O sacramento 
					da confissão
					
					  
					
					(Pe. Divino Antônio Lopes FP.) 
					  
					
					É um estranho paradoxo. Frequentemente, os 
					conversos dizem que uma das coisas mais duras para se 
					fazerem católicos é o pensamento de terem de “ir 
					confessar-se”.  E, no entanto, para nós, que 
					crescemos na Igreja, o sacramento da Penitência é 
					provavelmente o que, à parte o Batismo, menos quereríamos 
					deixar. A paz de mente e de alma que o sacramento da 
					Penitência nos dá não tem sucedâneo. É uma paz que brota da 
					certeza – não de uma esperança insegura – de que os nossos 
					pecados foram perdoados, de que estamos em amizade com Deus. 
					Evidentemente, também o converso aprende a amar o sacramento 
					da Penitência logo que supera os seus vagos temores, 
					causados pela  ignorância do que este sacramento é na 
					realidade. 
					
					A palavra “penitência” tem dois 
					significados. Em primeiro lugar, temos a virtude da 
					penitência, a virtude sobrenatural que nos leva a detestar 
					os nossos pecados por um motivo que a fé nos dá a conhecer, 
					e ao propósito consequente de não ofender mais a Deus e de 
					desagravá-lo por isso. Neste sentido, o termo 
					“penitência” é sinônimo de “arrependimento”. 
					Antes de Cristo, a virtude da penitência era o único meio 
					pelo qual os homens podiam alcançar o perdão dos seus 
					pecados. Mesmo hoje, para os que estão fora da Igreja de boa 
					fé e não dispõem do sacramento da Penitência, ela é o único 
					meio de alcançar o perdão dos pecados. 
					
					Além de ser uma virtude, a Penitência é um 
					sacramento. Define-se como “o sacramento instituído 
					por Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do 
					Batismo”. Ou, para dar uma definição mais longa e 
					descritiva, podemos dizer que a Penitência é “o 
					sacramento pelo qual o sacerdote, como instrumento vivo de 
					Deus, perdoa os pecados cometidos depois do Batismo, quando 
					o pecador está sinceramente arrependido, diz as suas faltas 
					em confissão ao sacerdote e se submete à satisfação ou pena 
					que este lhe impõe”. 
					
					Pela sua morte na cruz, Jesus Cristo redimiu 
					o homem do pecado e das consequências do pecado, 
					especialmente da morte eterna, que é seu efeito. Não é, 
					pois, de surpreender que Jesus tenha instituído no mesmo dia 
					em que ressuscitou dentre os mortos o sacramento pelo qual 
					os pecados podem ser perdoados. 
					
					Ao entardecer do Domingo da Ressurreição, 
					Jesus aparece aos Apóstolos, reunidos na sala alta onde 
					tinham celebrado a Última Ceia. Estes retrocedem 
					assombrados, com uma mistura de temor e esperança 
					incipiente, enquanto Jesus lhes fala para tranquilizá-los. 
					Mas deixemos que seja São João quem o conte: 
					“Veio Jesus e, pondo-se no meio 
					deles, disse-lhes: A paz seja convosco. E, dizendo isto, 
					mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se 
					vendo o Senhor. Disse-lhes Ele outra vez: A paz seja 
					convosco. Como meu Pai me enviou, assim eu vos envio. 
					Dizendo isto, soprou e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo; 
					aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; 
					aqueles os retiverdes, ser-lhe-ão retidos” 
					(20,19-23). 
					
					Parafraseando estas palavras de Jesus numa 
					linguagem mais moderna, o que Jesus disse foi: “Como 
					Deus, tenho o poder de perdoar os pecados. Agora vos 
					transmito o uso desse poder. Sereis meus representantes. 
					Quaisquer pecados que perdoardes, Eu os perdoarei. Quaisquer 
					pecados que não perdoardes, eu não os perdoarei”. 
					Jesus sabia bem que muitos de nós esqueceríamos as valentes 
					promessas do Batismo e cometeríamos pecados graves depois. 
					Sabia que muitos de nós perderíamos a graça, a participação 
					na própria vida divina que nos foi dada no Batismo. Sendo 
					infinita e inesgotável a misericórdia de Deus, era 
					inevitável, digamos assim, que Ele desse uma segunda 
					oportunidade (e uma terceira, e uma quarta, e uma 
					centésima, se necessário) aos que recaíssem no 
					pecado. 
					
					É lógico que, com a morte dos Apóstolos, não 
					se interrompesse o poder que Jesus lhes deu de perdoar os 
					pecados, bem como o de mudar o pão e o vinho no seu Corpo e 
					Sangue. Jesus não veio à terra para salvar apenas um 
					minúsculo punhado de almas escolhidas. Não veio para salvar 
					unicamente os contemporâneos dos seus Apóstolos. Jesus veio 
					para salvar todos os homens que quisessem salvar-se, até o 
					fim dos tempos. Quando morria na cruz, tinha-nos presentes a 
					você e a mim, tanto como a Timóteo e a Tito. 
					
					É evidente que o poder de perdoar os pecados 
					é parte do poder sacerdotal, e, portanto, tinha que se 
					transmitir de geração em geração por meio do sacramento da 
					Ordem Sagrada. É um poder que cada sacerdote exerce quando 
					estende as mãos sobre o pecador contrito e diz: “Eu te 
					absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho, e do 
					Espírito Santo”. Temos ouvido estas palavras muitas 
					vezes. São “a fórmula da absolvição”. 
					
					Pode acontecer uma vez ou outra que o 
					sacramento da Penitência nos pareça uma carga. Talvez até 
					tenhamos chegado a exclamar nalguma ocasião: “Oxalá 
					não tivesse que ir confessar-me!” Mas também não há 
					dúvida de que, em momentos de serenidade, teremos 
					compreendido o amor que devemos a este sacramento e como não 
					quereríamos passar sem ele. Basta pensar um pouco em tudo o 
					que o sacramento da Penitência faz por nós!  
					
					Em primeiro lugar, se uma pessoa se separou 
					de Deus por um ato grave e deliberado de desobediência 
					(quer dizer, por um pecado mortal), o sacramento 
					da Penitência reconcilia essa alma com Deus; a graça 
					santificante volta a essa alma. Ao mesmo 
					tempo, os pecados são perdoados. Do mesmo modo que a 
					escuridão desaparece de um quarto mal se acende a luz, o 
					pecado tem que desaparecer da alma assim que chega a graça 
					santificante. 
					
					Se alguém vai confessar-se sem pecado mortal, 
					nem por isso o sacramento é recebido em vão. Neste caso, a 
					alma recebe um incremento de graça santificante, o que 
					significa que se aprofunda e se fortalece nela aquela 
					participação na vida divina pela qual está unida a Deus. E 
					quer se esteja ou não em pecado mortal, são sempre perdoados 
					todos os pecados veniais que o penitente tenha cometido e de 
					que esteja arrependido. Trata-se desses pecados leves e mais 
					comuns que não nos separam de Deus, mas dificultam a plena 
					irradiação da sua graça na nossa alma, como as nuvens 
					dificultam a irradiação solar. 
					
					Além de restaurar 
					ou aumentar a graça santificante e de perdoar os pecados 
					mortais e veniais, que outras vantagens nos proporciona este 
					sacramento? 
					
					Se se trata de pecados mortais, é cancelado 
					pela Penitência o castigo eterno que deles resulta 
					inevitavelmente. Sabemos que quem rejeita Deus pelo pecado 
					mortal e entra na eternidade impenitente, separa-se d’Ele 
					para sempre; vai para o inferno. Mas quando 
					Deus, no sacramento da Penitência, une outra vez essa alma a 
					Si e a absolve do pecado mortal, elimina também o perigo de 
					desastre eterno a que essa alma estava destinada. 
					
					Ao mesmo tempo que perdoa o castigo eterno 
					devido pelo pecado mortal, o sacramento da Penitência perdoa 
					pelo menos parte da pena temporal devida pelo pecado. Esta 
					pena temporal é simplesmente a dívida de satisfação que devo 
					a Deus pelos meus pecados, inclusive depois de terem sido 
					perdoados. É questão de “consertar os estragos”, 
					poderíamos dizer.  
					
					Vejamo-lo por um exemplo caseiro: um rapaz 
					deixa-se arrebatar por um momento de ira e dá um ponta-pé 
					numa mesinha, derrubando e quebrando um objeto de cerâmica.
					“Sinto muito, mamãe – diz ele, arrependido –.
					Não deveria tê-lo feito”. “Bem – 
					diz a mãe –; se está arrependido, não o castigarei. 
					Mas terá que recolher os pedaços quebrados, e, além disso, 
					espero que compre um objeto novo com as suas economias”. 
					A mãe perdoa a desobediência e absolve o filho do castigo, 
					mas espera que ele ofereça uma satisfação pela sua rebeldia. 
					
					Esta é a satisfação que devemos a Deus por 
					havê-lo ofendido, e a que chamamos “pena temporal 
					devida pelo pecado”. E ou pagamos essa pena com 
					orações, mortificações e outras boas ações feitas em estado 
					de graça nesta vida, ou teremos que pagá-la no purgatório. 
					Esta é a divida que os sacramento da Penitência reduz, ao 
					menos em parte, proporcionalmente ao grau do nosso 
					arrependimento. Quanto mais fervorosas forem as nossas 
					disposições, mais se reduz a satisfação temporal que 
					devemos. 
					
