens. 
		15 
		A um deu cinco talentos, a outro 
		dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. 
		Imediatamente, 16 o que recebera 
		cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. 
		17 
		Da mesma maneira, o que recebera 
		dois ganhou outros dois. 
					18 
		Mas aquele que recebera um só tomou-o e foi abrir uma cova no chão. E 
		enterrou o dinheiro do seu senhor. 
		19 
		Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a 
		ajustar contas com eles. 
					20 
		Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, 
		dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros 
		cinco que ganhei’. 
					21 
		Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste 
		fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’
		22 
		Chegando também o dos dois talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste 
		dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei’. 
		23 
		Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste 
		fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’
		24 
		Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia 
		que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não 
		espalhaste. 25 
		Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que 
		é teu’. 26 
		A isso respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu 
		colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? 
		27 
		Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao 
		voltar, eu receberia com juros o que é meu. 
		28 
		Tirai-lhe o talento que tem e 
		dai-o àquele que tem dez, 
					29 
		porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele 
		que não tem, até o que tem será tirado. 30 
		Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e 
		ranger de dentes!” 
        
					  
      
		Em Mt 25, 14 diz: 
		“Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os 
		seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens”. 
		  
		
		São João Crisóstomo 
		escreve:
		“Esta parábola se apresenta contra aqueles que 
		não só com dinheiro, nem ainda com palavras, nem de nenhum outro modo 
		querem ser úteis ao próximo. Por isso disse: ‘Assim, pois, como um homem 
		que foi para muito longe” (Homiliae 
		in Matthaeum, hom. 78, 2), e:
		“Este homem 
		que caminha para longe é nosso Redentor que subiu ao céu, com aquela 
		carne que havia tomado, a qual tem seu lugar próprio na terra, e é 
		levada como em peregrinação, quando é colocada no céu por nosso 
		Redentor” 
		(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 
		9, 1). 
		  
		
		Edições Theologica comenta 
		Mt 25, 14-30. 
		
		O talento não era propriamente 
		uma moeda, mas uma unidade contável que equivalia aproximadamente a uns 
		cinquenta quilos de prata. 
		
		Nesta parábola, o Senhor 
		ensina-nos principalmente a necessidade de corresponder à graça de uma 
		maneira esforçada, exigente e constante durante toda a vida. Importa 
		fazer render todos os dons de natureza e de graça recebidos do Senhor. O 
		importante não é o número, mas a generosidade para os fazer frutificar. 
		
		A vocação cristã não se pode 
		esconder, nem esterilizar; deve ser comunicativa, apostólica e 
		entregada. 
		
		São Josemaría Escrivá escreve:
		“Não percas a 
		tua eficácia; pelo contrário, aniquila o teu egoísmo. A tua vida para 
		ti? A tua vida para Deus, para o bem de todos os homens, por amor ao 
		Senhor. Desenterra esse talento! Torna-o produtivo”
		(Amigos de Deus, n° 47). 
		
		A um fiel cristão correto não 
		pode passar despercebido o fato de que Jesus tenha querido explicar a 
		doutrina da correspondência à graça, servindo-se como figura do trabalho 
		profissional dos homens. Não é isto recordar-nos que a vocação cristã se 
		dá no meio das ocupações ordinárias da vida? 
		“Há uma única vida, feita de 
		carne e espírito, e essa é que tem de ser – na alma e no corpo – santa e 
		cheia de Deus, deste Deus invisível, que nós encontramos nas coisas mais 
		visíveis e materiais. Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos 
		encontrar o Senhor na nossa vida corrente, ou nunca O encontraremos”
		(Idem., Temas Atuais do Cristianismo, n° 114). 
		  
		
		Dom Duarte Leopoldo comenta 
		sobre essa parábola. 
		
		Jesus é o homem que parte para 
		uma viagem, isto é, para o céu, deixando a todos e a cada um de nós, 
		conforme a vocação de cada um, certo número de graças de cujo emprego 
		dependerá a nossa salvação. 
		  
