Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

Sexta palestra / Sexta conferencia

 

 

Santa Missa segundo o Rito Gregoriano

(“Missa Tridentina”)

 

Pe. Franz Hörl

 

TEOLOGIA DA CELEBRAÇÃO LITÚRGICA

 

O Duplo Movimento da Liturgia

Glorificação de Deus e Santificação dos Homens

 

A estrutura da celebração litúrgica evidencia a liturgia como o lugar privilegiado de encontro entre Deus e o homem. Aqui na terra, o lugar de estar mais próximo a Deus é na liturgia. Sob o véu de símbolos, Deus desce (do Céu) ao homem e o homem sobe (da terra) a Deus.

Portanto, na liturgia acontece um duplo movimento: Os homens elevam-se a Deus para Lhe oferecer adoração e louvor de agradecimento, e Deus inclina-se aos homens para fazer descer sobre eles os Seus dons.

* É assim que diz a oração do <Supplices te rogamus> do Cânon Romano, onde a Igreja suplica sejam estas oblatas apresentadas no altar celeste, diante do trono de Deus, e de lá desçam a nós, pela comunhão, a cumular-nos de graças e bênçãos;

* como também na oração do <Suscipiat>: Receba o Senhor das tuas mãos este sacrifício para louvor e glória do seu nome e para bem nosso e de toda a sua santa Igreja.

* Ou como ainda na <Secreta> do “Décimo Domingo depois de Pentecostes”: Aceitai, Senhor, os sacrifícios que Vos são consagrados e que Vós instituístes para servirem ao mesmo tempo de remédio às nossas almas e de glória ao vosso nome.

 

1.) A LITURGIA COMO GLORIFICAÇÃO DE DEUS

 

O movimento ascendente a Deus de adoração e de ação de graças é tão dominante na liturgia, que exige do fiel sempre de novo a conversão e a separação de todo o terrestre, como diz Col 3,2: Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra!

A liturgia nos surpreende pela liberalidade desinteressada que se doa, pelo ”ócio santo” que deixa espaço à contemplação, justamente pela exclusividade com que gira em redor de Deus.

Deste modo a liturgia é, para todos os que têm a felicidade de assisti-la, uma escola singular de servir a Deus e de se abrir para Ele.

 

a) LOUVOR DE DEUS E AÇÃO DE GRAÇAS NA ORAÇÃO LITÚRGICA...

 

O que Cristo nos revelou do seu Pai, e o cumprimento que deu a todas as prefigurações velho-testamentárias, confere à oração da Igreja, de um lado, a continuidade da oração judaica, mas também, pelo outro lado, a ruptura ou novidade:

 

...COM AS PALAVRAS DO ANTIGO TESTAMENTO

 

Aos salmos e cânticos do Antigo Testamento a Igreja dá-lhes um lugar proeminente na sua liturgia. Mesmo que não as use literalmente, servem de inspiração nas orações do celebrante, nos cânticos do coro e da comunidade. A Igreja extrai das orações bíblicas, sobretudo, as ilustrações das perfeições divinas, a declarações da Sua santidade, transcendência, eternidade e onipotência.

A oração judaica se eleva da contemplação das perfeições de Deus à ação de graças pelas obras admiráveis da criação e dos feitios de misericórdia para com o Seu povo.

O judeu piedoso, reconhecendo a sua própria condição pecaminosa e a sua miséria espiritual, tornou-se mais sensível pelo Deus misericordioso e salvador.

Apropriando-se de todas essas orações, a Igreja dá-lhes um sentido mais amplo, porque as obras admiráveis de Deus na Nova Aliança superam as da Antiga Aliança, as continuam e rematam.

 

...NA ORDEM DE SALVAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO

 

Foi Jesus Cristo que nos revelou os mistérios da vida trinitária. Por isso, na liturgia, se encontram numerosas doxologias da Trindade Santa, muitas das vezes tiradas dos escritos de São Paulo. As orações que o celebrante dirige ao Pai, se apóiam todas em Jesus, Filho de Deus, como mediador, mencionando o Espírito Santo.