					Outro efeito do sacramento da Penitência é 
					devolver-nos os méritos das boas obras que tenhamos feito e 
					que se tenham perdido pelo pecado mortal. Como sabemos, toda 
					boa ação que realizamos em estado de graça santificante, com 
					a intenção de agradar a Deus, é uma ação meritória, isto é, 
					merece-nos um aumento de graça nesta vida e de glória no 
					céu. Mesmo as ações mais simples – uma palavra amável, um 
					gesto de cortesia –, feitas com amor de Deus, causam este 
					efeito; muito mais as orações, Missas e sacramentos. No 
					entanto, o pecado mortal cancela todos esses méritos 
					acumulados, como uma jogada insensata na roleta pode fazer 
					perder as economias de toda uma vida. Ao perdoar-nos o 
					pecado moral, Deus podia, em perfeita justiça, deixar que os 
					nossos méritos passados continuassem perdidos para sempre. 
					Mas, na sua bondade infinita, não o faz, não nos obriga a 
					começar outra vez do princípio: o sacramento da 
					Penitência não só perdoa os nossos pecados, como nos devolve 
					também os méritos que tínhamos perdido voluntariamente. 
					
					Finalmente, além de todos esses benefícios, o 
					sacramento da Penitência dá-nos direito a quaisquer graças 
					atuais de que possamos necessitar – e na medida em que delas 
					necessitemos – para podermos satisfazer os nossos pecados 
					passados e vencer as nossas tentações futuras. Esta é a 
					“graça sacramental” especial da Penitência, que 
					nos fortifica contra as recaídas no pecado. É o remédio 
					espiritual que fortalece e ao mesmo tempo cura. Esta é a 
					razão pela qual toda pessoa desejosa de ter verdadeira vida 
					interior sente necessidade de confessar-se com frequência. A 
					confissão frequente é uma das melhores defesas contra o 
					pecado mortal. Seria, pois, o cúmulo da estupidez dizer: 
					“Eu não preciso confessar-me porque não cometi nenhum 
					pecado mortal”. 
					
					Todos estes efeitos do sacramento da 
					Penitência – a restauração ou o aumento da graça 
					santificante, o perdão dos pecados, a remissão da pena, a 
					devolução do mérito e a graça para vencer as tentações – são 
					possíveis graças aos infinitos méritos de Jesus Cristo que 
					este sacramento imprime na nossa alma. Jesus Cristo na cruz 
					realizou já a sua obra por nós; no sacramento da Penitência 
					damos a Deus simplesmente a oportunidade de partilhar 
					conosco os infinitos méritos do seu Filho. 
					
					  
					
					
					Preparação da confissão
					
					  
					
					Provavelmente, muitos de nós recebemos o 
					sacramento da Penitência com razoável frequência. E, sem 
					dúvida, quando somos severamente tentados, ou de algum modo 
					temos o espírito atribulado, encontramos nesse sacramento 
					uma fonte abundante de fortaleza e paz. Agradecemos a Deus 
					por nos ter dado essa oportunidade tão à mão de obtermos 
					orientação e conselho espiritual, além das graças que a 
					Penitência nos dá. Se somos sensatos, procuraremos o 
					mesmo confessor regularmente, para que possa conhecer melhor 
					as nossas necessidades. 
					
					Não obstante, pode ser que muitos de nós – 
					sem grandes tentações nem problemas de peso – recebamos o 
					sacramento da Penitencia rotineiramente. Vamos confessar-nos 
					com frequência porque damos crédito à afirmação de que é bom 
					para a nossa alma. Dizemos os nossos pecados e cumprimos 
					depois a penitência, e não passamos disso. Não sentimos 
					sensação alguma de renovação ao sairmos do confessionário; 
					não nos vemos melhorar apreciavelmente de confissão para 
					confissão. Qual pode ser a causa desta espécie de apatia? 
					Que está faltando da nossa parte para nos confessarmos com 
					fruto? 
					
					O catecismo dá uma lista de cinco 
					condições para recebermos dignamente o sacramente da 
					Penitência. Primeiro, 
					examinarmos a nossa consciência. Segundo, 
					doer-nos dos nossos pecados. Terceiro, fazer o 
					firme propósito de não pecar daí por diante. Quarto, 
					confessar os nossos pecados ao sacerdote. Quinto, 
					querer cumprir a penitência que o confessor nos impõe. 
					Omitir qualquer destes pontos pode ocasionar, no pior dos 
					casos, uma confissão completamente indigna, uma confissão 
					sacrílega; e, no melhor, uma confissão com menos fruto, em 
					que a nossa alma receba muito pouca graça. 
					
					Consideremos em primeiro lugar o exame de 
					consciência. Define-se como o esforço sincero por recordar 
					todos os pecados cometidos desde a última confissão válida. 
					Devemos cumprir essa tarefa antes de nos aproximarmos do 
					confessionário. Se alguém tem dificuldade em examinar a sua 
					consciência – por exemplo, por estar afastado da confissão 
					há muito tempo ou por ter pouca formação religiosa –, o 
					sacerdote o ajudará com gosto a fazê-lo, se lhe falar disso. 
					Mas o normal é ter os pecados antecipadamente preparados 
					para desfilarem em revista perante o sacerdote, logo que 
					este nos possa ouvir. 
					
					A questão é saber se o nosso exame de 
					consciência tem a profundidade e a seriedade que deveria 
					ter. É fácil, especialmente se nos confessamos com 
					frequência, descurar este ponto. “O mesmo que da 
					última vez”, dizemos. “Descuidei as orações, 
					usei o nome de Deus com pouca reverência, perdi a paciência 
					uma vez e disse duas ou três mentiras pequenas”. E 
					com essa olhada rápida julgamos estar preparados para a 
					confissão. Parece que esquecemos que o que vamos receber é 
					nada menos que um sacramento, um sacramento por cuja 
					eficácia Cristo morreu em agonia. O nosso exame de 
					consciência deveria ser uma preparação pausada e cuidadosa: 
					caso contrário, não nos deve surpreender que a nossa quota 
					de graça seja pequena. 
					
					Antes de mais nada, o nosso exame deve 
					começar com uma oração fervorosa, pedindo ao Espírito Santo 
					luzes para podermos reconhecer os nossos pecados claramente, 
					confessá-los adequadamente e arrepender-nos sinceramente. Só 
					depois nos dedicaremos a inventariá-los. Sem pressas nem 
					nervosinhos (deixando que outros passem à nossa frente no 
					confessionário, se chega a nossa vez e ainda não estamos 
					preparados), repassaremos os mandamentos da lei de Deus e da 
					Igreja e os nossos deveres particulares de estado, 
					aplicando-os à nossa pessoa. Devemos preocupar-nos de 
					recordar os pecados mortais se, infelizmente, existem. Cada 
					pecado mortal deveria doer-nos como a proverbial punhalada. 
					Mas, como pretendemos fazer uma confissão muita frutífera, 
					buscaremos também os nossos pecados veniais, aquelas coisas 
					que impedem o nosso pleno amor a Deus. 
					
					Podemos sentir a inclinação de despachar um 
					ou outro mandamento demasiado depressa. Dizemos: “O primeiro 
					mandamento? Não adorei nenhum deus falso”. Não, 
					evidentemente. Mas que acontece com as irreverências na 
					igreja, com as distrações na oração, com um pouco de 
					superstição talvez? “O quinto mandamento? Não matei 
					ninguém”. Não; mas que acontece com as broncas em 
					casa, quando começo a gritar e deixo todo mundo ressentido? 
					Que dizer sobre o rancor que guardo contra fulano e sicrano? 
					Que dizer sobre a minha secreta esperança de que fulano “se 
					meta na enrascada que andava procurando”? “O sexto? 
					Não cometi adultério ou fornicação”. Não, mas que 
					dizer desse olho curioso na praia, dessas piadas marrom de 
					escritório? “o oitavo? Ah, sim! Disse uma ou duas 
					mentirinhas certa vez”. Sim? E que dizer daquela 
					murmuração daninha que soprei, daquelas reticências e 
					preconceitos contra essa pessoa de outro país ou raça? 
					Quando de verdade começarmos a examinar-nos sobre a virtude 
					da caridade, surpreender-nos-á ver que necessitamos de mais 
					tempo do que pensávamos. 
					
					E que acontece com a honestidade da nossa 
					conduta em assuntos de dinheiro, com a justiça com os 
					subordinados, com a nossa generosidade em repartir com os 
					menos afortunados os nosso bens materiais? Que acontece com 
					a nossa plena aceitação de tudo o que a Igreja ensina? E com 
					a temperança e a sobriedade na comida e, sobretudo, nas 
					bebidas? (ou teremos que embebedar-nos para perceber que não 
					somos comedidos?) E com o exemplo de vida cristã que damos 
					aos que nos rodeiam? 
					
					Não é necessário continuar aqui a lista. Uma 
					fraqueza a que nos inclinamos é comparar-nos com o vizinho 
					da frente ou com a vizinha do lado, e concluir que, depois 
					de tudo, não somos tão maus assim. Esquecemos que o único 
					com quem temos o direito de comparar-nos é Jesus Cristo. Ele 
					é o nosso modelo, ninguém mais. 
					