		
		Em Mt 25, 15-18 diz: 
		“A um deu cinco 
		talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua 
		capacidade. E partiu. Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu 
		a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma maneira, o que 
		recebera dois ganhou outros dois. Mas aquele que recebera um só tomou-o 
		e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor”. 
		  
		
		São Jerônimo escreve:
		“Convocados, pois, os 
		apóstolos, lhes entregam a doutrina evangélica; distribuindo-a, dando a 
		uns mais e a outros menos; porém, não segundo sua generosidade ou 
		mesquinhez, senão segundo a capacidade e força de cada um dos que a 
		recebiam. Assim como disse o Apóstolo, que os que não podiam digerir um 
		alimento sólido, os alimentava com leite. Daqui segue: ‘E a um deu cinco 
		talentos e a outro…’ Nos cinco, nos dois e no único talento, entendemos 
		que a cada um foram dadas diversas graças”, 
		e: “Ou de outro 
		modo: os cinco talentos denotam os dons dos cinco talentos, ou seja, a 
		ciência das coisas exteriores; entretanto que os dois talentos 
		significam a inteligência e o realizar; e um talento indica tão só o dom 
		da inteligência. Segue: ‘E partir em seguida”
		(São Gregório Magno, Homiliae in 
		Evangelia, 9, 1), e 
		também: “Não 
		mudando de lugar, mas deixando-os em liberdade para realizar a seu 
		arbítrio. Segue: Foi, pois, o que havia recebido cinco talentos e 
		conseguiu outros cinco” 
		(Glosa), e ainda:
		“O servo, aquele que recebeu cinco talentos, é o 
		povo crente que vindo da lei, partindo dela duplicou seu mérito 
		cumprindo a obra da fé evangélica. Segue: ‘Igualmente o que havia 
		recebido dois talentos aumentou outros dois” 
		(Santo Hilário, In Matthaeum, 27), 
		e: 
		“Aquele servo a quem foi confiado dois talentos é o povo 
		gentil justificado pela fé e pela confissão do Filho e do Pai; isto é, 
		pela confissão de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e homem de espírito e 
		carne. Estes são os dois talentos que lhe foram confiados”
		(Idem., In Matthaeum, 27), 
		e também: 
		“Esconder na terra o talento, é 
		empregar o talento em assuntos terrenos”
		(São Gregório Magno, Homiliae in 
		Evangelia, 9, 1), e 
		ainda: 
		“Quando alguém tem a habilidade 
		para ensinar em proveito das almas, mas oculta este valor, ainda que no 
		trato manifeste certa religiosidade, não duvide em dizer que esse tal 
		recebeu um talento e ele mesmo o enterrou”
		(Orígenes, In Matthaeum, 33), 
		e: 
		“Este servo que recebeu um 
		talento e o escondeu na terra, é o povo que persiste na lei judia, que 
		por inveja e por não querer salvar as nações, escondeu na terra o 
		talento recebido” 
		(Santo Hilário, In Matthaeum, 27). 
		  
		
		O Pe. Gabriel de Santa 
		Maria Madalena comenta a parábola dos talentos. 
		
		Narrando a parábola dos 
		talentos, o Evangelho (Mt 25, 14-30) fala justamente do servo fiel que 
		não desperdiça a vida em passatempos ou ociosidade, mas negocia com amor 
		inteligente os dons recebidos de Deus. 
		
		Deus distribui seus talentos a 
		todos os homens: o dom da vida, a capacidade de compreender e querer, de 
		amar e agir. A graça, a caridade, as virtudes infusas, a vocação 
		pessoal. Não pratica injustiça ao distribuir, em medidas diversas, seus 
		dons, já que dá a cada um o suficiente para a salvação. O importante não 
		é receber muito ou pouco, e, sim, negociar com diligência o dom 
		recebido. É falsa humildade não reconhecer os dons de Deus. 
		Pusilanimidade e preguiça é deixá-los inativos. Assim fez o servo mau 
		que enterrou o talento recebido e foi duramente reprovado pelo patrão. 
		  