No culto de adoração de Jesus Cristo, a Igreja Lhe atribui o título de “KYRIOS” que a tradução grega do Velho Testamento usa exclusivamente para Deus.

No livro de Apocalipse, o canto da comunidade celeste é ação de graças. São Paulo fala dela em forma de uma obrigação permanente do cristão. É agradecimento a Cristo que nos purificou no Seu sangue, é adoração do plano de salvação de Deus que nos chamou e nos amou primeiro. Na reunião litúrgica acontece de certa forma uma “epifania”, ou aparição, da salvação em Cristo.

 

b) O SACRIFÍCIO DE LOUVOR

 

A liturgia alcança o seu ápice na celebração eucarística que é um sacrifício de adoração e ação de graças, portanto, como diz o Cânon Romano, um "sacrifício de louvor" pelo fato de ser uma atualização eficaz do ato redentor de Cristo.

A partir de que Cristo se imolou, na cruz, de modo singular, todos os ritos de adoração e de louvor da Antiga Aliança foram superados (confira: Hebr 10,5-7).

A distinção fundamental entre o culto cristão e o culto velho-testamentário é justamente isso: A realidade faz desaparecer as prefigurações. Em reconhecimento da soberania absoluta de Deus, a Igreja não oferece mais sacrifícios de “primícias” e “holocaustos”, mas o próprio Cristo. O Seu sacrifício é louvor perfeito: oferta e sacrifício de odor suave” (Ef 5,2); é a única expiação adequada e é o rogo d'Aquele que “vive para sempre para interceder por nos” (Hebr 7, 25).

 

c) O CULTO NATURAL E O CULTO CRISTÃO

 

O culto bem como a virtude da religião são indispensáveis para todos os seres humanos (Rom 1,19-21): “O que se pode conhecer de Deus é manifesto também entre os pagãos. A realidade invisível de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade, tornaram-se inteligível através das criaturas de sorte que não têm desculpas”.

O culto em si é a totalidade de todos os atos pelos quais o homem procura dar expressão das suas obrigações em relação a Deus. “Culto” é expressão de religião, manifestando as duas atitudes de honrar a Deus em reconhecimento da sua soberania, e de submissão.

 

Diante da transcendência divina infinitamente superior, o homem sente admiração, temor e submissão. Isso já é um primeiro sentimento espontâneo de adoração. Refletindo depois sobre essa experiência, o homem concorda livremente que por justiça e necessidade deve como obrigação, a mais elementar e indispensável, a de reconhecer a sua independência daquele que é o início e o fim, criador e senhor de todos os seres.

O homem, passando além dessas impressões elementares da religião, procura conhecer a Deus e louvá-lo. A glorificação de Deus - "clara noticia com laude" (conhecimento claro com louvor) - é a finalidade do culto.

 

Sob esse ponto de vista, o homem toma consciência do seu próprio nada, da sua miséria, do seu pecado. O sentido verdadeiro por Deus encontra-se sempre acompanhado pela humildade. Tais sentimentos se manifestam na oração, nos gestos de adoração e no sacrifício. Assim os atos exteriores do culto são emanações de atitudes interiores da alma.

O culto, porém, sem o auxílio da Revelação está sempre ameaçado de desfigurações. O homem fica exposto à tentação de:

* buscar a experiência religiosa por si só, em vez de buscar a Deus;

* parar num estado subjetivo e irracional do sentimento religioso;

* fugir de um esforço intelectual necessário de conhecer a Deus;

* evitar a exigência conseqüente de santidade;

* e, sobretudo, de perder o senso pela transcendência de Deus.