					Antes de receber o sacramento da Penitência, 
					é importante examinarmos bem a consciência; mas é mais 
					importante ainda assegurar-nos de que temos dor sincera dos 
					nossos pecados. Podemos esquecer-nos involuntariamente de 
					confessar um pecado – até mortal – e mesmo assim fazer uma 
					boa confissão, receber o perdão dos nossos pecados. 
					Mas também podemos confessar todos os nossos pecados com a 
					máxima precisão e, no entanto, sair do confessionário com 
					eles ainda em nossa alma, se não temos uma contrição sincera.
					 
					
					Que é, pois, essa contrição tão essencial 
					para recebermos validamente o sacramento da Penitência? A 
					palavra “contrição” deriva do latim e 
					significa “moer”, “pulverizar”. 
					A ideia de reduzir o eu a pó é a que nos leva a 
					apresentar-nos diante de Deus com profunda humildade. O 
					Concílio de Trento, que tratou amplamente do sacramento da 
					Penitência, diz que a contrição é 
					“um pesar de coração e detestação do 
					pecado cometido, com o propósito de nunca mais cometê-lo”. 
					
					E fácil compreender a necessidade da 
					contrição como condição para o perdão. Se ofendemos alguém, 
					seria uma loucura pensar que essa pessoa nos perdoará mesmo 
					que não sintamos dor da ofensa cometida nem lho façamos 
					saber. Não é de surpreender, pois, que Deus, a quem 
					ofendemos com uma desobediência deliberada aos seus 
					mandamentos, exija que nos arrependamos das nossas ofensas 
					para sermos absolvidos da culpa. Deus não perdoa 
					nenhum pecado, mortal ou venial, se não estamos arrependidos. 
					
					Mas também temos a outra cara da moeda, muito 
					mais consoladora. Nos assuntos humanos, deparamos às vezes 
					com gente rancorosa e vingativa, que nunca perdoa um 
					insulto, por mais que nos doa o mal cometido e nos 
					desculpemos. Deus não é assim. Deus perdoa toda 
					ofensa, por odiosa que seja, se o pecador tem verdadeira 
					contrição. 
					
					Temos que distinguir duas espécies de 
					contrição: a perfeita e a imperfeita. A 
					diferença entre elas baseia-se nos motivos que as produzem, 
					nos “porquês” do nosso arrependimento. A 
					contrição perfeita é a dor dos pecados que nasce de um 
					perfeito amor a Deus. Ama-se a Deus sobre todas as 
					coisas por Ele mesmo, simplesmente por ser infinitamente bom 
					e merecedor da nossa lealdade absoluta, e essa consideração 
					nos leva ao pesar de o termos ofendido. Esta é a contrição 
					perfeita. 
					
					Deve-se notar que este “amor a Deus 
					sobre todas as coisas por Ele mesmo” não implica 
					necessariamente um sentimento de amor à maneira humana, 
					emocional. É fácil sentirmos um amor mais ardente por certas 
					pessoas que por Deus; mas isto não quer dizer que prefiramos 
					essas pessoas a Deus. Santa Branca, mãe de São Luís (o rei 
					Luís IX de França), dá-nos um bom exemplo disso. Não se pode 
					duvidar do ardente amor materno que sentia por seu filho, e, 
					no entanto, disse-lhe certa vez: “Preferiria ver-te 
					morto aos meus pés a ver-te cometer um só pecado mortal!”. 
					Se formos capazes de dizer a mesma coisa sinceramente, se 
					estivermos dispostos a renunciar por Deus a qualquer pessoa 
					ou coisa antes que ofendê-Lo, então temos perfeito amor de 
					Deus. E se é este o amor que inspira a nossa dor pelos 
					pecados, então temos uma contrição perfeita. 
					
					 De passagem, diremos que uma contrição 
					perfeita perdoa o pecado mortal imediatamente, sempre que 
					tenhamos a intenção de nos acusarmos dele na nossa próxima 
					confissão. Isto deveria levar-nos a incluir um ato de 
					perfeito amor a Deus nas nossas orações diárias, para nos 
					recordarmos de que Deus é o mais importante da nossa vida, 
					não só pelo que fez por nós, mas pelo que é. Se nos mantemos 
					“em forma” desta maneira, temos melhores possibilidades de 
					fazer um ato de perfeita contrição, caso venhamos a precisar 
					dela, contando sempre com a graça de Deus. 
					
					A contrição imperfeita é uma 
					espécie de dor mais egoísta, mas deve ficar claro que não é 
					uma má espécie de dor. Embora não tenha o poder de perdoar o 
					pecado mortal fora da confissão, é uma dor suficientemente 
					sincera para nos conseguir o perdão no sacramento da 
					Penitência. 
					
					Os motivos que inspiram a contrição 
					imperfeita são o ódio ao pecado por ser essencialmente um 
					mal, ou o temor à justiça divina: a perda do céu e o 
					desterro eterno no inferno. A dor que brota de um ou de 
					ambos os motivos constitui a contrição imperfeita. Para a 
					contrição imperfeita, não é suficiente o medo ao inferno 
					como o maior dos males, de modo que decido explicitamente 
					que, se não houvesse inferno, pecaria com gosto. Este é o 
					tipo de temor que tem o cachorro quando vê o chicote nas 
					mãos do seu amo. É um temor completamente egoísta, de 
					escravos. O nosso temor a Deus deve nascer da consideração 
					de que Ele é o nosso máximo bem, deve ser como o de uma 
					criança para com um pai amoroso, não como o de um escravo 
					para com um capataz severo. 
					
					Ambas as espécies de contrição, a perfeita e 
					a imperfeita, devem incluir, evidentemente, o firme 
					propósito de não pecar daí para a frente. É óbvio que não 
					estamos contritos de um pecado se continuamos dispostos a 
					cometê-lo novamente, se tivermos ocasião. Este propósito de 
					não mais pecar deve abranger todos os pecados mortais, não 
					só os que se confessaram; e deve incluir todos os pecados 
					veniais que confiamos nos sejam perdoados. 
					
					Ao referimo-nos à contrição perfeita, é 
					conveniente fazer notar que, embora apague o pecado mortal 
					imediatamente, há o expresso preceito que nos proíbe de 
					receber a Sagrada Comunhão enquanto não o tenhamos 
					confessado no sacramento da Penitência. 
					
					  
					
					A contrição
					
					  
					
					
					Quando é real a dor?
					
					  
					
					Às vezes, tropeçamos com alguém na rua ou no 
					ônibus e dizermos: “Sinto muito”. Dizemo-lo por cortesia, 
					ainda que não o sintamos de maneira nenhuma. Por dentro, 
					temos vontade de exclamar: “Por que esse indivíduo não 
					olha por onde anda?” Ou se alguém se aborrece por 
					algo que dissemos com toda a inocência, dizemos: “Sinto 
					muito”, ainda que por dentro estejamos comentando: 
					“Por que será que este homem é tão 
					suscetível?” 
					
					É muito fácil multiplicar os exemplos de 
					ocasiões em que as pessoas dizem “Sinto muito” sem sentir 
					nada. Mas quando se trata, como é o caso, de nos prepararmos 
					para receber o sacramento da Penitência, ou a nossa 
					contrição é cem por centro sincera ou é melhor não nos 
					confessarmos. Receber o sacramento da Penitência sem dor 
					verdadeira é fazer uma confissão indigna, e o sacramento 
					seria inválido e infrutífero. Se não temos contrição 
					autêntica, Deus não nos perdoará os pecados. Como 
					podemos, pois, saber se a nossa contrição é autêntica ou 
					não? Quais os requisitos essenciais de um ato de contrição 
					genuíno? 
					
					  
					
					Os teólogos enumeram quatro condições. 
					
					O primeiro e o mais evidente 
					dos requisitos é que a contrição seja interior. 
					Quando dizemos a Deus: “Sinto muito haver-te ofendido”, não 
					fazemos um mero ato de cortesia nem apresentamos a 
					obrigatória desculpa cortês. O nosso coração deve estar nas 
					nossas palavras. Simplesmente devemos querer dizer o que 
					dizemos. Mas isto não significa necessariamente que 
					devamos sentir uma dor emocional. Como o amor, a dor 
					é um ato da vontade, não um golpe de emoção. Assim como 
					podemos amar a Deus sem experimentar sensações, podemos ter 
					uma profunda dor dos nossos pecados sem sentir reação 
					emocional alguma. Se com toda a sinceridade nos determinamos 
					a evitar tudo o que possa ofender a Deus, com a ajuda da sua 
					graça, então temos contrição interior. 
					
					Além de interior, a nossa contrição 
					deve ser sobrenatural. A razão 
					se baseia no “porque” da nossa contrição. Se um homem se 
					arrepende de embebedar-se porque depois fica com uma ressaca 
					tremenda, essa dor é natural. Se uma mulher se lamenta de 
					ter falado mal, murmurado maliciosamente, porque isso lhe 
					fez perder a sua melhor amiga, essa dor é natural. Se um 
					menino lamenta a sua desobediência porque por isso lhe darão 
					uns açoites, a sua dor é natural. Essa dor natural não tem 
					nada a ver com Deus, com a alma ou com motivos 
					sobrenaturais. Não é que essa dor seja má, mas é 
					insuficiente em relação a Deus. 
					