		
		O Pe. Manuel de Tuya 
		comenta esse trecho. 
		
		1. O senhor que viaja e que 
		voltará é Jesus Cristo. 
		
		2. Esta ausência será longa –
		“muito tempo” – e terá retorno: é Jesus Cristo em sua parusia 
		final. 
		
		3. Os bens que confia a seus 
		servos são os valores religiosos que são dados aos homens (Ef 4, 7. 13. 
		16). 
		
		4. O repartir talentos, 
		quantidade excessiva, pode indicar a generosidade dos dons celestiais. 
		  
		
		Em Mt 25, 19-30 diz: 
		“Depois de muito 
		tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com 
		eles. Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros 
		cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão 
		outros cinco que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e 
		fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem 
		alegrar-te com o teu senhor!’ Chegando também o dos dois talentos, 
		disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois 
		talentos que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! 
		Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com 
		o teu senhor!’ Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: 
		‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e 
		ajuntas onde não espalhaste. Assim, amedrontado, fui enterrar o teu 
		talento no chão. Aqui tens o que é teu’. A isso respondeu-lhe o senhor: 
		‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que 
		ajunto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado o meu 
		dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é 
		meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a 
		todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não 
		tem, até o que tem será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o fora 
		nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!” 
		  
		
		Orígenes escreve: 
		“Observa nesta passagem que não são os servos que aproximam do Senhor 
		para serem julgados, mas que é o Senhor quem vem a eles no devido tempo. 
		Por isso disse: ‘Depois de muito tempo”
		(In Matthaeum, 33), e: 
		“Nota que o Senhor não exige imediatamente a conta, para que admire sua 
		longanimidade” (São João 
		Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 78, 2), e também:
		“Disse, pois: 
		passado muito tempo, porque longo é o tempo entre a ascensão do Salvador 
		e sua segunda vinda” (São 
		Jerônimo), e ainda: 
		“Esta passagem do Evangelho chama nossa atenção, porque aqueles que 
		neste mundo receberam mais que os outros hão de sofrer um juízo severo 
		ante o autor do mundo. Porque na proporção que se aumentam os dons, 
		cresce a obrigação da conta”
		(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 9, 1), 
		e: “A confiança 
		deu valor àquele que havia recebido cinco talentos para se aproximar 
		primeiro do Senhor: ‘E aproximando o que havia recebido cinco talentos”
		(Orígenes, In Matthaeum, 33), e também: 
		“O servo que multiplicou os talentos é elogiado pelo Senhor e levado à 
		eterna recompensa. Por isso acrescenta: ‘Disse o Senhor’: alegra-te”
		(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 9, 2), 
		e ainda: 
		“Alegra-te, é uma interjeição, pela qual o Senhor indica seu gozo, que 
		convida à eterna felicidade ao servo que trabalhou bem; pelo qual disse 
		o Profeta, ‘nos inundará o gozo de tua presença’ (Sl 15, 11)” 
		(Rábano), e: 
		“Servo bom, porque se refere à caridade com o próximo; e fiel, porque 
		não se apropriou de nada que pertencia a seu Senhor” 
		(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, 
		hom. 78, 2), e também: 
		“Foste fiel no pouco, porque tudo o que temos no presente, ainda que 
		pareça grande e abundante, entretanto, é pouca coisa em comparação com 
		os bens futuros” (São 
		Jerônimo), e ainda: 
		“Então o servo fiel será posto sobre o muito; porque livre de toda 
		corrupção, gozará no céu de eterno gozo. Então entrará no perfeito gozo 
		de seu Senhor, quando arrebatado àquela eterna pátria, e reunido aos 
		coros dos anjos”
		(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 9, 2), 
		e: “Que maior 
		prêmio pode dar ao servo fiel que estar e desfrutar no gozo de seu 
		Senhor?” (São Jerônimo), 
		e também: “Esta 