 

O culto natural não alcança o nível do culto cristão. A Revelação divina não somente purificou e corrigiu o culto que o ser humano naturalmente deve ao ser divino, mas abriu um horizonte para um mundo de culto todo novo:

A novidade fundamental consiste no fato de que Deus falou em língua humana. O incognoscível se deu a conhecer, mostrou a sua glória a Abraão e a Moises, falou pelos profetas, agiu na história do seu povo escolhido de tal modo que já o AT declarou: (“A Sabedoria) apareceu sobre a terra e no meio dos homens viveu” (Bar. 3, 38). Depois dos profetas, Deus falou por seu Filho (1Jo 1, 18): “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, este o deu a conhecer”. Ou também como reza o prefácio de Natal: “...pelo mistério do Verbo Encarnado, aos olhos da nossa mente brilhou nova luz do vosso esplendor, a fim de que, conhecendo a Deus de modo visível, por Ele sejamos arrebatados ao amor das coisas invisíveis”.

Isso muda completamente o conceito de “culto”, que Jesus precisou à mulher Samaritana, explicando: “... nós adoramos o que conhecemos. Mas vem a hora - e é agora - em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (Jo 4, 22s). Cristo revelou aos homens o amor de Deus e os convidou à amizade e intimidade com Ele, apesar de que o cristão deve estar sempre consciente da sua própria indignidade e condição pecaminosa, e que deve aproximar-se de Deus imenso e terrível sempre com reverência, humildade e respeito.

 

O culto e a virtude de adoração do cristão estão inseparavelmente ligados à fé e à caridade. E mais: O culto cristão contem, essencialmente, o diálogo entre Deus e o seu povo. Isso faz com que o culto cristão com a posição significativa e única da Palavra de Deus na liturgia é diferente de todos os outros tipos de culto.

 

Mas existe uma diferença ainda mais profunda: A paixão de Cristo superou os cultos do AT e os das outras antigas religiões, porque a Sua paixão foi um sacrifício, portanto um ato de culto. Deus aceita esse sacrifício por si mesmo; é um sacrifício único e “renovado” sacramentalmente. A sua eficácia está independente da fé e da piedade das pessoas que lhe estão ligadas.

É designado para a salvação dos homens e contem a graça espiritual de fazer os homens participar do culto que ele possibilita. O sacrifício de Cristo é o fundamento de uma nova comunidade de culto – que é a Igreja – com a finalidade de continuar o sacerdócio de Cristo.

A Igreja é muito mais uma comunidade, essencialmente, de culto, fundada por um ato de culto que é o sacrifício de Cristo:

* pelo seu culto que gera novos membros;

*é no culto que se manifestam os diversos graus da sua hierarquia;

*no culto ela se torna consciente da sua essência mais profunda e da presença e eficiência da sua cabeça que é o Cristo Jesus;

*é no culto que ela avista o fim da sua peregrinação terrestre.

 

2.) LITURGIA COMO SANTIFICAÇÃO DOS HOMENS

 

A finalidade da liturgia é também a de presentear aos homens a graça divina. Sinais e atos externos da liturgia são sacramentos e sacramentais com a finalidade de santificar os homens. A missa e os sacramentos são o essencial da liturgia de tal forma que a santificação é condição da realização do culto divino em louvor, adoração e ação de graças.

 

a) A SANTIFICAÇÃO DOS HOMENS É UM FIM ESSENCIAL DA LITURGIA

 

Na liturgia, o dom de Deus aos homens é essencial. Nela a Palavra de Deus, proferida com devida disposição, contem uma luz e uma força que transcende o valor de palavras puramente humanas, mesmo as dos maiores pregadores, e lhes confere uma autoridade e eficiência particular e toda singular: Hebr 4,12: ”Pois a Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes; penetra até dividir alma e espírito... Ela julga as disposições e as intenções do coração”.

 

O papel primordial dos sacramentos consiste em conferir aos homens a graça de Deus, em aplicar-lhes a redenção e conduzi-los à salvação. Eles são "propter homines", a favor dos homens, e a sua eficácia se produz através de ritos, gestos e palavras; são, portanto, direta a essencialmente litúrgicos. O plano inteiro de salvação sacramental está ligado à liturgia.

De um lado, os sacramentos recebem a sua real eficiência da paixão de Cristo, do sacrifício da Nova Aliança, e pelo outro lado, eles dão à liturgia participantes e ministros: Batismo, Crisma e Ordem conferem à alma um caráter que dão ao cristão a tarefa de ter parte no culto divino e confere uma participação no sacerdócio de Cristo.