					A nossa dor é sobrenatural quando nasce de 
					considerações sobrenaturais; quer dizer, quando o seu 
					“porque” se baseia na fé em algumas verdades que Deus 
					ensinou. Por exemplo, Deus nos disse que devemos amá-lo 
					sobre todas as coisas e que pecar é negar-lhe esse amor. 
					Deus nos disse que um pecado mortal causa a perda do céu e 
					nos faz merecedores do inferno, e que o pecado venial deve 
					ser reparado no purgatório. Disse-nos que o pecado é a causa 
					de que Jesus tenha morrido na cruz e que é uma ofensa à 
					bondade infinita de Deus. disse-nos que o pecado é odioso 
					por sua própria natureza. Quando a nossa dor se baseia 
					nestas verdades que Deus revelou, é dor sobrenatural. 
					Elevou-se acima de meras considerações naturais. 
					
					Em terceiro lugar, a nossa 
					dor deve ser suprema. Quer dizer, devemos encarar 
					realmente o mal moral do pecado como o máximo mal que 
					existe, maior que qualquer mal físico ou meramente natural 
					que nos possa ocorrer. Significa que, quando dizemos a 
					Deus que nos arrependemos dos nossos pecados, estamos 
					dispostos, com a ajuda da sua graça, a sofrer qualquer coisa 
					antes que ofende-lo outra vez. A frase “com a ajuda 
					da sua graça” é muito importante. A dor suprema não exclui 
					um sincero temor de pecar outra vez, se fazemos depender a 
					vitória apenas das nossas forças humanas. Pelo contrário, 
					devemos desconfiar de nós e da nossa auto-suficiência; 
					devemos reconhecer que dependemos da graça divina. 
					
					Ao mesmo tempo, sabemos que nunca nos faltará 
					a graça de Deus, se fizermos o que está ao nosso alcance. 
					Seria um grande erro tentar verificar se a nossa dor é ou 
					não suprema imaginando tentações extraordinárias. Por 
					exemplo, não faz nenhum sentido que um homem se pergunte: 
					“Permaneceria casto se me fechassem num quarto com uma 
					mulher nua e sedutora?” Sem culpa nossa, Deus jamais 
					permitirá que tenhamos que enfrentar tentações que superem a 
					nossa capacidade de resistência; e se Ele permitisse 
					tentações extraordinárias, podemos ter a certeza absoluta de 
					que nos daria todas as graças extraordinárias de que 
					necessitaríamos para vencê-las. 
					
					Por último, a nossa dor – interior, 
					sobrenatural e suprema – deve ser também 
					universal. Isto significa que devemos arrepender-nos 
					de todos os pecados mortais sem exceção. Um só pecado 
					mortal nos separaria de Deus e nos privaria da graça 
					santificante. Ou nos arrependemos de todos ou não 
					poderemos recuperar a graça de Deus. Ou todos são perdoados 
					ou nenhum. Se déssemos quatro bofetadas a um amigo, seria 
					ridículo dizer-lhe: “Arrependo-me de três delas, mas não da 
					quarta”. 
					
					Deve-se notar que essas quatro 
					condições se aplicam tanto à contrição perfeita como à 
					imperfeita. Especialmente 
					quanto à segunda condição, as pessoas tem às vezes uma noção 
					errada, e confundem a dor natural com a contrição 
					imperfeita, quando não são de maneira nenhuma a mesma coisa. 
					Também a contrição imperfeita deve ser sobrenatural nos seus 
					motivos; deve basear-se num motivo conhecido pela fé, como a 
					crença no céu e no inferno ou na fealdade essencial do 
					pecado. Uma simples dor natural não é contrição nenhuma, nem 
					mesmo imperfeita. 
					
					Suponhamos que ofendi um amigo espalhando uma 
					calúnia acerca dele. Quero agora recuperar a sua amizade e 
					peço-lhe desculpas dizendo: “Arrependo-me do que fiz, Pedro, 
					mas reservo-me o direito de fazê-lo outra vez se me der 
					vontade”. Não é preciso ser professor de psicologia para 
					adivinhar  que Pedro continuará magoado, e com razão. 
					Minha pretensa desculpa não o é absolutamente. Se de verdade 
					lamento havê-lo ofendido, propor-me-ei com toda a firmeza 
					não ofendê-lo outra vez. 
					
					Passa-se o mesmo com as ofensas a Deus. 
					Não há ato de contrição verdadeiro se não se fizer 
					acompanhar do propósito de emenda. Este propósito 
					não é outra coisa senão a simples e sincera determinação de 
					evitar o pecado no futuro, bem como as ocasiões próximas de 
					pecado, tanto quanto nos seja possível. Sem esse propósito, 
					não pode haver perdão dos pecados, nem mesmo dos veniais. 
					
					Ocasião próxima de pecado é qualquer 
					circunstância que nos possa levar a ele. Algumas ocasiões de 
					pecado são próximas por sua própria natureza: livros e 
					revistas declaradamente obscenos, por exemplo. Outras podem 
					ser ocasiões próximas só para determinados indivíduos. 
					Assim, um bar pode ser ocasião de pecado para quem tenha 
					dificuldade de beber com moderação; estacionar o carro à 
					noite à luz da lua pode ser ocasião de pecado para os jovens 
					namorados que viajam nele. Geralmente, as experiências do 
					passado nos dirão quais são para nós as ocasiões próximas de 
					pecado. Ao fazermos o ato de contrição, devemos 
					renunciar resolutamente a todas essas ameaças ao nosso bem 
					espiritual, quer provenham de pessoas, de lugares, de coisas 
					ou de certas atividades. 
					
					Deve-se notar que 
					o nosso propósito de emenda – a nossa resolução de evitar o 
					pecado e as ocasiões próximas 
					de pecado – deve abranger não só os pecados mortais que 
					tenhamos cometido, mas todos os pecados mortais possíveis 
					sem exceção. Sem esta resolução universal, nenhum pecado 
					mortal pode ser perdoado. 
					
					A situação é diferente com relação ao pecado 
					venial. O pecado venial não nos separa de Deus, não extingue 
					a sua graça em nossa alma. por conseguinte, é possível obter 
					o perdão de determinado pecado venial, mesmo que os outros 
					fiquem por perdoar. Isto significa que o nosso propósito de 
					emenda deve estender-se  a todos os pecados veniais que 
					esperamos nos sejam perdoados, mas não necessariamente a 
					todos os pecados veniais cometidos. Agarrar-se a algum 
					pecado venial enquanto se renuncia a outros, denota, 
					evidentemente, um nível muito baixo de amor a Deus, mas aqui 
					não estamos falando do que é melhor, mas do mínimo 
					necessário. 
					
					Sem dor não pode haver perdão, e sem 
					propósito de emenda não pode haver dor genuína. 
					É um princípio evidente e, no entanto, é possível que 
					algumas pessoas, que se horrorizariam ante o pensamento de 
					fazer uma má confissão ocultando um pecado mortal, não 
					sentem o mesmo horror ante uma confissão inválida por falta 
					de um propósito firme de emenda. Se alguém é culpado de 
					pecados mortais, não basta que os diga ao confessor ou 
					recite um ato de contrição rotineiro. Se o penitente 
					não está sincera e firmemente resolvido a não tornar a 
					cometer um pecado mortal, a sua confissão é um ato de 
					hipocrisia. É uma confissão tão má como a 
					daquele que ocultasse conscientemente um ou mais pecados 
					mortais ao confessor. 
					
					No entanto, ao ganharmos consciência da 
					necessidade de fazer um propósito de emenda sincero, não 
					devemos cair no erro de confundir o momento atual com as 
					possibilidades do futuro. Uma pessoa pode muito bem 
					experimentar sentimentos como este: 
					“Arrependo-me sinceramente dos meus pecados 
					mortais, e real e verdadeiramente não quero cometer nenhum 
					pecado mortal outra vez. Mas conheço a minha fraqueza e sei 
					como, sob pressão, tenho quebrado os meus bons propósitos no 
					passado. Já antes me propus não cair outra vez, mais cai. 
					Como posso, pois, estar certo de que o meu propósito de 
					agora é firme?” 
					
					Podemos estar certos de ter um firme 
					propósito de emenda agora, se mantivermos a nossa mente no 
					agora, sem procurar complicações imaginando um futuro 
					hipotético. Ainda que no passado tenhamos falhado doze 
					vezes, cem vezes, isso não significa que estejamos 
					condenados a falhar sempre. Esta pode ser a vez em que 
					saltemos o fosso. Precisamente esta pode ser a vez em que, 
					com a paciente graça de Deus, alcancemos o triunfo. 
					
					Ainda que seja um axioma avalizado por um 
					longo uso, não é verdade que o inferno esteja cheio de boas 
					intenções. O que está de boas intenções é o caminho do 
					céu; o do inferno esta cheio de desânimos e desespero. 
					Como podemos triunfar nalguma coisa se não tentamos uma vez, 
					e outra, e outra ainda, sem desanimar? Quem escala uma 
					montanha pode avançar três passos e retroceder dois; mas, se 
					é bastante tenaz, bastante forte, chegará a alcançar o cume.
					 
					
					Uma pessoa que tenha a desgraça de cair 
					num hábito de pecado – seja de impureza, de ira, contra a 
					caridade ou qualquer outra virtude – precisa de ter ideias 
					absolutamente claras acerca do verdadeiro propósito de 
					emenda: o que conta na confissão é este momento de agora e 
					esta intenção de agora. Pode ser que depois haja mais 
					tropeços e mais quedas, antes da vitória final. Mas o único 
					pecador que é derrotado é aquele que deixa de lutar. 
					