		é a expressão de toda bem-aventurança” 
		(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, 
		hom. 78, 3), e ainda: 
		“Este será nosso gozo pleno, que maior não pode haver; gozar de Deus na 
		Trindade, a cuja imagem fomos feitos”
		(Santo Agostinho, De Trinitate, 1, 8), 
		e: “O Pai de família 
		felicita com o mesmo louvor aos dois servos, ao que havia dobrado em dez 
		os cinco talentos, e ao que de dois fez quatro: ambos, pois, recebem 
		igual prêmio, não por consideração da grandeza do lucro, mas pela 
		solicitude de sua vontade. Segue: ‘Aproximou o que havia recebido dois 
		talentos” (São Jerônimo), 
		e também: “No 
		qual disse que, aproximando um que havia recebido cinco, e o outro dois, 
		entende por acesso a passagem deste mundo ao outro, e nota que são as 
		mesmas palavras que dirige aos dois, para que não creia que aquele que 
		recebeu menos e que empregou tudo o que havia recebido, havia de merecer 
		de Deus menos prêmio que o outro que teve maiores meios. O único que se 
		busca é que o homem empregue na glória de Deus tudo quanto d’Ele 
		recebeu”
		(Orígenes, In Matthaeum, 33), e ainda: 
		“O servo que não quis negociar com o talento, o devolveu ao Senhor com 
		desculpas: ‘Acercando-se, pois”
		(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 9, 3), 
		e: “Isto sucede 
		a este servo, acrescentando o pecado de soberba aos de preguiça e 
		negligência” (São Jerônimo), 
		e também: “Pelo 
		que esse servo se atreveu a dizer: ‘Colhe onde não semeaste’, entendemos 
		que o Senhor aceita as virtudes, ainda dos gentios e filósofos” 
		(Idem.), e ainda: 
		“Muitos na Igreja se parecem com esse servo, que temendo entrar no 
		caminho de uma vida melhor, não se atrevem a sacudir a preguiça de seu 
		corpo”
		(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 9, 3), 
		e: “Também se 
		entende por este servo o povo judeu preso à sua lei. Alega como pretexto 
		de seu afastamento da lei evangélica, o medo, e diz: aqui está o que é 
		teu, ou como se houvesse observado tudo aquilo que foi mandado pelo 
		Senhor”
		(Santo Hilário, In Matthaeum, 27), e também: 
		“Respondendo, disse seu Senhor: ‘Servo mal’. O chama servo mal, porque 
		caluniou ao Senhor; preguiçoso, porque não quis multiplicar o talento, e 
		o condenou tanto pela soberba como pela preguiça” 
		(São Jerônimo), e ainda: 
		“Ouçamos a sentença que o Senhor proferirá contra o servo preguiçoso: 
		‘Tirai o talento que lhe foi dado e dai àquele que tem dez talentos”
		(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 9, 4), 
		e: “Pode o 
		Senhor, certamente, em força de seu divino poder tirar a suficiência ao 
		preguiçoso que abusa dela, e dá-la àquele que a multiplicará”
		(Orígenes, In Matthaeum, 33), e também: 
		“Se dá o talento àquele que havia negociado outros dez talentos, para 
		que entendamos quão grande é o gozo do Senhor no trabalho de um e outro; 
		a saber, aquele que duplicou os dois e os que duplicou os cinco, 
		entretanto, mereceu maior prêmio o que mais trabalhou em favor de seu 
		Senhor” (São Jerônimo), 
		e ainda: 
		“Geralmente se cita alguma vez a sentença: ‘A todo o que tem se lhe 
		dará’, etc. Quem, pois, tem caridade, recebe, além disso, outros dons; 
		assim como o que não tem, ainda o que não recebeu, o perderá”
		(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 9, 6), 
		e: “O que 
		possui o dom da pregação e da doutrina para ser útil, perde esses dons 
		se não usa deles; porém os que os cultivam, atrai outros maiores”
		(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 78, 3), 
		e também: “O 
		servo mal não só é castigado com o dano, mas também com a pena 
		intolerável e a acusação e denúncia. Por isso segue: ‘Jogue o servo 
		inútil nas trevas exteriores”
		(Idem.), e ainda: 
		“Isto é, onde não há nenhuma luz, nem sequer corporal, nem há visão de 
		Deus, senão como pecadores indignos da presença divina, são condenados 
		para expiação às que se chamam trevas exteriores”
		(Orígenes, In Matthaeum, 33), e: 
		“Adverte que não somente é castigado com a última pena o que rouba o 
		alheio e realiza o mal, mas também o que não praticou o bem”
		(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 78, 3). 
		  