 

b) A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA – DOM DE DEUS AOS HOMENS

 

O duplo movimento da liturgia é realizado de modo mais perfeito na Eucaristia. Ela é sacrifício, o ato mais escolhido de adoração de Deus, e também é o dom mais sublime de Deus aos homens. A oferta do sacrifício que oferecemos ao Pai, antes temos recebido dEle pela transubstanciação (cf. Cânon Romano: "de tuis donis ac datis"). E tendo-a oferecido a Deus, dEle a recebemos de volta para nosso alimento. Embora a comunhão não seja essencial ao sacrifício, ela o completa (pelo menos na comunhão do celebrante). Assim o culto mais desinteressado e mais teocêntrico (=que tem Deus como centro), o “sacrifício de louvor” torna-se, ao mesmo tempo, para nos o ato pelo qual recebemos de Deus a fonte de todas as graças.

 

c)  SANTIFICAÇÃO  OBJETIVA  E  SUBJETIVA

 

A santificação que a liturgia nos oferece é uma realidade objetiva, na sua origem, independente de quem a recebe, pois adquirida pelo próprio Cristo e dado como presente "ex opere operato". Nos ensinamentos de Pio XII lemos: "Nas celebrações litúrgicas e, sobretudo, no sacrossanto Sacrifício do Altar, perpetua-se a nossa redenção e aplica-se a nos os seus frutos. Cristo opera a nossa redenção, dia por dia, nos sacramentos e no seu sacrifício; através deles fica continuamente atuando, expiando a humanidade e consagrando-a a Deus" (Mediator Dei, 29).

As celebrações litúrgicas possuem em si mesmas uma força (objetiva) que faz as nossas almas ter parte na realidade da vida divina de Jesus Cristo. Portanto, não por força nossa, mas por força divina, a liturgia contem aquela eficácia que une a ação piedosa dos membros com a da cabeça, e a torna a ser a ação de toda a comunidade.

 

Porém, não há de se esquecer que o fiel, recebendo essa graça, precisa de se preparar para isso, se deve colocar na disposição necessária, e depois também corresponder a ela. Pois liturgia não é magia!

A esse esforço interior e pessoal a própria liturgia também ajuda, despertando, iluminando e aumentando a fé; a oração litúrgica expressa o amor a Deus; a liturgia enquanto convivência comunitária torna-se escola da caridade fraterna, colocando, incessantemente, diante dos olhos dos fieis os mistérios de Cristo e o exemplo dos santos.

 

Os dois movimentos que distinguimos na liturgia – o dos homens a Deus e o de Deus aos homens – estão, pela sua própria essência, intimamente interligados. São Tomas de Aquino atribuiu a todo ato religioso este fim duplo, o teocêntrico e o santificante. O fim de santificação, porém, encontra-se subordinado ao fim primário teocêntrico da liturgia: A santificação dos homens está orientada para a liturgia. A redenção por Cristo, o fruto do seu devotamento ao Pai, possui o seu fim último na liturgia celeste em que “Deus é tudo em todos” (1Cor. 15,28). O sacerdócio de Cristo, exercido na liturgia, une esses dois movimentos e, no fim, dirige todos os ritos para a adoração e glorificação de Deus.

 

A LITURGIA DA NOVA ALIANÇA NO ESPÍRITO

 

A liturgia cumpre a tarefa de prestar a Deus o devido culto de adoração e também a de tornar o seu mistério de salvação presente e eficiente no meio dos homens. A Igreja ó o novo Israel do fim dos tempos, anunciado pelos profetas e realizado numa aliança nova e definitiva com a característica de um culto espiritual.

 

* A liturgia como expressão da aliança entre Deus e o seu povo é completamente inspirada pela Palavra de Deus que chama esse povo, lhe comunica os seus mandamentos e lhe revela os planos de Deus referente ao seu futuro. Portanto, a liturgia cristã é essencialmente fundada na Revelação divina, nas Sagradas Escrituras, é essencialmente bíblica.