					  
					
					Agradecer a 
					Deus pela confissão
					
					  
					
					Os que não compreendem a fé católica afirmam 
					com certa frequencia: “Eu nunca poderei acreditar na 
					confissão. Se erro, direi a Deus na intimidade da minha alma 
					que sinto muito, e Deus me perdoará. Não tenho por que dizer 
					os meus pecados a um simples homem para que Deus me perdoe”. 
					Parece uma afirmação razoável, não é verdade? E, no entanto, 
					está tão cheia de falácias (enganos) como de buracos 
					uma rede de pescador. 
					
					Em primeiro lugar, a questão não é saber se 
					eu gosto da confissão ou se prefiro que se perdoem os meus 
					pecados de outro modo. A questão é saber como Deus quer que 
					se perdoem os pecados. Se Jesus Cristo, verdadeiro Deus, ao 
					instituir o sacramento da Penitência, como meio necessário 
					para o perdão dos pecados cometidos depois do Batismo, fez 
					da confissão dos pecados ao sacerdote parte essencial do 
					sacramento, então esse é o modo de fazê-lo. Nós não temos a 
					liberdade de escolher e de recusar, quando Deus já se 
					pronunciou. Não podemos dizer: “Eu gostaria mais que 
					fosse de outra maneira”. 
					
					Jesus quis que a acusação dos nossos pecados 
					fosse parte essencial do sacramento da Penitência. Ao 
					conferir aos seus sacerdotes no Domingo da Ressurreição o 
					poder de perdoar os pecados, Ele disse: 
					“Aqueles a quem perdoardes os 
					pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem os 
					retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 
					23). E, com a infinita sabedoria de Deus, 
					Jesus não disse essas palavras levianamente; e essas 
					palavras não tem sentido a não ser que pressuponham a 
					acusação dos pecados. 
					Como é que os Apóstolos e os sacerdotes 
					que os sucederiam poderiam saber que pecados perdoar e que 
					pecados não perdoar se não soubessem que pecados eram esses? 
					E como é que poderiam conhecer esses pecados se não fosse o 
					próprio pecador a manifestá-los? 
					
					A história da Igreja confirma o significado 
					patente dessas palavras do Senhor. Os escritos primitivos 
					dizem-nos que, já desde o começo da Igreja, só se concedia o 
					perdão aos penitentes depois de confessarem os seus pecados. 
					A principal diferença entre os primeiros séculos e os nossos 
					dias é que, quando a Igreja estava na sua infância, o perdão 
					dos pecados não era concedido sem mais nem menos. Se o 
					pecado era do conhecimento público – como a idolatria, o 
					adultério ou o assassinato, o pecador devia submeter-se a 
					uma penitência que durava toda a vida, e só lhe era 
					concedido o sacramento da Penitência no leito de morte. 
					
					O que os críticos da confissão (e de 
					outras doutrinas da Igreja) esquecem é que nem todas as 
					palavras de Jesus estão registradas nos Evangelhos. Quando 
					consideramos que Jesus pregou e ensinou durante um período 
					de quase três anos, percebemos como é pouco o que as poucas 
					páginas dos quatro evangelistas registram em comparação com 
					tudo o que Jesus deve ter ensinado. Podemos estar certos, 
					por exemplo, de que, na noite do Domingo da Ressurreição, os 
					Apóstolos aproveitaram a fundo a ocasião para perguntar a 
					Jesus qual o significado exato das suas palavras: “A 
					quem perdoardes os pecados…” e sobre as condições 
					que teriam que exigir para esse perdão. 
					
					A historia mostra-nos que a manifestação dos 
					pecados para obter o perdão é tão antiga como a Igreja 
					Católica. Em consequência, o sectário que afirma que 
					“a confissão é uma invenção dos padres para ter as pessoas 
					na mão” está exibindo a sua ignorância religiosa 
					tanto quanto os seus preconceitos. A réplica evidente a esse 
					crítico é perguntar-lhe: “Bem, se os padres inventaram 
					a confissão, então por que não se eximiram eles próprios da 
					obrigação de confessar-se?” O Papa tem que 
					confessar-se, os bispos tem que confessar-se, os padres tem 
					que confessar-se, tal como toda a gente. 
					
					Todas essas objeções à confissão que ouvimos  
					de vez em quando baseiam-se na suposição de que o sacramento 
					da Penitência é um horrível suplício que devemos temer e 
					evitar tanto quanto possível. Nós, os católicos praticantes, 
					sabemos que não é assim, que essa suposição é uma patranha. 
					Sabemos que o sacramento da Penitência é um dos maiores 
					presentes que Deus nos fez, um presente sem o qual não 
					poderíamos passar e que sempre teremos de agradecer. 
					
					Em primeiro lugar, ao requerer a explícita 
					confissão dos nossos pecados, Deus nos protege contra a 
					universal fraqueza humana, que nos leva a justificar-nos. 
					Está muito bem dizer: “Na intimidade da minha alma, 
					direi a Deus que me arrependo, e Deus me perdoará”. 
					Se nos fosse pedido somente isso, seria muito fácil 
					enganarmo-nos, pensando que estávamos arrependidos, quando, 
					na realidade, continuaríamos apegados aos nossos pecados e 
					os tornaríamos a cometer com a maior sem-cerimônia. Mas 
					quando temos que trazê-los a luz, quando temos que pôr-nos 
					de joelhos e manifestá-los de viva voz, então temos que 
					enfrentar a verdade. Já não é tão fácil que nos enganemos. 
					Deus, que nos fez e sabe com que facilidade nos enganamos, 
					proporcionou-nos um bendito meio para não nos iludirmos. 
					
					Outro dos benefícios da confissão, digno de 
					ser levado em conta como parte do sacramento da Penitência, 
					é que nos proporciona um conselho autorizado para as nossas 
					necessidades espirituais. Assim como um médico nos ajuda com 
					a sua ciência a curar e a prevenir as doenças físicas, na 
					confissão encontramos um perito nos males da alma, que nos 
					prescreve os remédios e as salvaguardas necessárias para 
					conservarmos a saúde espiritual e crescermos em santidade. 
					
					Também não é desprazível a saúde psicológica 
					que obtemos na confissão, tal como a sensação de alívio que 
					se segue à manifestação dos nossos pecados, a paz e o Júbilo 
					interiores que acompanham a certeza de termos sido 
					perdoados, a libertação dos sentimentos de culpa que nos 
					perturbavam e desalentavam. Não nos surpreende que um 
					eminente psiquiatra (não católico) tenha dito: “Se 
					todas as religiões tivessem a confissão, haveria muito menos 
					pacientes nos nossos manicômios”. Não nos surpreende 
					também que aquele que conhece os benefícios deste sacramento 
					exclame: “Obrigado, meu Deus, 
					pela Confissão!” 
					
					Depois do Batismo, há uma só coisa que 
					nos pode separar de Deus: o pecado mortal, o repúdio 
					consciente e deliberado da vontade de Deus em matéria grave. 
					O principal fim do sacramento da Penitência é restaurar na 
					alma do pecador a vida divina (a graça santificante) 
					que havia perdido. Por conseguinte, os pecados que devemos 
					dizer na confissão são todos os pecados mortais cometidos 
					depois do Batismo e não confessados previamente. 
					
					Já que o pecado venial não atinge em nós a 
					vida da graça, não somos obrigados a mencioná-los na 
					confissão. Mas é muito proveitoso fazê-lo, ainda que não 
					seja  obrigatório: nada nos pode dar maior certeza de 
					terem sido perdoados do que submetê-los à absolvição de um 
					sacerdote; além disso, no sacramento da Penitência recebemos 
					graças especiais, que nos dão forças para evitar esses 
					pecados no futuro. Mas é verdade que o pecado venial pode 
					ser perdoado fora da confissão por um ato de contrição 
					sincero (ao menos se for uma contrição perfeita) e um 
					propósito de emenda. 
					
					Também não há obrigação de confessar os 
					pecados mortais duvidosos. Mas, novamente, é mais prudente 
					manifestar esses pecados na confissão, para o bem da nossa 
					paz interior e por causa da graça que recebemos contra as 
					recaídas. No entanto, não é imprescindível confessar os 
					pecados mortais duvidosos para se fazer uma boa confissão. 
					Se o fazermos, devemos mencionar as nossas dúvidas ao 
					sacerdote e confessá-los depois “como estiverem na 
					presença de Deus”. Um exemplo de pecado mortal 
					duvidoso seria um acesso de ira vingativa, que desperta em 
					nós a dúvida de saber que se essa ira foi plenamente 
					deliberada ou não. Outro exemplo poderia ser os dos 
					pensamentos impuros, com a dúvida posterior de saber se 
					consentimos ou resistimos com a prontidão suficiente. 
					 
					
					Não é necessário sublinhar que devemos ter 
					muito cuidado em não nos enganarmos nesta matéria. Devemos 
					fugir de nos procurarmos convencer de que um pecado mortal é 
					duvidoso quando há indícios razoáveis do contrário. 
					
					Ao confessarmos os nossos pecados mortais, 
					temos obrigação de dizer o número de vezes que cometemos 
					cada pecado. Para um católico praticante que se 
					confessa frequentemente, não há nenhum problema nisso. Quem 
					não se tenha confessado há muito tempo pode ver-se em 
					dificuldades. Deve lembrar-se então de que Deus não pede a 
					ninguém o impossível. Se não puder recordar o número 
					exato de vezes que cometeu certo pecado, basta que faça uma 
					estimativa sincera. Um modo prático de proceder nesses casos 
					é fazer o cálculo com base no número de pecados cometidos 
					por semana ou por mês. 
					