		
		O Pe. Gabriel de Santa 
		Maria Madalena comenta esse trecho da parábola dos talentos. 
		
		Deus exige na proporção do que 
		deu. E o que deu há de ser usado a serviço de Deus e dos irmãos. Aliás, 
		a quem mais deu, mais pedirá. Por conseguinte, na prestação de contas, 
		cada um será tratado conforme as próprias obras. Castigo tremendo para o 
		servo mau; louvor e prêmio para os fiéis. Recebem estes, recompensa 
		imediatamente superior aos méritos! Às palavras: “Porque foste fiel 
		no pouco, dar-te-ei poder sobre muito”, que exprimem a recompensa à 
		fidelidade de cada um, acrescentou Deus: “Entra na alegria do teu 
		Senhor”. Eis o prêmio da liberalidade de Deus! Admite os servos 
		fiéis à comunhão de sua vida e felicidade eternas! Tal recompensa, 
		embora exigindo a diligência do homem, é sempre infinitamente superior a 
		seus méritos. 
		  
		
		Dom Duarte Leopoldo comenta 
		sobre esse trecho. 
		
		O primeiro servo ganhou cinco 
		talentos a mais, o que era uma soma considerável. Entretanto, diz-lhe o 
		senhor: “Foi fiel no pouco”, porque nossas obras, por maiores que 
		pareçam, são sempre pequenas aos olhos de Deus. O outro servo que só 
		lucrou dois talentos, recebe os mesmos elogios e a mesma recompensa, 
		porque trabalhou tanto quanto o primeiro. 
		
		Entra na alegria do teu 
		senhor – A 
		alegria entra em nós, diz Santo Agostinho, quando é medíocre. Nós 
		entramos na alegria, quando ela excede a capacidade da nossa alma, 
		quando transborda e nos absorve por completo; é a felicidade perfeita 
		dos bem-aventurados. 
		
		Este servo mau e preguiçoso 
		tem, entretanto, uma boa qualidade: é honesto. Ele não defraudou o seu 
		senhor, antes lhe restituiu, integralmente, todo o dinheiro recebido. O 
		seu crime foi a preguiça, quando o dever lhe impunha a obrigação 
		de fazer frutificar o talento que lhe fora confiado. Assim, pois, 
		ninguém se esqueça de que não lhe basta evitar o pecado, mas é ainda 
		preciso praticar a virtude. 
		
		Quantos no dia do Juízo, dirão 
		ao Senhor: “Eu não matei, não roubei. Não quero mal a ninguém, não 
		murmuro da vida alheia; rezo quando posso e dou esmola quando tenho!” 
		– “Servo mau e preguiçoso! Não pecaste, dizes 
		tu; mas onde estão as tuas virtudes? Qual o fruto que recolheste das 
		minhas graças? Não cumpriste o teu dever; por isso não tens direito à 
		alegria da minha glória!” 
		
		Dir-se-ia que a graça está 
		neste mundo em movimento perpétuo. Quando não acha abrigo num coração, 
		passa além e vai beneficiar a outro. 
		
		Rigorosamente falando, nenhuma 
		graça se perde no mundo, porque cada benefício que recebemos é uma gota 
		do sangue preciosíssimo do Salvador que não se pode perder. Deste modo, 
		recebem os bons os que recusaram os maus. 
		