 

** A liturgia cristã como expressão da Nova Aliança possui um caráter escatológico pelo Reino de Deus, no fim dos tempos. Sob o véu de sinais sacramentais que realizam o que significam, a liturgia possui já o penhor da união entre Deus e os homens da realidade última no Céu. A estrutura sacramental da liturgia cristã tem a sua raiz na realidade antecipada dos fins dos tempos.

 

*** Essa aliança definitiva é caracterizada pela efusão do Espírito Santo e constitui a liturgia cristã como culto espiritual, não, porém, porque recusaria a usar coisas materiais, mas porque as submete inteiramente à liderança do Espírito Santo e ao Seu serviço. Assim as realidades materiais – língua, gestos e todos os objetos que podem ser usados na liturgia – mesmo que não deixem de ter o seu sentido próprio, alcançam um significado mais elevado o qual os torna sinais eficazes da graça; graça que o Espírito Santo comunica aos fieis para santificá-los e produzir nos seus corações a oração dos filhos de Deus.

 

**** É uma aliança messiânica, na qual e através da qual a presença de Deus é realizada no meio do seu povo. É por isso que a liturgia cristã é cristocêntrica, orientada em todos os sentidos para Cristo. Jesus Cristo é o único e definitivo Sumo Pontífice da Nova Aliança que se imolou a si mesmo como “única oferenda e levou à perfeição para sempre os que Ele santifica” (Hebr 10,14).

A liturgia da Igreja permite à comunidade dos fieis uma participação no culto que Cristo incessantemente oferece ao Seu Pai, nesta Igreja que é o Seu Corpo.

“Mediator Dei” 20: A liturgia é “o culto público que nosso Redentor, a Cabeça da Igreja, presta ao Pai Celestial e que a comunidade dos fieis oferece ao seu fundador, e através dEle ao Eterno Pai. ...é o culto público do Corpo Místico de Jesus Cristo, da sua cabeça,e dos seus membros”.

 

LITURGIA E PASTORAL

 

O fim primordial da liturgia é a glorificação de Deus, e depois, ao mesmo tempo, a santificação dos homens. A honra de Deus em si nós não a podemos aumentar; somente podemos dar a Deus o que nós mesmos possuímos. O que glorifica Deus é a nossa santidade. Disse santo Irineo: “A glorificação de Deus é o homem vivo”.

A liturgia é a obra sacerdotal de Cristo, continuada pela Igreja, com o duplo fim de glorificar o Pai celestial, oferecendo-Lhe a ação de graças e as preces dos homens, e de redimir os homens, distribuindo-lhes os dons de Deus.

Este fim duplo do sacerdócio determina também o sacrifício eucarístico que é

*ação de graças a Deus,

*expiação pelos pecados e

*comunhão dos homens com Cristo no Sacramento do Altar.

 

Também a celebração dos sacramentos – sinais eficazes da graça –possuem esta dupla finalidade. O Ofício Divino (“Breviário”) é oração de louvor como preparação e continuação da eucaristia; de um coração purificado e consciente, a oração eleva-se do homem a Deus.

Sendo os sacramentos sinais da fé, cuja validade depende somente da celebração correta e da intenção certa - <ex opere operato> - fica claro, porém, que produzem tanto mais fruto quanto melhor a disposição do celebrante e do recipiente.

Por isso se exige do sacerdote e dos fieis um esforço espiritual, porque uma celebração digna e frutuosa tem como condição a santidade (cf. Encíclica “Mediator Dei”).

“A liturgia é a primeira e indispensável fonte do autêntico espírito cristão” (São Pio X), e, portanto, é a fonte de toda a vida verdadeiramente espiritual.

A própria celebração, nela e através dela, há de santificar a comunidade dos fieis que assiste à liturgia consciente e piedosamente. É como diz o Concílio de Trento: ”A celebração litúrgica, ela mesma, santifica, educa para a virtude da religião e contem rica instrução para o povo cristão”.

A pastoral litúrgica nasce da sacralidade da liturgia para

*dirigir o povo fiel,

*instruí-lo e

*santificá-lo.