					Ao referirmos os nossos pecados na confissão, 
					temos que indicar a espécie de pecados que cometermos. Não 
					basta dizer: “Pequei contra o segundo mandamento”. 
					Devemos mencionar (supondo que o pecado foi mortal) se 
					pecamos por blasfêmia, falso juramento, maldição ou 
					profanação. Não basta dizer: “Pequei contra a justiça”. 
					Temos que distinguir se foi roubo, fraude, dano à 
					propriedade ou à reputação alheia. A maioria dos 
					devocionários proporciona uma relação de possíveis pecados, 
					que podem ajudar o penitente a  enumerá-los e 
					classificá-los. 
					
					Não convém sobrecarregar a confissão com 
					pormenores desnecessários das altas cometidas. Os incidentes 
					que nos tenham levado a odiar o cunhado e as consequências 
					que daí resultaram para a vida do lar, o modo como 
					conseguimos aquele contrato que agora vemos que foi leonino, 
					não são normalmente coisas que digam respeito à confissão. 
					No entanto, deve-se mencionar qualquer circunstância que 
					mude a espécie do pecado, isto é, qualquer circunstância que 
					realmente acrescente ao pecado uma nova malícia. Assim, 
					dizer que se roubou um copo dourado não basta se porventura 
					esse copo é o cálice da paróquia; neste caso, ao pecado de 
					roubo acrescenta-se o pecado de sacrilégio. Não basta dizer 
					que se jurou  falso se o juramento causou um grave 
					prejuízo a um terceiro nos seus bens ou na sua fama; neste 
					caso, acrescenta-se a injustiça ao perjúrio. 
					
					Para fazer uma boa confissão, é importante 
					não só dizer os pecados, mas também dizê-los de modo 
					adequado. Se todo o espírito do sacramento da Penitência é 
					de arrependimento pelo erro reconhecido, é evidente que 
					devemos ir à confissão com uma profunda humildade de 
					coração. Atitudes como as daquele que diz: “Bem, 
					afinal de contas, não sou tão mau assim”, ou 
					“imagino que sou como todo o mundo” ou “todos 
					fazem coisas assim; não deve ser um pecado tão terrível”, 
					seriam fatais para se fazer uma boa confissão. 
					
					A sinceridade é outra das condições exigidas 
					pelo sacramento da Penitência. Isto significa nada mais (e 
					nada menos) que devemos manifestar os nossos pecados com 
					sinceridade e franqueza totais, sem intenção alguma de 
					ocultá-los ou desfigurá-los. A nossa confissão seria 
					insincera se tentássemos fazê-la usando frases vagas ou 
					ambíguas, na esperança de que o confessor não perceba de que 
					é que estamos falando; se andássemos por aí buscando um 
					sacerdote duro de ouvido a quem escapem as nossas palavras 
					atropeladas ou sussurradas; se intercalássemos desculpas e 
					álibis com a intenção de salvar o nosso amor próprio. 
					
					Mencionamos estes defeitos não porque sejam 
					prática comum, mas para que compreendamos melhor a essência 
					de um boa confissão. A grande maioria dos católicos recebe 
					frequentemente e com agradecimento o sacramento da 
					Penitência: são um exemplo constante de como fazer uma boa 
					confissão, e a sua sinceridade e humildade são fonte 
					inesgotável de edificação para os sacerdote que os atendem. 
					
					  
					
					A confissão
					
					 
					
					Acusação dos pecados
					
					  
					
					Nosso Senhor Jesus Cristo quis que o 
					sacramento da Penitência fosse também um ato de penitência, 
					um ato de humildade; mas não que se tornasse um peso 
					intolerável para os membros do seu rebanho. 
					
					É verdade que todos os pecados mortais 
					cometidos depois do Batismo devem ser explicitamente 
					confessados, e este princípio é valido mesmo quando, por 
					necessidade urgente, é preciso adiar temporariamente a 
					confissão explícita. 
					
					Uma pessoa gravemente doente, que esteja tão 
					fraca que não possa especificar os seus pecados, pode 
					receber o sacramento da Penitência simplesmente manifestado 
					que pecou e que se arrepende dos pecados cometidos. Pode-se 
					absolver um grupo numeroso de soldados, à hora de entrarem 
					em combate, se manifestam em termos gerais a sua culpa e, ao 
					mesmo tempo, a sua contrição; mas, em casos de emergência 
					como estes ou outros análogos, previstos pelas leis da 
					Igreja, o pecador continua obrigado a manifestar em detalhe 
					os pecados mortais da próxima vez que for confessar-se. Se 
					alguém recebesse uma absolvição coletiva – nos casos muito 
					especiais previstos pela Igreja – e não tivesse o propósito 
					de confessar individualmente, numa próxima confissão 
					individual, os pecados mortais não acusados, não receberia o 
					sacramento da Penitência. Teria feito um ato inválido. 
					
					Aplica-se o mesmo princípio quando alguém se 
					esquece de mencionar na confissão um ou mais pecados mortais 
					que tenha cometido. Se depois se recorda desse pecado, deve 
					mencioná-lo na próxima confissão, mas não é necessário que 
					corra imediatamente ao confessor, e, entretanto, pode 
					aproximar-se da comunhão. Devido à contrição universal do 
					penitente, o pecado por ele esquecido já foi indiretamente 
					perdoado; fica apenas a obrigação de mencioná-lo, se o 
					recorda, na confissão seguinte, para que seja diretamente 
					perdoado. 
					
					Seria de uma grande insensatez angustiar-se 
					indevidamente à hora de preparar a confissão ou inquietar-se 
					por medo de esquecer acidentalmente algum pecado. Mais 
					insensato ainda seria deixar-se perturbar por vagas 
					inquietações acerca de confissões passadas. Deus é justo 
					juiz, mas não um juiz tirano. Tudo o que nos pede é que 
					usemos dos meios razoáveis para fazer uma boa confissão. Não 
					nos pedirá contas das inevitáveis fragilidades humanas, tais 
					como a má memória. 
					
					Uma só coisa pode viciar a nossa confissão e 
					torná-la “má” ou sacrílega: omitir consciente e 
					deliberadamente a manifestação de um pecado que temos a 
					certeza de ser mortal e que deveríamos confessar. Proceder 
					assim é não querer cumprir uma das condições que Deus nos 
					pede para nos conceder o seu perdão. Se não nos “abrimos” a 
					Deus, Deus não abrirá o seu tribunal ao perdão. 
					
					O trágico de uma má confissão é que produz 
					uma reação em cadeia de pecados. A não ser que – e até que – 
					retifiquemos a confissão inválida, cada confissão e cada 
					comunhão posteriores serão um novo sacrilégio, e um novo 
					pecado se acrescentará ao anterior. Com o passar do tempo, a 
					consciência poderá insensibilizar-se, mas nunca poderá ter 
					verdadeira paz. 
					
					Felizmente, uma má confissão pode ser 
					corrigida com facilidade, desde que o penitente decida 
					emendar-se.  Basta que diga ao sacerdote: “Certa vez 
					fiz uma má confissão e agora quero corrigi-la”. O confessor 
					tomará esta declaração como ponto de partida e, interrogando 
					com compreensão, ajudará o pecador a descarregar-se do seu 
					pecado. 
					
					É necessário sublinhar a frase: “interrogando 
					com compreensão”. A nossa relutância em confessar uma ação 
					vergonhosa será muito menor se tivermos presente que aquele 
					a quem nos dirigimos está cheio de compreensão e afeto. O 
					sacerdote sentado do outro lado da grade do confessionário 
					não está cheio de si nem disposto a franzir a sobrancelha a 
					cada falta que lhe comuniquemos. Ele também é humano. Ele 
					também se confessa. Em vez de nos desprezar pelo que temos a 
					dizer-lhe, admirará a humildade com que estaremos vencendo a 
					nossa vergonha. Quanto maior for o nosso pecado, mais 
					alegria daremos ao sacerdote com o nosso arrependimento. Se 
					o sacerdote chegasse a saber quem é o penitente, seu apreço 
					por ele não diminuiria; ao contrário, aumentaria pela 
					sinceridade e confiança depositada no confessor. 
					
					À parte estas considerações, sabemos – e é 
					algo reconfortante para todos – que os pecados que dizemos 
					em confissão estão cobertos pelo mais estrito vínculo de 
					segredo que existe na terra. Este vínculo de segredo – “o 
					sigilo sacramental” – proíbe o sacerdote de revelar por 
					qualquer motivo, sem exceção alguma, o que lhe foi dito em 
					confissão. O penitente é o único que pode dispensar o 
					sacerdote deste sigilo. Nem mesmo ao próprio penitente pode 
					o sacerdote mencionar fora da confissão as faltas de que 
					tomou conhecimento, a não ser que o penitente assim o deseje 
					e declare. Menos ainda pode, pois, o sacerdote aludir a 
					esses temas diante de terceiras pessoas, parentes, amigos ou 
					colegas. 
					
					O sacerdote está decidido a enfrentar a morte 
					ou, o que é pior, as acusações falsas e a desonra, antes que 
					violar o sigilo da confissão. No decorrer da história, 
					muitos sacerdotes se viram obrigados a agir assim. Um 
					sacerdote não pode revelar o que lhe disseram na confissão 
					sacramental nem mesmo para salvar o mundo inteiro da 
					destruição. Se porventura violasse o sigilo sacramental, 
					seria condenado com o mais estrito tipo de excomunhão que a 
					Igreja pode infligir. 
					