		Ao preguiçoso, diz o texto, 
		será tirado ainda o que parece ter. Toda alma estéril parece 
		ainda virtuosa, quando considerada por um certo lado. Conserva muitas 
		vezes algum sentimento religioso, pratica um ou outro dever de religião, 
		é talvez caridosa para com os pobres, tem um coração sensível; mas é 
		como uma cisterna que não conserva as águas do céu. Preguiçosa no 
		cumprimento do dever, as suas virtudes não lhe aproveitarão, porque são 
		incompletas. 
		
		Parece que foi Nosso Senhor 
		quem primeiro empregou a palavra talento em sentido figurado. 
		Diz-se de um homem que tem talento, mas não se diz que esta ou 
		aquela alma tem talento, mas virtude. E assim é, porque a
		virtude é o fruto da graça. 
		  
		
		O Pe. Manuel de Tuya 
		comenta esse trecho. 
		
		1.O senhor que volta, julga, 
		dá prêmios e castigos é Jesus Cristo, Juiz do mundo, em sua parusia. 
		
		2. O prêmio de “entrar no 
		gozo de teu senhor” é o prêmio da felicidade eterna, cuja descrição 
		alude ao gozo de participar no banquete messiânico celestial (Mt 8, 12. 
		13; 22, 8-10; Lc 22, 30), forma com que se expressava frequentemente a 
		felicidade messiânica. 
		
		3. O rendimento máximo, em sua 
		apreciação literária, dos talentos confiados aos dois primeiros servos, 
		indica a obrigação de desenvolver os dons de Deus (1 Cor 15, 10) e o 
		mérito dos mesmos, como se vê pelo elogio e prêmio que dá 
		 aos dois primeiros servos. No reino de Cristo, as ações têm verdadeiro
		mérito, que Deus premia e cuja omissão castiga. A “fé sem 
		obras” é condenada nesta parábola de Jesus Cristo. 
		 
		
		4. A inatividade de não render 
		com os dons de Deus é culpa: pecado de omissão. 
		
		5. Todos esses dons aparecem 
		sempre como dons de Deus. 
		
		6. O fato de mandar 
		acrescentar este talento ao que tinha dez, é o mesmo que a frase 
		“porque ao que tem se lhe dará em abundância; porém, ao que não tem, 
		ainda o que tem lhe será tirado”. 
		
		7. O lançar esse “servo 
		inútil” às “trevas exteriores, ali haverá pranto e ranger 
		de dentes” é, nesse contexto, o castigo do inferno e fórmula dos 
		evangelhos. 
		  
		
		O Pe. Francisco Fernández Carvajal comenta esse trecho 
		da parábola. 
		
		Passado algum tempo, o senhor voltou da sua viagem e 
		pediu contas aos seus servidores. Os que tinham recebido cinco e dois 
		talentos puderam devolver o dobro. Haviam aproveitado o tempo para fazer 
		render os bens recebidos e tiveram a grande felicidade de ver a alegria 
		do seu senhor; fizeram-se merecedores de um elogio e de um prêmio 
		inesperado: Está bem, servo bom e fiel – disse o dono da verdade 
		a cada um deles –, já que foste fiel 
		em poucas coisas, dar-te-ei a intendência de muitas; entra no gozo do 
		teu senhor. 
		
		O significado da parábola é claro. Nós somos os servos; 
		os talentos são as condições com que Deus dotou cada um de nós (a 
		inteligência, a capacidade de amar, de fazer os outros felizes, os bens 
		temporais…); o tempo que dura a ausência do senhor é a vida; o regresso 
		inesperado, a morte; a prestação de contas, o juízo; entrar no gozo do 
		senhor, o Céu. Não somos donos, mas – como o Senhor repete 
		constantemente ao longo do Evangelho – administradores de uns bens dos 
		quais teremos de prestar contas. 
		
		Hoje podemos examinar na presença de Deus se realmente 
		temos mentalidade de administradores e não de donos absolutos, que podem 
		dispor a seu bel-prazer do que possuem. Podemos indagar-nos sobre o uso 
		que fazemos do nosso corpo e dos sentidos, da alma e das suas potências. 
		Servem realmente para dar glória a Deus? Pensemos se fazemos o bem com 
		os talentos recebidos: com os bens materiais, com a nossa capacidade de 
		trabalho, com as amizades… O Senhor deseja ver o seu patrimônio bem 
		administrado. O que Ele espera é proporcional àquilo que recebemos. 
		Porque a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido, e a 
		quem muito foi entregue, muito lhe será reclamado. 
		