Assistindo com conhecimento e atenção ao culto, os fieis podem, na sua fonte, beber o autêntico espírito cristão.

A pastoral litúrgica não visa os infiéis ou pagãos (os sem religião ou não-cristãos), aos quais é necessário, antes, introduzi-los ao mundo da fé; mas quer condicionar aos fieis batizados e praticantes uma assistência mais profunda da celebração dos mistérios da fé.

(Portanto, querer produzir novas formas litúrgicas para pagãos ou pessoas afastadas, não introduziria na liturgia, mas dela afastaria. No início da história do Cristianismo, a conversão dos pagãos não aconteceu pelo culto cristão, mas começou com questões quanto à pureza da vida, à caridade dos cristãos, às quais uma introdução ao Evangelho dava respostas. Somente após um longo tempo de catequese e preparação, os catecúmenos foram admitidos à celebração dos mistérios, na qual participaram plenamente só após serem batizados.)

A pastoral e catequese litúrgicas querem formar comunidades unidas e espiritualmente elevadas, conscientes e – sem presunção - orgulhosos da sua fé, cujos membros façam atrativa a religião católica também a pessoas afastadas ou sem fé.

 

A pastoral litúrgica quer educar os filhos de Deus, como um pai educa os seus filhos, para fazer deles personalidades desenvolvidas e para habilitá-los a corresponder à sua vocação. As características de toda educação, portanto, são próprias também da pastoral litúrgica:

 

* A pastoral litúrgica é paternal, com autoridade, mas sem autoritarismo e sem arbitrariedade. Não exige um comportamento puramente externo, mas quer implantar bons costumes e atitudes corretas, explicando as razões e esforçando-se por criar as disposições internas.

 

** A pastoral litúrgica è doutrinária, porque quer criar convicções e não somente impor comportamentos.

 

*** A pastoral litúrgica quer formar: não quer só ensinar e informar, mas despertar ainda mais:

- o sentido do sagrado,

- o sentido por Deus,

- o sentido do espírito de Cristo,

- o sentido da alegria da vocação interior e da contemplação,

- o sentido pela Igreja e da alegria da oração em comunidade.

 

**** A pastoral litúrgica é progressiva: formação e educação têm seu ponto de partida do estado real do homem para conduzi-lo para o alto e elevá-lo acima de si mesmo. Não é certo de se contentar em falar com os fieis numa linguagem que compreendem, sem ter a vontade de conduzi-los, aos poucos, a uma compreensão mais profunda do mistério propriamente cristão.

 

A pastoral litúrgica quer integrar os fieis na tradição da Igreja; não pretende alcançar sucessos visíveis, nem se adaptar a necessidades do momento do povo cristão, nem a particularidades sociais ou geográficas. Pelo contrário, a pastoral litúrgica pretende introduzir os fieis na liturgia da Igreja, ensiná-los a respeitar e amar tudo quanto é herança de pensamento cristão; quer integrá-los à grande Igreja de todas as nações e de todos os tempos. Improvisações e experiências arbitrárias não têm espaço numa liturgia autenticamente cristã.

 

PALAVRA FINAL

 

A força viva consegue a renovação pela tradição, não sem ela, e muito menos contra ela. À atual decadência do cristianismo devemos opor a beleza e o esplendor duradouro do nosso catolicismo, a “paisagem de alma” da liturgia e da cultura clássicas da Igreja católica apostólica romana. Precisamos levar a sério as ricas e mais diversificadas heranças e tesouros do Catolicismo, na sua vivência durante vinte séculos da sua história,inspirada e guiada pelo Espírito Santo. Precisamos combater o desinteresse na tradição da história da Fé e a marginalização da consciência cristã, e, pelo contrário, fortalecer o orgulho da nossa própria tradição.

Para coisas para as quais o nosso tempo perdeu as palavras e a forma de expressão, temos os tesouros de formulação do passado, ritos, cerimônias, orações, melodias...

 

 

 

 

 

 

 

Ver outros retiros