					De passagem, diremos que esta obrigação afeta 
					também os leigos. Se alguém chega a ouvir algo que um 
					penitente esteja dizendo na confissão é obrigado a não 
					revelar jamais e em hipótese nenhuma  aquilo que ouviu. 
					Fazê-lo seria um pecado grave. Nem mesmo pode mencioná-lo à 
					pessoa a quem ouviu confessar-se. O penitente é o único que 
					não está preso ao sigilo da confissão; mas mesmo ele deve 
					abster-se de comentar com outros o que disse em confissão, a 
					menos que seja necessário. 
					
					É fácil ver que são raros os casos de 
					confissões sacrílegas, quer por se ocultar um pecado mortal, 
					quer por não haver verdadeiro arrependimento. É difícil que 
					alguém se dedique a perder o tempo fazendo algo que sabe ser 
					pior do que não confessar-se, além de ser inútil. 
					
					Também é fácil verificar que a maioria das 
					pessoas que recebem com frequência o sacramento da 
					Penitência não costumam ter pecados mortais a confessar. A 
					graça especial deste sacramento fortalece-nos contra as 
					tentações e cria as resistências da alma ao pecado, muito 
					mais do que as vitaminas em relação às infecções do corpo. 
					Seria um grande erro negligenciar a confissão frequente sob 
					o pretexto de que não temos pecados mortais de que 
					acusar-nos: precisamente essa confissão frequente nos faz 
					receber as graças necessárias para evitar o pecado mortal 
					com maior segurança. Mais ainda, o sacramento da Penitência 
					confere à alma que está livre de pecado pecado mortal um 
					aumento de graça santificante, um crescimento em vida 
					interior que não podemos desprezar. 
					
					No entanto, para se poder receber este 
					sacramento, é necessário confessar algum pecado atual, 
					porque o sacramento da Penitência foi instituído para 
					perdoar os pecados cometidos depois do Batismo. A pessoa que 
					não tivesse cometido absolutamente nenhum pecado não poderia 
					receber o sacramento da Penitência, pois não haveria matéria 
					sobre a qual o sacramento pudesse atuar, e é crença comum 
					que somente a Virgem Maria foi o ser humano adulto que 
					jamais cometeu o mais leve pecado venial (Evidentemente, 
					Jesus Cristo, como homem, esteve também livre de pecado). 
					
					Se não temos pecados mortais a confessar, 
					acusar-nos de um ou mais pecados veniais – de que estejamos 
					verdadeiramente arrependidos – dar-nos-á condições para 
					receber o sacramento da Penitência e as graças 
					correspondentes. Se não pudermos recorda-nos sequer de um 
					pecado venial cometido depois da última confissão, então 
					podemos voltar a confessar algum pecado da nossa vida 
					passada. 
					
					Pode ser um pecado confessado e absolvido há 
					muito tempo; mas aqui e agora tornamos a recordá-lo e 
					renovamos a nossa dor de coração por tê-lo cometido. O 
					pecado passado mais a contrição presente dar-nos-ão 
					condições para recebermos a absolvição e as graças do 
					sacramento. 
					
					Neste caso, a nossa confissão será mais ou 
					menos assim: “Abençoe-me, padre, porque pequei. Confessei-me 
					há uma semana. Não me recordo de ter cometido nenhum pecado 
					desde então, mas arrependo-me, dos pecados que possa ter 
					esquecido e de todos os pecados da minha vida passada, 
					especialmente dos meus pecados de ira” (por exemplo). 
					
					De fato, esta é a fórmula adequada para 
					qualquer confissão: começar com a saudação e o sinal da 
					cruz, e, depois de ter recebido a benção do sacerdote, 
					mencionar o tempo transcorrido desde a nossa última 
					confissão, e terminar com a inclusão dos nossos pecados da 
					vida passada de que estejamos particularmente contritos. 
					Assim, se acontece que os pecados agora mencionados não são 
					realmente pecados, mas apenas imperfeições, a inclusão de 
					algum pecado do passado habilita o sacerdote a dar-nos a 
					absolvição e nós podemos receber as graças do sacramento. Se 
					o penitente se confessa de ter esquecido as orações da manhã 
					duas vezes, de ter perdido a Missa do domingo por doença e 
					de ter conversado três vezes na igreja, e não acrescenta 
					mais nada, o sacerdote não pode dar-lhe a absolvição, pelo 
					menos sem fazer algumas perguntas. Numa confissão assim, não 
					há evidência real de pecado. Não é pecado esquecer as 
					orações da manhã; mais ainda, é evidente que não se pode 
					cometer pecado algum se realmente houve esquecimento. Para 
					que uma coisa seja pecado, é preciso que a má ação seja 
					conhecida e intencional. Também não é pecado omitir a Missa 
					de domingo por doença ou por outra razão grave. Como não é 
					necessariamente pecado conversar na Igreja, se não há uma 
					deliberada falta de reverência. 
					
					Na prática, nem sequer é necessário mencionar 
					estes “não pecados” na confissão; não há razão  para 
					“incharmos” a nossa lista a fim de que pareça maior do que 
					é. Se adquirimos o hábito de terminar sempre a nossa 
					confissão com uma referência aos pecados da vida passada, 
					haverá matéria suficiente para que a nossa contrição 
					encontre terreno em que apoiar-se. O confessor não pensará 
					que lhe fazemos perder tempo por não podermos recordar 
					nenhum pecado desde a nossa última confissão. Não obstante, 
					nesses casos, devemos certificar-nos de não termos feito 
					superficialmente o nosso exame de consciência. Não convém ir 
					à confissão sem antes dedicar um tempo razoável a examinar a 
					consciência e a suscitar em nós um genuíno arrependimento 
					dos nossos pecados. Este é também o momento apropriado para 
					rezarmos um ato de contrição formal: antes de nos dirigirmos 
					ao confessionário. 
					
					Poderá ser útil incluir aqui outras 
					recomendações relativas à confissão: 
					
					1 – Ao enunciarmos os pecados, falar ao 
					confessor clara e distintamente, mas em voz muito baixa. 
					Pouco poderá ajudar-nos o sigilo da confissão se dissermos 
					os nossos pecados com um vozeirão tal que os ouçam todos os 
					que estão na igreja. As pessoas que ouvem mal podem pedir 
					para confessar-se na sacristia. As pessoas que tem um sério 
					impedimento para falar, podem levar a sua confissão 
					previamente escrita num papel e entregá-lo ao sacerdote, que 
					o destruirá depois de o ter lido. 
					
					2 – Nunca mencionemos os pecados dos outros 
					(por exemplo, do marido ou da sogra), e, especialmente, 
					nunca digamos nomes. 
					
					3 – A não ser que seja necessário para 
					reparar uma confissão mal feita, não queiramos fazer um 
					confissão geral (que abranja toda ou a maior parte da nossa 
					vida) sem consultar previamente o confessor. Uma confissão 
					geral rara vez é aconselhável, exceto talvez em ocasiões 
					decisivas da vida, tais como o casamento, a ordenação ou a 
					profissão religiosa. 
					
					4 – Escutemos atentamente o sacerdote quando 
					nos impõe a penitência, bem como os conselhos que nos possa 
					dar. Se não os ouvimos bem, devemos dizê-lo. Se ficamos com 
					alguma dúvida ou temos um conselho a pedir, não hesitemos em 
					dizê-lo.  
					
					5 – Continuemos escutando atentamente o 
					sacerdote enquanto pronuncia as palavras da absolvição. Já 
					nos doemos dos nossos pecados e esta dor permanece na alma. 
					Não é correto recitar verbalmente um ato de contrição 
					enquanto o sacerdote pronuncia as palavras da absolvição. 
					
					6 – Finalmente, devemos permanecer alguns 
					minutos na igreja depois de nos termos confessado, para 
					agradecer a Deus as graças que acaba de conceder-nos e 
					cumprir também a penitência que o confessor nos impôs, se 
					esta consiste em algumas orações. 
					
					  
					
					Pecado e 
					castigo
					
					  
					
					O pecado e o castigo andam juntos. Falando do 
					pecado, poderíamos dizer que o castigo é seu 
					“estabilizador incorporado”, pelo qual se satisfazem 
					as exigências da justiça divina. Deus é infinitamente 
					misericordioso, rápido em perdoar o pecador contrito. Mas, 
					ao mesmo tempo, é infinitamente justo; não pode permanecer 
					indiferente ante o mal moral. A Ele não pode “dar na 
					mesma” o que cada homem faz com a sua liberdade. Se 
					não houvesse castigo para o pecado, o bem e o mal poderiam 
					colocar-se um junto ao outro em pé de igualmente; a justiça 
					seria uma palavra vã. 
					
					Por outro lado, Deus é um Deus justo, mas não 
					vingativo. Nos assuntos humanos, a aplicação do castigo 
					resulta muitas vezes não tanto da caridade como do 
					ressentimento. O castigo é frequentemente imposto mais para 
					salvar o amor-próprio ofendido do que a alma de quem ofende. 
					Com Deus passa-se o contrário. Se, por um lado, a sua 
					justiça exige que o pecado seja reparado com uma compensação 
					adequada, por outro, o que Deus procura não é essa 
					compensação em si; seu objetivo é sempre a salvação de quem 
					o ofende: antes do pecado, tornando o seu preço demasiado 
					elevado; depois do pecado, tornando dolorosas as suas 
					consequências. 
					