		Está bem, servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas 
		coisas, diz o Senhor àquele que recebeu cinco talentos. O “muito” 
		– cinco talentos – que recebemos nesta vida é considerado “pouco” 
		por Deus. Entrar no gozo do Senhor, isso é o muito…: Nem o olho viu, 
		nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que 
		Deus preparou para aqueles que o amam. Vale a pena sermos fiéis 
		aqui, enquanto aguardamos a chegada do Senhor, aproveitando este curto 
		espaço de tempo com sentido de responsabilidade. Que alegria quando nos 
		apresentarmos diante d’Ele com as mãos cheias! Olha, Senhor – 
		dir-lhe-emos –, procurei fazer render os talentos que me deste. Não tive 
		outro fim a não ser a tua glória. 
		
		Mas o que tinha recebido um talento foi, cavou na terra e 
		escondeu o dinheiro do seu senhor. Quando este lhe pediu contas, tentou 
		desculpar-se e arremeteu contra quem lhe tinha dado tudo o que possuía:
		Senhor, disse-lhe, sei que és um homem austero, que colhes 
		onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste; por isso fiquei 
		receoso e fui esconder o teu talento na terra; eis o que é teu. 
		
		Este último servo revela-nos como é que o homem se 
		comporta quando não vive uma fidelidade ativa em relação a Deus. 
		Prevalecem o medo, a auto-estima, a afirmação do egoísmo que procura 
		justificar a sua conduta com as injustas pretensões do senhor, que 
		deseja colher onde não semeou. Servo mau e preguiçoso, é como o senhor o 
		chama ao ouvir as suas desculpas. Esqueceu uma verdade essencial: que o 
		homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo e assim 
		merecer a vida com o próprio Deus para sempre no céu. 
		
		Quando se conhece a Deus, é fácil amá-lo e servi-lo. 
		Quando se ama, servir não só não é custoso nem humilhante: é um prazer. 
		Uma pessoa que ama nunca considera uma humilhação ou indignidade servir 
		o objeto do seu amor; nunca se sente humilhada por prestar-lhe serviços. 
		Pois bem: o terceiro servo conhecia o seu senhor; pelo menos, tinha 
		tantos motivos para conhecê-lo como os outros dois servidores. Contudo, 
		é evidente que não o amava. E quando não se ama, custa muito servir. 
		Este servo não só não gostava do seu senhor, como se atreveu a chamá-lo 
		homem austero, que queria colher onde não tinha semeado. Não serviu o 
		seu senhor porque lhe faltou amor. 
		
		O contrário da preguiça é justamente a diligência, uma 
		palavra proveniente do verbo latino diligere, que significa amar, 
		escolher depois de um estudo atento. O amor dá asas para servir a pessoa 
		amada. A preguiça, fruto da falta de amor, leva a um desamor muito 
		maior. Nesta parábola, o Senhor condena os que não desenvolvem os dons 
		que Ele lhes deu e os que os empregam a serviço do seu comodismo 
		pessoal, ao invés de servirem a Deus e aos seus irmãos, os homens, num 
		serviço de amor. 
		
		A nossa vida é breve. Por isso temos que aproveitá-la até 
		o último instante para crescer no amor e no serviço a Deus. A Sagrada 
		Escritura alerta-nos, com frequência, para a brevidade da nossa 
		existência aqui na terra. Ela é comparada à fumaça, à sombra, à passagem 
		das nuvens e ao nada. Que pena se perdemos o tempo ou o empregamos mal, 
		como se não tivesse valor! 
		
		Que pena viver matando o tempo, que é um tesouro de Deus! 
		Que tristeza não tirar proveito, autêntico rendimento, de todas as 
		faculdades, poucas ou muitas, que Deus concedeu ao homem para que se 
		dedique a servir as almas e a sociedade! Quando o cristão mata o seu 
		tempo na terra, coloca-se em perigo de matar o seu Céu: quando por 
		egoísmo se retrai, se esconde, se desinteressa. 
		
		Aproveitar o tempo é levar a cabo o que Deus quer que 
		façamos em cada momento. Às vezes, aproveitar uma tarde será 
		“perdê-la” aos pés da cama de um doente ou dedicando-a a um amigo 
		para que se prepare para uma prova. Tê-la-emos perdido para os nossos 
		planos, muitas vezes para o nosso comodismo, mas tê-la-emos ganho para 
		essas pessoas necessitadas de ajuda ou de consolo e para a eternidade. 
		
		Aproveitar o tempo é viver plenamente o momento presente, 
		empenhando a cabeça e o coração naquilo que fazemos, ainda que 
		humanamente pareça ter pouca importância, sem nos preocuparmos 
		excessivamente com o passado nem nos inquietarmos muito com o futuro. O 
		Senhor advertiu-nos claramente: Não queirais andar inquietos pelo dia 
		de amanhã. Porque o dia de amanhã cuidará de si; a cada dia basta o seu 
		cuidado. 
		
		Viver plenamente o momento presente, de olhos postos em 
		Deus, torna-nos mais eficazes e livra-nos de muitas ansiedades inúteis, 
		que nada mais fazem do que paralisar-nos. Conta Santa Teresa de Ávila 
		que ao chegar a Salamanca, acompanhada de outra freira, chamada Maria do 
		Sacramento, para ali fundar um novo convento, encontrou uma casa 
		desmantelada, da qual tinham desalojado uns estudantes algumas horas 
		antes. As viajantes entraram na casa já de noite, exaustas e congeladas 
		pelo frio. Os sinos da cidade dobravam a finados, pois era véspera do 
		dia dos fiéis defuntos. Na escuridão, somente quebrada pela chama 
		oscilante do candeeiro, as paredes enchiam-se de sombras inquietantes. 
		Apesar de tudo, deitaram-se cedo sobre uns molhos de palha que tinham 
		trazido com elas. Depois de se acomodarem naquelas camas improvisadas, 
		Maria do Sacramento, cheia de grandes temores, disse à Santa: 
		“Madre, estou pensando que, se eu morresse agora, o que 
		faríeis vós sozinha?” 
		
		“Aquilo, se viesse a acontecer, parecia-me coisa dura”, 
		comentava anos mais tarde a Santa; “fez-me pensar um pouco nisso e 
		mesmo chegar a ter medo, porque os corpos mortos sempre me enfraquecem o 
		coração, ainda que não esteja sozinha”. “E como o dobrar dos 
		sinos ajudava, pois como disse era noite de almas, bom começo tinha o 
		demônio para fazer-nos perder o pensamento com ninharias”. 
		
		“Irmã – disse-lhe –, se 
		isso acontecer, então pensarei no que fazer; agora deixe-me dormir”. 
		
		Em muitas ocasiões, quando nos assaltarem preocupações 
		sobre acontecimentos futuros que nos roubem a paz ou o tempo, e em 
		relação aos quais nada pudermos fazer no momento presente, será muito 
		útil dizermos, como a Santa: “Se isso acontecer, então pensarei no 
		que fazer”. Então contaremos com a graça de Deus para santificar o 
		que Ele dispõe ou permite. 
		
		Quando uma vida chega ao seu fim, não podemos pensar só 
		numa vela que se consumiu, mas numa tapeçaria que se acabou de tecer. 
		Tapeçaria que nós vemos pelo avesso, cheio de fios soltos e em que só se 
		pode observar uma figura sem contornos. O nosso Pai-Deus contemplá-la-á 
		pelo lado certo, e sorrirá e ficará feliz com a obra acabada, resultado 
		de termos aproveitado bem o tempo todos os dias, hora a hora, minuto a 
		minuto. 
		  
					
					  
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