					E para falar com propriedade, nem sequer se 
					pode dizer que é Deus quem castiga o pecador. É antes o 
					pecador quem se castiga a si mesmo. É ele quem escolhe 
					livremente o pecado e, portanto, o castigo que lhe é 
					inerente. Quem comete um pecado mortal opta livremente por 
					viver separado de Deus para sempre (o inferno), em troca de 
					fazer agora a sua própria vontade. Quem comete um pecado 
					venial aceita antecipadamente o purgatório, em troca de uma 
					insignificante satisfação atual. Esta escolha é um pouco 
					parecida à do bêbado que aceita a ressaca de amanhã em troca 
					dos seus excessos de hoje. 
					
					O pecado mortal provoca duas espécies de 
					castigo. Em primeiro lugar, o castigo eterno, a perda de 
					Deus para sempre, que é sua sequela inevitável. Perdoada a 
					culpa do pecado, seja pelo Batismo, seja no sacramento da 
					Penitência, fica perdoado este castigo eterno. 
					
					Além do castigo eterno, há também um castigo 
					temporal (quer dizer, por um certo período de tempo), que 
					podemos dever a Deus mesmo depois de o pecado mortal ter 
					sido perdoado, e que o pecado venial também merece. Este 
					castigo temporal é a reparação que devemos oferecer a Deus 
					(pelos méritos de Cristo) por termos violado a sua justiça, 
					mesmo depois de perdoado o pecado; é a satisfação que 
					oferecemos a Deus por nossas insuficiências na intensidade 
					da dor por nossos pecados. Pagamos este débito com os 
					sofrimentos do purgatório, a não ser que o cancelemos nesta 
					vida (como facilmente está ao nosso alcance) mediante 
					adequadas obras de penitência. 
					
					Há uma diferença notável entre os sacramentos 
					do Batismo e da Penitência quanto aos respectivos efeitos 
					sobre o castigo temporal. O Batismo é um renascimento 
					espiritual, um começar a vida outra vez. Quando um adulto é 
					batizado, não só se apagam os pecados mortais, juntamente 
					com o pecado original e o castigo eterno por eles devido, 
					como também todo o castigo temporal por eles merecido. Quem 
					morresse imediatamente depois do batismo iria para o céu 
					nesse mesmo instante. E isto seria assim mesmo que a dor dos 
					pecados cometidos antes do batismo fosse imperfeita. 
					
					Mas a pessoa que morresse logo depois de se 
					confessar, não iria imediatamente para o céu 
					necessariamente. Enquanto o castigo eterno devido pelo 
					pecado é perdoado por completo no sacramento da Penitência, 
					a porção do castigo temporal cancelada dependerá da 
					perfeição da dor que o penitente tiver tido. Quanto mais 
					ardente tenha sido a sua contrição, menor satisfação lhe 
					restará por oferecer aqui ou no purgatório. 
					
					Uma historieta (não da vida real, claro) 
					ilustrará este ponto. Conta-se de um homem que foi 
					confessar-se depois de viver muitos anos afastado de Deus. 
					Em penitência, o sacerdote prescreveu-lhe que rezasse um 
					terço todos os dias durante um mês. O penitente exclamou: 
					“Como é possível, se fui ingrato com Deus tantos anos! Com 
					certeza absoluta tenho que fazer muito mais do que isso!” 
					“Se você está tão arrependido – respondeu-lhe o sacerdote –, 
					talvez um terço diário durante uma semana seja suficiente”. 
					Então o penitente, comovido, começou a chorar: “Quanto Deus 
					me amou, quanto suportou a minha ingratidão e os meus 
					pecados! Não há nada que eu não fizesse por Ele agora”. “Se 
					está tão arrependido – replicou o sacerdote –, basta que 
					reze cinco pai-nossos e cinco ave-marias uma só vez”. 
					
					Esta história realça a importância das nossas 
					disposições interiores na recepção do sacramento da 
					Penitencia. Quanto mais profunda for a nossa dor e mais nos 
					sentirmos movidos por um desinteressado amor a Deus, menos 
					“relíquias” do pecado restarão; menos dívidas de castigo 
					temporal nos ficarão, sem dúvida, por satisfazer com 
					satisfação penitencial. 
					
					Quanto mais intensa for a nossa dor ao 
					confessar-nos, menos teremos que pagar a Deus depois, como 
					castigo temporal. Mas nem o nosso confessor nem nós mesmos 
					podemos avaliar adequadamente esta intensidade. Só Deus pode 
					ver o coração humano e só Ele sabe num determinado momento 
					qual a nossa dívida para com Ele. Por isso o sacerdote 
					impõe-nos sempre uma penitência para ser cumprida depois da 
					confissão: rezar certas orações ou praticar certas obras. 
					Para que a nossa confissão seja boa, devemos aceitar a 
					penitência que o sacerdote nos prescreve e ter a intenção de 
					cumpri-la no tempo que ele nos fixar. 
					
					A medida da penitência dependerá da gravidade 
					dos pecados confessados; quanto maior for o número e a 
					gravidade dos pecados cometidos, será lógico esperar uma 
					penitência maior. Mas o confessor não deseja impor uma 
					penitência que supere a capacidade do penitente. Se alguma 
					vez nos é prescrita uma penitência que nos parece impossível 
					de cumprir, seja por que motivo for, devemos dizê-lo ao 
					sacerdote, e ele a ajustará convenientemente. 
					
					Uma vez prescrita a penitência, temos 
					obrigação em consciência de cumpri-la e de cumpri-la do modo 
					que nos foi prescrita. Por exemplo, se me foi dito que 
					fizesse um ato de fé, esperança e caridade uma vez ao dia 
					durante uma semana, não seria correto ‘liquidar’ o assunto 
					rezando os sete atos de uma vez. 
					
					Negligenciar deliberadamente o cumprimento da 
					penitência seria pecado mortal, se se tratasse de uma 
					penitência grave imposta por pecados graves. Negligenciar 
					uma penitência leve seria um pecado venial. É claro que 
					esquecer-se dela não é pecado, pois ninguém pode pecar por 
					ter memória fraca. Se nos esquecemos de cumprir a 
					penitência, acontece simplesmente que a dívida temporal, da 
					qual a penitência nos teria absolvido, permanece ainda em 
					nosso débito. Por esta razão, deveríamos acostumar-nos a 
					cumpri-la imediatamente após a confissão, a não ser que o 
					confessor nos indique outra ocasião para fazê-lo. 
					
					Deve-se recordar que a penitência prescrita 
					na confissão tem uma eficácia especial para pagar a dívida 
					de castigo temporal, por ser parte do sacramento da 
					Penitência. Devemos, claro está, fazer voluntariamente 
					outros atos de penitência. Todas as nossas obras meritórias 
					podem ser oferecidas em satisfação dos nossos pecados, e é 
					conveniente fazê-lo assim; e não somente as orações que 
					rezamos, as Missas que oferecemos, ou os atos de religião ou 
					de caridade que praticamos, mas todas e cada uma de nossa 
					ações praticadas no decorrer da nossa jornada centrada em 
					Cristo; quer dizer, todas as ações (exceto as más, 
					evidentemente) realizadas em estado de graça e com um 
					sentido de oferenda a Deus. Estas ações ganham-nos méritos 
					para o céu e ao mesmo tempo são aceitas como satisfação 
					pelos nossos pecados. 
					
					Não obstante, oração por oração e obra por 
					obra, nada nos pode dar maior certeza de satisfazermos por 
					nossos pecados do que a penitência que nos é imposta na 
					confissão. Estas penitências oficiais têm uma eficácia 
					sacramental, um poder de reparação que nenhuma penitência 
					espontânea pode igualar. 
					
					É oportuno recordar que nenhuma de nossas 
					obras de penitência teria valor algum diante de Deus se 
					Jesus Cristo já não tivesse pago pelos nossos pecados. A 
					reparação oferecida por Jesus Cristo na Cruz é infinita, 
					mais do que suficiente para pagar a totalidade da dívida 
					espiritual de toda a humanidade. Mas Deus, por um desígnio 
					expresso, quer que partilhemos com Cristo a sua obra de 
					satisfação pelos pecados. Deus aplica os méritos de Cristo à 
					nossa dívida de castigo temporal na medida da nossa 
					disposição de fazer penitência. O valor real das nossas 
					penitências pessoais é insignificante aos olhos de Deus, mas 
					esse valor torna-se enorme quando unido aos méritos de Jesus 
					Cristo. 
					
					Este motivo permite que as nossas orações, 
					boas obras e sofrimentos possam ser oferecidos em satisfação 
					pelos pecados dos outros, além dos nossos. Deus quer que 
					participemos na obra de redenção. É parte do 
					privilégio de sermos membros do Corpo Místico de Cristo 
					podermos satisfazer com Ele o castigo temporal devido pelos 
					pecados dos outros. Conscientes desta possibilidade, devemos 
					aproveitar as oportunidades. Em cada doença (inclusive nessa 
					ligeira dor de cabeça de hoje), em cada frustração, em cada 
					contrariedade, saberemos ver a matéria prima da qual temos 
					que tirar satisfação pelos pecados e salvar almas. E nunca 
					nos assaltará a tentação (rara, certamente) de pensar que o 
					confessor nos impôs uma penitência muito grande. Se nós não 
					necessitamos dela, em algum lugar existe uma alma que dela 
					precisa (cfr. Pe. Leo J. Trese, A fé explicada). 
					  
					
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